Título: Cold hands, warm heart
Autor: Poly
Beta: Nina
Categoria: B&B, 6ª temporada
Advertências: nenhuma
Classificação: K+
Capítulos: 1/5
Completa: [ ] Sim [X] Não
Resumo: Booth mudou tanto a ponto de fazer Brennan deixar de acreditar em tudo que ele lhe ensinara? Ou ele apenas mentiu como um covarde?
N/a: Fanfic escrita para o amigo secreto do NFF, como presente para a Mandis.
A fic segue os acontecimentos do 6x09, e resolvi fazer uma distração... faltam cinco dias para o novo episódio de Bones, então essa fic vai ter cinco capítulos. Um capítulo por dia, até quarta-feira.
Divirtam-se.
Cold hands, warm heart - definição Mãos frias, coração quente. Expressão da língua inglesa. Não demonstrar seus sentimentos não significa falta de sentimentos. Por que uma mão literalmente fria deve indicar simpatia ou afeição não é realmente claro, mas esta expressão vem sendo usada desde por volta de 1900, e os alemães têm uma fala idêntica. (kalte Hand, warmes Herz).
Cold hands, warm heart
1. Uma noite, uma ponte
*Para ler ouvindo: Boys like girls - Two is better than one*
Brennan se sentou na cama, frustrada. Não conseguia dormir.
Ela achara que depois dos três dias, sua vida voltaria ao normal. Que tudo que implicara a evasão de sentimento seria apagado, que Booth seguiria com a vida dele e ela com a dela, mesmo que ela estivesse triste por dentro. Havia sido inocente demais. Haviam fechado o caso há dois dias e ali estava ela, presa com aqueles pensamentos.
Ela se levantou da cama, caminhando até a sala vazia da casa escura. Estavam no inverno, e a calefação estava ligada. Mas ainda assim, a casa lhe parecia tão... fria.
Ela vagueou até chegar à pequena adega. Puxando uma garrafa fechada de vinho tinto e uma taça, ela se sentou ao balcão da cozinha.
Achando o ambiente quieto demais, ligou o rádio. Sentou-se para abrir a garrafa de vinho e servir a bebida em um copo, e foi então que ouviu a música que estava tocando.
I'm finally now believing
(Eu estou finalmente acreditando)
That maybe it's true
(Que talvez seja verdade)
That I can't live without you
(Que eu não posso viver sem você)
And maybe two is better than one
(E talvez dois seja melhor que um)
Brennan pousou o copo sobre a bancada, esquecendo-se completamente dele. Ela finalmente havia percebido, não é? Havia percebido que era preferível arriscar e perder a nunca se envolver. Que ela não queria ficar sozinha, que ela queria adicionar mais um elemento à equação. Que talvez... talvez sua vida não dependesse diretamente da vida de Booth, mas se ela não pudesse vê-lo, seu sorriso, suas palavras... isso tornaria sua vivência péssima. Quase insuportável. Por que uma vez que sabia como era tê-lo por perto, como iria viver sem ele?
A música terminou, deixando um rastro leve de acordes no ar e uma aérea Brennan.
Ela se levantou, indo até o quarto atrás do laptop.
Em poucos minutos ela tinha a canção em seu ipod e, ouvindo-a integralmente dessa vez, ela não pôde deixar de esmiuçar a letra e lançar um paralelo com tudo que sentia.
I remember what you wore on the first day
(Eu me lembro do que você usava no primeiro dia)
You came into my life and I thought, hey
(Você apareceu na minha vida e eu pensei, hey)
You know this could be something
(Sabe que isso podia ser algo)
A primeira vez que ela e Booth se encontraram, em que ele lhe lançou a pergunta. "Você acredita em destino?"
O dia que Booth lhe falou sobre seus sentimentos, e afirmou. "Eu sabia. Eu sou esse cara, Bones, eu sempre soube."
'Cause everything you do and words you say
(Por que tudo que você faz e as palavras que você diz)
You know that it all takes my breath away
(Tudo isso me deixa sem ar)
And now I'm left with nothing
(E agora fui deixado sem nada)
As pequenas coisas que Brennan havia aprendido a apreciar. O sorriso enorme dele, seus olhos brilhantes quando explicava a ela algo que ela desconhecia, seus abraços de caras, sua preocupação e extremo senso protetor. As vezes em que ele simplesmente lançava um olhar a ela a encarando, e Brennnan sentia como se... se a hipótese fosse possível, é claro, e ele pudesse ler sua mente. E a forma como ela ficava inexplicavelmente sem ar... ela sabia agora, pela profundidade de sentimentos que havia no olhar dele.
