Este universo é uma propriedade do professor Tolkien, é uma história sem fins lucrativos, blá-blá-blá...
Espero que curtam a história! Fica uma legenda para ajudar:
(s/n): seu nome.
(c/cb): cor do seu cabelo.
(t/p): tom da sua pele.
Você atravessava Valfenda com muita pressa. Corria ofegante, fazendo todo o tipo de curva, subindo e descendo todo tipo de escada e atravessando essa e aquela ponte. O vento gelado machucava seus pulmões e feria sua traqueia. Suas orelhas, expostas debaixo de seu cabelo (c/cb) que se esvoaçava, estavam tão frias a ponto lhe incomodar até os tímpanos, e seus dentes traziam uma dor aguda, sensibilizados pelo ar gelado.
O inverno era rigososo entre as montanhas. Os ventos fortes e uivantes conseguiam passar entre as imensas colinas e soprarem no vale com ânimo, surpreendendo os elfos com rajadas inesperadas. Obviamente a maioria deles já estava acostumada com isso, mas aquele era o seu primeiro inverno em Valfenda. Por descuido não conseguira segurar seu único cachecol durante uma rajada violenta e congelante, resultando numa perseguição exaustiva ao pedaço de pano vermelho. Não estava correndo havia tanto tempo, mas devido as condições climáticas (e por não ser nenhuma atleta), suas energias estavam quase no fim.
"Honestamente, vento" pensa, finalmente parando de correr e pondo as mãos sobre os seus joelhos para se apoiar. Profundamente ofegante, você procurava ansiosa por um meio de recuperar o fôlego sem sentir mais dor. "Pode parar essa brincadeira de bobinho!" Você já estava na entrada da floresta agora e quando levantou o olhar da neve, viu seu cachecol parar contido entre os galhos de um pinheiro pouco mais a frente.
- Ah, obrigada. – você pensou alto com a ironia da frustração.
Afundando seus pés na camada espessa de neve, caminhou até a árvore com certa dificuldade. Felizmente o cachecol não estava tão alto, então você tentou pular para alcançá-lo. O que parecia ser uma boa alternativa só a fez se sentir mais idiota. Um pouco desajeitada por causa da neve, você pulou várias vezes, esticando o braço para alcançar seu pertence. Quase o alcançou em alguns momentos, mas aquilo só fazia crescer sua frustração.
- Não é possível... que não consigo pegá-lo! – resmungou entre seus dentes cerrados. – Ora, vamos...!
- Perdoe-me pela intromissão – disse uma voz levemente hesitante mais atrás. Pega de surpresa, você se virou depressa e seus olhos (c/o) se depararam com Lindir a quatro metros de distância. Os olhos negros escondiam relutância, o que era comum para um tipo tímido como ele. Ao mesmo tempo havia nele genuína disposição, como era de se esperar de um minstrel de Valfenda. –, a senhorita gostaria de ajuda?
Seus músculos enrijeceram e você sentiu um leve formigamento nas maçãs do rosto. Isso geralmente acontecia quando se encontrava com Lindir. Há seis meses você chegara em Valfenda e há quatro nutria um amor discreto pelo elfo. Lentamente tinham se tornado amigos e quando menos podia esperar estava apaixonada. Pela personalidade gentil, dedicada, quieta e disposta, assim como pelo encantador lado tímido. Tomando o cuidado de não sustentar o silêncio por muito tempo, você virou seu corpo totalmente para ele, baixou suavemente a cabeça e pôs as mãos à frente. Enquanto retrucava, de forma discreta apertava as mãos para diminuir o nervosismo.
- Eu... ficaria grata por seu auxílio. – Sua voz era mansa e seus olhos (c/o) estavam mais brilhantes enquanto buscavam os dele. Você esqueceu os sentimentos ruins de frustração e cansaço para ter uma postura cordial e prevenir um clima desagradável. Possivelmente Lindir havia visto seus saltos e ouvido seus resmungos ranzinzas e este pensamento a constrangia. Sendo assim, exigia de si mesma corrigir a falha.
Lindir se aproximou, andando sobre a neve sem afundar as elegantes botas escuras de cano alto. A neve rangia baixinho debaixo de seus pés e conforme se aproximava, você sentia seu coração bater mais forte. Sua pele (t/p) estava avermelhada pela força com a qual apertava os próprios dedos. Movida pela educação, finalmente ergueu mais a cabeça e recebeu um sorriso gentil, emoldurado pelos longos e belos cabelos castanhos. Perto o suficiente da árvore e com a vantagem de alguns centímetros, o elfo levantou o braço direito e ergueu-se um pouco na ponta dos pés. Aquele esforço foi o bastante para alcançar o gasto, porém macio cachecol vermelho e retirá-lo da árvore.
