O CAMINHO DE VOLTA - CAPÍTULO 1 - Se eu não estivesse por perto...

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Comentários Iniciais:

Esta é uma fic self-insertion, eu tinha a obrigação de publicar a história dessa minha personagem... Quem joga rpg e tem o mesmo carinho pelas personagens que interpreta sabe como é isso... Também é a republicação da fic, tinha escrito os primeiros quatro capítulos, mas deletei-os e os estou reescrevendo, com algumas poucas mudanças... Trilha de Evanescence - Taking over me... Boa leitura!

Obs: Na presente fic, Shaka conta com 10 anos e Marine com 7...

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A menina estava ali há pouco mais de dois anos e constantemente questionava o jeito como as coisas eram ali no Santuário. Mais que tudo, ela parecia detestar especialmente a máscara que todas as amazonas deveriam usar para esconder seus rostos. E não era raro que ela se esgueirasse para além dos campos de treinamento das amazonas para espiar as Casas Zodiacais e seus guardiões, a quem poderia ficar observando e intimamente admirando durante horas a fio. Os Cavaleiros de Ouro não passavam de garotos ainda, mas ela nutria por eles um respeito que se dedica a deuses.

Quando chegou ao Santuário, para iniciar seu treinamento, tinha apenas 5 anos e chorava todas as noites até dormir, com saudades de sua casa na Romênia, e morria de vontade de voltar para conhecer sua irmãzinha, uma vez que sua mãe estava grávida de alguns meses quando partiu de sua terra. Não encontrou muitas meninas dispostas a serem suas amigas, e pouco conversava com elas, por não conhecer muito bem a língua que falava-se ali. Somente uma garotinha ruiva, uns dois anos mais velha que ela, a tratava consideravelmente bem, pois ela também sabia o que era vir de longe, e quase nunca precisavam trocar palavras para entender o que sentiam. Com o tempo, a menina foi se afeiçoando às suas companheiras, passou a levar o treinamento bastante a sério e começou a amar aquela terra, não desejando mais deixar o lugar.

Um dia, para a surpresa da menina, uma das amazonas mais velhas lhe pediu um favor: ir buscar uma encomenda com uma das servas no Salão do Mestre do Santuário. Como a outra sabia do fascínio que ela tinha pelas Casas Zodiacais, explicitou que não deveria ir pelo caminho que passava pelas Doze Casas, apontando uma outra estradinha do lado contrário da montanha. A menina, radiante, prometeu que sim e se foi feliz buscar a encomenda.

Como ordenado, foi pela estrada indicada, chegando ao Salão do Grande Mestre sem maiores problemas. Procurou pela serva, apanhou o pacote e se preparou para voltar. Tentou dar uma espiada lá de cima, mas o pouco que viu foi umas colunas de mármore, e que por sinal não faziam parte de nenhum dos templos. Assim que pôs os pés na estrada, no entando, sentiu um desejo enorme de ver as Casas Zodiacais. Olhou para um lado e para outro do caminho, e nada viu além de terra batida, pó e pedras.

Com o coraçãozinho aos pulos, lá se foi ela por um caminho alternativo, passando pelo lado da montanha, no ponto exato entre o caminho que passava pelas Casas e seu oposto, o caminho de terra por onde tinha vindo. Não estava cumprindo suas ordens, mas não as estava desobedecendo completamente. Era a primeira vez que andava por ali. Sempre vira aquela trilha sinuosa lá do campo de treinamento, e sempre se perguntava porquê não era usada. Mal ela sabia, porém, que não mais se utilizava aquela estrada porque ela poderia, literalmente, se desfazer de uma hora para outra. Havia sido bastante usada há tempos atrás, é verdade, mas com a passagem dos anos as árvores que sustentavam a estrada morreram e a terra se tornou muito seca, começando a esfarelar. Frequentemente enormes pedaços de rocha desgrudavam e rolavam montanha abaixo, sendo que fora necessária a interdição daquele caminho, permanentemente. Feliz com a vista privilegiada que tinha dali, a menina ia saltitante pelo caminho, ignorando a terra rangendo sob seus pés e o perigo que corria.

Em certo momento, parou. Pousou seus olhos longamente no templo de Aquário. Ela suspirava: o maior sonho que acalentava era um dia ser a guardiã daquela Casa, o que era natural tendo ela nascido sob a regência daquele signo. Não saberia dizer por quanto tempo ficara olhando dali, mas foi instintivamente se aproximando cada vez mais do precipício próximo, parando a pouquíssimos centímetros de uma queda. Continuava com os olhos fixos no templo: "Como a Casa de Aquário é bonita!". Sentiu a terra sob seus pés tremer e recuou dois passos, a tempo daquele pedaço de rocha se desprender e se tranformar em pó, desaparecendo na névoa escura do abismo a seus pés. Iria respirar fundo e pensar na sorte que tinha, quando novamente sentiu a terra a seus pés tremer. Deu uns pulos para trás, até chegar num pedaço de terra firme, mas ali era escoregadio e seu pé deslizou na superfície rochosa, fazendo-a perder um pouco o equilíbrio.

O bloco de terra espatifava-se lá embaixo quando finalmente conseguiu manter-se de pé sobre a rocha. Deu um passo para trás ao mesmo tempo que o pacote que levava escorregou de suas mãos. Não chegou a pensar muito, mas não poderia jamais voltar sem a encomenda, então saltou com o braço esquerdo estendido para alcançar o pacote. Quando sentiu o tecido macio do embrulho em sua mão, segurou firme e fechou os olhos, preparando-se para também se espatifar contra as rochas no fundo do precipício.

