Primeiramente, gostaria de agradecer mais uma vez ao Cajango fofíssimo pelo apoio e pela revisão! =3 Esta é mais uma Side Story de Encanto Grego, em seis capítulos, a qual conta parte da (divertida) história de Hakurei e Asmita. Não é segredo que amo esse casal tão exótico, espero contagiar os leitores com esse amor... rsrsrs Desejo-lhes uma ótima leitura!

A 'esposa' de Hakurei

Ananda Asmita Heaton, um nome estranho para um garoto igualmente estranho. Sobre isso devaneava o ourives Hakurei Kahdro, enquanto observava-o se aproximar com elegância e leveza, a franja cobrindo-lhe parcialmente os olhos. Da primeira a incontáveis vezes, aquele garoto lhe pareceu uma garota, e a garota de Mu. Afinal, Hakurei conheceu o garoto no inverno, quando as roupas de frio eram tantas que seria improvável julgar alguém tão sorridente e com traços tão delicados como um indivíduo do gênero masculino. O comportamento do garoto tampouco ajudava, pois Asmita andava sempre com o antebraço entrelaçado ao de outro alguém: quase sempre ao de Mu, mas por vezes ao de Shaka, Camus, ou Defteros. Tanto que um dia, o tio fez o comentário do qual se arrependeu amargamente depois:

- Você namora uma garota linda e educada, mas não acha que ela tem liberdade demais com outros garotos? É certo que Camus é irmão de criação dela, mas eu o aconselho a tomar cuidado com aquele Defteros. Aquele rapaz tem um jeito diferente de olhar para a sua garota... não vou com a cara dele.

- Ahnn... garota? Refere-se a Shaka?

- Não precisa disfarçar para o seu tio, estou falando de Asmita. Shaka é a gêmea que anda sempre emburrada. Garota intragável, nem parece irmã da outra.

- Mas tio... Asmita e Shaka são ambos garotos. E somos apenas amigos, nada mais. – Mu mentiu, escondendo de Hakurei o fato de que ele e 'a intragável' eram namorados.

- Hakurei? Algo errado? – Asmita ergueu o copo de café que levava em uma das mãos à altura dos olhos do outro, preocupado com a desatenção dele. – Está com tanto sono que dormia acordado? Ou estava pensando em algo importante?

- Não é nada. Lembrei-me de algo que preciso fazer. – Hakurei despistou Asmita e tomou o copo da mão dele, sorvendo o líquido todo de uma só vez.

- Hum... algo urgente?

- Não. Nada que não possa esperar o meu retorno da viagem.

- Ainda bem... espero que você não tenha mais preocupações durante toda a semana. É impressionante como os seus clientes não param de telefonar mesmo quando sabem que você está para viajar. – Na sala de embarque do Aeroporto Heathrow, escutaram o chamado para o vôo operado pela companhia India Airlines com destino a Nova Delhi, e levantaram-se portando suas bagagens de mão. Com naturalidade, Asmita passou o antebraço por baixo do de Hakurei, para então cruzá-lo e pousá-lo por cima do antebraço dele, no que o mais velho o fitou com repreensão.

- O que está fazendo?

- Hum?

- Seu antebraço está apoiado no meu.

- Ah, desculpe-me. Mania antiga... – Hakurei arrependeu-se ao notar o constrangimento de Asmita, que passou a andar alguns passos atrás dele. Voltou-se para trás, revirando os olhos em notar que ele andava olhando para o chão, com os olhos inteiramente cobertos pela franja.

- Você é lento demais. – Resmungou o mais velho, passando o braço pelo ombro do outro e empurrando o corpo dele para voltar ao seu lado. Asmita sorriu e tornou a apoiar seu antebraço no de Hakurei, no que este suspirou longamente.

- Obrigado.

- Pelo quê?

- Por ser tão gentil comigo.

- Eu? Gentil? É a primeira vez que escuto isso. – Hakurei resmungou por não saber como reagir quando elogiado, mas na verdade havia uma outra pessoa que tinha o costume de chamá-lo gentil há muitos anos atrás: sua falecida esposa.

