Stirb Nicht Vor Mir

Betado por luanaracos.

Prólogo

- Ei, irmã. Vamos embora daqui? –perguntava o menino, de pouco mais de seis anos, erguendo o cobertor que usava para se proteger do ar gelado da noite. Os olhos quase prateados perdidos no vai e vem das pessoas que por ali passavam, com suas malas e ignorando a presença da criança.

-Ainda não. –a irmã respondia sorrindo. A garota loira que aparentava ter quinze anos estranhamente parecia não se importar com o frio, usando um vestido de alcinhas branco e de pés descalços. –Daqui a pouco, iremos.

-Está frio aqui. –ele reclamava, se encolhendo mais no canto para evitar o vento frio.

-Daqui a pouco. Seja paciente.

Ela pedia passando a mão pelos cabelos loiros do irmão, que encolhia mais ainda em um dos cantos da rodoviária perguntava a irmã que estava ao seu lado. As noites em Berlim nessa época do ano, em pleno outono, estavam ficando muito frias.

-Estou com fome. -O menino fitava o rosto sorridente da irmã e suspirou em seguida.

-Mas não comeu aquele sanduíche inteiro por quê? –ela o repreendeu, mas não havia em seus olhos azuis sinal algum de impaciência com o pequeno. -Não é fácil achar um lanche intocado que jogaram fora no parque. Devia ter aproveitado.

-Aquele homem que apareceu no parque... Tinha uma sombra assustadora perto dele. Ele não era bom. –o menino se encolheu mais.

-O policial? –ela olhou em um ponto da rodoviária. –Também vi. Tudo bem, foi melhor termos ido embora do parque e voltado para cá.

-Por que não voltamos para a nossa casa?

-Porque nossos pais não vão voltar mais. -A adolescente baixou o olhar, entristecida. -E se você for para lá, vão te levar para o mesmo lugar que levaram os dois.

-Eles estão com problemas? O papai e a mamãe?

-Sempre estão.

O menino deu os ombros. Não que se importasse com os pais, eles nunca se importaram com ele ou com a irmã, preferindo as bebidas e as festas. Ainda mais por o considerarem perturbado por ver fantasmas desde pequeno. Apenas sua irmã acreditava nele e o abraçava todas as noites para não dormir com medo.

-Ele está vindo. –disse a menina, com certo entusiasmo.

-Quem? –o menino ficou curioso.

-O homem com a aura dourada. Lembra-se dele dessa manhã? –ela perguntou sorrindo. -Ele ficou te olhando um tempão. Viu algo especial em você.

Os dois olharam para um homem com casaco preto, carregando uma urna coberta com um tipo de lona nas costas, que caminhava na direção que se encontravam.

-O com cara de fuinha? Ele tem cheiro igual ao da vovó antes dela morrer. –torceu o nariz.

-Vovó cheirava uísque. –ela ergueu a sobrancelha, surpresa por ele se lembrar desse detalhe, afinal ele era muito pequeno quando a avó morreu.

-Ele também tem o mesmo cheiro.

-Ele tem uma alma boa. –ela sorriu. –Vai ficar tudo bem.

-Como sabe? -O menino olhou para a irmã com curiosidade e ela lhe respondeu com um sorriso.

-Ei, garoto!

O menino ergueu o olhar para o homem parado diante dele. Ele o fitava com uma sobrancelha erguida, mão esquerda no bolso do casaco, parecia curioso e desconfiado com relação ao garoto.

-Eu te vi mais cedo, quando cheguei para um trabalho. Você tem um talento e tanto, hein? Está sozinho? –perguntou com um sotaque bem carregado, apesar de falar muito bem seu idioma.

Ele balança a cabeça negativamente, olhando na direção da irmã. O homem lança o olhar na mesma direção.

-Tsc. Interessante! Está com fome? –ele pergunta estendendo a mão ao garoto.

O menino olha para a irmã, que mostra o polegar em sinal positivo, sempre sorrindo. Então ele confirma com a cabeça, levantando-se do chão e erguendo a cabeça para fita-lo.

-Não te falaram que pode ser perigoso conversar com um estranho?

-Minha irmã disse que está tudo bem conversar com você.

- Sua irmã? –olhou novamente para o local onde o menino estava. -Vem, vou te pagar um jantar. Quero conversar com você. Como se chama?

-Faust.

-Faust? Um nome forte. –ele fica pensativo. –Há quanto tempo você vê espíritos?

O menino parecia incerto sobre o que responder, mas a irmã fica bem atrás dele e coloca as mãos em seus ombros, lhe dando coragem, lhe falando ao ouvido:

-Está tudo bem.

-Eu... Sempre vi.

-Interessante mesmo. –o homem começou a andar, depois parou alguns passos percebendo que o menino não o seguia. –Você vem?

O menino corre para alcança-lo, e olha curioso para a carga que o homem carregava nos ombros, o tecido havia escorregado em um canto revelando parcialmente que era uma caixa dourada.

-Achou bonita? –o homem perguntou com um sorriso. –Ela é meio temperamental, sabia? Já me deixou na mão uma vez, demorou para fazermos as pazes de novo.

O menino achou curioso o desconhecido se referir à caixa como se fosse uma pessoa. Pelo cheiro de uísque que ele exalava, talvez fosse à bebida falando mais alto para explicar esse devaneio.

-A Armadura de Câncer é muito temperamental! –ele riu. –Mas estamos de boa hoje. Ei, garoto?

-Sim?

-Há quanto tempo você está sozinho?

-Duas semanas. -O menino baixou o olhar antes de responder, depois ergue o olhar falando com firmeza. -Mas eu não estou sozinho. A minha irmã está sempre comigo!

-Ela está aqui agora?

-Sim!

-Há quanto tempo ela morreu? –perguntou parando de andar e fitando o menino. Não teve resposta dele. Continuou a andar parando em frente a uma lanchonete. –Você vem?

O menino, parado no meio do saguão da rodoviária não queria ir. Mas novamente ouviu sua irmã lhe falando ao seu lado.

-Está tudo bem. Vá com ele, Faust. Não precisa ter medo.

O menino fitou o homem parado, que lhe esperava sem muita paciência. Reuniu coragem e caminhou até ele, e em seguida lhe perguntou:

-Ei, tio!

-Tio? Cadê o respeito pelos mais velhos, garoto?

-Qual é o seu nome?

O homem riu, ajeitou a urna nos ombros antes de responder, entrando na lanchonete.

-Me chamam de Máscara da Morte de Câncer. -entrou e acenou para o proprietário, como se fossem velhos conhecidos. -Hei, Aston velho amigo! Tem aquela ceva alemã que eu adoro?

O nome causou um certo arrepio em Faust, mas ele se controlou. Afinal, a irmã insistia em lhe dizer que estava tudo bem. E o dono da lanchonete parecia feliz em vê-lo, e conversavam animadamente. Então ele parou de falar e acenou para o garoto entrar.

-Vamos entrar logo, quero lhe propor uma coisa. –ele não olhou para trás ao entrar. –Afinal, é raro encontrar um pivete como você com seu nível de cosmo. Eu seria um tolo se te deixasse ir embora assim.

O garoto observou o homem entrar e ficou pensando se deveria ou segui-lo, mas respirou fundo e então, deu o primeiro passo para uma nova e misteriosa vida.

Continua...