Recomeçar

Ela estava sentada a mesa da cozinha, lutando para esconder as lagrimas que rolavam por sua face. Nunca imaginara que seria assim. Aos 16 anos quando começaram a namorar era tudo flores, aos 18 quando se casaram foi uma maravilha, não sabia que aos 21 anos estariam se separando desta maneira tão dolorosa.

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

No quarto ele juntava suas coisas, era inevitável sentir uma forte angustia, ele também plantara sonhos, mas infelizmente eles não brotaram. O amor acabara, da parte dele principalmente. Seguiram caminhos distintos, na vida profissional e pessoal.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.

A traição fora inevitável, somente ela já não o satisfazia como homem, seus assuntos não eram os mesmos e com o passar do tempo já não havia mais dialogo. Talvez por erro dos dois, por falta de tentativa dos dois. Se fossem menos orgulhosos, talvez desse certo, mas como não eram, nenhum dos dois deu o braço a torcer.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante

Ela estava nervosa e diante de seus olhos havia uma carteira de cigarro, esqueceu-se que a carteira não era dela, esqueceu-se até mesmo que não fumava. Quem se importava se a carteira de cigarro deixada pela outra que saíra as pressas era a prova de sua humilhação, ela precisava se acalmar e sabia que nicotina era um bom calmante.

De repente, não mais que de repente.

Soneto da Separação –Vinicius de Moraes.

Ela ascende um cigarro e da uma tragada, mesmo não sendo fumante não era a primeira vez colocava um cigarro na boca. Fizera isso uma vez quando aos 20 anos alguns colegas de trabalho estavam em um happy hour. Ela tinha acabado de descobrir que sofrera um aborto e não poderia mais engravidar. Foi nesse momento que seu casamento começou a desandar.

Ele que já tinha juntado suas coisas caminha com pesar em direção a sala onde coloca suas malas e vai em busca da, ainda, esposa para despedir-se. Apesar de tudo ele ainda se importava com ela, apesar de tê-la humilhado. Sinceramente ele se sentia um lixo e não sabia responder por que fizera o que fez.

-Você não fuma. –afirma o homem tentando iniciar uma conversa.

-Você já terminou? –pergunta ela ignorando a afirmação dele e indo direto ao assunto.

-Eu queria que fosse diferente. –sussurra ele.

-Que eu tivesse chego dias depois como disse que faria ou que não tivéssemos casado? –pergunta ela doida, estava em uma viagem a negócios e chegara dias mais cedo para fazer uma surpresa ao marido, ficara fora por um mês, mas tirara as férias atrasadas e iria recompensá-lo por três meses.

-Não... não é isso. –ele não sabe como agir diante da atitude dela.

-Sem respostas. Foi uma pergunta cujos dois já sabem a respostas. Acho melhor você ir. –afirma ela.

-O que faremos agora? –pergunta ele.

-O que EU farei agora? –corrige ela enfatizando que não existia mais nós. –Segunda pela manhã terá os papéis do divórcio.

-Adeus. –sussurra ele indo até a sala pegando suas coisas e indo embora de casa.

A jovem por sua vez desmancha-se em a agonia que sentia em seu peito se manifestava através das intermináveis lagrimas que rolavam por sua face, todos os seus sonhos. Por mais que as coisas não andassem bem nunca imaginou que ele fosse capaz de traí-la, ainda mais em sua casa, em sua cama. Sentia-se suja, sentia nojo de si mesma. Ela vai ao seu quarto e retira a roupa de cama e desesperadamente a rasga.

-Eu tenho nojo dele. Como ele pode. –dizia ela rasgado o lençol que estava na cama. –Ele se deitou com ela em nossa cama. –ela vai ao armário e pega álcool, na cozinha pega o isqueiro.

Indo ao quarto pega os lençóis, o colchão, travesseiros, e leva-os um a um até a frente de casa. Derrama duas garrafas de álcool sobre eles e os queima. Ascende um cigarro e joga a carteira e o isqueiro no fogo.

-Que meu amor por ti seja como este fogo que logo se extinguirá. –sussurra ela como se fosse uma oração.

Os vizinhos passavam olhando a bela funcionaria de uma das maiores agencias de modelo do mundo, logo os repórteres estariam rodeando a casa dela e ela seria primeira pagina nas manchetes. Mas no momento ela não se importava ela queria destruir a angustia que sentia.

O rosto inchado de tanto chorar eram a marca de uma mulher que sofria internamente. Caminhava pelas ruas com seus óculos escuros escondendo sua fraqueza. Mesmo estando destruída emocionalmente, não se deixou levar, vestia um vestido preto até a metade da coxa, uma sandália de tiras preta, salto agulha. Seus longos cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo, atados com um elástico preto, um flor preta em um tic-tac adornava seu cabelo, uma pequena bolsa de couro preta e o óculos de hastes e lentes pretas completavam o visual. Estava sem maquiagem, nunca gostara muito delas e agora tão pouco poderia usá-la devido as lagrimas.

Entrou em uma loja de colchões, afinal, não poderia dormir no sofá. Se já estava se sentindo um caco agora imagine se dormisse no sofá. Tudo o que precisava era de uma boa noite de sono e talvez pudesse melhorar.

-Estou em busca de um colchão e preciso que seja entregue hoje mesmo. –disse ela sem enrolar ao atendente antes mesmo que ele pudesse lhe dizer oi.

-Bem, eu preciso ligar para os entregadores e para o estoque não posso lhe garantir nada. –afirma ele.

-Então ligue, farei o pagamento a vista e desejo meu produto em casa. –afirma ela.

-Não quer olhar os modelos? –questiona ele.

-Não precisa, comprarei o mais caro. –afirma ela.

O atendente com um brilho de ganância em seu olhar, mudou completamente a sua atitude diante da mulher a sua frente.

-Sente-se senhora, farei o possível para atender seu pedido. –disse ele levando-a até uma mesa com um computador e uma cadeira a frente.

-Ah, ia me esquecendo. Preciso também de travesseiros. De pena é claro. –afirma ela.

-Vejamos. –começa ele digitando no computador, freneticamente. Pega o telefone e liga para um colega. – Hitomi? Aqui é Aki do setor de vendas preciso de uma entrega para hoje. É possível? Ta bem, obrigado. –afirma ele desligando o telefone.

-E então o que conseguiu? –pergunta ela séria.

-Senhora, acho que está com sorte. – afirma ele. –Fiz um esforcinho extra e acredito que a entrega será feita ainda hoje.

-Você apenas acredita ou tem certeza? –indaga ela.

-Tenho certeza. –responde ele intimidado.

-Então poderei processá-lo se não chegar? –questiona ela.

-Pode. Mas isso não irá acontecer. –afirma ele.

-Isso é muito bom.

-Entrega no nome de quem? –questiona ele.

-Tsukino, Serena Tsukino. –afirma ela.

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N.A.: Espero reviews para continuar.