Beware the frozen heart
Sinopse
Elsa e Anna são princesas e irmãs, e acabaram de perder seus pais em um trágico acidente. Elsa, que é 3 anos mais velha que Anna, é a futura herdeira do trono, mas seus poderes mágicos descontrolados a impedem de cumprir com suas obrigações reais e familiares. Poderá Elsa controlar seu coração congelado pelo tempo todo que passou sozinha, e dar uma chance para redescobrir o amor, em meio a tantas turbulências?
Capítulo 1 – Despedidas dolorosas
[P.V.: ELSA]
Meu nome é Elsa. Sou filha do rei Agnarr e da rainha Iduna de Arendelle, que faleceram ontem. Também tenho uma irmã chamada Anna, com quem não tenho contato há anos. Atualmente, tenho 18 anos, e há dez anos não converso com minha irmã. Tudo aconteceu quando, acidentalmente, a acertei com meus poderes congelantes na cabeça.
Depois desse incidente, meu pai me fez prometer controlar a magia, me trancando no meu quarto. Eu fui proibida de voltar a ter contato com a minha melhor amiga, companheira, irmã. Por um tempo, Anna ia no meu quarto todas as noites e batia na porta, na esperança de brincarmos juntas – afinal, ela tinha apenas 5 anos. Eu chorava todas as vezes encostada na porta, sem poder responde-la.
Com o passar do tempo, Anna passou a vir menos, mas ela jamais desistia. Eu podia ouvi-la brincando pelo castelo, sempre animada, esperançosa e entusiasmada com tudo. Meu coração ardia de saudades dela, e eu não parecia mais perto de conseguir controlar meus poderes tão perigosos – pelo contrário. Apenas as luvas que meu pai havia me dado ajudavam a conter um pouco do poder, mas não totalmente.
Algumas vezes eu saía do meu quarto de madrugada, sem que ninguém percebesse, para ir até o quarto de Anna. Não me atrevia a chegar perto demais, seria abusar da sorte... Então eu a via através do buraco da maçaneta. Pelo menos uma vez por semana eu fazia isso, e esse momento se tornava o ponto alto da minha rotina.
Um dia, quase fui pega, aos 17 anos. Anna estava agora com 14. Havia ido até o quarto dela, como de costume, e olhei através do buraco da maçaneta, mas ela não estava lá. Meu coração gelou instantaneamente, e olhei ao redor assustada. Onde ela poderia estar? E então, ouvi um barulho vindo do meu quarto. Engoli em seco e corri. Comecei a correr desgovernadamente, tentando ser silenciosa, em vão. Passei pelos infinitos corredores e pela escadaria até ouvir passos rápidos no andar de cima. Essa não, ela me descobriu! Olhei rapidamente ao redor, mas não via lugar algum para me esconder. Droga, e agora?! Voltei a correr, atravessando rapidamente o salão. Minha saída seria me esconder dentro de um armário. Entrei rapidamente no segundo que vi. Para minha sorte, ele não estava com muitas coisas dentro, e eu coube inteira nele, deitada na horizontal. Assim que fechei a porta, pude ouvir Anna correndo escada abaixo.
Eu estava apavorada, morrendo de medo de ela me descobrir. O ar começou a esfriar dentro do armário – eu o estava congelando por dentro. Droga, droga, droga. Anna, por favor, vai embora!
Os passos se aproximaram mais e mais, diminuindo de velocidade. Ela estava me procurando com cautela. Pelo visto, ela havia descoberto que eu a visitava. Havia memorizado minhas idas, para saber exatamente quando eu iria e me surpreender. Ela era esperta.
- Elsa? Por favor, eu sei que você tá aqui. – Sua voz soava trêmula e ansiosa. – Por favor, eu só quero te ver. Eu... Eu... – Sua voz saiu como um sussurro – Sinto sua falta.
Naquele momento, parecia que mil facas haviam perfurado o meu coração de uma vez, e eu sangrava internamente. Comecei a chorar silenciosamente, tendo a plena consciência de que jamais poderia deixar aquilo acontecer.
- Anna? – Ouvi a voz de meu pai à distância. – O que você está fazendo aqui?
- P-pai, eu só... Eu...
- Está tarde! Vá já pra cama. – Ele falou de forma serena e amorosa, e Anna prontamente o obedeceu.
Seus passos se distanciaram até desaparecerem. Ouvi a porta se fechar no andar de cima, e um suspiro próximo a mim.
- Pode sair, Elsa. – Respirei fundo e abri o armário. Meu pai estendeu a mão e me ajudou a sair, coberta por gelo e neve, pelo espaço pequeno do confinamento anterior. – Ah, Elsa... No que você estava pensando?
