Prologue
O vento era forte, frio. A copa das árvores se remexiam agitadas como se soubessem que algo estava para acontecer, não era uma total mentira a natureza sempre sabe quando algo está errado, quando ela não está seguindo seu curso natural. A paisagem sem vida era um tanto que reconfortante de certa forma, ali a garota se sentia em paz. Paz esta que ela buscava a muito tempo…
Maxine Caulfield sempre fora uma garota comum, sem muitas pretensões e ambições em sua vida. Sempre se contentou com o básico, e vivia sua vida como qualquer outra pessoa, podemos dizer que o seu sonho, que sempre o guiara e a levou até onde estava era o dom que possuía para fotografia, amava observar um momento único e o capturar com as lentes de sua câmera e eternizá-lo para sempre, esta sua paixão acabou sendo sua ruína. Uma simples foto acabou por acarretar uma onda de problemas sem fim em um curto espaço de tempo em várias linhas temporais e em todas as realidades. Super-Max, não, ela não era uma heroína, somente uma pessoa normal com um dom peculiar. Mas, isto não significava que o destino de tudo e todos estivesse em suas mãos, pelo contrário, ela sabia que não podia alterar o destino de todos a sua volta, por mais que tentasse isso só abria fissuras para cicatrizes ainda mais dolorosas e a cada vez que tentava tomar o controle, se perdia aos poucos sem sequer perceber; em um caminho sem volta.
Olhava ao reflexo na água tentando se encontrar ali. Partes do lago congelado, não refletiam nada, absolutamente nada assim como ela se sentia por dentro, como pudera deixar com que tudo chegasse naquele ponto, se, se concentrasse um pouco conseguia vislumbrar aquele fatídico dia onde tudo teve início, podia ouvir as vozes nos corredores e os risos, sentia o cheiro de pólvora da arma que disparou e logo depois o cheiro de sangue forte e fresco. A realidade voltou a si como em um puxão quando sentiu aquele cheiro almiscarado, com suaves notas de algo cítrico como limão, por um momento pensou que adoraria tomar um chá. A manta que ele pôs na mesma a aqueceu, ela agradeceu por isto, observou a mão pálida sobre o pano quadriculado, os braços com poucos músculos não o deixava com ar de fraco, combinava muito bem com seu porte mediano que o deixava deveras atraente, o rosto fino olhos nem muito grandes ou pequenos de cor azul como o céu claro sem nuvens, a boca carnuda e levemente vermelha devido ao tempo frio, o nariz anguloso e fino os cabelos lisos e loiros escuros faziam um bom contraste ao jovem que ela olhava. Seria um bom modelo para suas fotos. Mas a palavra boa não se aplicava de nenhum modo a Nathan Prescott. Sim ele era bonito, e tinha algo em seu olhar que a atraia, podia ver sua alma-perdida no meio de todo aquele caos, de toda prepotência, arrogância e altivez que ele tanto dizia ter, ela sabia que por trás daquele olhar havia bem mais do que o menino rico e revoltado, sem escrúpulos e frio que ele sempre demonstrou ser debaixo daquelas olheiras e o vermelho que nublava aqueles olhos tinha um ser que sofria tanto quanto ela. Mesmo negando, os dois tinham uma conexão, eram almas que vagavam em busca de um porto seguro, pessoas doentes em busca da tão almejada cura e paz de espírito, por isto eram peças que se completavam. Isto, peças– eles eram peças que a vida brincava sem nenhum cuidado.
—Sabe, aqui é um belo lugar, não seria nada mal ficar aqui, envelhecer construir uma família…. Ser feliz.
Ele divagou olhando o lago congelado.
—Seria. Mas isto seria fugir, viver uma grande ilusão que nunca aconteceria. Não depois de ferrarmos com tudo, temos que arcar com as consequências de tudo que aconteceu. Você sabe, nem se quisesse poderia, não com um psicopata na nossa cola.
—Nós poderíamos, Max.
—Não, não podemos. Nem mesmo você acredita nisso, Nathan. Fodemos com tudo, só queria que isso acabasse de uma vez. Que as vozes parassem…
Ela disse sentindo as amargas lágrimas descendo por sua face, estava muito cansada de fugir, se esconder. Maxine não era exatamente uma miss da beleza, não que ela não tivesse nenhum atrativo. Sua pele era clara como porcelana, sem nenhuma maquiagem. Os cabelos em um tom de castanho que agora estavam pintados de negro, e bem mais longos. Algumas sardas reinavam em sua face a deixando com um ar ainda mais puro e adorável, seus lábios eram finos e rosados e os olhos azuis escuro. Não, ela sim era bonita e ele se recriminava por jamais tê-la notado, quem sabe as coisas não fossem diferentes agora. A abraçou tentando transmitir um pouco de conforto, uma promessa muda que tudo ficaria bem, mesmo que o próprio não tivesse certeza disso. Era irônico que agora tentava protegê-la, se no início de tudo a pegara para ser um objeto de barganha, a vida é estranha realmente ele pensou dando um beijo na testa dela demonstrando carinho, algo que nenhum dos dois imaginava que era uma virtude que um Prescott possuiria, afinal ele jamais se importou com nada e nem ninguém, era um ser vazio que tentava se completar com o que lhe fosse mais rentável no momento: bebidas, drogas, sexo… E nada jamais conseguiu preencher o vazio em si, até ela entrar como um furacão em sua vida devastando os muros que tinha erguido ao seu redor, o fazendo se perder em si mesmo, até enfim se encontrar. Ela era seu norte, seu porto seguro, sua cura. Num ímpeto ele levantou e deu a mão a ela, que a jovem fotografa aceitou sem pestanejar, era hora de ir embora.
