Capítulo 1: Um Adeus. Um Recomeço

Os nossos lábios separaram-se como duas metades de uma laranja. Por um momento as minhas lágrimas recolheram-se ao sentir-te. Mas a verdade caíra nua e crua quando nos separamos.

- Fica atenta ao horizonte. – Will disse-me sorrindo. Depois, fiquei vendo-o afastar-se, o vislumbre cada vez mais fraco daquele navio, até explodir num raio de luz verde e desaparecer no horizonte.

Durante algum tempo os meus olhos fixaram-se nesse ponto imaginário, sem pestanejar, secando e ardendo, quase cegando de amor e tristeza. Deixei-me cair na areia permitindo que as pequenas ondas lambessem os meus joelhos.

- Porque o destino foi tão cruel connosco, Will? – Perguntei no meio daquele silêncio só quebrado pelo barulho do mar. – Porque nos juntaram, nos uniram e nos separaram? PORQUÊ?

Os meus pulmões berraram até ficar sem voz. Olhei de novo o horizonte que já escurecia. Nada iria acontecer. Durante dez anos nada iria acontecer. Não era um adeus definitivo, mas doía como tal.

Caminhei até anoitecer por completo. Ao longe, eram visíveis as luzes da Enseada dos Náufragos. Will aconselhou que eu me refugiasse lá. Agora eu era uma pirata.

- Pirata. – Murmurei. Quando os eventos sociais me sufocavam eu ansiava por dizer essa palavra. Ansiava por dizer que era alguém que tinha abandonado costumes, que vivia ao sabor do vento e do destino.

Agora eu era uma pirata e não me sentia tal. Talvez só o fosse quando estava ao pé de Will. Os meus olhos arregalaram-se. Talvez ainda lá estivessem. Talvez tivesse a chance de recomeçar a minha aventura pirata.

- Alguém viu o Capitão Jack Sparrow? – Perguntei a um pirata que se encontrava no cais. – Capitão Barbossa?

- Não. – O homem respondeu sem me olhar.

- E um navio? Com velas negras? – Perguntei com urgência.

- Ah… - o velho pirata fixou-me. – Eu vi esse navio. Zarpou ao final da tarde.

O meu sorriso desapareceu. Também eles tinham ido. Eu estava sozinha. Sem Will, sem amigos, sem família. Sustive o choro abanando a cabeça. Eu não podia ficar ali. Só conseguiria ser pirata em mar alto e a tripulação que queria não estava ali.

- Sabe de algum navio que zarpe para Tortuga? – Perguntei.

- Todos eles fazem escala naquela ilha. – O homem disse.

Olhei para os navios fundeados. A maioria da tripulação estava bêbada, festejando a conquista mais importante da vida deles.

- Não receie. Nenhum marujo se atreverá a fazer mal à Rainha dos piratas. – o homem disse e olhei-o durante um tempo, um sentimento de raiva e negação apoderando-se de mim.

- Não há aqui nenhuma rainha. – Disse, virando costas. Eu nunca seria uma rainha. Não sem o meu rei.


Apanhei boleia num dos muitos navios piratas que lá se encontravam e rumei até Tortuga. A viagem não proporcionou nada. Não tenho nenhuma recordação dela. Foi como se o vento me levasse inconsciente nos seus braços. Não decorei o seu nome, não fixei a cara daquela tripulação.

Tortuga pareceu-me tão familiar como estranha. De dia, caminhava pela ilha, pelas ruas sujas e enlameadas, vendo as consequências da noite anterior. O rum, esse amigo inseparável de qualquer pirata. Não desgostava, mas desde a partida de Will que nunca mais tocara numa garrafa ou caneca dessa bebida preciosa.

- Guisado de Tartaruga. – A cozinheira do Faitful Bride colocou-me o prato fumegante à frente e um copo de água como tinha pedido.

Olhei cada traço daquele prato de barro. Cada rachadela, cada pedaço de carne, o molho escorrendo da colher. Nada entrou dentro da minha boca.

- Eu não sei qual a sua ideia, mas há melhores maneiras de se matar do que morrer à fome. – uma das cortesãs sentou-se na minha frente. A verdade é que durante aquela semana pouco ou nada tinha comido. – Toda a gente acha que é um fantasma que por aqui anda. Arrastando uma tristeza contagiosa atrás.

Olhei aquela mulher fortemente pintada e de cabelo desgrenhado. Afastei o prato, bebi a água e subi para o meu quarto.