- Pai, eu... – Suspirei. – Eu não sei. Eu só queria vê-la. – Ele me abraçou, e chorei silenciosamente no seu peito.
- Eu sei, querida. Mas você sabe que é perigoso. Quer dizer... Olha pro armário.
Soltei-me de seus braços e olhei para trás. O armário, que era de um marrom escuro, agora estava inteiro branco, coberto por um gelo espesso. Solucei involuntariamente, voltando a chorar. Meu pai tentou me abraçar, mas levantei os braços de forma defensiva e me afastei, chacoalhando negativamente a cabeça. Ele respeitou meu momento e me deixou ir.
Anna havia ido até meu quarto na noite anterior, após o velório. Tentou, novamente, entrar em contato comigo, sem sucesso. Mais uma vez, eu nem respondi a seus pedidos. Na verdade, eu havia congelado o quarto todo, no mais puro desespero. Eu teria que ser drástica, ou jamais sobreviveria a isso.
Esperei todos irem dormir. Olhei pela janela – minha única companheira, a que me anunciava coisas do mundo exterior – todas as luzes haviam se apagado... Era até bonito. Respirei fundo. Era agora ou nunca.
Suspirei e fui até a minha porta. Abri uma fresta e olhei ao redor. Não havia ninguém no corredor. Terminei de abrir a porta e dei mais uma olhada, só para garantir. Peguei minha maleta pequena, contendo alguns itens pessoais, e fui até o quarto de Anna. Para a minha surpresa, ele estava aberto. Ela havia deitado de roupa, por cima das cobertas, e parecia ter desmaiado de exaustão. Respirei fundo e, sem conseguir me controlar, cheguei perto. Era a primeira vez em dez anos que chegávamos tão perto assim uma da outra.
Não ousei encostar nela, pois não sabia o que o meu toque poderia causar. Em vez disso, sentei ao seu lado. Apesar de não encostar nela, podia sentir seu calor, contrastava com minha pele gelada como a neve. Éramos o exato oposto uma da outra. Não pude evitar sorrir – era maravilhoso estar perto dela.
Anna mexeu na cama, virando-se para o meu lado. Seu rosto havia mudado, sua feição não era mais de uma criança. Rapidamente percebi a mexa branca em seu cabelo, resultado do acidente tantos anos antes. Senti uma enorme tristeza naquele momento, sabendo o que teria que fazer.
Cautelosamente, utilizei minhas mãos para manipular o gelo e criar um homem de neve – o mesmo que costumávamos brincar quando crianças. O posicionei ao lado de sua cama, no chão. Ri discretamente. Ela tomaria um susto ao acordar e encontrar um homenzinho de neve de cerca de 80 centímetros bem ao seu lado. Olhei uma última vez para Anna, com lágrimas nos olhos.
- Adeus, Anna. – Sussurrei perto de sua orelha, sentindo de perto seu cheiro.
Dei as costas e saí, sem olhar pra trás. As lágrimas escorriam pela minha face, não havia motivo para tentar controla-las a essa altura. Quanto mais elas caíam, mais desespero eu sentia dentro de mim, e a minha vontade de gritar o mais alto que conseguisse aumentava exponencialmente.
Atravessei os corredores, desci os andares e me deparei de frente para a entrada principal do castelo. Respirei fundo uma vez e abri os portões, saindo sem olhar para trás. Fechei-os novamente e continuei trilhando meu caminho. Alguns guardas pareceram surpresos e pegos desprevenidos. Os tranquilizei, dizendo que iria apenas dar uma volta. Alguns tentaram me seguir, mas ordenei que não o fizessem. Para o meu alívio, acabaram concordando.
Continuei caminhando sem um rumo ou destino específico, carregando a pequena mala comigo, por alguns metros. Quando percebi, estava diante de um rio – o que não me impediu de prosseguir. Coloquei o primeiro pé na água, e o líquido embaixo instantaneamente se congelou. Testei o outro pé, e a área igualmente se congelou com o toque, para meu alívio. Tracei meu caminho de forma tranquila e gradual, sentindo-me confortável por finalmente utilizar meu poder de uma forma que parecia segura. Nesse momento, retirei a capa de meu vestido e a deixei voar pelo rio. Caminhei até chegar ao fim dele e além, sentido à montanha do Norte.
Quando cheguei, comecei a testar meus poderes aleatoriamente. Agora eu estava livre. Livre de cobranças, livre do medo, de contato social e das amarras do meu poder. De certa forma, poderia ser até divertido. Eu precisaria também de um lugar para morar, então construí um castelo de gelo monumental para chamar de casa. Para garantir que ninguém me perturbaria, também criei o Marshmallow – um gigante de gelo, pronto pra me defender a qualquer custo.
