Pausa Para Um Cigarro

O inspetor sacou o isqueiro do bolso e tentou acendê-lo cinco vezes, mas nenhuma faísca surgia. Com o cigarro pendendo de seus lábios apertados, ele vasculhou pelos bolsos atrás de seu outro isqueiro, mas não encontrou nada. Ele se lembrou do objeto depositado em cima da escrivaninha de seu quarto, ao lado do molho de chaves e se deu conta de que havia esquecido ambos em casa. Frustrado, o homem vasculhou o recinto na escuridão, tomando o cuidado de não pisar em nenhum cadáver.

Ele estava na sala da diretoria da Steel Corp., uma importante multinacional de Nova Berlim. Aparentemente, a empresa estava envolvida em um obscuro negócio com um proeminente mafioso russo. Porém, nos últimos meses, veio aos ouvidos do inspetor que os negócios tinham desandado. O resultado tinha sido esse: um acerto de contas. 'Como se eu já não tivesse problemas demais para resolver.', ele pensou, amargurado.

Suas mãos tatearam a superfície metálica das mesas até encontrar um maço de cigarros, mas nenhum isqueiro por perto. O inspetor abriu as gavetas e, para sua surpresa, sentiu com os dedos a superfície áspera da lateral de uma caixa de fósforo. Aliviado, ele sacou um palito e riscou a cabecinha, aproximando a chama da ponta do cigarro. Ele deu uma longa tragada, pensando em como o escândalo seria escancarado na primeira página de todos os jornais amanhã.

Sem dúvida, eles acusariam terroristas de ter arquitetado um ataque à empresa. Era fato notório que a Steel Corp. doava generosas quantias ao governo alemão para combater o terrorismo internacional. 'Talvez seja melhor apoiar essa versão dos fatos. Quanto menos munição eu der a esses jornalistas, melhor.' , pensou o inspetor enquanto dava outra tragada, considerando o quanto ele deveria revelar sobre o caso na coletiva de imprensa.