Asmita soltou o antebraço de Hakurei para entrarem no avião, e este aguardou até que aquele andasse à sua frente. Sentaram-se em seus lugares e logo a mão de Asmita pousou sobre o antebraço de Hakurei, a cabeça do loiro tombando no braço vizinho enquanto os olhos azuis estreitavam-se para observar a janela. O mais velho desistiu de reclamar das manias estranhas do outro, deduzindo que ele estava agindo consigo como se estivesse acompanhado do irmão gêmeo. Quando desembarcaram, Asmita logo retirou os óculos escuros de dentro da bagagem de mão, colocando-os quando ainda estavam em um local sem muita luminosidade. Entrelaçou seu antebraço ao de Hakurei depois de ajeitar a franja para que não lhe cobrisse os olhos, quando ele finalmente deu-se conta de que seu acompanhante não enxerga bem em lugares claros.

- Seus óculos são bem escuros... você não enxerga sem eles na claridade? – Hakurei perguntou, preocupado. Teria pensado duas vezes antes de levar Asmita consigo se soubesse de sua condição, uma vez que o garoto precisa de cuidados especiais.

- Não é que eu não enxergue, mas não consigo abrir as pálpebras. Meus olhos ardem e a claridade me obriga a fechá-los. Você não sabia? Por que acha que mantenho minha franja tão extensa? – Asmita riu da expressão surpresa de Hakurei, e o mais velho sentiu remorso por ter sido rude quando o garoto tomou seu antebraço como apoio pela primeira vez.

- Seu irmão tem o mesmo problema?

- Não, mas temos o mesmo cabeleireiro. – Asmita divertiu-se com a expressão incrédula de Hakurei. Este, por sua vez, estava impressionado com a capacidade do garoto em brincar com assuntos sérios. – É que ele insiste que gêmeos idênticos devem cortar o cabelo de modo idêntico.

- Sage também corta o cabelo sempre do mesmo jeito que o meu, mas nós cortamos nossos próprios cabelos e aprendemos a cortar do jeito que o nosso pai cortava.

- A propósito, você e Sage parecem se dar muito bem. Deve ter sido difícil para você ficar longe dele por alguns anos... eu me sentiria muito solitário se Shaka morasse em outro país, apesar de que ele parece se regozijar em discutir comigo o tempo todo.

- Mesmo quando estávamos distantes, eu e Sage nunca deixamos de nos falar durante todas as semanas. Temos as nossas brigas também, mas acho que as famílias devem permanecer unidas enquanto houver possibilidade.

- Sim. Foi muito triste ver meus pais separarem-se... mas seria mais triste ainda ver meu pai e minha mãe infelizes e juntos. – Asmita sorriu melancolicamente. – Tenho sorte em ter pais que convivem harmoniosamente, ao contrário de Mu. Ele me contou que Shion enfrentou uma grande barra para garantir que a esposa ficasse ao seu lado, mas ela abandonou a família...

- Não é que ela tenha simplesmente abandonado a família. – Hakurei retrucou, irritado. – Você não faz ideia de quantos problemas aquela mulher enfrentou para dar à luz e tentar criar o filho em minha vila natal. Não justifica o que ela fez, mas ela ao menos tentou.

- Ela é gêmea da sua falecida esposa, não? – Asmita mordeu o lábio inferior, perguntando-se porque Hakurei ficou tão irritado com o comentário dele.

- Sim, idênticas em aparência. Somente em aparência.

- Você não corre o risco de se apaixonar por ela se encontrá-la novamente? – Asmita gracejou, sentindo uma ponta de ciúme por existir uma mulher idêntica àquela amada por Hakurei.

- Engana-se, garoto. Não foi pela aparência da minha esposa que eu a amei... mas por tudo que ela era e representava para mim.

- Desculpe, estava pensando alto. – Asmita suspirou, aliviado, tentando disfarçar os estranhos ciúmes que sentiu da falecida e da gêmea dela.

- Escute bem e aprenda, jovem. Quando for escolher alguém para se casar, não deixe se enganar pelas aparências. Escolha uma pessoa de caráter, que seja gentil, e com quem você goste de conversar. Caso ela não tenha todas essas qualidades, desista. Por mais bela que ela seja ou por mais que você a ame, não dará certo. – Asmita abriu um largo sorriso ao escutar as palavras de Hakurei.

