Prólogo ou Nascimento
O céu estava escuro como o infinito, de um jeito que ela sabia que só podia clarear dali pra frente. Estava errada. Uma nuvem especialmente grande encobriu as poucas estrelas salpicadas a esmo no mesmo momento em que ela suspirou com mais uma dor no baixo ventre. Não passaria daquela noite. Não passou.
Mais cedo naquela noite eles brigaram. Mais uma vez. Como de costume nos últimos meses, seguindo o roteiro, ele a deixou após bater a porta da sala e encontrou os braços das duas amantes que prometiam ficar por muitos anos, Noite e Bebida. Deixou a esposa presa a uma amiga indesejada mas extremamente querida no futuro, Solidão. Foi depois de quase uma hora que as coisas começaram como se estivesse esperando a certeza de que o homem não voltaria e se imporia sobre ela e a barriga.
Eileen segurou mais uma vez um gemido com os dentes e distribuindo a força pelo próprio corpo. O quarto na penumbra escondia a mulher deitada na cama, pernas abertas, mãos segurando os tornozelos e força. Força empurrando a vida que temia em existir dentro dela. A respiração entrecortada a denunciava. Um animal, só, amedrontado e parindo.
Foi com um grito estrangulado que o corpo terminou de expulsar o pequeno ser de seu ventre, houve poucos segundos de silêncio absoluto até que a criança chorou. Gritos agudos, tremidos e desconcertantes. Grito vivo. Eileen moveu-se rápido, agarrou o bebê que parecia ser menor do que devia. Úmido e liso. O aconchegou da melhor forma possível, sentia a cama molhada, esticou o braço e sentiu a varinha, murmurou para acender a luz. O corpinho reclamou em seus braços e ela pode dar uma boa olhada nele. Cabelos escuros presos a cabeça, os olhinhos bem fechados e a forma do nariz fazendo jus ao pai, acompanhou a luz pelo torço esbranquiçado e sorriu ao ver que era um menino. Ao menos disso ela não seria culpada.
- Você vai ser incrível, menino. Um grande imperador. Você será Severus. – murmurou deixando a criança abocanhar, faminto, seu peito.
E ele seria. Incrível, admirado, temido e visado, como um imperador. Porém nunca da forma como ela imaginou naquela noite escura e estranha que foi aquele nove de janeiro de 1960.
- Severus... – gemeu com lágrimas nos olhos – Seja um bruxo. – pediu como se aquele momento pudesse mudar a criança. O menino abriu pela primeira vez os olhos. Negros e hipnóticos. Noite. A noite da janela. – Meu menino. – O negro foi coberto por pálpebras e a criança continuou a lutar por seu alimento. – Severus.
N/A.: Reviews são queridos.
