Durma em paz, pela eternidade, leve a dor para o outro lado...
Siga em frente, sele a passagem, com aqueles que se foram...
Não deixe que se espalhe o sofrimento, não abra os olhos...
Forte, forte, estacas prendam a dor...
Forte, forte, aprisionem na pele a alma dilacerada.
A CANÇÃO RESSOAVA NAS VOZES INFANTIS ENQUANTO, CALADA, A figura no chão sentia a energia se espalhar pela pele, as lâminas e agulhas misturavam-se ao seu próprio sangue formando os dragões que lhe cobriam o corpo. Tanta dor...
A voz das garotas servia de certo conforto, afinal, embalavam seu sono sem sonhos, ela aquecia-se no próprio desespero, sentiu a ponta da estaca de osso encostar em sua mão, quieta, ela não emitiu um só ruído. O sangue espirrou sujando as túnicas brancas das garotas, os olhos piedosos de uma delas encontraram os seus, uma luz azul espalhou-se pelo quarto mal iluminado e ela fechou os olhos novamente na tentativa de ignorar o sofrimento.
Logo dormiria e tudo estaria acabado.