- Na verdade, há uma pessoa com quem eu gostaria de me casar. É uma pessoa de firme caráter, gentil, com quem adoro conversar. Essa pessoa tem várias qualidades que eu poderia listar... mas receio ser rejeitado por ela. Não sei se represento para essa pessoa tudo o que ela representa para mim, nem se estou à altura dela. Creio que me falta segurança e confiança em mim mesmo... tenho tentado conquistar a amizade dessa pessoa e fazer com que ela me conheça melhor para que ao menos cogite me dar uma chance... – Hakurei gargalhou alto ao escutar os comentários do garoto.

- São os sintomas da paixão, garoto. Aproveite enquanto essa sensação não passa! Eu só me apaixonei uma vez, passei por tudo isso que você está dizendo e achava que era uma situação terrível... mas sentir medo de ser rejeitado faz parte de aprender a amar alguém.

- E como se vence esse medo?

- Falando com essa pessoa, é claro. Mas você precisa se preparar, pensar no que vai dizer, no que vai fazer... demonstrar que o seu amor por ela é verdadeiro.

- E se ela não quiser se apaixonar por ninguém?

- Então ela é uma garota estranha. Eu a conheço?

- Eh? – Asmita sentiu o rosto queimar e baixou os olhos, sem conseguir responder à pergunta de Hakurei.

- Por que essa cara? Essa pessoa não é uma garota? – Na verdade, Hakurei já desconfiava de que Asmita não tivesse nenhum interesse em garotas. A confirmação dele veio através de um acanhado aceno positivo com a cabeça. – Espere. Não me diga que é aquele tal de Defteros! Eu não acho que aquele garoto seja confiável! Afaste-se dele! – O mais velho surpreendeu Asmita ao retrucar, pois este esperava uma reação homofóbica da parte do ourives ao invés da reação de antipatia contra seu amigo.

- Não, não é ele. – Asmita sorriu levemente, interessado pelas reações do outro.

- Então quem é?

- Eu não quero dizer agora! Por que tanto interesse nesse assunto?

- Eu conheço?

- Buddha... por que você quer tanto saber? O adolescente aqui sou eu!

- Oras, por quê? Estou curioso, como qualquer ser humano ficaria. Não posso? Você me fala sobre as qualidades de uma pessoa e não diz quem é? Que tipo de conversa é essa?

- Uma conversa que eu prefiro dar por encerrada, por hora.

- É o meu sobrinho quem você ama, não é?

- Mu? Não faz o meu tipo. – Asmita mordeu a língua para não comentar que não seria ético pensar em se declarar para o namorado do próprio irmão.

- Hum. Então qual é o seu tipo?

- Vejamos. Mais alto do que eu, feições másculas, personalidade forte, mais velho do que eu... o que mais eu poderia dizer sem contar de quem se trata? – Hakurei estreitou os olhos, sentindo uma inquietação estranha. Por algum motivo, não gostava nada de pensar em Asmita envolvido com quem desconfiava.

- Defteros! – Asmita revirou os olhos, percebendo a cisma de Hakurei com seu amigo. A desconfiança não era de todo infundada, pois Defteros havia roubado um beijo de Asmita semanas atrás.

- Qual o seu problema com Defteros? Não é ele! Vou pensar a respeito do que você me disse, e quando eu me sentir melhor para conversar sobre o assunto prometo contar quem é essa pessoa. Continuamos com a conversa mais tarde, pode ser?

- Nunca imaginei que você fosse tão sistemático.

- Nem eu imaginei que você fosse tão curioso. Ou devo dizer ciumento? – Asmita retrucou a última frase bem baixo, em um murmúrio, pensando que Hakurei não ouviria. Mas o olhar do mais velho se voltou para ele, furioso.

- O QUÊ?

- Nada, achei um táxi.

- ASMITA!

- Táxi! - Asmita suspirou aliviado ao ver o motorista de táxi parar, dando graças pela sua salvação temporária. Nervoso, Hakurei abriu a porta para Asmita entrar antes que o motorista pudesse fazê-lo, batendo-a com força e entrando pelo outro lado do veículo. Indicou o hotel ao motorista, perguntando-lhe pelo horário de funcionamento das principais joalherias da cidade. Pergunta respondida, um silêncio desconfortável se instalou no veículo.

