Ele a odiava. Cada centímetro de sua pele rosada, lábios carnudos e olhar esmeralda. Os cabelos ruivos então, nem se fala. Macios como seda, cheirosos como morangos frescos e perfeitamente desordenados como os dela. Doce Lily. Ele a odiava por tentar insultar a memória de sua amada com aquele falso jeito inocente. Ninguém poderia comparar-se a Lily, muito menos ela.

O cheiro da grama penetrava suas narinas enquanto avançava em direção a Floresta Negra. Suas vestes estavam sujas e lamacentas devido ao contato com a terra encharcada, resultado das últimas tempestades de inverno. Deteve o passo e fixou o olhar num ponto distante que havia chamado sua atenção. Cabelos vermelhos esvoaçavam no ar para todas as direções enquanto a silhueta esbelta se aproximava do lago congelado.

Mesmo daquela distância ela era inconfundível. A menina que queria ser a cópia de sua Lily e enganar seu coração, mas que era tão estúpida a ponto de andar num lago congelado. A figura estremeceu e afundou na superfície gelada e ele correu enquanto se desfazia de seus sapatos, revoltado com a falta de inteligência da menina.

Mergulhou nas águas gélidas que congelaram até seus ossos e fez um feitiço silencioso de localização. Lá estava ela, a poucos metros de distância, dando leves socos no gelo com um resquício de energia, desesperada por um pouco de ar. Agindo rápido, ele envolveu a menina em seus braços e depois de outro feitiço os dois já estavam caídos no gramado lamacento.

Tirou a água de seus pulmões com um breve sussurro e aos poucos a cor parecia retornar ao belo rosto pálido. Tossiu bastante e envolveu os braços ao redor de seu salvador ainda sem abrir os olhos. E pudera não tê-lo feito. Assustou-se com a proximidade do ser obscuro e após um gritinho nervoso deixou os braços caírem no gramado mais uma vez.

Repentinamente uma onda de pensamentos e sentimentos dos mais diversos passou pela mente dele enquanto fitava os olhos verdes. Tantas vezes tentara ler a mente dela, mas a menina era tão boa oclumente quanto ele. E assim, de forma tão súbita e tão simples, ela baixava a guarda e ele descobria tudo.

Com um sorriso sem graça e um toque de tristeza no olhar, a menina se levanta e caminha para o castelo em silêncio, envolvendo o próprio corpo com os braços e tremendo com o frio congelante.

Ele corre para alcançá-la e põe sua capa, agora seca e limpa, ao redor dos ombros dela. Uma expressão de surpresa passa pelo seu rosto e ao fitar os olhos negros nada mais precisava ser dito. Os dois estavam em completo entendimento, e retomaram a caminhada ao antigo castelo com as mãos e corações entrelaçados.