Título: Um Lugar Para Recomeçar

Gênero: Padackles / J2

Autora: Mary Spn

Beta: Eu mesma! Os erros são todos meus.

Avisos: Contém cenas de relação homossexual entre dois homens. Não gosta, não leia!

Sinopse: Dois homens feridos pelo passado. Enquanto um deles está disposto a recomeçar, tudo o que o outro quer é fugir. Estariam destinados a curar as feridas um do outro ou a machucarem-se ainda mais?


Um Lugar Para Recomeçar

Capítulo 1

Em sua biblioteca, Jensen segurou o porta retratos que estava em cima do balcão e sorriu com tristeza. Lembrou do quanto já tinha sido feliz sem nem mesmo se dar conta. Sentia saudades daqueles tempos, quando tudo parecia tão simples.

O colocou de volta no lugar e parou diante da estante de livros. Deslizou a mão pela prateleira, sentindo a textura das capas tocarem a ponta dos seus dedos.

Era autor de vários livros, inclusive três Best Sellers, algo de que Jensen podia se orgulhar. Ao pensar nisso, olhou com tristeza para a escrivaninha, onde se encontrava o seu laptop. Caminhou até ela e sentou-se diante do seu companheiro inseparável.

Não conseguia evitar o sentimento de frustração que tinha sentia cada vez que fazia isso. Agora fazia quase um ano desde que a sua vida virara de cabeça para baixo. Depois disso já tinha feito centenas de tentativas, mas já não conseguia mais concentrar-se. Escrevia trinta, cinquenta páginas no máximo e perdia o foco, não conseguia dar continuidade. Quando lia novamente o que escrevera, acabava achando tudo um lixo e começava tudo outra vez.

Pintar, que antes era o seu hobby, também não conseguia mais. Já não era mais o mesmo e se continuasse desta maneira, acabaria entrando em depressão, ou então enlouquecendo de vez.

Sentia-se um inútil, incapaz. E não havia nada que o fizesse recuperar o seu dom, sua capacidade e sua paixão pela vida.

Misha Collins, seu grande amigo e também seu editor, fazia de tudo para ajudá-lo, sem sucesso. O convidava para grandes festas, ligava quase todos os dias, o incentivava a voltar a escrever, mas de nada adiantava. A pressão só o frustrava ainda mais.

O telefone tocou e mesmo antes de atender Jensen sabia que era ele, Misha.

- Hey amigão! Como estamos hoje? – Misha perguntou animado. O moreno era sempre assim, alegre, otimista.

- Se eu disser que estou na mesma, você vai ficar surpreso?

- Jensen, eu estive pensando...

- Misha, eu sou seu amigo e agradeço muito a sua preocupação e paciência comigo, mas... Não há nada que você possa fazer, cara. É uma fase, quem sabe algum dia isso tudo passe e eu volte a ser o que era.

- Me escute, é a minha última tentativa, está bem? Eu prometo!

- Tudo bem, eu estou te ouvindo.

- Olha Jensen, desde o acidente você tem tentado superar, eu sei. Você tentou escrever, tentou pintar e nada deu certo.

- Eu sei, Misha - Jensen suspirou com desânimo.

- Pois é. Mas... Você vive enfiado aí, neste apartamento, sozinho.

- Eu já tentei sair, você mesmo me arrastou por aí e também não funcionou.

- Dá pra me deixar terminar? – Misha já estava impaciente.

- Ok, fale.

- Quem sabe se você tirasse umas férias, um tempo só pra você. Talvez uma viagem, ou algum lugar junto à natureza, um lugar calmo, do jeito que você gosta.

- Eu não sei, eu...

- Esqueça que você é um escritor, esqueça a sua vida anterior. Deixe o seu laptop em casa, inclusive o seu celular. Esfrie a cabeça, Jensen! Faça algo que você goste, vá pescar! Eu tenho certeza que em dois meses você estará completamente revigorado e pronto pra recomeçar.

- Pescar?

- Foi só uma ideia, você entendeu o que eu quis dizer.

- Ok. Eu vou procurar algo na internet. Se eu me interessar eu te aviso.

- Ao menos pense a respeito, Jensen!

- Eu vou pensar, Misha. Eu prometo!

Jensen desligou o telefone e sorriu diante da possibilidade. Talvez Misha tivesse mesmo razão, novos ares poderiam lhe fazer bem.

Ligou seu laptop e acessou a internet, procurando por um lugar. Pensou em um hotel fazenda, mas não conseguiu se imaginar lá por mais de uma semana. Então pensou em uma praia, mas não encontrou nada que chamasse a sua atenção.

Queria ficar sozinho, então teria que ser um local isolado, sem muitos visinhos. Quem sabe um chalé nas montanhas... Não, Jensen se lembrou que detestava montanhas.

Ao procurar por chalé, acabou encontrando uma imagem que fez os seus olhos brilharem. Pedras enormes, uma praia de águas cristalinas e um chalezinho esquecido lá no meio, totalmente retirado de tudo.

Anotou o endereço, vendo que ficava a umas oito horas de viagem, e também o telefone.

Na terceira tentativa uma senhora atendeu, e depois de ouvi-la por quase meia hora falando sobre as maravilhas do lugar, Jensen acabou o alugando por dois meses.

Estava tão animado com a ideia que começou a arrumar suas malas, não queria nem esperar pela empregada no dia seguinte. Estava decidido, sairia logo pela manhã, assim não teria como mudar de ideia e voltar atrás.

Separou roupas e sapatos confortáveis, basicamente jeans e tênis, agasalhos para as noites de frio, objetos pessoais, alguns livros, e não conseguiu evitar levar seu laptop. Se o deixasse seria como deixar uma parte de si, mesmo que não fosse usá-lo, gostava de tê-lo sempre por perto.

