Nome
da fic: Além do Véu
Pares: SS/HP, HG/RW
(mencionado), RL/SB (mencionado), SS/HP/SB.
Gênero: Drama,
Romance.
Spoilers: Spoilers máximos para o Livro 5
Alertas:
H/C
Sinopse: Sirius volta de Além do Véu. Mas ele
está mudado.
Agradecimentos: Lilibeth e Viv, pela betagem
fenomenal!
Além do Véu
Capítulo 1
– Drops de limão?
A pergunta de Albus Dumbledore só fez aumentar a curiosidade do jovem professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Polidamente, Harry Potter respondeu.
– Não, obrigado, diretor.
Dumbledore se virou para o outro visitante em seu gabinete:
– Severus?
– Não, obrigado. Aconteceu alguma coisa, Albus?
– Com certeza aconteceu. – O diretor de Hogwarts tinha os olhos azuis brilhando ao se dirigir aos dois professores diante de sua escrivaninha. – Aconteceu a coisa mais extraordinária, para ser mais exato. Acabo de ser informado e gostaria de prepará-los para o que tenho a dizer, especialmente você, Harry, meu rapaz. As notícias podem chocá-lo.
– O que houve, diretor?
– Recebi uma informação de um bom amigo do Ministério da Magia. Sirius Black foi encontrado no Departamento de Mistérios do ministério – vivo!
Um grito veio de um quadro acima de Dumbledore. Severus olhou para o diretor mais impopular de toda a história de Hogwarts: Phineas Nigellus. Ele parecia chocado dentro de seu retrato.
– Meu tataraneto? Pensei que ele tivesse morrido!
Dumbledore deixou trair um pouco de impaciência:
– Aparentemente, as notícias de sua morte foram largamente exageradas. Ele está vivo. Voltou de Além do Véu.
Todo o sangue fugiu do rosto do jovem professor, que parecia ter parado de respirar. Com dificuldade, Harry precisou repetir, como que para se convencer:
– V-vivo...?
– Sim. Vivo, mas inconsciente. Ele está em St. Mungo's. Se não me engano, o horário de visitas está para começar, daqui a uns cinco minutos.
– Visitas?
– Claro, eu calculei que você quisesse usar o Floo assim que fosse informado. Tenho certeza de que Severus ficará encantado em acompanhá-lo.
Harry respirou um pouco.
– Podemos usar sua lareira?
– Certamente, meu rapaz. Fique à vontade.
Severus passou o braço no ombro de Harry, ajudando-o a ir até a lareira. O rapaz parecia tremer ligeiramente. Após um grito de "St. Mungo's!", os dois sumiram pelo sistema de Floo.
Com cuidado, Severus acompanhou Harry para fora da lareira, dentro do Hospital St. Mungo's para Doenças e Enfermidades Mágicas, direto para o balcão de recepção. Foi Harry quem se dirigiu à bruxa-recepcionista:
– Viemos visitar Sirius Black.
Ela arregalou os olhos, excitada:
– Sim, sim, eu estou a par do caso! Impressionante, não? Ele conseguiu voltar de Além do Véu! Ninguém jamais tinha conseguido isso antes!
– E ele pode receber visitas? – indagou Severus.
A bruxa olhou para os dois e abriu um sorriso, ainda mais excitada:
– Mas... por Merlim!... É... Harry Potter!
Harry gemeu, desesperado. De todos os momentos, aquele era o mais impróprio para ser reconhecido como o Menino-Que-Derrotou-Voldemort.
Severus Snape aplicou seu olhar mais ferino em direção à bruxa:
– Se puder nos dizer onde Black está internado, ficaremos gratos.
O olhar, mais a voz reservada para aterrorizar estudantes, logo surtiram efeito. Ela pareceu envergonhada, e olhou a papelada na sua escrivaninha.
– Oh, bem. Aqui diz que visitantes devem ser encaminhados para o Dr. Lowell. Quarto andar.
Harry agradeceu e liderou o caminho direto para o quarto andar. Severus podia sentir que seu marido estava muito abalado, movido apenas por uma espécie de choque de adrenalina. Ao chegarem ao quarto andar, uma enfermeira os encaminhou ao Dr. Lowell, um medibruxo aparentando sessenta anos, que abriu um sorriso ao reconhecê-lo.
– Harry Potter! Aqui, para ver Black? Isso é uma surpresa!
