Nossa febre

O dormitório estava deserto.

Todos pareciam ocupados com suas atividades individuais, mas eu não era tão ocupado assim. Não me entendam mal, é só que para um idol não é comum ter apenas dois ou três schedules num dia inteiro. Hoje é segunda-feira, e só preciso sair depois das sete da noite. Já tinha planejado um dia inteiro de Starcraft 2.

Acordei tarde; claro, sem o manager hyung para ficar nos expulsando da cama e nem o Eeteuk para cuspir água na sua cara, qualquer ser humano dorme mais em paz. Andei pela casa vazia e silenciosa, não pude deixar de bocejar e espreguiçar a cada passo.

"Ah... faz tempo que não durmo tão bem" – pensei com meus botões – "Kyuhyun, fighting!"

No corredor, me virei para entrar no banheiro. Então, por um segundo me lembrei de outra pessoa e me peguei olhando para a porta errada. Ali, ao lado do banheiro, pude ouvir a respiração pesada dele. Contemplei a porta por mais um segundo, e, não conseguindo mais conter minha curiosidade, abri um pouco e... espiei.

A pele branca estava toda exposta, com o lençol enrolado em seus pés. Aproximei-me, mas ele estava em sono profundo. Puxei o lençol de seus pés, e cobri todo seu corpo, dobrando o tecido em seu pescoço. Ele suspirou. Tive o impulso de me aproximar de seu rosto pálido, e a cada centímetro, meu desejo era de chegar mais perto e mais perto. Outro suspiro. Ele virou na cama e eu me afastei rapidamente.

"Estou ficando louco! Louco!" – Pensei comigo mesmo e balancei a cabeça, ajoelhado do lado da cama, observando Donghae no reino dos sonhos. Estava preocupado com ele, só preocupado. Mas de todo jeito, peguei meu celular e tirei mais uma foto para minha coleção. Donghae rindo, Donghae bravo, Donghae dormindo...

Ele não estava muito bem, então ficaríamos os dois em casa até irmos para o rádio com os outros Hyungs. Ele tinha que se cuidar melhor, de verdade, estava muito pálido! Donghae é sempre o primeiro a nos dizer para manter-nos sempre saudáveis, mas ele mesmo muitas vezes se negligencia.

A água gelada caiu sobre minha cabeça de uma vez só e um calafrio subiu pela minha espinha. A quem eu estava tentando enganar? Já fazia algum tempo que o sorriso do meu hyung era minha felicidade... Vê-lo abatido fazia meu coração doer... Dei um soco na parede, e outro, e mais um... até que no terceiro resolvi parar. Estava realmente machucando. Já tinha superado essa fase. Negação, raiva, constrangimento... Decidi só lidar com isso e ir esquecendo aos poucos, se possível...

Enrolei a toalha na cintura e saí devagar secando meu cabelo. Conferi a o relógio e já eram quatro da tarde! Tinha dormido mais do que pensava. Fiz meu ramen e comi na panela mesmo: menos louça para o maknae lavar... Depois de deixar tudo brilhando para não levar bronca do Eeteuk hyung, corri para meu laptop e tratei de clicar logo no ícone do starcraft. Logo que o jogo iniciou, ouvi uma voz me chamando:

- Kyuhyun ah! Kyuhyun ah! – A voz era fraca e insistente.

- Donghae? O que foi, tô jogando! – Uma vez que eu tinha me concentrado para jogar, nada tirava meu foco.

- Pare de usar linguagem informal com seu Hyung! Venha cá, acho que estou com febre.

- Já vou, Hyung! – Meu coração deu um salto rápido demais, descompassado. Ele ainda não estava bem? Resolvi jogar só um pouquinho antes de ir...

- Kyuhyun ah! Kyuhyun ah! – A mesma voz insistente de novo...

- Já disse que já vou, Hyung! – Respondi impaciente.

- Você disso isso há dez minutos! Já passou dez minutos, Kyuhyun! Largue esse computador. - Empurrei o laptop para longe na minha cama e me levantei de vez, se não acabaria me distraindo novamente. Eu sei, admito, meu vício é profundo e quase irritante.

Andei calmamente, mas quando olhei para cama, meu coração quase parou de vez – eu devia ter ido logo, correndo, voando! Com os olhos abertos, Donghae parecia mais pálido ainda, seus olhos estavam fundos e pretos e seu corpo jogado sobre os travesseiros, meio deitado, meio sentado.

- Hyung! Você está bem?

- Minha cabeça dói. Acho que estou com febre. – Coloquei minha mão sobre sua testa, preocupado. Estava muito, muito quente. Corri ao redor do quarto procurando o termômetro. – Obrigado.