A última vez que tinha falado fora para perguntar pelo navio de velas negras. Aí soube que Barbossa o roubara e tanto ele como Jack foram atrás de um tesouro, deixando-me para trás. Eu estava sozinha. E assim continuaria por mais uma semana.

Naquele dia solarengo, um navio de comércio preparava-se para zarpar. Olhava a azáfama a bordo quando um homem se aproximou de mim.

- É você mesmo! – O homem baixo sorriu-me.

- Quem é você? – Perguntei sem emoção na voz.

- Sou capitão daquele navio. Eu conheço-a. É a filha do Governador. – o homem disse convicto.

Os meus olhos arregalaram-se. Aquele homem conhecia-me? A filha do Governador? Como? A filha do Governador tinha morrido há muito tempo. Elizabeth Swann tinha desaparecido há muito tempo, como areia deitada ao vento.

- O senhor enganou-se. – Virei a cara para o lado fixando o horizonte.

- Não me enganei não. Sou comerciante registado em Port Royal. Conheço-a desde pequena. Você é Elizabeth Swann.

Fechei os olhos e mordi o lábio. Porquê? Porque o passado me seguia quando o queria esquecer?

- A senhorita… - O homem fez uma pausa. - … é procurada pela autoridade.

- Como? – Levantei-me e olhei o homem.

- Acusação de pirataria.

- Então não deveria estar a falar comigo. – Virei costas e caminhei pelo cais.

- Mas eu não acredito nisso. Eu admirava muito o seu pai. Essas acusações são falsas, tenho a certeza. – O homem correu atrás de mim.

- Falsas ou não, parece que já não tenho lugar no mundo a não ser aqui em Tortuga.

- Eu posso levá-la a Port Royal. A vila está sem Governador. Talvez se voltasse eles…

- Eles o quê, meu senhor? Foram esses homens que mataram o meu pai. Foram esses homens que mataram a minha vida. – Disse em tom exaltado apercebendo-me que estava chorando.

- Este lugar não é para si. Volte para a sua casa, para o seu lar. – o homem disse. A minha voz tinha falhado. Não conseguia falar. No meio de tudo ainda me pediam para regressar onde tudo começara? Corri até à estalagem e fechei-me no quarto, derramando todas as lágrimas que ainda restavam.

Só me tornei a levantar quando a noite caía sobre Tortuga. Aproximei-me da janela e mirei o cais. O navio ainda lá se encontrava fundeado. Will não iria voltar antes do tempo imposto. O Black Pearl não apareceria mais no horizonte. Não restava mais nada para mim naquela vila de piratas e vagabundos.

Port Royal fora a minha casa desde criança. Talvez… Não. Eu era perseguida. Mal coloca-se os pés lá iria ser presa e enforcada. Ou talvez não.

- Coloquem essa carga no porão. – O capitão deu a ordem e estancou quando viu a figura feminina de trouxa na mão e olhando para si com uma expressão nervosa. – Miss Swann! O que faz aqui?

- Eu… - Engoli em seco. - … decidi aceitar a oferta. Quero voltar a Port Royal.

- Oh, é bom. Venha comigo. – O capitão encaminhou-me para o convés do navio. – Fechem esse olho comprido. Respeito para com a dama estamos entendidos?

A tripulação acenou afirmativamente e o capitão mostrou a minha cabine.

- Já sabe o que irá fazer quando chegar a Port Royal?

- Não. Suponho que não poderei voltar à mansão. – Disse, olhando o meu aposento.

- Seria arriscado. Se quiser, eu e a minha mulher teremos gosto em recebê-la.

- Não estará por ventura a colocar-se numa posição delicada capitão…

- Ross. Nem por isso. Circula uma história de que a pirataria ficou mais forte com o naufrágio dos navios da Eitc.

- Naufrágio? – Tentei disfarçar o riso. – É talvez, estejam demasiado ocupados para me perseguirem.


A viagem até Port Royal decorreu sem incidentes. A primeira coisa que vi foi o contorno daquela ilha enorme. Depois, como um aviso para os inimigos sobressaia à entrada da baía a fortaleza.

- Acompanhe-me. – o capitão Ross levou-me apressadamente por entre as ruas de Port Royal até chegar numa casa afastada do porto. – Bem-vinda à minha humilde casa.