Andavam calmamente, um sentindo o abraço do outro, um dava a paz que o outro necessitava, andavam em meio à trilha da floresta até chegarem à pequena cabana e irem de encontro ao carro. Era uma caminhada curta, para dizer a verdade só tinham de pegar a pequena mala dentro do local e partir, assim como faziam já há algum tempo algo fácil. Não tinha nenhum problema nisso.
—Eu pego as malas, tá legal? Fica esperando no carro. –Ela assentiu indo para o carro. Aquela cabana só possuía quatro cômodos, e o quarto ficava nos fundos. O outro estranhou quando sentiu um cheiro estranhamente enjoativo e familiar no ar, não, não podia ser. Como ele podia ser tão burro, imbecil e idiota.
ƸӜƷ εïз ઈઉ ƸïƷ ઈïઉ
…Enfim abriu os olhos em súbito sentindo a dor nauseante pelo seu corpo.
—Max?
Ele não podia crer, não, aquilo não podia acontecer. Não depois de tudo. Nathan não conseguia sentir seu corpo, tudo estava pesado, até mesmo pensar era doloroso. As imagens rolavam por sua mente como o bater das asas de uma borboleta, o carro capotando, tudo girando. Onde estava Maxine e os outros?
O loiro sentia sua barriga doer muito. O freio de mão de alguma forma atravessou seu estômago, sabia que não tinha muito tempo agora, mas não podia deixá-la, ele conseguia vê-la imóvel a menos de um metro de si, com um corte grande em sua cabeça, a boca cheia de sangue, ponderou por um momento se tinha forças para, pelo menos, chegar até ela, com muito esforço se arrastou em sua direção até conseguir tocar em seu rosto.
—M-Max? Max por…. Favor acorda…
Sua voz era como um balsamo naquele momento, no meio daquela escuridão ela podia ver a sua luz.
—Nathan…? –Ela disse com a voz fraca abrindo os olhos, sem ver de início o que se passava. –O que aconteceu?
—Um acidente. Tem que sair daqui, Max, tem que fugir e se salvar. Vai agora!
—Não, isso não devia acontecer. Nathan eu não…vou te deixar aqui.
A fotografa disse sentindo o gosto do sangue em sua boca, tinha que fazer isso. Sabia que poderia não dar certo, e algo muito ruim acontecer, mas não podia deixá-lo morrer. Há muito tempo não recorria a isso, nem sabia ao certo se era capaz de voltar, mas tinha de tentar. O garoto percebeu o que ela ia fazer e não podia deixar que ela fizesse.
—Não, não faça.
—_…. Mas se eu não voltar você vai morrer.
—Eu sei, e não importa e-eu só quero que você me ouça, tá? Você foi a melhor coisa de tudo que aconteceu na minha vida, Maxine, eu te amo! Só me arrependo por não ter te dito antes que você é minha vida.
Ela só pode chorar diante daquelas palavras, não, não o deixaria morrer.
—Eu também te amo. –Falou dando um beijo cálido em sua boca, sim o amava apesar de ele ser quem era e de tudo que ele havia feito. O viu sorrir e fechar os olhos, como se dormisse serenamente, mas seu sono seria eterno. O barulho de passos era audível naquele momento, Max se concentrava tentando rebobinar, voltar no tempo naquele momento crucial e impedir tudo aquilo. Sentiu seu corpo ser levantando do chão, se sentia como uma boneca de pano, agora o sangue escorria não só de sua boca, mas também de seu nariz e até mesmo dos olhos. Havia prometido a si mesma não voltar mais no tempo, sabia o quanto aquilo era perigoso aos demais e a ela própria, isso causava danos irreversíveis em seu cérebro, suas células cerebrais viravam gelatina, e tinha outro ponto contra, não sabia se era capaz de fazê-lo ouvia os gritos e os xingamentos sendo proferidos a si, mas isto era somente um eco distante naquele momento, se concentrava em outras coisas, todos os momentos que havia vivido até ali cada decisão errônea, cada paixão, cada erro e enfim sorriu.
—Não se atreva, você não vai morrer agora, Max!
Seus orbes azuis perderam o brilho e sua força vital se foi fazendo sua cabeça tombar para o lado e o grito como a de uma fera enjaulada ecoar.
Era chegado ao fim, ou talvez não….