- 39 graus! – Devo ter gritado porque os olhos dele se arregalaram com a surpresa. – Você está fervendo, Hyung! Vem, levanta, precisa de um banho gelado.

- Está tudo bem, só traga uma compressa fria.

Não sei por quantas horas fiquei ali sentado trocando compressas para o Donghae, mas com certeza era o tempo de fazer meu ranking no starcraft subir umas 5 posições. Como estava agonizando, o tempo parecia passar ainda mais devagar, e, o que era mais preocupante, a temperatura dele não baixava. Donghae não tinha forças para conversar, então ficamos em silêncio, um silêncio tranqüilo, sem constrangimento.

Tratei de fazer algum ramen para ele também. Ele comeu a contra gosto. Claro que teve que reclamar que estava horrível, eu já disse para todo mundo, nem meu ramen é bom. Depois de um tempo, cansei e apoiei meu rosto na cama, segurando a compressa, retirando-a, passando a mão em sua testa, vendo seus olhos pequenos fechados, sua boca bem desenha e seca, sua palidez me convidando... Apertei os olhos para dispersar os pensamentos estranhos e continuei a rotina para ajudar o meu hyung.

- Vamos, não há mais nada que eu possa fazer. Ou a gente vai para o hospital, ou você toma um banho gelado. – Falei depois de uma hora e meia. Com dificuldade, ele tentou se sentar na cama, logo dei meu braço, ele se apoiou e fomos para o banheiro.

Frente a frente, olhos nos olhos, minhas mão nos seus braços, conduzindo-o – eu estava seriamente nervoso. Não pude deixar de sentir malícia mesmo numa situação tão extrema. Meu corpo respondia ao toque do corpo quente e, agora frágil, dele. Uma estranha onda de desejo fez-me estremecer, Donghae me olhou sem entender, mas não disse nada.

Ao entrar no banheiro, levantei sua camisa e tirei-a lentamente pela cabeça. Quando olhei para baixo, ele já estava abaixando a calça do seu pijama. Seu abdômen definido encheu meus olhos e, instintivamente, mordi meu lábio inferior. Porém, rapidamente, cai em mim mesmo e balancei a cabeça, envergonhado.

- Está tudo bem, não precisa me ajudar nisso. Você está envergonhado – Fez piada.

- Você mal tem forçar para ficar de pé. – Falei sério, tentando esconder meu rosto vermelho.

Afastei-me e fui em direção ao box, liguei o chuveiro e me certifiquei de desligar o chuveiro elétrico. A água estava bem fria, mas o tempo também estava frio, sai rapidamente para pegar uma toalha para quando ele terminasse do banho. Peguei uma das minhas próprias toalhas e corri de volta para o banheiro, deixá-lo sozinho, fraco como estava, não era uma boa ideia.

Quando voltei, porém, ele já estava entrando no banho. Ao chegar, ele permaneceu de costas, mas virou o rosto e olhou para mim. Deu um sorriso tímido e fechou a porta do box.

- Saia daqui, por acaso quer ficar olhando? – Por algum tempo procurei assimilar o que ele disse, formular uma resposta e procurar minhas cordas vocais para responder. A visão das costas e da silhueta nua do Donghae me tirou a capacidade de falar ou sequer pensar.

- Frio... Está frio. – Mostrei a toalha. - Entre logo, vai te fazer bem. – Ele entrou aos poucos, reclamando, a água parecia doer ao tocar sua pele. Fui me sentindo mal a cada reclamação. Eu deveria ter ido logo vê-lo. Maldito vício! Deveria ter tomado mais cuidado durante as gravações. Deveria ter feito outros pratos além de ramen para que ele ficasse mais forte. Deveria ter ficado doente por ele... Queria ter ficado...

No meio da minha longa divagação, ouvi o chuveiro fechar. Ele saiu de novo completamente nu. Meu queixo caiu por um segundo, mas eu concertei a tempo. Donghae passou por mim como se fosse uma estátua - eu estava lívido - pegou a toalha da minha mão e enrolou o corpo. Ele tremia muito.

- Tá tudo bem? – Me apressei em perguntar ao ver seus lábios ficando escuros.

- Está muito frio! – Ele fechou os olhos e pensei que ia cair para trás ou desmaiar ou qualquer outra coisa depois da cara que fez. Segui meu instinto e abracei-o. É, eu sei, assim do nada. E não foi desculpa só para abraçá-lo, ele realmente parecia que ia ter um colapso. – Que é isso, maknae? Eu que estou doente e você que está delirando?