A casa do capitão possuía dois andares. Não tinha nada de grande valor. A sua simpática mulher arranjou uma sopa quente e preocupou-se com o meu estado. Ao ver-me no espelho percebi a sua preocupação. Aquele reflexo mostrava como acabara num estado quase cadavérico. A cor saudável que tinha adquirido nas aventuras em alto mar desaparecera. O meu cabelo loiro era um emaranhado de nós. As olheiras profundas marcavam o meu rosto. Afastei-me e tirei a camisa. Arrepiei-me. Sempre fora magra, mas agora o meu estado era lastimável. Podia contar as minhas próprias costelas e pela primeira vez senti fome a sério. Fosse por estar na minha antiga cidade ou pela comida maravilhosa de Mrs. Ross, o meu apetite voraz deu nas vistas.

- O que lhe aconteceu, senhorita Elizabeth? – A mulher perguntou.

- Nada de mais. Apenas o resultado de algumas aventuras desmedidas. – Disse, sorvendo a última colherada de sopa.

Uns olhos brilhantes assolaram à porta de entrada. Sorri vendo aquele rapazinho tímido, olhando fixamente para mim.

- O meu filho, Alan. – Mr. Ross apresentou.

- Olá Alan. – Disse e o garoto entrou, ainda desconfiado mas relaxando quando se sentou à mesa.

- Quem é a moça bonita? – Alan perguntou.

- Alan! Mais respeito com a senhorita Elizabeth. – A mulher ralhou.

- Não. Eu sou apenas Elizabeth. – Disse, baixando os olhos. Todos me chamavam senhorita, embora já não o fosse há algum tempo.

Ao jantar, sentia-me constrangida no seio daquela família feliz. Sentia falta do meu pai, sentia falta de Will, sentia falta de ter uma família que sabia ser impossível.

- Chegaram vários feridos do grande naufrágio. – Alan disse.

- Ouvi falar no cais. – O capitão Ross disse, enquanto engolia uma garfada de arroz.

- Grande naufrágio? – Perguntei arqueando a sobrancelha.

- Sim. O que vitimou Lord Cutler Beckett. – O capitão Ross explicou e senti o meu estômago contorcer-se.

-Sente-se bem? – A mulher do capitão sorriu amistosamente.

- Sim. Apenas… demasiadas notícias tristes. – Disse, colocando uma mão no pescoço.

- Talvez não. – O capitão tossiu. – Um dos feridos está na casa do Governador.

- Como? – Uma fúria tomou conta de mim. Para um ferido estar a ser tratado na minha antiga casa é porque era alguém importante. E só via alguém que pudesse fazer isso. – Dizeis que Cutler Beckett está vivo?

- É claro que não. – o capitão Ross olhou para mim com ar assustado. – Beckett morreu. Mas soube que um dos feridos foi levado para lá por ser alguém de grande estima do falecido Governador. Achei que gostaria de saber que o Comodoro, quer dizer… Almirante James Norrington está vivo.

O meu coração explodiu em mil pedaços. Não sei se fiquei estática como uma pedra, se chorei, se ri, se gritei. Apenas e só queria saber se teria ouvido bem.

- James Norrington… - Engoli em seco. - … morreu na frente dos meus olhos. Sim, eu estive nessa batalha. E Beckett morreu como merecia.

- Tinha uma leve desconfiança. – O homem que me ajudara engoliu em seco. - Ao princípio não acreditei que fosse ele. Pensei que se tivessem enganado, mas o seu mordomo garantiu-me que era Mr. Norrington.

- Eu… - Senti uma leve tontura. – Tenho de ir vê-lo.

- É melhor não. – Ross barrou-me o caminho. – Ele foi achado com vida, mas sofreu bastante. Quando cá chegou, o médico do navio não tinha conseguido parar a hemorragia e deu-lhe pouco tempo. Achei que deveria saber, mas devo avisá-la que ele não sobreviverá.

Dois momentos distintos. Dois sentimentos diferentes. O céu e o inferno no espaço de minutos. O meu estômago resmungou e uma náusea tomou conta de mim, obrigando-me a correr para o quarto. Quando lá cheguei debrucei-me sobre a bacia e vomitei o jantar.
Deixei-me cair no chão exausta com a garganta queimando. James estava vivo. Poderia ser um engano mas o meu coração dizia o contrário.

