"Esquisitos".

Era disso que todos os chamavam. De certa forma, não estavam tão errados.

Mary Lou era uma mulher cruel e vil disfarçada de benfeitora, que alimentava aos pobres, e adotava crianças que não tinham com quem mais permanecer. A verdade era bem diferente. Ela acreditava que Modesty, Credence e Chastity precisavam ser salvos, que ela poderia salvá-los. Filhos de bruxos, ela dizia.

Credence era o que mais sofria nas mãos da mulher. Se todos eram filhos de bruxos, todos deveriam ter o mesmo tratamento, certo? Mas não era o que acontecia. Ela parecia ter uma especial obsessão por Credence. Qualquer deslize, por mais besta que fosse, e ele apanhava de seu próprio cinto. Uma abominação. Ele não queria ser uma abominação.

Modesty ainda era muito jovem para entender sobre o abuso que sofriam, mas lembrava de sua família, e sentia falta de estar com eles. Era diferente, era sua família de verdade, eles a amavam, e ela os amava. Eles eram muitos e tinham poucas condições, mas não era diferente com Mary, era?

— Nós somos a sua família agora — disse Lou, sem demonstrar o mínimo de sentimentalismo, quando Modesty chorava por seus pais, até que ela parou.

Sentia que agradá-la era uma missão impossível. A mulher era gentil com todos, exibindo os seus "filhos", fingindo ser alguém que não era. Entre quatro paredes, era bem diferente. Modesty apenas queria agradá-la.

Chastity era a mais estranha dos três. Ela era tão fissurada quanto Mary, mas nem sempre foi assim. Ela já foi como Credence e já foi como Modesty, até que decidiu começar a fingir. Ela queria acreditar que os bruxos existiam, queria acreditar que eles mereciam ser perseguidos, queria acreditar que eles eram cruéis. Mesmo não acreditando, fingia acreditar.

Modesty queria agradar a Mary, mas também queria entender, e isso fazia com que, algumas vezes, a mulher se irritasse e a castigasse. Chastity já não cometia mais esse erro. Tinha aprendido a não perguntar, apenas concordar. Não se tratava de agradar, mas de autopreservação.

Ela tinha um teto sob o qual morar, poderia estar em uma situação bem pior. O que custava compactuar com as ideias da mulher? Afinal, é como diziam: nunca se deve contrariar um louco.

Contudo, nenhum deles podia dizer que não se importava quando eram maltratados.

Mary Lou só sentia a sua força de vontade crescer, ela iria provar a todos que estava certa, e rir da cara de todos quando viessem pedir a sua ajuda para livrar-se deles.

Credence parecia cada vez mais acuado. Em vez de agir, de revoltar-se, ele guardava esse rancor e mágoa cada vez mais dentro de si.

Modesty ficava cada vez mais triste. Por que diziam aquilo dela? Por que maltratavam a todos de sua família?

E Chastity não ficava calada. Não revoltava-se como queria — pelo menos, não na frente dos outros. Mary fingia não perceber os vasos quebrados, ou apenas colocava a culpa em Credence —, mas respondia ironicamente.

Eles eram esquisitos, mas só tinha uma culpada por isso.