Violeta

(by Ms. Liddell)

-Finalmente em casa.

Murmurei à mim após abrir a porta do meu quarto no templo de Gêmeos. E enquanto me dirigia à cama, fui me despindo do meu manto de Grande Mestre. Aquela bendita roupa pesava. Havia dias que pesavam mais que outros. Peso em minhas costas e meus ombros.

Mesmo não havendo Guerra, sempre procuravam problemas. Pelos em ovos. Agulhas em palheiros e tudo o que os clichês possam explicar.

O estresse era demais. O meu estresse era demais. Mas foda-se agora, quero paz no momento.

E mesmo com a roupa no caminho, busquei meu roupão para vestir. Talvez daqui a pouco eu tome um banho, mas quero companhia... Aliás, cadê o meu guerreiro dourado?

Enquanto fazia um laço mal feito na roupa.

-Aiolos? – Minha voz saiu em tom médio. Saí do meu quarto e busquei com o olhar onde ele estava. Havia silêncio naquele templo.

"E o Céu era feito de Ametista".

Chamei o nome dele mais algumas vezes, e nada. Aquilo começou a me irritar. Ele prometeu que estaria aqui, não em Sagitário.

Ou em Capricórnio ou Leão.

-Capricórnio. – Acabei murmurando com desgosto.

Se havia algo que eu odiava mais do que ver o Kanon nas mãos de Poseidon, era ver Shura perto do meu Sagitário. Espanhol metido. Um dia o faço virar paella! Faria o prato pessoalmente.

Acabei ouvindo a bufada que eu dei. Apesar de não estar apresentável, ainda tentei a busca do lado de fora do meu templo. A sorte é que já passava da meia-noite, não havia nenhum Cavaleiro de Ouro nas redondezas. Talvez uns pudessem sair para fazer visitar noturnas a outros, mas geralmente já passam parte do dia.

Passei por um e outro pilar, estava descalço, senti o frio do mármore e aquilo me arrepiou. Mas não demorei a me aproximar da saída de Gêmeos. E meus pensamentos sobre o Aiolos se desviaram à barulhos que eu comecei a ouvir.

"E todas as Estrelas pareciam pequenos peixes".

-Aiolos, é você? – Disse ao tocar a minha mão no último pilar que dava à escadaria.

"Você deveria aprender quando partir".

-O que significa isto? – No mesmo instante que eu bati os olhos na cena, senti lágrimas, mas me obriguei a não chorar.

-Saga! – Assim que minha voz irrompeu, ele se assustou. Levantou o rosto, ignorando o terceiro ali. Aiolos me lançou, após a surpresa, um olhar de desprezo. Mas ainda assim, ele se levantou do colo do homem que eu tentava distinguir, porém o meu choque não me permitia descobrir quem fosse. Meu punho se fechou e eu dei alguns passos em direção à ambos. Uma mão minha fez obrigar o terceiro ali se levantar ao pegá-lo pelo braço com tal violência.

-Gêmeos, vamos conversar! – Aiolos aumentou um pouco sua voz, embora permanecesse discreta.

-Você! Cale a sua boca, Sagitário! – Com a outra mão, apontei para ele, olhando-o com fúria.

O outro se soltou de sua mão, então virei o rosto para olhá-lo.

-Você. – Meu tom de voz foi de ira ao ver quem era o desgraçado.

"Você deveria aprender a dizer 'não'".

-Não vou admitir falar com o Aiolos dessa forma. – Ele acabou entrando para a discussão, aquilo me irrtou ainda mais.

-Capricórnio maldito. Vai sair daqui antes que eu te mate! É meu templo, vá embora! – Eu me sentia tremer de ódio. Já não distinguia o meu volume.

-Saga, fale mais baixo, olha a hora! Máscara fica puto se o acordam.

Não. Aquilo só podia ser brincadeira. Aquelas palavras dele só podiam ser gozação comigo. Mas eu não conseguia olhá-lo. Ainda encarava Shura, eu me sentia descontrolar a cada segundo que o via na minha frente.

-Shura, sai daqui, depois nos falamos. – De canto de olho, notei que Aiolos ainda tentava arrumar a calça que estava quase despida quando os peguei.

Para a sorte dos três, Shura me deu as costas e saiu sem nada dizer. Parece que balançou a cabeça e malgum gesto... Mas não distingui novamente.