- Absurdo. – Disse, limpando a boca. Ele tinha morrido após me libertar. Bootstrap matara-o e pelo que se tinha apercebido James recusara juntar-se a Davy Jones. Se ele sobreviveu então… As palavras ecoaram na sua mente. Sangue. Poucos dias. James estava morrendo. Precisava vê-lo antes disso.

Tinha sido um bom amigo. Não passara disso. Mas no meio daquela solidão a esperança de reencontrar alguém conhecido era mais forte que eu. Eu não queria ficar sozinha no mundo. Ele poderia ser a minha esperança. A minha última esperança.


O céu estava ainda pintado de azul-escuro e laranja quando sai de casa. Caminhei pelas ruas ainda desertas e enveredei por um caminho de floresta densa com ligação ao jardim da mansão.
Parei junto a uma pedra que delimitava o terreno da casa. Senti as lágrimas humedecerem os meus olhos. A mansão estava ali, imponente, magestosa. Mas o brilho de outrora desaparecera por completo. O jardim começava a ficar parecido com a selva que rodeava Port Royal. As flores outrora lindíssimas, estavam murchas, roubando o último sopro de vida a uma casa outrora feliz.

Mal coloquei um pé à frente do outro ouvi ladrar de cães. Logo a seguir passos apressados. Dois soldados rondavam o jardim, não me deixando outra alternativa senão fugir. Corri o mais que pude até à casa dos Ross. Quando entrei, deixei-me cair numa das cadeiras e encostei a testa ao tampo da mesa.

- A senhorita vai acabar por ficar doente. – A voz de Mrs. Ross chegou aos meus ouvidos.

- Eu preciso de falar com ele, com James Norrington. – Disse, fixando aquela mulher. – Antes que seja tarde demais.

A mulher sorriu e chamou o filho. Segredou-lhe algo ao ouvido e o garoto saiu porta fora.

- Terá notícias dele. – Mrs. Ross tranquilizou-me colocando a mão sobre a minha.

Pensava que já tinha passado por tudo. Que os dias mais penosos eram uma miragem, mas aquela semana foi a pior da minha vida. Alan tinha sido encarregado de saber notícias de James. Através da amizade que tinha com o filho de uma das cozinheiras da mansão, todos os dias me chegavam notícias sobre o seu estado de saúde. Mas todas diziam o mesmo. Encontrava-se a descansar, num estado de semi-inconsciência. Aquela monotonia e ansiedade afectou-me seriamente.

Enquanto ajudava a mulher de Ross com a lide de casa, uma tontura mais forte fez-me desmaiar. A partir daí era eu que não saía da cama. O meu estado piorou ao ponto de chamarem um médico. Tinha náuseas constantes, todo o meu corpo doía e passava imenso tempo dormindo.

Quando senti o calor se apoderar de mim, levantei-me a meio da noite e arrastei-me apoiada à parede até porta do quarto. Queria sair dali, ir para a tua beira Will.

- Will. – Murmurei quando os meus pés tocaram o chão escuro do corredor. Queria-te mais que tudo, queria sentir o calor dos teus braços, o conforto do teu beijo. Vem me buscar meu amor.

Senti o chão ficar mais próximo e acabei por sentir uma dor aguda quando o meu rosto tocou a madeira fria. Depois, a escuridão tomou conta de mim.


A escuridão acabou quando senti alguma claridade sobre os meus olhos. Abri-os lentamente e tornei-os a fechar. A luz era forte demais. Ouvi ao longe o som das gaivotas e os sinos da igreja. Sons estranhamente familiares. Esfreguei os olhos novamente e tentei me habituar à claridade. Estava deitada confortavelmente sob lençóis de linho e o meu sexto sentido despertou. Olhei para a janela do meu lado direito e pensei estar a sonhar. Sentei-me e senti uma ansiedade crescente no meu coração.

- O meu quarto. – Disse sorrindo. Estava tudo igual. A última vez que colocara os pés naquele aposento fora na manhã do meu casamento. O meu casamento com Will.

Tudo pareceu estranhamente longínquo. O tesouro de Cortés, o meu suposto casamento, a minha prisão, as minhas aventuras, o meu verdadeiro casamento. Tudo era agora uma miragem. Apenas e só.

-É como se tudo não passasse de um sonho. – Disse, sentindo as lágrimas escorrerem pela minha face.

- Sinto em lhe dizer que não é um sonho. – A voz familiar desviou os meus olhos para a porta do quarto e as lágrimas foram substituídas por um largo sorriso.