- Você disse que está com frio, não disse? Parecia que ia ter um treco, então eu... segurei você. – Fiz minha cara de despreocupado que as fãs gostavam de chamar de "evil" – Além do mais meu corpo te esquentou, não seja ingrato. – Um sorriso brotou em sua face. Ele tremia, batendo o queixo.

- Vamos buscar uma roupa.

- Não, você fica aí, eu vou lá.

Corri no quarto que ele dividia com o Eeteuk e peguei as roupas mais agasalhadas que pude encontrar em dois minutos. Quando cheguei de volta no banheiro, espiei um pouco antes de entrar. Ele estava de pé, com a toalha enrolada na cintura, as mãos na pia e a cabeça baixa. De repente, levantou a cabeça e olhou para o espelho, deu um sorriso rápido e tirou a toalha da cintura.

- Sabe, GameGyu... Dá pra te ver do espelho. Tá olhando o que? Tá com inveja? – Olhei para baixo tentando não ser muito óbvio e entrei no banheiro encarando o chão, ele estava secando o cabelo com a toalha e não pegou as roupas da minha mão. Aquilo me enfureceu um pouco, eu não queria fazer nada, quer dizer, eu não ia, mesmo querendo, mas ele estava me atormentando.

Puxei o braço dele, tirando-o do caminho, fiz meu corpo tocá-lo novamente sem querer, estiquei meu braço e peguei o secador na bancada do lado. Comecei a secar o cabelo molhado dele sem falar nada, estava com vergonha de ter sido descoberto, mas vê-lo ali, frágil e provocante, despertava outro lado meu.

Fiz meus ombros tocarem suas costas enquanto passava as mãos entre os fios finos e macios de seu cabelo. Minhas costas encaixaram-se nas dele. Minhas pernas passaram entre as dele. Ele não dizia nada, o que significava para mim que ele estava de acordo. Coloquei minha face próxima a sua nuca, inspirei o perfume do seu corpo... e percebi que estava começando a perder os sentidos.

Olhei para o espelho a nossa frente. Donghae estava parado, imóvel, olhando para mim pelo espelho. Nossos olhos se encontraram e fiz como se não tivesse acontecido nada. Desliguei o secador e o virei de frente para mim. Coloquei uma mão na sua testa e outra mão na minha. A febre parecia ter caído bastante.

- Como está agora, Dong hai? – Ele riu do nome chinês.

- Me sinto melhor, embora meu corpo ainda esteja dolorido. Nada excepcional quando se tem dor muscular diariamente.

Fui para o quarto com ele, sem pedir permissão ou nada do tipo. Vimos que a temperatura estava quase normalizada e ele deitou na cama novamente. Puxei o edredom pelo seu corpo e ficamos cara a cara. Ele tomou o cobertor da minha mão e ficou me encarando, sério, diria até desafiador.

Sorri, meu sorriso inegavelmente evil, e me aproximei mais. Ele mantinha aquele olhar e pensei que ia ficar completamente louco se ele não mudasse aquela cara. A cada espaço que diminuía entre nós dois, podia sentir nossa respiração mais e mais pesada. Quando não podia mais agüentar, deixei meus lábios esfregarem de leve nos dele, aí sim ele teve uma reação explosiva.

- Qual é a com você hoje, Kyuhyun ah! – Ele estava dando risada, para ele era uma piada?

- Não é uma piada. – Falei sério. – Passei o meu dia especial de starcraft cuidando de você. Estava preocupado.

- Eu sei, obrigado – Fiquei calado, ainda estava magoado, embora tivesse fugido do assunto principal, porque era óbvio que a pergunta dele falava do quase-beijo que tínhamos acabado de dar. - Seu hyung agradece e você não diz nada? – Ele voltou a sentar na cama e eu que já estava abrindo a porta para sair, senti a caixinha do termômetro – tá! – nas minhas costas. Me virei num misto de raiva e alegria por ter sido chamado de volta. – Estou com muito frio. – Ele falou sério e mordeu os lábios de leve. Eu ia enlouquecer hoje, não tinha jeito.

Me aproximei agradecendo aos deuses por estar só nós dois em casa e por ele ter perdido alguns neurônios durante a febre, e sentei na cama, ainda incrédulo. Ele esticou os braços e eu dei um abraço apertado, até ali, abraço de hyungs não era nada demais. Mas meu corpo estava em chamas, não podia negar.

Cheirei seu cabelo e coloquei meu rosto do lado do seu pescoço. Como se ele não reclamasse, cheirei também seu pescoço, sua nuca e senti-o arrepiando-se. Quando seu corpo estremeceu junto ao meu, o ardor que há muito tempo havia reprimido, foi liberado pelo meu corpo, deixando minhas pernas fracas; e então passou pelo meu estômago e o deixou leve, subiu até minha cabeça nublando meus pensamentos. Minha mão se moveu mais rápido do que meu pensamento, entrando por debaixo do moleton, acariciando a barriga e o peito do Donghae.

