Tudo começara entre as férias do quinto para o sexto ano. Ginny sentia-se tensa, nervosa, com um sentimento que a perturbava desde que o ano lectivo tinha terminado. Ela não entendia aquele sentimento. Seria pela certa, a pressão dos exames de feitiçaria que teve. Aquele medo de ter más notas, de não ter estudado o suficiente. Sim, devia ser ansiedade.

Era uma manhã de sol quente, típica de Agosto, Ginny sentia-se cansada. Definitivamente, aquelas férias não estavam a correr bem. Demorou a lembrar-se onde estava pois aquele quarto parecia lhe tão pouco familiar. Sentou-se à beira da cama, a olhar para o feixe de luz que entrava pela janela. Era uma visão bonita, a luz do sol entrava pela janela acima da sua secretária iluminando-a. A imagem das pintas brancas banhadas pelo sol a flutuarem suavemente, era calmante. Ginny levantou-se, tomou um duche, vestiu-se e desceu as escadas que a levariam à cozinha e à sala.

O cheiro das panquecas no corredor que a levaria à cozinha abriu-lhe o apetite. Quando entrou na cozinha, reparou num papel em cima da mesa, a avisar que os seus pais tiveram de sair e que voltariam à noite para casa. Tentou chamar os seus irmãos, mas provavelmente deveriam estar a jogar Quidditch ou algo do género no quintal, já que não ouvira nenhuma resposta. Realmente estava sozinha em casa. Tanto melhor, ela gostava de estar sozinha pois assim podia fazer o que quisesse sem que ninguém a importunasse. Depois de comer as panquecas com recheio de amora, foi para a sala ver se encontrava algo de interessante para fazer, mas não encontrou nada que lhe interessasse. «Vou mas é ler », subiu as escadas e foi para o seu quarto procurar um livro que do seu interesse. Retirou da estante, situada ao lado da secretária, um livro de romance que lhe haviam dado, quando ela ainda tinha 12 anos, pela altura do Natal ou da Páscoa, não se lembrava. Sempre achou que os livros de romance não tinham o mínimo interesse, por isso, não dera grande importância àquele livro... a não ser hoje. Não percebia o seu súbito interesse naquele livro. Durante um tempo, observou a imagem de um pôr-do-sol, iluminando com os seus tons laranja e vermelho o mar sob o qual desaparecia. Dois pássaros sobrevoavam em frente ao sol, contrastando o negro das suas sombras com a claridade deste último. Sobre o céu avermelhado, estava escrito "Sete meses" com letras brancas. Giny nunca tinha reparado o quão bonita era a capa e a mensagem que emanava. Começou a sentir que ia chorar. Não entendia nada, ela não queria chorar, não tinha razão para tal, a última vez que chorou intensamente foi no seu primeiro ano em Hogwarts, quando Tom Riddle quase a matara.

Chorou até não poder mais. Sentiu-se mais aliviada, mais solta, não percebeu porque lhe aconteceu aquilo, livro algum lhe provocou aquilo. Nem valia a pena tentar perceber, com certeza que era passageiro, decidiu lavar a cara e ir ler o romance.

Eram quatro horas da tarde e nem reparou que o tempo tinha passado. Com a concentração de ler o livro, não se lembrara de almoçar. Decidiu fazer uma pausa e ir comer qualquer coisa. "Até que o livro é interessante", pensou para si própria a caminho da cozinha. A meio do corredor começou a ouvir barulhos e vozes na cozinha. Não percebia de quem era aquela voz, mas uma coisa era certa, pertencia a um rapaz. Quando entrou na cozinha viu o seu irmão Ron. Mas ele não estava sozinho, ao seu lado, estava o Harry:

Ora seja bem aparecida. Onde é que estavas? – perguntou o Ron.

Não te interessa. Olá Harry, não sabia que estavas cá...

O Ron mandou-me a Errol, a perguntar se podia vir cá passar o resto das férias e os meus tios deixaram-me.

Podias-me ter avisado que o Harry vinha, Ron. E a Hermione?

A Hermione está com os seus pais na Grécia e pelo o que ela me respondeu, está a adorar - disse Ron fazendo uma careta.

Ginny sorriu com a cara que o irmão fez, retirou um pacote de bolachas do armário e voltou para o seu quarto. A sua amiga estava a viajar e o Harry lá em casa. Sentiu-se mais animada, sempre tinha alguém mais para conversar.