Uma notícia se espalhava por todo o Caribe, uma notícia bastante estranha. Aqui e ali, pessoas começavam a dizer que haviam visto um rapaz perambulando a esmo pelos portos. Elas viajavam em navios, pelo mar, ou a cavalo, por terra, e espalhavam a notícia.
Dizia- se que ele nunca revelava seu nome, nem sequer os motivos que o levavam de lá para cá. Contavam- se as maiores histórias sobre o sujeito e cada pessoa tinha seu modo de vê- lo, mas todas concordavam em certos aspectos.
Era um belo homem, alto, forte, de olhos cor de mel e cabelos castanhos claros; sempre que lhe perguntavam ele afirmava ter vinte e cinco anos de idade, vestia- se tão bem quanto podia e esbanjava inteligência, destreza e gentileza.
Os homens diziam que era excelente espadachim, cruzando espadas com calma e firmeza. As mulheres, que era vistoso, bem- educado e asseado. Quanto disso era verdade ninguém sabia, ou podia imaginar, chegando ao cúmulo de algumas pessoas espalharem que ele levava consigo um inestimável tesouro, jamais se separando de uma bolsa enorme de couro que trazia nos ombros.
Ele ia de porto em porto, conversava pouco e se percebia que a pessoa queria penetrar- lhe os segredos, afastava- se de forma educada. As vezes arranjava briga com alguns homens, mas a diplomacia e a lábia eram suas melhores armas.
Marujos chegavam aos portos encantados, anunciando que o jovem viajara com eles no navio, que trabalhara junto deles, que era disciplinado e esperto. Mas, quando todos acorriam ao navio para vê- lo, descobriam que havia sumido. Logo depois, ouviam o barulho de cascos de cavalo contra o chão e avistavam o sujeito, montado num cavalo qualquer, indo embora muito altivo.
Algumas pessoas apostavam que ele era um andarilho sem rumo, outras que era um aprendiz de feiticeiro, outras ainda cortariam um dedo de suas mãos se ele não tivesse uma missão secreta à realizar.
O rapaz pouco ligava para o que cochichavam à sua passagem, sorrindo vez por outra quando ouvia um absurdo. Entretanto, ele prestava bastante atencão aos tipos que andavam pelos portos como se procura- se por alguém.
Uma vez tendo visto que naquele lugar não encontraria o que procurava, partia para outro, por terra ou por mar.
Sua fama de misterioso cresceu, atingindo todos os portos, mas ele conservou- se calado e enigmático, apenas esperando que a poeira baixasse. Nós mesmos, leitores deste relato, tampouco saberemos seu nome até que tudo esteja consumado; por hora, o chamaremos apenas de "M", referente à mistério..
Ele era um rapaz determinado e corajoso, mas seu rosto quase sempre estava vincado pelo sofrimento e pelo cansaco, e quando erguia- se na manhã seguinte, depois de uma longa noite de sono, invariavelmente seus olhos estavam vermelhos e havia olheiras sob eles. Julgar- se- ia que ele chorava muito tempo antes de adormecer.
Assim era o rapaz misterioso e qual seu objetivo, ou qual sua origem, ninguém, em todo Caribe, poderia suspeitar.