Dirigi-me até meus recém-criados aposentos e fui até a sacada. De lá, eu podia ver ao longe Arendelle. Era tão pequena, tão distante... Tão não-familiar. Respirei fundo e retornei ao quarto, deitando na minha mais nova cama. O gelo não era desconfortável, não me incomodava ou machucava. Olhei para a paisagem lá fora e o anúncio do nascer do sol que se formava no horizonte. Eu jamais havia estado tão fisicamente distante de casa, mas não me sentia mais longe do que já me sentia antes.
[P.V.: ANNA]
Acordei cansada, como se não houvesse dormido direito. Também, eu havia passado um tempo considerável sem dormir após a morte dos meus pais. Mais uma vez, havia tentado contato com a Elsa, sem sucesso. Só queria minha irmã de volta, pelo menos nesse momento delicado de perda, mas não tinha sido possível.
Me espreguicei e limpei uma baba do meu queixo. Urgh, eu definitivamente não era graciosa para dormir. Passei a mão rapidamente em meu cabelo e tentei deixa-lo apresentável. Olhei ao redor e tomei um susto ao perceber uma figura desconhecida ao meu lado, no chão. Quando meus batimentos começaram a desacelerar e meus olhos voltaram a focar mais precisamente, comecei a observar aquela figura.
- O-o que...?! – Sussurrei para mim mesma, incrédula.
- Oi! Meu nome é Olaf, e eu gosto de abraços quentinhos!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Caí da cama e comecei a correr em círculos, assustada.
- Calma, moça!
- AAAAH, O QUE É VOCÊ?! – Fiquei a cinco metros de distância, observando e me protegendo atrás de um travesseiro.
- Eu sou o Olaf! E você é...?
- A-Anna, como você entrou aqui?!
- Eu também não sei, sabe. Quando eu acordei... Eu já estava aqui!
Aos poucos comecei a relaxar, meus batimentos cardíacos diminuindo. Olhei para ele com o canto dos olhos e o travesseiro ainda cobrindo metade do meu rosto. Até que ele não parecia assustador. Na verdade, ele parecia fofo. Abaixei todo o travesseiro e cheguei perto com passos extremamente lentos.
- Olaf... Você é um... Boneco de neve?
- Sou, bobinha! – Olaf riu.
- Certo...
Dei as costas para ele e fui até a porta, espreitando o corredor apenas com a cabeça. Quando percebi que a barra estava limpa, dei um passo hesitante para fora, caminhando lentamente. Ouvi vozes baixas e apressadas vindo do quarto da...
- Elsa?! – Corri até seu quarto, que jamais ficava aberto. – Você...
Assim que parei na porta, uma onda de desapontamento percorreu todo o meu corpo. Ela não estava lá, apenas guardas e oficiais reais. Mas o que eles estavam fazendo lá? Entrei no quarto com cautela e pude perceber que ele estava congelado. A fonte do gelo parecia vir de um ponto específico no chão. Fechei a porta e visualizei o que parecia ser o desenho de uma forma humana sentada. O que poderia ser aquilo?
- Princesa Anna! Nós... Precisamos conversar com a senhora.
- O que houve? Onde está a Elsa? – Um guarda se aproximou de mim. Ele parecia apreensivo.
- A princesa Elsa, ela... Desapareceu.
- O que?!
- Bom, ela... Saiu para caminhar de madrugada e ainda não voltou. Nós percebemos que ela levou alguns de seus principais pertences com ela. Não achamos que ela...
- Não ouse terminar essa frase!
- Perdão, minha senhora. Mas é que é pouco provável que ela volte voluntariamente, depois disso...
- Não me interessa. Já estão procurando por ela?
- Procurando? – Dois guardas se entreolharam, como se a ideia jamais tivesse passado por suas cabeças antes.
- Ora essa, sim, procurando! Se ela desapareceu, vamos acha-la!
- C-claro, senhora! Vamos providenciar isso agora mesmo!
- E eu vou com vocês!
- Não! É muito perigoso. Já não basta a princesa Elsa ter desaparecido, senhora... – Olhei ameaçadoramente para o guarda, que engoliu em seco.
- Escuta aqui. Ela é a única pessoa que eu tenho, e eu vou atrás dela com ou sem a sua ajuda.