– Sirius Black é meu padrinho. – explicou Harry – E ele foi inocentado de todas as acusações contra ele ao final da guerra.
– Claro, claro. – dirigiu-se a Severus – Também é parente, Sr...?
– Prof. Severus Snape, Mestre de Poções de Hogwarts. Vim acompanhar o Prof. Potter. Gostaríamos de ver Black, e fomos encaminhados para falar com o senhor. Está cuidando do caso?
– É isso mesmo. Eu acabei de realizar exames e ele ainda não voltou à consciência. Estou inclinado a não autorizar visitas nesse ponto.
– Como ele está? – quis saber Harry, ansioso.
– Não vou esconder. O quadro dele inspira cuidados. Ele está desidratado, desnutrido, emaciado. Fisicamente, creio que ele estaria em melhor forma numa solitária em Azkaban. Mas o que me perturba é sua condição mental.
– Mental?
– Fizemos exames de observação fisiológica. Sabe, eles equivalem a exames de autópsias e ressonância magnética dos Muggles. Descobrimos dano cerebral nos lobos frontais. Não sabemos se pode ser revertido com magia, por isso nós o pusemos aqui, no quarto andar, ala de feitiços irreversíveis.
– Ele foi atingido por um feitiço? – Harry quis saber.
Dr. Lowell balançou a cabeça, e foi cuidadoso com as informações:
– Não sabemos com certeza, mas parece extremamente improvável. Desconhecemos a origem desse dano cerebral, e ainda estamos investigando sua extensão. Até ele retomar a consciência, pouco poderemos dizer.
– Algum prognóstico? – perguntou Severus.
O Dr. Lowell usou de franqueza:
– Bem, vocês precisam compreender que ele chegou aqui num estado lastimável. Agora que o medicamos com poções e o induzimos num transe de cura profundo, ele não corre mais risco de vida. Mas ainda não tenho a menor idéia do que vai acontecer com ele. É um caso único, vocês sabem. Tenho enxotado equipes do Profeta Diário procurando uma matéria exclusiva.
– Quando ele vai acordar?
– Ele está muito fraco e o transe de cura ainda deve mantê-lo inconsciente pelos próximos dois dias. Quando acordar, podemos determinar o tratamento mais adequado ao caso dele. Por enquanto, ele precisa se fortalecer fisicamente, e é o que estamos fazendo.
– Podemos vê-lo? – Harry pediu.
O medibruxo o encarou, cenho franzido, e depois encarou Severus. Durante alguns segundos, ele ponderou sobre o pedido.
– Cinco minutos. É só o que posso permitir.
Harry deu um meio sorriso. O primeiro desde que tudo aquilo tinha começado, observou Severus.
– Obrigado, doutor.
Eles foram levados a uma área de isolamento, onde havia um quarto envidraçado. Lá dentro, uma cama de lençóis muito brancos, sobre a qual um homem estava deitado.
Harry se aproximou lentamente, Severus sem se desgrudar dele. O rapaz chegou perto da cama e sussurrou:
– Sirius...
Severus mais tarde admitiu que a visão o chocou mais do que gostaria. Black estava tão macilento, as maçãs do rosto tão fundas, os lábios rachados quase sem cor. Mal se notava a respiração. Ele parecia morto. Os cabelos tinham sido cortados, mas, mesmo curtos como estavam, era possível ver que como tinham sido maltratados ou negligenciados. Severus olhou os braços finos estirados ao longo do corpo magro e viu as unhas recém-aparadas, ainda manchadas por sujeira e desnutrição.
Num movimento instintivo, ele juntou Harry contra seu corpo e o jovem afundou o rosto no seu peito, chorando convulsivamente, soltando toda a energia acumulada desde que soubera que seu padrinho voltara dos mortos. Com movimentos circulares, Severus massageou as costas de Harry, tentando confortá-lo. Ele desconfiava que Harry ainda teria que ser muito forte para enfrentar o que estava à frente.
o 0 o
No dia seguinte, Harry quis conversar com Severus, mas não tiveram oportunidade. O Prof. Dumbledore tomou providências para que as aulas de Harry fossem dadas por uma professora substituta. Hermione Granger tirou uma licença da instituição de pesquisa onde trabalhava para ajudar o amigo na hora da necessidade. Seu marido Ron Weasley foi com ela a Hogwarts e ficou decepcionado por não conseguir ser informado de muita coisa. Mas nem Harry sabia de tudo o que estava acontecendo. Muito dependia do próprio Sirius.