- James! – Exclamei e tentei sair da cama, mas este caminhou lentamente até mim, evitando que me levantasse.

- É melhor não fazer esforços, Elizabeth. Esteve vários dias desacordada e o seu estado ainda é debilitante. – James sentou-se na beira da cama, o seu sorriso simpático tentando disfarçar uma dor física ou talvez do próprio coração.

- Oh James. – Os meus braços voaram na direcção deste. – Eu pensei que tivesse morrido. Eu vi o que aconteceu. Quando soube que você estava vivo eu tentei falar consigo mas não me deixaram. Eu sou procurada por pirataria. Se a Marinha ou a Eitc me apanham eu sou presa e enforcada.

- Não pense nisso agora. – James disse. – Engraçado, nunca pensei que ficasse tão feliz de me ver. Onde está Mr. Turner?

O meu sorriso desvaneceu. Essa era a pergunta que eu não queria que me fizessem.

- O Will. – Engoli em seco e olhei a janela sem interesse. – Ele foi ferido pelo Davy Jones.

- E onde está Mr. Turner? – James perguntou tendo o cuidado de não perguntar se este havia morrido.

- Ele… assumiu o comando do Flying Dutchman. – Olhei James e vi que este se encontrava estupefacto. – Ele só pode pisar terra daqui a 10 anos, mas nos casamos antes.

- Impressionante a sua capacidade para se meter em situações complicadas. – James disse. – Mas porque não embarcou com aquele desmiolado do Sparrow? Pensei que ele fosse o seu apoio.

- O Jack partiu. – Sorri de canto. – Eu estou sozinha no Mundo James.

- Não. Você ainda me tem a mim.

- Sempre foi um cavalheiro. Um amigo da família. O meu pai gostava muito de si.

- Talvez o destino quisesse que eu sobrevivesse para ampará-la. – James disse e levantou-se caminhando até à janela.

- Não se iluda James. Eu posso estar aqui, de volta à minha casa, mas continuo uma pirata.

- Então porque não se juntou a uma tripulação? Porque não procurou incessantemente o Sparrow?

James tramou-me com aquela pergunta. Como é que me poderia considerar uma pirata se tinha acabado por fugir a tal destino?

- Talvez eu não tivesse a coragem necessária. – Disse, baixando os olhos. – Mas os homens consideram-me uma criminosa. É por isso que o procurei. Além de querer saber como estava, você é o único que me pode salvar. Se me apanharem eu serei morta.

- O médico esteve aqui. Ele está preocupado com a sua saúde, Elizabeth. – Notei que James virara a cara e que uma sombra lhe passara pelo rosto.

- O que é que eu tenho? – Perguntei com receio.

- Está de esperanças, Elizabeth. – Aquela frase atingiu-me como um bloco de gelo. Não percebi logo o seu significado, mas quando a verdade foi digerida chorei de alegria.

- Um filho? Um filho do Will? – Perguntei rindo. Levantei-me e apoiei-me na janela. Naquela vastidão do mar eu só queria que ele soubesse. – Vamos ter um filho, Will. – Sussurrei para o vento esquecendo momentaneamente a presença de James.

Os meus olhos pousaram distraidamente na fortaleza e a felicidade foi substituída por um medo incontrolável.

- Tens de me ajudar a fugir, James. Eles não me podem apanhar. O meu filho tem de viver. – Cheguei-me até si implorando. – Por favor.

- Efectivamente é verdade que tem a cabeça a prémio Elizabeth. Mas eu farei cumprir a lei. Ninguém lhe tocará até ter essa criança. – James disse.

Sabia que era verdade. Mulheres grávidas não podiam ser enforcadas, mas esse factor não impedia que fossem presas.

- Mas… eu quero criar o meu filho. – Disse entre lágrimas. – Como é que o meu marido vai saber da existência dele?

- Responda-me a uma questão. – James aproximou-se. – Quando é que casou?

- Aquando da batalha com Beckett. No Black Pearl. – Disse, não entendendo o objectivo de James.

- E quem vos casou?

- O Barbossa. Como capitão do navio ele tem poder para…

- Poder? Existe algum papel que o comprove?

- Eu…

- Barbossa é um pirata. Um casamento só é válido quando existe uma procuração a prová-lo. – James explicou.

- Assim como a existência de testemunhas! – Exclamei.

