Medicine
A enfermaria estava cheia, muita gente precisava ser cuidada ainda. Mas eles não se importavam: o sono de paz envolvia a maioria, ou a ocupação que nunca parava. Ginny não sabia porque tinha se oferecido para ajudar, talvez precisasse de algo – qualquer coisa – que tirasse sua mente do sofrimento. E Malfoy, ali, demonstrando uma humildade que ela nunca soubera que ele tinha. Trocavam bandagens, buscavam poções. Eram horas ali, e apesar das diversas ofensas, não tinham tentado se matar.
Entrou no quartinho que servia de depósito e o encontrou lá, parecendo perdido.
"O que você está fazendo?"
"Procurando uma maneira de matar todos" respondeu, irônico. "O que mais eu estaria fazendo no depósito de remédios?"
Eles se olharam por um segundo tenso, e ela disse.
"Você pode demonstrar que está preocupado, sabe?"
"Não, eu não posso" falou, empertigando-se. "Se eu me preocupar, posso errar e a vida deles está nas minhas mãos. Não vou cometer os mesmos erros."
Por algum motivo, aquilo a tocou profundamente, e sem pensar no que estava fazendo, deixou cair a pilha de formulários em suas mãos e o beijou.
Ele a beijou de volta, de forma completamente insana, mas o mundo tinha virado de cabeça para baixo em menos de uma noite, nada fazia sentido. A única coisa que fazia sentido era aquele beijo desesperado, quente, que a fazia se sentir tão viva.
Suas unhas passearam pelo pescoço dele, em desespero, puxando-o para si. Não disse nada quando a mão dele entrou por dentro de sua blusa, segurando suas costas como se temesse que ela pudesse desaparecer. Era simplesmente maravilhoso conseguir sentir algo tão intensamente depois que a luta, a perda e a vitória tinham parecido deixar seus sentidos embotados por dias.
Não fazia diferença, por um momento, as pessoas vivendo e morrendo do lado de fora. Não fazia diferença as perdas e os ganhos. Não fazia diferença o mundo. Só aquilo ali era o suficiente, e conforme ela explorava o pescoço dele com os lábios, o ouvindo suspirar, as mãos mergulhadas em seus cabelos vermelhos com uma suavidade de dar arrepios.
Jamais poderia explicar porque estava fazendo aquilo, só sabia que era o que precisava. Cada suspiro, cada toque, cada leve tremer eram uma reafirmação de que estavam, realmente, vivos.
O uniforme da escola nem chegou a ser tirado, apenas levemente aberto por mãos inquisitoras, procurando cada curva, cada reta, cada pedaço de pele que causasse uma resposta. Suas pernas em torno do corpo dele, e era a primeira vez que fazia algo assim – a falta de jeito dele dizia que provavelmente também ele jamais tentara nada daquilo. Não importava.
Quem precisava avaliar o que estava fazendo quando seu corpo todo parecia pegar fogo? Seus seios, e pernas, suas costas e braços, todos pediam por mais, e mais, e mais. Alguma coisa que não sabia bem o que era, algo que a deixaria mais calma, algo que seu corpo parecia exigir embora ela não pudesse explicar. Suas mãos sentiam o corpo dele, tão firme e magro depois daquele tempo terrível, e queriam arrancar partes dele para si – dentes e dedos apertando, arranhando, mordendo, pedindo mais.
Não sentiu dor, na verdade, parecia que aquilo livrava sua mente de toda dor que tivera, de todo pensamento, deixando apenas o corpo responder. Ela e Draco Malfoy, movendo-se no mesmo ritmo, dentro do depósito da Enfermaria – quem diria? Era simplesmente certo.
Quando acabou, não sabiam o que dizer um ao outro.
Esperavam que aquele momento se tornasse apenas um deslize no qual jamais falariam.
... Só que cada vez que seus olhos cruzavam, os corpos pareciam pegar fogo novamente, exigindo mais, e mais.
Aprenderam a não se olhar.