Mais uma vez, Severus acompanhou Harry a St. Mungo's e só que eles fizeram foi olhar alguns poucos minutos a figura de um Black inconsciente na ala de isolamento. Ao menos o Dr. Lowell garantiu que eles tiveram progresso: Black estava um pouco mais forte. Aquilo pareceu animar Harry um pouco.
No dia depois daquele, quando Severus e Harry fizeram o já conhecido trajeto para o quarto andar, foram informados que o paciente Sirius Black tinha sido transferido da área de isolamento para um quarto naquele andar e no momento estava sendo examinado pelo Dr. Lowell. Eles teriam que esperar.
Black tinha aberto os olhos.
Severus pode sentir toda a expectativa de Harry, expressa no brilho em seus olhos e no seu largo sorriso. Quando o Dr. Lowell se aproximou, Harry parecia uma criança, excitada e ansiosa por saber tudo.
Mas o rosto do medibruxo não escondeu sua preocupação:
– Nossas previsões se confirmaram, Prof. Potter. Ele sofreu danos cerebrais específicos. Lamento informar que ele não é mais o homem que conheceu.
Harry pareceu tão chocado que Severus pegou seu braço.
– Como assim?
– Ele teve ambos lobos frontais comprometidos. Isso afeta áreas complexas como conhecimento e emoção, além de fala e temperamento. Pelo pouco que pude observar, ele não perdeu totalmente a capacidade de articulação, mas teve uma perda de memória tão significativa que tem dificuldade em se expressar.
Harry ainda estava em choque, e Severus o manteve junto de si, para lhe dar apoio.
– Ele... não se lembra?
– Nem de seu próprio nome. Eu o informei que está doente, e sob cuidados médicos. Ele pareceu entender o que eu disse, mas não reagiu, apenas aceitou minhas palavras. É como se suas memórias tivessem sido retiradas de dentro dele, e não tem nada no lugar delas. Ele só está um pouco melhor do que alguém que recebeu um beijo de um Dementador. Mas não muito melhor.
Harry fechou os olhos pesadamente.
– Tem certeza de que não há evidências de um feitiço? – quis confirmar Severus.
– Nenhuma. Se eu não soubesse quem ele é, poderia dizer que se trata de má-formação cerebral, pois também não há indicação de cirurgia, mágica ou Muggle. Mas nem mesmo um defeito genético seria tão preciso. É intrigante.
– Acho que o senhor conhece um dos casos dessa ala. Os Longbottom, Frank e Alice. – Harry sugeriu – Pode me dizer se Sirius está como eles?
Dr. Lowell negaceou com a cabeça:
– Eu conheço o caso dos Longbottom. Não, são dois casos diferentes. Os Longbottom foram levados à insanidade por um feitiço e perderam a razão. Black não está louco. Ele parece ter passado por um lobotomia. É aquela cirurgia sobre a qual eu estava falando.
Harry arregalou os olhos cheios de lágrimas:
– Oh...!
– Entendo como isso deve ser estressante para vocês, mas podem ter certeza de que estamos fazendo tudo para ajudá-lo. O problema é que ele não tem ninguém.
– Como assim?
– Ele não tem família, e alguém precisa ser legalmente responsável por ele. Ele não tem condições de ser considerado um bruxo em plenas capacidades. Precisa de um tutor ou curador.
– Eu ficarei responsável por ele. – ofereceu-se Harry.
– Prof. Potter, tem certeza do que está fazendo? Sirius pode jamais se recuperar do que aconteceu. A condição dele pode ser irreversível. – esclareceu o Dr. Lowell – Aliás, é o mais provável.
– Eu vou fazer tudo o que puder por ele. Cuidarei dele.
– Acho que vai precisar assinar alguns documentos para legalizar a situação. Eu o deixarei informado.
Harry engoliu um soluço:
– Eu quero vê-lo.
Dr. Lowell hesitou:
– Entendo, mas talvez não seja uma boa idéia, Prof. Potter, nem para o senhor, nem para ele.
– Eu preciso vê-lo! – insistiu Harry, os olhos cheios de lágrimas – Por favor.
– Temo pela reação dele. – justificou o medibruxo – Se é que vai reagir.