- Não acho que isso vai ajudar no frio. – Ele falou num tom de voz sério, mas não chateado.

- Claro que vai – Olhei nos seus olhos – A partir de agora, vou te esquentar. – Ele se aproximou, olhando fundo nos meus olhos, e tocou meus lábios com os dele.

– Quanto tempo você ia esperar mais para fazer isso? – Sorri deixando toda minha malícia transparecer e todas as lembranças recentes do corpo dele nu entraram na minha cabeça de vez.

Deitei na cama e ele enfiou as mãos dentro da minha camisa, tirei o casaco e ficamos ali abraçados por um tempo, até Donghae passar as mãos pelo meu cabelo, forçando meu rosto em seu pescoço. Cheirei, beijei e lambi, enquanto seu corpo ficava arrepiado e ele tremia do frio e do prazer. Nosso abraço passou a ficar mais e mais apertado, já podia sentir o volume de suas calças roçando nas minhas pernas.

Tirei sua camisa e logo depois a minha, ao contrário do que se pode pensar, não sentíamos frio, o contato entre nossas peles nos aquecia por dentro e por fora. Sentado de frente a ele beijei seu queijo, seu ombro enquanto acariciava suas costas. Ele mantinha os olhos fechados e a boca entreaberta. Beijei seu peito largo e seu abdômen definido e ele deixou um gemido alto de prazer escapar.

- Estique as pernas – falei num tom mais imperativo do que havia planejado e puxei a calça do moleton. Beijei e lambi suas coxas e apertei suas pernas, quadris e coxa. Seus braços estavam para trás sustentando seu peso, esticados, com os músculos bem definidos, enquanto sua cabeça pendia para trás, os olhos fechados e a respiração audível.

Quando cheguei a sua virilha, Donghae já tinha a respiração descompassada e os olhos grudados em mim, uma de suas mãos acariciava meu cabelo, e eu desenhava sua virilha com a língua, beijando e sorrindo de lado a cada gemido que ele deixava escapar. Foi quando eu já estava decidido a interromper aqueles joguinhos e ir direto ao assunto principal que nós dois ouvimos.

- Ang, Ang, Ang! – Aquela risada que não podia ser confundida. Olhei rápido para o relógio na cabeceira. Seis e meia. Droga! O tempo já tinha realmente passado daquele jeito? Percebi que passei à tarde ao lado da cama do Donghae.

Pulei da cama. Catei o moletom do Donghae do chão, mas percebi o barulho da porta da frente sendo fechada. Todos já deviam ter entrado, não havia muito tempo. Peguei minha própria camiseta e coloquei de qualquer jeito.

- Donghae, se cubra. – Quando acabei de pronunciar a última palavra a porta se abriu rapidamente.

- Não acredito que vocês não estão prontos! Nós temos Schedule no Young Street daqui a meia hora! – Ele olhou para Donghae – Está melhor?

- Estou, Hyung, o Kyuhyun veio me avisar que já estava na hora. Já tomamos banho – Ele sorriu maravilhosamente para mim - , só falta colocar uma roupa.

Donghae olhou para mim e nem precisou dizer nada. "Eeteuk hyung está aqui como supostamente você espera que eu me levante nu e me troque?" Coloquei então o braço em cima dos ombros do Eeteuk hyung e usei a saída mais segura que pude encontrar:

- Eeteuk hyung, achei um site que você vai adorar! Todos os vídeos são de graça e você pode fazer download... Pornografia grátis!

- Verdade? Eunhyuk, vem cá, o Kyuhyun vai mostrar um novo! – E então, ele saiu correndo pela porta, que fechei após sorrir para o Donghae nu, na cama, ainda um pouco assustado.

- Donghae, se arrume logo. – Fechei a porta e corri para meu laptop onde Starcraft 2 ainda estava aberto.

Nos próximos capítulos:

- Você mudou Donghae.

- Eunhyuk, não é que eu não queira dividir o quarto com você, mas como a gente já dividiu várias vezes, dessa vez acharia legal passar um tempo com o Kyuhyun. – Apesar dos meus fones estarem desligados, eu fiquei calado, fingindo que não ouvia nada, atrás da fila.

- Ah, Eeteuk, você não poderia deixar para dar essas notícias de mudança de dormitórios depois do Young Street, não? Continuem falando muito assim durante o broadcasting, gente! – Heechul tirou a franja dos olhos e, quando Eeteuk fez menção de falar alguma coisa, o comercial acabou e todos nós entramos na sala.