- E onde estão essas testemunhas? – James perguntou fazendo com que engolisse em seco. – Não a quero desanimar, nem sequer prejudicá-la. Longe de mim. Mas devo-lhe dizer que esse matrimónio não tem nenhum valor legal.

- Quer dizer então que o meu filho é um bastardo? – Perguntei com lágrimas nos olhos.

- Elizabeth… - James tentou se desculpar mas virei-lhe costas.

- Saia do meu quarto, por favor. – Pedi, fechando os olhos e sustendo o choro.

Ouvi os seus passos cessarem no final do corredor e aí pude deitar tudo cá para fora mais uma vez. Talvez fosse exagerado dizer que estava sozinha no mundo. Will nunca me deixara sozinha. A prova estava dentro de mim. Mas até ter o meu filho nos braços, esse sentimento de solidão nunca me abandonaria.

- O que vai ser de nós meu filho? – Acariciei o meu ventre relembrando as palavras de James. Até dar à luz não me poderiam matar. Mas mesmo que James se opusesse, não poderia fazer nada se uma patente maior decretasse ordem de prisão. – Porque é que me deixaste?

As palavras duras eram verdade. Eu e Will não estávamos casados oficialmente. Seria na verdade sua amante e o nosso filho bastardo. Sim. Essa era a realidade. Tu só virias daqui a 10 anos e o nosso filho seria olhado de lado. Não havia salvação para mim, para nós.


Ao anoitecer, uma das criadas trouxe-me o jantar ao quarto. Foi reconfortante ver que ainda era querida naquela casa. Se fosse pelo pessoal de serviço, nunca abandonaria aquela casa.

- Teve sorte em encontrar Mr. Norrington de novo. – A criada sorriu-me.

- Parece que ele é que teve sorte em sobreviver. – Disse. – No fundo fiquei aliviada. Ele não merecia morrer. Merece ser feliz.

- Ele só será feliz ao seu lado, menina. – Olhei para aquela insolente.

- Há assuntos que não devem sair da cozinha. – Aconselhei.

- Peço desculpa. Mas todos assistimos à recuperação dele. Houve vezes em que ele chamou por si. E desde que ele a encontrou nunca saiu da sua beira. – Abaixei os olhos, sentindo-me encabulada. – Um homem daqueles não se encontra todos os dias. Principalmente quando se dispõe a casar nas actuais circunstâncias.

- Casar? – Perguntei deixando cair o garfo.

- Oh, ele não lhe contou? – A criada arregalou os olhos. – Desculpe mais uma vez, menina.

- Não. Não vai sair daqui enquanto não esclarecer essa história de casamento. – Disse, impedindo que ela saísse do quarto.

- Eu não devia. Mas não aguento vê-la assim. Mr. Norrington está disposto a casar consigo para a salvar a si e ao seu filho da forca.

Não precisei de ouvir mais. Naquela mesma noite chamei James.

- Entre. – Respirava a brisa nocturna debruçada na janela quando James entrou.

- Queria falar comigo?

- Que história é essa de querer casar comigo? – Disparei apanhando-o de surpresa.

- O que… esses criados linguarudos. – James abanou a cabeça.

- Porque está disposto a sujar o seu nome para casar comigo?

- Não é o meu nome que está na lama, Elizabeth. Não nego que essa seja uma intenção minha, mas apenas para a salvar de um destino certo. – James disse. – Devo isso ao seu pai.

- Eu já sou casada. Mesmo que você diga que não tem valor eu sinto-me casada.

- Na prática é viúva. Will Turner foi dado como morto. E na verdade só voltará daqui a uma década. O que vai fazer durante esse tempo? Como sustentará essa criança? - Todas as perguntas e factos fizeram a minha cabeça doer.

- Eu… - Olhei James nos olhos para que compreendesse. – … amo o Will.

- Ninguém sabe isso melhor que eu. Considere a minha proposta como um contracto. Uma maneira de sobreviver, uma maneira de dar uma vida decente ao seu filho. Se por ventura, daqui a 10 anos quiser partir, eu não a vou impedir.

- É então um contrato? Apenas e só isso?

- É aquilo que você quiser, Elizabeth. – James disse saindo do quarto.

Continua…


Olá! Esta é uma short fic que estou a escrever sobre Elizabeth Swann e James Norrington. Considerem-na como um final alternativa para Lizzie.

Espero que gostem! Saudações Piratas! :D

JODIVISE