Harry parecia desesperado e olhou para Severus, os olhos implorando ajuda para convencer o médico. O Mestre de Poções intercedeu:
– Se não me engano, a lobotomia é um procedimento utilizado em pacientes mentais de alta periculosidade e elevado grau de violência. Os pacientes lobotomizados se tornam dóceis e tranqüilos após a operação, e não oferecem mais risco a si mesmo ou aos que os cercam.
– Precisamente.
– Então se Black está mesmo lobotomizado, não há risco para quem o visita nem para ele mesmo.
O Dr. Lowell encarou-o, depois se voltou para Harry, ainda resistindo, mas finalmente terminou concordando:
– Está bem. Mas eu estarei com vocês. Preciso monitorar suas reações.
Eles foram ao novo quarto de Sirius, que terminou sendo não muito diferente do primeiro. Desta vez, a cama com lençóis muito brancos tinha um paciente que estava acordado.
Um paciente que olhou para a porta e, assim que viu as três pessoas entrando, disse:
– Eipe.
Dr. Lowell se adiantou para junto dele:
– Sirius? O que quis dizer?
O paciente o encarou. Harry sorriu:
– Sirius?
Sirius piscou e voltou os olhos para Harry. O filho de James Potter mal podia acreditar no que via: os olhos de Sirius, sempre tão brilhantes e luminosos, agora tinham um ar opaco e sem vida. Harry reprimiu um gemido, controlando-se para dizer, amistoso:
– Sirius, sou eu, Harry. Lembra-se de mim?
Sirius manteve o olhar em Harry, sem qualquer emoção. O jovem professor de Hogwarts persistiu:
– Pode me ouvir, Sirius?
A resposta veio numa voz rouca:
– Sim.
Dr. Lowell explicou:
– Parece que ele não usa a garganta há muito tempo.
Harry chegou bem perto da cama:
– Sirius, sou eu, Harry.
Sirius piscou.
– Harry. – repetiu, como se quisesse gravar – Eu sou Sirius.
– Sim, eu sei, e estou tão feliz em vê-lo, Sirius. Senti muita saudade de você.
Sirius o encarou, mas não respondeu. Afinal, não era uma pergunta.
Harry tentou parecer animado:
– O Dr. Lowell está cuidando de você agora. Você está doente, mas vai ficar bom.
– Eu estou doente. – repetiu Sirius, de novo, como se quisesse gravar na memória – Dr. Lowell me disse.
– Isso mesmo, Sirius, mas você vai melhorar. Muita gente está torcendo por você, Sirius. Vou dizer a todos que você está bem melhor.
De novo, Sirius o encarou, mas não respondeu.
Dr. Lowell interveio:
– Agora é melhor Sirius descansar um pouco. Harry poderá voltar amanhã e vocês terão chance de conversar mais.
Sirius concordou com a cabeça e olhou para Severus. Mas como o Dr, Lowell estava levando Harry para a porta, ninguém notou que Sirius seguiu Severus com os olhos.
– Eipe.
o 0 o
Severus corrigia trabalhos em sua escrivaninha, mas mantinha a mente alerta. Distribuindo notas péssimas com uma sensação de profunda satisfação, ele teve que reconhecer que estava preocupado com Harry. Seu jovem esposo ainda não dera sinais de que iria parar e conversar.
As coisas com Black se desenrolavam de maneira satisfatória, na opinião do Mestre de Poções. Poucos dias depois de ter recobrado a consciência, o ex-animago começara uma série de sessões de terapia. Os medibruxos descobriram que ele tinha perdido sua magia, provavelmente levada para o mesmo lugar que suas memórias. Harry ficara devastado.
Mas aparentemente havia uma coisa da qual Black se lembrava: Severus Snape. Demorou dias até que o Dr. Lowell se desse conta de que toda vez que Black olhava Severus, ele dizia, "Eipe". Era uma abreviatura de Snape. Perguntado se ele sabia quem era, Black o encarara e dissera: "Eipe", depois corrigira para "Snape". Aquilo animara tanto Harry quando o Dr. Lowell, mas não avançara em coisa alguma. Black não se lembrou de mais nada, e se limitava a encarar Severus, os olhos estranhamente adquirindo expressividade cada vez que fazia isso.