Você logo o agradeceu com um sorriso, esperando que ele a encarregasse de retirar as agulhas e a neve do tecido. Para sua surpresa, com movimentos cuidadosos, ele próprio se encarregou do trabalho.
- Ah, não precisa se incomodar. – você falou, quando percebeu o que estava acontecendo.
Ele parou a fim de olhá-la, atento. Depois sorriu outra vez levemente aliviado.
- Tudo bem. – respondeu, voltando a limpar o tecido.
Não demorou para que a tarefa fosse concluída. Lindir estendeu a mão com a peça e você cuidadosamente a pegou e agradeceu. Enrolando-o no pescoço com certa urgência, sorriu com alívio e prazer ao sentir logo o aconchegante calor que o cachecol detinha. Poderia não ser o mais bonito, mas decididamente era tão bom que a aquecia em segundos. Mesmo estando de saia longa e uma fina blusa de mangas compridas, o frio agora era mínimo. Você se deliciou nos momentos em que, cobrindo-os, seus nariz e boca se esquentaram, abandonando a dor. Cobertos pelos seus cabelos, que se mantinham do lugar graças ao cachecol, você finalmente suspirou de alívio quando suas orelhas começaram a se aquecer, constatando finalmente que podia respirar sem dor.
Então se lembrou de Lindir. Olhou para o lado com vergonha, apressadamente baixou o cachecol e procurou arrumá-lo de uma forma elegante.
- Ele deve ser muito bom, lady (s/n) – ele comentou, cavalheiro, o que fez suas bochechas queimarem. Quase imediatamente, porém, você teve uma ideia e escondeu um sorriso de vitória.
- Novamente muito obrigada, senhor Lindir. – declarou com uma leve menção. Talvez pelo ambiente ou costume, mesmo sendo amigos vocês mantinham a formalidade. – Acho melhor eu voltar agora.
- Gostaria de ajuda para andar pela neve?
- Oh, não, posso usar o caminho que já abri aqui. Mesmo assim, obrigada pela disposição.
Cuidadosamente você voltou pela trilha que havia aberto no grosso tapete branco puro. Lindir a acompanhou lado a lado por todo o trajeto, as mãos postas para trás numa pose comum. No entanto, você teve a impressão de que ele sempre ficava um pouco mais atrás do que poderia e, apesar do queixo voltado para frente, mantinha sobre você um olhar atento e, por que não, receoso.
Quando alcançaram as calçadas limpas de Valfenda, suas mãos desenrolaram metade do cachecol e rapidamente envolveram o pescoço de Lindir com ele. O elfo pareceu perdido, pego totalmente de surpresa. Certamente o minstrel percebera e estranhara a atitude de retirar o cachecol tão logo o havia recuperado, mas jamais esperara ser envolvido por ele.
As orelhas pontudas adquiriram uma tonalidade rosa debaixo da cascata de cabelos castanhos e os pequenos e redondos olhos escuros se arregalaram quando a notaram perto dele. "Estamos... dividindo o cachecol." foi tudo o que ele conseguiu pensar, corando mais ainda sem perceber. Você não reparou porque, apesar do sorriso largo e puro, a verdade era que estava tão nervosa quanto.
Apertando muito forte os panos que ainda estavam sobre o seu pescoço, questionou:
- E então?
Lindir vestia um grosso e elegante casaco com detalhes em bronze, que combinavam perfeitamente com as calças e as botas muito belas de seu vestuário. Enquanto ele cobria parte do rosto com o tecido e demorava alguns momentos para responder, você se sentiu mal. A peça envelhecida parecia denegrir até a beleza da impecável tiara de prata na cabeça do elfo. Sem falar da própria beleza dele.
Você era uma humana, sobrevivente do ataque de Smaug, o magnífico, à cidade do Lago. Seus pais foram queimados vivos diante de seus olhos, sacrificando a si mesmos quando perceberam que deveriam empurrar o seu barco para não morrerem todos juntos ali. Abalada, você escapou por um triz do dragão junto a mais alguns desconhecidos que dividiam a embarcação e, depois de horas de horror, seu ânimo foi renovado pela firmeza de Bard após a tragédia. Você percebeu, porém, quando uma criatura baixa e de pés peludos saiu da Montanha Solitária após a terrível batalha dos cinco exércitos. Vocês conversaram e, não tendo nenhum parentesco com os sobreviventes, maravilhou-se com a possibilidade de ele levá-la até Valfenda. O hobbit Bilbo, comovido, havia contado várias coisas boas sobre a casa ao longo de todo o caminho. Quando chegaram, ele e o mago Gandalf explicaram a situação para o senhor Elrond e este aceitou acolhê-la.