Ouvi palavras do sagitariano ao meu lado. Mas não interpretei suas palavras, e só voltei à mim quando perdi Shura de vista.

-Saga, porra, me escuta!

-Não!

"Talvez dure um dia...".

Virei meu corpo em direção à ele. Peguei em seu pulso e o puxei para dentro da minha Casa. E em um ato de fúria, o joguei no chão.

-Passo o dia trabalhando e você fica aqui, com o Shura te comendo? – Não iria mais medir meu tom e minhas palavras. Eu sentia ódio e raiva. – Você sabe melhor do que ninguém que eu desprezo traição. E que desprezo aquele seu maldito amante chifrudo!

"O meu dura para sempre!"

Aiolos tentou se levantar, parecia assustado com a minha atitude.

-Saga! Controle-se primeiro! É o que mais odeio em você! Seu descontrole que sobra para mim! – Ele passou uma das mãos no rosto, impaciente.

-Não desconverse! Vai me fazer sentir culpado até a hora que eu pedir perdão pela briga! Mas é você que está errado! Você me traiu, Aiolos! Você que está errado e vem jogar a culpa em mim? Você é um lixo tanto quanto o seu amante!

"Talvez dure um dia! O meu dura para sempre!"

-Olha como fala comigo! Ao menos o Shura nunca me agrediu! – Fui até ele e o empurrei. Ele quis me agredir, mas segurei os braços dele. – Você vive trabalhando! Saga! Me solta, está me machucando!

-Então vai embora! Vai ficar com o seu amante. Vai ficar com o homem que matou você no passado!

-Diferentemente de você, eu sei perdoar! Athena me ensinou a perdoar! E você não tem moral! Shura me matou por sua culpa, você me traiu também. Então se for por contagem de erros, nós três temos erros. E não traí você transando com outro por conta do passado. Foi por sua culpa! – Ele me empurrou e bati as costas em um móvel de vidro que havia na sala de estar.

-Não se atreva a falar de Athena! Sua boca suja não merece proferir o nome dela! – Novamente avancei até ele, segurei em seus cabelos com força. – Resolve me trair só porque eu trabalho demais?

"Quando eles têm o que desejam... Eles nunca almejam novamente".

-Eu não amo mais você! – Ele disse enquanto tentava desvencilhar a minha mão de seus cabelos. – Me deixa em paz! – Acabei o soltando e me silenciei. – Você só trabalha, pouco vem me ver, nunca vai até Sagitário. Saga... Não é porque moramos no mesmo lugar, praticamente juntos e que você é o Grande Mestre que só eu tenho que fazer sacrifícios nesse relacionamento. – O tom dele era mais baixo. Mexia nos fios que eu puxei, e me olhava com seriedade.

Mas eu não sabia o que sentir naquele momento.

"Vá em frente, tome tudo. Pegue tudo, eu quero que você o faça".

Olhei Aiolos com tristeza. Eu não sentia aquilo que ele sentia. Eu não vi o nosso relacionamento chegar aquele ponto. Eu fazia o que podia.

-Você acha... Que eu amo ficar o dia inteiro resolvendo problemas dos outros, do país e do governo... Enquanto minha vontade é ficar o dia todo com você? Acha que já não passou diversas vezes pela minha cabeça de largar de uma vez esse cargo? Não é nada justo você falar essas coisas para mim.

-Nós conversamos já diversas vezes sobre essa situação, e parecia que você não entendia. Não me ouvia.

-Então acho que você realmente não me amava.

-Não? Mesmo com tudo o que houve, toda a humilhação que você fez comigo, retornei, fiquei ao seu lado, fiz promessas, havia me apaixonado por você e agora me diz que eu fui falso? Sou é idiota e não falso.

-Você entra na minha vida, leva tudo, acaba com a minha razão e depois pego você no colo de outro e eu estou errado em reclamar?

"E o Céu era todo Violeta...".

Ele respirou fundo, sem me olhar.

-Eu sinto muito. Eu quero alguém para amar. Que esteja do meu lado, que seja romântico, que me ame... E- O interrompi, estava me sentindo injustiçado.

-Eu não fiz nada disso? Não cuidei de você quando ficou doente. Não disse que te amava. Não fui romântico em nenhum momento? Não, melhor... Você encontrou tudo isso no Shura, não foi? Agora eu não sirvo mais. – Senti novas lágrimas, e não evitei o choro em silêncio dessa vez.