Foram muitas as solicitações para visitar Black, recordou Severus, mas o Dr. Lowell proibira visitantes além dele mesmo e de Harry. Toda a Ordem da Fênix perguntava por ele e pacientemente Harry dava as informações sobre a saúde do ex-membro. Uma das coisas que o entristecia, Severus sabia, era que um membro da Ordem em especial não tinha sobrevivido para testemunhar o miraculoso retorno de Black: Remus Lupin tinha morrido na guerra contra Voldemort. Justamente o amante de Black.
Por um momento, Severus achou que talvez tivesse sido melhor assim. Lupin certamente teria morrido de dor ao ver Black naquele estado. O Mestre de Poções estremeceu, imaginando por um instante fugidio como ele se sentiria se algo assim acontecesse com seu Harry. Ele procurou afastar esses pensamentos da cabeça.
A porta abriu-se, como que para reforçar sua decisão, e Harry entrou, parecendo mais abatido do que nunca. Severus só podia imaginar o estresse emocional que ele estava passando. Pior ainda: Harry estava guardando tudo dentro de si. Em sua opinião, aquilo podia ser perigoso.
Harry aproximou-se dele com um sorriso cansado e pressionou seus lábios contra os de Severus. Um contato carinhoso que amoleceu o Mestre de Poções.
– Está muito ocupado?
– Nunca estarei ocupado demais para você, Harry. – respondeu – Sabe disso.
O jovem sorriu:
– Eu queria conversar.
Estava mais do que na hora.
– Vamos até a lareira.
Eles se ajeitaram no sofá em frente ao fogo, Harry procurando o calor do corpo do marido:
– Amanhã eu vou ao Ministério da Magia finalizar a papelada para ser guardião de Sirius. Pode ir ao hospital sozinho?
– Com certeza. Não se preocupe.
– Mas você quer ir ao hospital?
– Harry, eu já disse que vou ao hospital, sem problema. O que está querendo dizer?
– Eu estou querendo saber como se sente, Severus. Com Sirius e tudo mais.
– Não entendo o que você quer dizer.
– Quero dizer que você nunca gostou de Sirius, e agora ele de repente voltou à minha vida, provavelmente para sempre. Eu quero saber como você se sente a esse respeito.
Severus já esperava por aquela conversa.
– Harry, eu entendo e respeito seus sentimentos por seu padrinho. Você tem um dos corações mais generosos que eu já conheci e eu sabia que não deixaria de abrigar Black na condição em que se encontra.
– É possível que ele jamais se recupere.
– O Dr. Lowell deixou isso bem claro. Ele não espera uma recuperação.
– Isso quer dizer que eu sou responsável por Sirius até o final da vida. Isso o irrita, Severus?
Munindo-se toda a paciência, Severus respondeu:
– Harry, eu aceito sua decisão. Sei que isso implica dividir você com Black, e eu aceito isso. Além do mais, nada disso é culpa dele. Não há por que me irritar.
– Mas... eu pensei que você o odiasse.
– Ele mal se lembra de mim, quanto mais o que aconteceu no passado. Não estou dizendo que seremos amigos ou coisa assim, mas meu ódio contra ele não faz muito sentido agora. É como se o Black que me atormentou tivesse realmente morrido Além do Véu, e essa nova encarnação fosse apenas uma pálida lembrança do que ele me fez passar.
– Achei que você fosse ficar contente com o que aconteceu com ele. Sabe, como se ele estivesse recebendo castigo pelo que fez.
Severus encarou Harry e foi sincero:
– Talvez isso tivesse sido verdade em algum outro ponto da minha vida, mas não agora. Acredite, não me causa prazer algum ver Black nesse estado. Na verdade, tenho que me controlar para não sentir pena.
– Dr. Lowell diz que pena é muito ruim. – concordou Harry – Ele deve ser encorajado a ganhar o máximo de autonomia que puder. E ele parece gostar de você.
Severus ignorou o último comentário:
– Veja quanto progresso ele já fez: coordenação motora excelente, cognição sem falhas, parece ter boa memória.
– Ele parece se esforçar ainda mais quando você presta atenção nele, Severus. Quem sabe ele gosta de você? – Severus fez uma careta e ganhou um beijo nos lábios. Harry adquiriu um ar mais sério. – Fui falar com Dumbledore hoje.
– Mesmo?
– Eu... tomei uma decisão com relação ao futuro de Sirius. Eu disse a Dumbledore que ele viria morar comigo assim que fosse liberado pelo hospital.
– Sim, mas isso já tinha sido decidido antes.