Os guardas abaixaram suas cabeças de forma respeitosa e complacente, concordando com meu desejo. Fui até meu quarto rapidamente e troquei de roupa, colocando um vestido próprio – até então, estava com roupas de dormir. Antes que pudesse perceber, meus pés estavam me levando até a entrada do castelo para me reunir com os guardas que fariam as buscas por Elsa. Um cavalo já estava separado para mim, e começamos a trotar em um ritmo que não era rápido nem devagar demais. A intenção não era correr, era sermos efetivos para encontrá-la em segurança.
Eu e mais dez guardas seguimos os rastros feitos na terra a partir das direções do local em que a viram por último, que levavam até o rio. Chegando lá, foi como se eu tomasse um banho de água fria. Não havia absolutamente nenhuma outra pista a seguir, pois as pegadas indicavam que ela havia entrado no rio, sem indícios de ter pegado um barco ou qualquer outro meio de transporte. Como podia ser?
- Guardas! – Gritei, chamando a atenção de todos. – Eu quero que vocês procurem em todas as direções desse reino, não importa quanto tempo isso leve. Quero também uma equipe de busca na água, levem quantos barcos forem necessários
- Mas, princesa...
- Agora! E só parem quando a encontrarem. Ela é a futura rainha, não se esqueçam disso.
Eles obedeceram sem mais delongas. Olhei para além do rio, esperançosa. Ela não poderia ter simplesmente desaparecido, e eu iria acha-la. Custe o que custar.
Retornei para o castelo cabisbaixa, sem conseguir prestar muita atenção em nada e ninguém que tentava interagir comigo. Fui direto para os meus aposentos, cada passo parecia levar uma eternidade. Cada degrau da enorme escada parecia demandar um esforço descomunal de mim. O ar parecia pesado, difícil de ser respirado. Cheguei ao corredor dos quartos e olhei novamente para a porta de Elsa, agora aberta. O que deveria indicar esperança, no momento, indicava apenas mais uma perda.
Entrei novamente em seu quarto, olhando para as marcas de um gelo que não cessava nunca. O padrão era linear e explosivo, partindo de um único ponto. O que será que tinha acontecido? Será que Elsa tinha sido atacada? Ela teria se machucado, e, por isso, fugiu? Mas quem havia entrado ali?
Caminhei até sua cama e deitei nela, aproximando meu rosto de seu travesseiro. Seu cheiro me trouxe algumas lembranças desconexas de um passado que eu parecia não ter vivido. Nada estava fazendo muito sentido, e aquilo era extremamente frustrante. Todo o quarto estava congelante, mas eu não ligava – não se isso me fizesse pelo menos sentir que estava mais próxima dela.
- Oi, Anna. – Assustei-me com o chamado repentino, olhando para a porta. – Sou eu, o Olaf.
- Ah, oi, Olaf... – Como eu não sabia exatamente como proceder com o mais novo convidado do castelo, simplesmente fiz sinal para que ele entrasse no quarto.
- Que lugar é esse? – Ele perguntou, olhando ao redor. – É aconchegante. Sabe, eu estava começando a derreter.
- Ah, claro! Porque você é feito de gelo... – Constatei o óbvio, constrangida por não ter pensado nisso antes. – Olaf... Você não se lembra de nada do que aconteceu ontem?
- Não... Bem que eu queria entender por que todo mundo parece meio louco, aqui. – Respirei fundo.
- É a minha irmã, Elsa... Ela desapareceu justo quando você apareceu. E tem tudo isso – Eu disse, apontando para o quarto congelado. -, que ninguém sabe de onde veio, ou como. Eu acho que você tem alguma ligação com isso.
- Eu? Wow, moça. Eu não sei, não.
- Calma, eu não tô te acusando de nada, eu só... Tô tentando entender. – Uma lágrima escorreu pelo meu olho esquerdo involuntariamente, e Olaf se aproximou. – O que vai fazer? – Perguntei, assustada.
- Te abraçar, bobinha! Amo abraços quentinhos, e eles ajudam nesses momentos.
Permiti que ele se aproximasse de mim e me abraçasse. Na verdade, foi muito caloroso, ao contrário do que eu imaginava. Ficamos abraçados por um tempo considerável, até eu me desvencilhar. Novamente, deitei na cama de Elsa e repousei a cabeça em seu travesseiro. Havia um fio de cabelo dela ali – prateado, longo e liso, repousando tranquilamente. Quase não percebi os guardas voltando, agitados.
- Princesa Anna, nós temos más notícias. – Sentei-me na cama imediatamente, olhando assustada para eles.
- O que foi?!
Meu coração pulou uma batida quando um outro guarda entrou no quarto carregando uma capa encharcada. Era a capa do vestido de Elsa.