Para sua surpresa, sentiu-se suspensa no ar pelo outro braço. Arriscando abrir os olhos, voltou-se para cima, mas um brilho dourado ofuscou sua visão. Passados alguns centésimos de segundo, olhou para baixo e viu que segurava a ponta de um tira de tecido, que embrulhava a tal encomenda, mas que se desenrolara com a "queda". Na outra ponta do tecido, a caixa que havia ido buscar, presa à tira pela ponta de um prego mal pregado. Devagarinho, puxou a tira trazendo a caixa para perto de si, tomando o cuidado de não soltar o tecido do prego com um puxão mais forte.

Respirou fundo quando se sentiu sendo puxada para cima, temendo a bela bronca que certamente levaria. Quando conseguiu alcançar a rocha, tentou subir sozinha, mas ainda foi auxiliada pela outra pessoa. De joelhos na beira do precipício, arfando devido ao esforço, levantou o rosto, engolindo seco quando viu quem a ajudara. Tentou levantar para uma reverência, mas não conseguiu e caiu de cara no chão. Suas pernas não obedeciam e doíam, provavelmente quebradas num choque contra a parede rochosa quando saltou e foi pêga no ar. Naturalmente, como qualquer criança, começou a chorar.

- Você se machucou!?

Ao ouvir a voz, parou de chorar, soluçando um pouco ainda, erguendo o rosto. Um garoto loiro de no máximo 10 anos se abaixou ao seu lado, sorridente, porém de olhos fechados.

- Não tenha medo, eu vou curar você...

Com uma expressão serena, o garoto esticou as duas mãos sobre a pernas dela, fazendo suas lágrimas secarem e a dor passar. Ela sentia uma energia quente e suave emanando dele. Aquilo, mais que assustá-la, a encantava. De repente, o garoto recolheu as mãos e levantou, voltando a estender uma mão na direção dela, para ajudar a levantar-se.

- Vem, levanta!

- O-obrigada.

A menina pegou a mão estendida, notando que trazia a caixa abraçada junto ao peito, mas devia ter deixado a tira de tecido cair no último esforço pra subir. Procurou desesperadamente pelo pano em toda a volta. O garoto pareceu sentir isso, apesar de continuar com os olhos fechados.

- Que foi!?

- E-eu perdi o pano do embrulho... Ai...

- Tome isso...

O garoto estendia para ela uma tira de tecido que estava enrolada em seu próprio braço. A cor era diferente, mas isso pouco importava agora.

- Obrigada de novo - disse, pegando a tira e embrulhando a caixa.

Ela conhecia aquele garoto de algum lugar... Ele usava roupas comuns de treinamento, mas aquele cabelo loiro... !!!!!!!!!... Ele era...

- Você é o Shaka! - praticamente cuspiu essa frase, lançando-se ao chão numa improvisada, engraçada e exagerada reverência respeitosa. Esperou alguns segundos para erguer a cabeça de novo - Por acaso você é cego!?

- Não, isso faz parte do meu treinamento... - o garoto sorriu, parecia se divertir com a situação - E você não deveria estar aqui. Ou não sabia que este caminho está fechado?

- E nem você, então - respondeu, ofendida, a menina. Mas a curiosidade sobre ele era maior - Você consegue me ver? - perguntou, levantando a mão na altura do rosto dele e acenando.

- Ver não, mas consigo sentir.

- E eu não pedi ajuda. Como você...!?

- Você não pediu ajuda, mas seu cosmos sim. É como se eu enxergasse os cosmos de todas as coisas, sabe? - nesse momento, ele parou de falar, não tinha como saber se ela estava ou não entendendo o que dizia - Você sabe o que é o cosmos, né?

- Sei sim, estou treinando para ser uma amazona! - anunciou, orgulhosa.

- Isso é bom. Mas você não deveria estar aqui! Se eu não estivesse por perto, você estaria morta!

- Eu sei - ela murmura, baixando a cabeça, triste.

- É melhor você ir. Sempre que as rochas desmoronam , os soldados vêm checar se ninguém se machucou.

- Tudo bem! - a menina se volta para a estrada e começa a caminhar, mas pára e volta para perto do jovem cavaleiro - Posso pedir uma coisa?

- Pode.

- Posso ver seus olhos?

- Eu... - ele titubeia, indeciso - Se eu abrisse meus olhos, poderia te matar. Por que quer ver meus olhos?

- Para saber se são bonitos.

- Mas... - o rosto do menino cora levemente - Para isso você não precisa ver, basta sentir. Mesmo se eu tivesse os olhos abertos agora, não poderia ver seu rosto de amazona, mas sinto seu cosmos, que é muito agradável, então tenho certeza que você é bonita! - ele sorri ao terminar a frase.

- Tá! - a menina fica sem saber o que dizer, mas sabia que silêncios podiam ser ensurdecedores. Ela se volta para a estrada, ouvindo o barulho de pessoas se aproximando - Tchau, Shaka! - e corre para longe dali o mais rápido possível.

Quando os soldados chegaram, só encontraram o menino que disse estar treinando. Mais tarde Shaka lembrou que não tinha perguntado o nome dela, mas nunca esqueceu daquele encontro. E nenhuma outra amazona ouviu Marine reclamar novamente por ter que usar aquela máscara...

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Considerações Finais:

Bom, é isso... Como fã, sempre achei o Cavaleiro de Virgem muito fofo e queria uma historinha ao menos ligada à ele... Como não queria mudar aquela característica "passiva" do Shaka, optei por um romancezinho assim, meio platônico... Preferi também contar esta história mais em narrativa que em diálogo... A escolha da Romênia como país de origem da personagem reflete da decisão para o nome: como Marine é derivado do latim, preferi escolher uma região que falasse uma língua também derivada do latim... Comentários por e-mail ((marinabt@terra.com.br)), icq ((65277275)) ou msn ((earwensilmenel@hotmail.com)) são sempre bem vindos!!!