– Falei a Dumbledore que eu estava disposto a me demitir de meu cargo e deixaria Hogwarts por causa dele. Compraria uma cottage no campo, para cuidar de Sirius no mundo Muggle, já que ele agora é um Squib.
– Deixar Hogwarts? Por quê?
– Sirius vai precisar de total atenção. Terei que me dedicar muito a ele. Ele precisa se ocupar e achei que um lugar com um jardim, talvez animais, fosse o ideal para ele.
Severus sentiu seu coração se partir. Harry estava pensando em morar longe dele.
– Harry... Você está querendo me deixar?
– Não! – o jovem pegou as duas mãos de Severus entre as suas. – Não, não, jamais, meu amor! Mas eu pensei que você poderia ir morar com a gente, vir de Floo para Hogwarts todos os dias. Pensei em onde poderia morar com Sirius.
– Aposto como você gostaria de ainda ter a Mansão Grimauld. Ela passou para você com a morte de Lupin e você resolveu vendê-la.
– Muitas lembranças. – deu de ombros – Eu jamais poderia adivinhar que Sirius iria voltar dos mortos.
Severus o encarou atentamente:
– E posso apostar também que Dumbledore não aceitou essa sua idéia de deixar Hogwarts.
Harry sorriu, vencido:
– Nem quis discutir. Disse que o castelo tem lugar de sobra para Sirius, especialmente as masmorras. Podemos abrir um quarto extra bem ao lado de nossos aposentos.
– Sugestão de Dumbledore?
– Não, essa é minha. O que Dumbledore sugeriu foi que Sirius pode se ocupar ajudando Hagrid com os animais e ajudando Madame Sprout com as estufas.
Severus concordou:
– Com certeza ele teria bastante ocupação. E o que você respondeu?
– Não tive muita alternativa a não ser aceitar. Você sabe como é o diretor.
– Manipulador como sempre. Com aqueles olhinhos brilhando.
– Ele também me convenceu a escrever uma declaração ao Profeta Diário. Eu até já enviei.
– Com sorte, isso vai dar fim à enxurrada de corujas pedindo uma entrevista com o redivivo Sirius Black.
– Espero que sim. Desde que eu não tenha que olhar para a cara daquela Rita ou expor Sirius à sanha desses repórteres...
– Esperemos que a declaração dê resultado, então.
– Eu... não confio em mim mesmo para falar com esses repórteres, Severus. Eu... estou com muita raiva.
– Raiva? Desses jornalistas?
– Não. Estou com raiva do mundo, de tudo. O que aconteceu com Sirius simplesmente não é justo. Nós devíamos estar desfrutando de um final feliz.
– Final feliz?
– Sabe, quando o vilão grande e mau é derrotado, e todos ficam felizes para sempre. Eu e você sofremos muito, passamos por muita coisa, e deveríamos estar curtindo nosso final feliz. Não deveríamos estar vendo um dos heróis da guerra voltar desmemoriado e lobotomizado, quase um autômato. Isso não é justo!
– A vida raramente é justa, Harry, especialmente a sua. Pensei que você tivesse aprendido isso.
– Sabe, eu não canso de me impressionar com o modo como você rapidamente aceitou tudo.
Severus deu de ombros e apertou Harry em seus braços:
– Sou um Slytherin. Nós nos adaptamos a mudanças. Faz parte das nossas habilidades para sobreviver. Você quase foi parar em Slytherin. Deveria compreender mais isso.
– Acho que sou Gryffindor demais para meu próprio bem.
– Minhas palavras exatamente.
– Severus – Harry se ajeitou no colo de seu marido. – Eu notei que você tem sido muito paciente comigo nesses últimos dias. Obrigado.
– A ocasião é especial.
Harry beijou-lhe a bochecha com carinho:
– Não. Meu marido é que é especial. Eu amo você, Severus. Mais do que você imagina.
Os olhos verdes cintilavam de emoção e amor ao encarar o rosto adorado do ex-espião.
– Eu... – Severus engasgou, emocionado – Eu... também amo você, Harry.
Harry se derreteu por dentro. Era muito difícil para Severus fazer qualquer declaração desse tipo, e ele entendeu a importância do gesto. Procurando os lábios de seu marido, Harry beijou-o profundamente, envolvendo-o em seus braços. Era um beijo tão ardente que Severus sentiu o desejo se espalhar por seu corpo, e a respiração se alterando. Harry também não estava em melhor estado, e os dois logo estavam excitados.