Brennan seguiu ouvindo a música, sentindo, mais forte ainda, a angústia que sentira naquela primeira noite, quando Booth lhe dissera que não podia fazer aquilo, que amava Hannah.
Então fora daquela maneira que ele se sentira quando ela o negara.
Colocando o ipod no bolso, ela saiu do apartamento. Precisava fazer algo, precisava sentir.
Ela desceu pelos elevadores e, passando pelo porteiro, saiu na noite fria.
O funcionário a viu atravessar as portas com um olhar desfocado, usando apenas uma calça de flanela e uma blusa de mangas longas. Naquele frio. Preocupado, ele alcançou o telefone. Demorou um tempo, vagueando pela escrivaninha cheia de papéis, até achar o número de que precisava.
-Olá, aqui é o Edgar, sim, eu mesmo. Lembra a conversa rápida que tivemos? Então...
Brennan caminhou pelas ruas sem nem sentir o frio que a cercava. Caminhou a esmo, mas seus pés a levavam a algum lugar. Quando parou, no início da ponte de estrutura metálica, teve que rir.
-Foi para cá que eu vim? – disse, mal ouvindo o som da própria voz, com a música alta nos fones de ouvido.
Mas a noite silenciosa, ou mesmo seus fones, ninguém respondeu.
Ela olhou para as águas escuras, parando um momento para pensar se aquilo era fruto de sua racionalização e da constatação do que havia descoberto a respeito da Dra. Lauren... sobre testar uma teoria. Ou algo mais.
Sem se importar em elaborar mais a ideia, ela deu um passo e seguiu em frente.
Booth dirigia o carro loucamente. Estava jantando fora com Hannah quando recebera a ligação de Edgar. O homem trabalhava há anos na portaria do edifício de Brennan, e já o conhecia muito bem, de todas as idas e vindas ao prédio. Dois dias antes, quando Booth viera deixá-la em casa e insistira em acompanhá-la até a porta do apartamento, quando estava voltando para o carro Edgar discretamente perguntou se havia algo de errado com Brennan, uma vez que ela parecera muito abatida nos últimos dias. E Booth pediu ao homem que mantivesse um olho nela.
Mas nunca imaginou receber a ligação. Edgar parecia visivelmente afetado quando ligara ao agente do FBI. Dissera que Brennan havia saído de noite, no frio, com roupas leves e que não se virara nem mesmo quando ele a chamara.
E Booth se levantou pegando o casaco, o celular ainda contra a orelha. Hannah tentara entender o que estava acontecendo, mas não teve saída a não ser segui-lo para fora, de volta para o carro.
E enquanto ele dirigia loucamente pelas ruas próximas ao edifício da parceira, seus olhos saltando continuamente pelas calçadas à procura de sua figura, Hannah tentou mais uma vez fazê-lo falar. Mas tudo que ele repetia era "Bones. O que ela vai fazer? Devia ter ficado de olho..." e outras coisas que faziam pouco sentido.
Hannah se recostou ao banco, desistindo e se contentando em descobrir o que viria a seguir.
Estavam perto da ponte, Booth já entrando em uma rua lateral para evitá-la, quando mudou bruscamente a direção.
"A ponte não." Disse ele, e Hannah sentiu o medo em sua voz.
Mas ela se inclinou no banco, assustada, quando viu alguns segundos antes dele a cena.
Uma mulher caminhando lentamente pela estrutura metálica da ponte. Uma mulher extremamente parecida com Brennan. Ela estava além da área destinada a pedestres, em cima da amurada de proteção, dando passos decididos enquanto encarava as águas.
Booth freou o carro e saltou, mas Hannah ainda teve o bom senso de ver se não havia nenhum motorista atrás, e de encostar o carro antes de seguir o namorado.
-Bones! – ela não virou o rosto, e ele continuou a correr.
-Bones! – disse ele mais forte desta vez, passando por baixo da barreira que a estrutura formava para chegar ao lugar que ela estava.
Brennan ainda estava com os fones, e ainda dava passos decididos pela estreita borda fria, que demarcava o fim da ponte e o início do vazio.
Ela dava um passo após o outro, sentindo o vento gelado trazido pelo rio, a adrenalina correndo em suas veias, a sensação de apreensão e liberdade. Sentindo.