"Queria dar à minha Violeta, mais violência".

Aiolos me olhou. Havia um misto de tristeza e raiva no olhar dele.

-Saga... Não sou santo, mas... - E novamente, o interrompi. Eu estava impaciente com aquele discurso de merda dele.

-Mas porra nenhuma. Pode parar por aí. Aiolos, você sabe muito bem o que você significava para mim! Eu nunca deixei de te ver sempre que eu podia. Todos aqui dentro trabalham tanto quanto eu. Eu nunca desejei ninguém mais! Nem aquelas malditas ninfas que ficam me bajulando lá em cima. Cansei dessa desculpa em formação que está tentando montar. Vai então atrás do seu príncipe dourado, vai.

A expressão dele amenizou, notei que havia arrependimento naquele olhar. Para surpresa minha, ele deu passos ante a mim. Desviei o olhar, aquilo começava a doer com mais intensidade.

"Ei, eu sou aquele sem Alma. Um acima e um abaixo".

-Saga... – Ainda amava aquela voz quando dizia o meu nome. Aiolos chegou a tocar em meu braço, mas eu repeli o toque com a outra mão, dando-lhe um tapa. – Irei embora. Mas quero que saiba... Shura e eu... O que viu foi a única vez. Eu estava esperando você e ele passou por aqui... E ficamos conversando... O assunto era bem distinto de sentimentos...

-Está querendo justificar porque me traiu? Não sou idiota, apesar de achar. Não é segredo à ninguém o que Shura sente por você. E eu conheço você muito bem para saber que você compartilhava o mesmo. Não sou perfeito... Mas eu não merecia isso. – O olhei, e passei por ele, esbarrando.

"Vá em frente e tome tudo. Desafio você à fazê-lo".

-Amanhã... Eu venho buscar algumas roupas que deixei aqui. – Acho que ele não me olhava. – Não vai me perdoar. Os dois erraram, mas eu tentei lutar pelo nosso relacionamento. Sei o quanto gosta do seu cargo, foi por isso que permiti que nosso relacionamento chegasse à idade dos oito anos.

"Eu lhe disse desde o começo como isso poderia acabar...".

-Não me venha com pena. Não se estende um relacionamento por tanto tempo apenas por pena. Se deixou de me amar, você e Shura deveriam estar transando há muito mais tempo. E você não sabe mentir. Essa sua decisão de terminar comigo é tão recente quanto a sua transa com o Capricórnio. – Por fim, o olhei inexpressivo. Decidi esquecer as lágrimas. – Seja mais honesto. Encontrou alguém melhor. – Ri com sarcasmo.

-Não sou falso como quer dizer.

-Mas está tentando mentir.

"... Quando consigo o que quero, não o desejo novamente".

-Você acabou de pedir honestidade. Eu amei você, mais do que achei que poderia. Mas houve obstáculos e as coisas mudaram.

-O jeito mais frio de dizer "não te quero mais". – Passei uma mão no rosto, sentia leve dor de cabeça. – Chega. Não há mais nada a ser dito aqui. Você não me ama mais, eu ainda amo você, você me traiu e terminamos o relacionamento... Ou qualquer merda que tínhamos. Pronto. Resumido, com algumas mágoas e corações partidos.

-Depois conversamos... Você não ouve quando está nervoso.

-Não haverá mais conversa. – Respirei fundo, tentando me acalmar. Estava de costas à ele, acabei me arrumando por conta da briga.

-Adeus, Saga.

Não respondi e não o olhei partir. Encostei-me ao sofá momentos depois. Meu olhar caiu em algum lugar da sala, achei que choraria ainda mais, mas não. Ainda estava desacreditado de aquilo ter acontecido.

Talvez eu não soubesse nem o que pensar.

Ele partiu... E só.

"Torça uma mentira em sua mente, você é meu".

-/-

Notas da Autora.

Música em itálico e título: Violet da banda Hole.

E depois de muito tempo, voltei a reescrever sobre os Cavaleiros de cima, graças à Isa. Hihi

Saga, por fim, sente a humilhação que provocou à Aiolos no passado.

Saint Seiya e os personagens aqui citados são propriedade de Masami Kurumada.