Acordou cedo no dia seguinte e parecia que o universo estava conspirando a seu favor. A chuva tinha parado e dado lugar a um céu azul com um sol maravilhoso.

Com a ajuda do porteiro do prédio, Jensen carregou suas malas até o seu carro, um BMW X3 vermelho, recém adquirido. Tinha trocado de carro três vezes no último ano, pensando que talvez isso o fizesse feliz, mas sua empolgação não durava mais que uma semana.

A viagem foi tranquila, Jensen parou apenas para almoçar e esticar um pouco as pernas, pois tinha pressa em chegar. Talvez esta fosse só mais uma tentativa frustrada de retomar a sua vida, mas precisava arriscar. Tinha dentro de si a sensação de que algo muito bom estava para acontecer. E queria se agarrar a esta esperança com todas as suas forças.

As horas passaram rápido e quando percebeu, já estava entrando na cidade. Era pequena, pacata, com alguns vilarejos de pescadores, Jensen pôde observar.

Dirigiu mais alguns quilômetros por uma estradinha que mal passava um carro e então já não via mais nenhuma casa por perto.

Ao chegar, estacionou o carro em uma garagem nos fundos do Chalé. Tirou as malas do carro, as deixando em frente à porta dos fundos e deu a volta pelo lado de fora do Chalé. Era de tijolinhos à vista, com janelas e portas de madeira trabalhada, tudo muito bonito.

Quando entrou, viu que a porta dos fundos dava acesso à cozinha. Parecia tudo impecável, os azulejos brancos, móveis sob medida, um fogão à lenha e outro a gás, tudo muito limpo e organizado.

Na sala havia móveis rústicos, uma lareira, tudo com ar de simplicidade, mas de muito bom gosto. Logo que entrou, Jensen se sentiu muito confortável.

De certa forma o lugar o remetia a algumas lembranças de um passado distante, quando passava as férias escolares na casa de campo do seu avô.

Carregou suas malas até o quarto, deixando-as em cima da cama e voltou para a sala, onde acendeu a lareira. Apesar de o dia estar lindo e ensolarado, fazia bastante frio.

Jensen abriu as portas de correr que davam para a varanda e parou ali, sentindo a brisa do mar bater em seu rosto. A vista do chalé era incrível, Jensen não resistiu e se sentou na escada, observando a arrebentação das ondas, a areia branquinha, os pássaros voando de um lado para outro. A natureza sempre o encantava.

Olhou para o horizonte e começou a rir sozinho, quando finalmente a ficha caiu...

Enquanto dirigia pela cidade, observou várias placas como: Mercearia Farol, Farmácia do Farol, e a praia onde se localizava o chalé também se chamava Praia do Farol.

Alguns quilômetros mar adentro havia uma ilha de pedras, com um imenso farol no centro dela. Jensen tinha ficado tão encantado com o chalé à beira mar que não tinha se dado conta do farol. Era considerado um ponto turístico na cidade, mas não parecia ser um lugar muito frequentado.

Olhando assim, de longe, chegava a lhe causar arrepios. Jensen voltou para dentro do chalé, a fim de arrumar suas roupas no closet. Não demorou muito com a tarefa, guardou suas roupas e sapatos, colocou seus objetos e produtos de higiene pessoal no banheiro, e levou alguns CDs e livros para a sala, assim como o seu laptop.

Ter ele por perto o fazia se sentir como se não estivesse sozinho. Pensar desta maneira era estranho, mas era exatamente como Jensen se sentia.

O ambiente era realmente acolhedor. O barulho do mar, somado ao crepitar da lareira, era algo muito relaxante.

Jensen sentou-se em uma poltrona macia perto da lareira. Escolheu um dos livros que trouxera e leu alguns capítulos, mas cada vez que levantava os olhos do livro e olhava pela janela, Jensen se deparava com a ilha do farol.

Colocou o marcador e deixou o livro sobre a mesinha de centro, caminhando novamente até a varanda. Tinha algo naquela ilha que o intrigava, ou quem sabe fosse apenas a sua curiosidade.

- Será que alguém vive ali? - Jensen pensou, chegando à conclusão de que provavelmente não, ninguém viveria em lugar como aquele.

De qualquer maneira, decidiu que iria conferir. Havia um pequeno barco na garagem, debaixo de uma lona. Se conseguisse levá-lo até a beira do mar e atravessar a arrebentação, não teria dificuldades em chegar até a ilha.

Já tinha pilotado barcos e lanchas outras vezes, este não deveria ser muito diferente.

Jensen tirou os sapatos e desceu a escadaria da varanda, pisando descalço na areia. A sensação era deliciosa. Dobrou a barra da sua calça jeans e foi caminhar pela beira do mar, deixando a água gelada molhar seus pés. A sensação de liberdade era tão grande que sentia vontade de gritar.

Tinha que se lembrar de agradecer a Misha por ter sugerido a viagem. Afinal, se não fosse por ele, Jensen ainda estaria trancado em seu apartamento, se sentindo a pior das criaturas.

Mesmo sem querer, enquanto caminhava, seus olhos sempre se voltavam para a bendita ilha. Jensen sabia que provavelmente encontraria lá apenas pedras, pássaros e um velho farol abandonado.

Apesar de que, da distância em que estava não dava para julgar se era abandonado ou não, mas Jensen esperava que lá tivesse pelo menos alguma coisa interessante para não perder a viagem.

Algo naquele lugar o atraía, e o loiro sabia que não iria sossegar enquanto não fosse até lá.

- Maldito mistério! – Jensen suspirou e voltou para o Chalé.

Ao menos já tinha planos para a manhã seguinte...

Continua...