A peça metálica transversal que sustentava grande parte do peso da ponte descia na diagonal, e Brennan se aproximava cada vez mais de seu fim, seu coração batendo mais rápido, sabendo que não conseguiria continuar em frente, que teria que ir para um ou outro lado. Apenas mais 10 metros agora. 5, 2...
-Bones! – gritou Booth desesperado, agarrando a mão dela com toda força disponível e a puxando para si, se jogando ao chão sem se importar com suas costas, ou a imundície do lugar, ou um e outro friso da estrutura que poderia machucá-lo. Ele amorteceu a queda dela com o próprio corpo, mas mal sentiu o impacto.
Por alguns segundos ela manteve os olhos fechados. Então os abriu, notando que estava parada, não estava molhada e Booth... o rosto de Booth estava bem em frente ao seu. Ela se ergueu assustada, arrancando os fones do ouvido e olhando à volta.
-Por Deus, Bones! – disse Booth, zangado. – Eu não sou o Superman pra ficar 24 horas por dia olhando seus passos. Pare de fazer coisas estúpidas!
Ela olhou para ele, para as feições nas quais havia pensado nas últimas horas. E isso não tornou nada mais fácil ou certo. Ela se ergueu rápido, pronta para correr.
-Não fuja! – disse Booth, também se erguendo, com um pouco mais de dificuldade que ela. – O que foi isso, aqui, hoje? Você estava tentando se matar?
-Eu... eu não sei! – Brennan respondeu baixinho, a voz entrecortada.
-Você não sabe! Ela não sabe! – disse Booth alto, de forma zombeteira. – Pois é bom descobrir, por que eu não quero continuar a te salvar da morte nas minhas horas vagas!
-Por que faz isso então? – disse ela, sentindo as ondas de raiva. Era como se, uma vez que as comportas haviam sido abertas, era quase que impossível fechá-las novamente. – Você deixou clara sua decisão, Booth, então, assuma-a!
-Minha decisão não tem nada a ver com essa sua maluquice! Eu me importo com minha parceira a ponto de não querer que ela morra!
-Não, Booth. Matar ou morrer. Se arriscar pela vida de outra pessoa. Você não faz isso por qualquer um! E depois que pude analisar um pouco tudo que nos aconteceu nos últimos seis anos, tudo pelo que passamos, entendi algumas coisas! As suas confissões sobre o exército e a infância, seu vício em jogos! A bala que você tomou por mim! A forma como você conhece a fundo os meus segredos! Eu nunca seria capaz de ter outra pessoa como você na minha vida! E, uma vez que foi você quem propôs arriscar um relacionamento, antes de mim, imagino que o mesmo se aplique a você.
-O quê... mas por quê... por que está falando nisso? – soltou ele, a voz aguda.
-Por que se tudo que você me ensinou sobre amor... de nada mais vale agora. Você foi contra sua própria teoria, Booth. Você mudou muito desde que voltou do Iraque e deduzo que, pelo que me disse no carro, você já não quer nada comigo. E isso contradiz tudo que você me disse até hoje, então, ou você mudou como imagino, ou estava mentindo.
Booth ficou a encará-la boquiaberto. Não sabia como responder. Por fim, disse baixinho:
-Nada justifica querer tirar a própria vida, Bones.
Ela riu sem humor nenhum, os olhos lacrimejantes.
-Eu só queria sentir.
Os dois se encararam, iniciando sua comunicação não-verbal. E foi então que, pela primeira vez, ouviram a voz de Hannah.
-Há um carro da polícia vindo para cá.
Os dois se viraram, só então notando que ela estava parada a alguma distância os observando.
Booth passou novamente pela estrutura, e Brennan o seguiu vagarosamente. Quando os policiais desceram do carro, os interrogando sobre uma ligação a respeito de uma mulher caminhando pela ponte e tentativa de suicídio, Booth só teve que exibir seu documento do FBI e dizer que estavam no meio de uma investigação de assassinato.
Os policiais foram embora, deixando Brennan parada no acostamento, Hannah encostada contra o capô do carro e Booth a alguma distância, ainda observando o veículo oficial se afastar.
-Entrem no carro. – ele disse simplesmente.
Brennan pensou seriamente em ignorá-lo e retomar seu caminho a pé. Mas imaginou que aquilo só pioraria a situação. Então entrou pela porta de trás. Os três se sentaram em silêncio.
-Bones, eu vou deixar você em casa. E você vai me prometer ser uma boa garota e não fazer coisas idiotas pelo próximo século.
Nenhuma das duas falou nada.