Apesar da boa recepção, você não conseguia evitar de se sentir um "peixe fora d'água". Você não era tão bonita, elegante ou sábia quanto as elfas de lá. Mesmo depois de seis meses, mal conseguia trançar os próprios cabelos e a tiara simples que tinha agora era o melhor que conseguia fazer. Havia gentilmente ganhado novas roupas, mas aquele cachecol fora uma das poucas peças que conseguira salvar de sua casa. Fora tecido pela sua mãe com um material feio, apesar de eficiente. No que pareceram anos de quietude, você pensou de forma sombria que dividir a peça com um elegante elfo fora uma ideia idiota. Constrangida, estava prestes a retirá-la de Lindir quando foi abismada com uma observação.
- Então, é por isso que ficou tão feliz.
Ele estava com os olhos fechados e apesar da boca coberta, parecia estar sorrindo. Você apenas o encarou sem saber o que dizer.
- Posso sentir algo especial. – ele continuou. – De fato, não acredito que é apenas o material que seja quente e aconchegante, mas também o amor de quem o teceu.
Profundamente impressionada, viu-o abrir os olhos e baixar o cachecol, revelando o sorriso de lábios finos.
- Ele é... – O olhar dele falhou enquanto a mirava. – ... realmente bom.
Lentamente você sorriu com gratidão, destacando os olhos (c/o) marejados de lágrimas. As declarações carinhosas dele serviram para cicatrizar e aquecer ainda mais seu coração. Inevitavelmente seus sentimentos por ele afloraram, macios ao peito e dando-lhe a impressão de que flutuava baixinho. Permitiu que o silêncio perdurasse e você se aprofundasse cada vez mais e mais na noite negra daqueles olhos. A princípio, Lindir pareceu envergonhado, mas acalmou a si mesmo rapidamente ao, sem que você desse conta, admirar os seus de igual maneira. Você sentia como se houvesse uma linha que alcançava ambos os corações e os ligava. Naquele momento os dois poderiam jurar que eram infinitos.
Seu coração pulou de susto quando percebeu que sua mão, sozinha, havia ido de encontro a de Lindir. Segurava delicadamente a ponta dos dedos longos e macios e mesmo agora que percebia, não conseguia soltar. Chegou a se esforçar para tanto, mas a vontade oposta se sobrepôs de maneira incompreensível. Devido ao choque de ambições, sua mão (t/p) começou a tremer de leve. O minstrel notou e, depois de relutar, envolveu firmemente sua mão na dele. Seu peito pareceu prestes a explodir e as bochechas queimavam como nunca.
- A-Acho melhor caminharmos desse jeito, lady (s/n) – ele finalmente disse, se entregando à timidez, cobrindo o rosto e desviando seu olhar ao chão. – Afinal, não queremos que a senhorita escorregue pelo caminho...
- N-Nem você, senhor Lindir... – você gaguejou de igual maneira, tentando ser afetuosa apesar da vergonha em erupção.
Vocês passaram por escadas e pontes sem dizerem mais nada. Compartilhando o cachecol e de mãos dadas por todo o caminho, já não conseguiam mais se encarar. Qualquer coisa ao redor parecia bem mais interessante. Por um momento você arriscou um olhar de esguelha para seu amigo e pôde admirar por alguns segundos seu rosto corado. Quando ele, porém, logo se virou e seus olhares se encontraram, ambos os desviaram rapidamente para lugares aleatórios.
Chegando à escadaria que levava aos seus aposentos, você teve uma visão que a derrubou. Um grupo de elfos e elfas estava mais à direita das escadas que deveria subir, olhando para vocês dois com expressões surpresas e sem proferirem nenhuma palavra. Foi quando você percebeu a situação que havia criado. Uma humana comum, sem absolutamente nada de extraordinário, nem por dentro nem por fora, de mãos dadas e com o mesmo cachecol que um dos senhores de Valfenda, o refúgio e lar dos grandes elfos entre as montanhas. "Eu sou a mais idiota de todo o planeta. E sou ainda mais estando no meio de elfos!"
Você não permitiu que Lindir a acompanhasse até as escadas. Quando acabaram de atravessar aquela ponte, retirou com rapidez o cachecol dele e o mais rápido possível disparou correndo, passando pelo grupo e sumindo degraus acima, escondendo um rosto em lágrimas e deixando para trás um Lindir atônito e confuso.
Notando melhor os elfos que estavam ali, agora se voltando uns para os outros com aparente naturalidade, pôde ver uma razão para a fuga. Era uma possibilidade que ele queria muito que não fosse verdadeira, mas sentia ser fato. Lançou um olhar pesaroso para a escadaria para onde você havia fugido e fechou uma das mãos, implorando tolamente para que a sua estivesse lá.
"Lady (s/n)... Se ao menos você soubesse..."