- O senhor deseja comprar jóias para a sua esposa? Dizem que peças de ouro com pedras de rubi combinam com olhos azuis. – Hakurei arregalou os olhos, ciente de que o motorista não tinha como saber que sua falecida esposa tinha olhos azuis. Virou-se para Asmita, como se lhe perguntasse se o homem havia realmente dito aquilo, e sentiu as faces queimarem como brasas ao deparar-se com os olhos bem azuis de Asmita fixos em algum ponto na calçada, já que ele havia tirado os óculos escuros e agora esticava a cabeça, fazendo sombra com a palma da mão para ver as bancas de ambulantes na rua sem a distorção de cores causadas pelas lentes escuras. Hakurei pensava em como responder ao homem que seu acompanhante era homem e menor de idade sob sua tutela temporária, pensando que Asmita não havia prestado atenção na frase do motorista.

- É que meu marido prometeu me presentear com um belo bracelete no meu aniversário. – Asmita deu fim ao silencio constrangedor, fazendo Hakurei estreitar os olhos para si.

- Oh sim. Recém-casados?

- Sim.

- Percebe-se... – O motorista comentou, fazendo Hakurei trincar os dentes de raiva. Contou até 10, 100, 789 quando chegaram no hotel. Deixou que levassem as malas e despediu-se do intrometido motorista, tomando o antebraço de Asmita e andando rapidamente com ele. Preencheram os formulários do hotel e subiram para o quarto no mesmo passo apertado de antes, no que Hakurei trancou a porta e empurrou Asmita contra a parede .

- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, PIRRALHO? ACHA QUE PODE FALAR ASNEIRAS PARA QUEM QUISER E SE PASSAR POR MINHA ESPOSA? VOCÊ NÃO TEM RESPEITO NENHUM PELOS MORTOS? NÃO É BUDISTA?

- Desculpe, Hakurei. Não foi a minha intenção desrespeitar a sua esposa... é que... era mais fácil dar uma resposta pronta do que explicar toda a situação para ele. Pedirei desculpas solenemente a ela quando voltarmos, diante do oratório da sua família. Não tive a intenção me passar por ela, mas sim por uma segunda esposa...

- SEGUNDA ESPOSA? Acha que um velho como eu me casaria de novo? Respeite a minha idade, garoto! Não sou um desses velhos idiotas que trocam suas esposas por duas mais novas!

- Você não é nenhum velho, tem apenas quarenta e dois anos de idade. E eu não insinuei que você seja um idiota!

- O que você acha que insinuou então?

- Apenas que... bem. Se eu fosse mulher... eu... serviria para você.

- É claro que não serviria! Você é mais novo do que a minha filha mais velha, tem idade para ser meu filho! Ainda que fosse uma mulher, não passaria de uma pirralha, uma fedellha! Acha que eu tenho cara de pedófilo? Eu troquei as fraldas do meu irmão mais novo, e ele também tem idade para ser seu pai! – Asmita baixou a cabeça e ficou mudo por alguns instantes, algumas lágrimas lhe escorrendo pelos olhos cobertos pela franja. Empurrou Hakurei com as mãos espalmadas e se desvencilhou dele, andando a largas passadas até o banheiro e se trancando ali. Hakurei começou a bater na porta insistentemente, no que Asmita esmurrou a porta uma única vez, por dentro, para que ele parasse.

- Saia daí já, Asmita! Você já não tem mais idade para fazer birra!

- Não estou fazendo birra, só preciso ficar sozinho um pouco.

- Por que você está chorando? Foi por causa do que eu disse? Por que não tiramos isso a limpo? Eu não tive a intenção de chatear você!

- Você nem desconfia do motivo?

- Se eu desconfiasse estaria tentando conversar sobre ele ao invés de perguntar, não acha? – Hakurei usou um tom de voz mais brando e suspirou, usando toda a diplomacia de pai para lidar com o adolescente, lembrando-se de como lidava com a filha durante as crises de irritação sazonais dela.

- A pessoa por quem estou apaixonado... não, não é isso. – Asmita suspirou, pensando em como expressar melhor seus sentimentos.

- Hakurei, a pessoa que eu verdadeiramente amo... é você.

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FIM DESTE CAPÍTULO

GOSTOU? MANDE REVIEW!

MUITO OBRIGADA,

NATHALIE CHAN