– Harry...
– Oh, Severus...
Sem mais palavras, eles foram, ainda agarrados um ao outro, ao quarto, onde carinhosamente se despiram, um retirando as roupas do outro. Severus encarou o corpo jovem e nu de seu marido e não esperou para cobrir de beijos aquele pescoço tão convidativo. Harry estremeceu em seus braços, delirando de prazer. Severus estão desceu com os lábios até os mamilos, onde mordeu, beliscou e lambeu até eles endurecerem sob seus carinhos. Continuou descendo com suas atenções orais no corpo de Harry, que se contorcia ao toque sensual, seu umbigo logo sendo lambido. Nossa, como Severus conhecia seu corpo, como ele sabia exatamente como fazê-lo reagir! Ele já estava quase enlouquecido de desejo.
– Severus...!
Interpretando aquilo como um convite, Severus alojou-se entre as pernas de Harry e acariciou as duas bolas, massageando levemente a glândula de prazer escondida dentro de Harry, fazendo-o gemer. Em seguida, usou a língua na pontinha do pênis de seu marido, lambendo as gotas de néctar ali acumuladas.
– Oh!...
Seu Harry era tão lindo quando se entregava à paixão, tão abandonado ao prazer, liberado com o tesão. Severus abocanhou todo o membro, sugando-o uma vez com força e depois lambendo-o com prazer. Ah, sim, o gosto. Ele se acostumara ao gosto de seu Harry, e agora aquele gosto o enlouquecia.
Severus apertou a base do membro com uma mão e sugou a ponta, fazendo Harry corcovear de prazer:
– Eu... Severus...! Assim eu... vou...!
Intensificando a sucção, Severus usou a mão livre para introduzir um dedo na abertura de Harry. O resultado foi uma explosão na sua boca, enquanto Harry arqueava todo o corpo quase que inteiramente para fora da cama. Severus sugou tudo que Harry tinha para lhe dar, deleitando-se com cada gota e limpando-o cuidadosamente com sua língua quando ele terminou de tremer.
Por alguns minutos, os dois ficaram abraçados, apenas desfrutando um do outro. Assim que Harry se mexeu, sentiu a ereção de Severus lhe cutucando. Deu um pequeno sorriso, divertido:
– Hum, isso tudo é para mim?
A voz sensual cochichou-lhe no ouvido:
– Só para você.
– Então me dá, Severus – pediu Harry, subitamente faminto – Eu quero tudo... dentro de mim...
– Deixe-me prepará-lo.
– Sim, isso... – disse Harry, abrindo as pernas, num convite explícito – Quero sentir você...
Severus lançou um feitiço lubrificante na abertura de Harry e usou os dedos para prepará-lo, sentindo sua ereção aumentar diante dos gemidos do jovem. Com a manipulação cuidadosa de Severus, ele logo estava ereto novamente, e arfava:
– Severus... rápido... Não sei se posso esperar... meu amor...
– Oh, Harry...
– Severus... Por favor!... Agora!
Severus posicionou seu membro mais do que ereto na entrada de Harry e deslizou para dentro vagarosamente, apreciando cada centímetro seu ser envolvido pelo calor. Harry era tão apertado, tão estreito, tão gostoso...!
Com um movimento certeiro, ele roçou seu membro na próstata, e Harry soltou um grito abafado. Ele insistiu naquele ponto, e o jovem pareceu enlouquecer de desejo, os quadris se movimentando vigorosamente para receber mais e mais de Severus, que não negava nada a seu marido, tomando posse dele com intensidade. O ritmo dos dois era frenético, a ereção de Harry presa entre os dois corpos que se movimentavam.
– Harry!...
Foi o único aviso que Severus pôde dar quando se entregou ao clímax que perpassou seu corpo. Ele se esvaziou no corpo de seu marido, e estava totalmente exaurido quando agarrou o membro ereto de Harry e o levou a um segundo orgasmo, quase tão intenso quanto o primeiro.
Com um movimento de varinha, Harry limpou os vestígios da atividade amorosa e aninhou-se nos braços de Severus. A presença sólida de seu marido o fortalecia e o consolava. Ele amava aquele homem mais do que tudo no mundo e sentiu-se profundamente agradecido pela sua atitude com relação a Sirius. Como bom Gryffindor, confiava que tudo iria dar certo. Apesar de tudo, quem sabe os três poderiam ter um final feliz?
Continua...
