E n t r e.L i n h a s.
'Ele não veio…', pensava Alice. 'Talvez porque agora eu sei do seu pequeno segredo e não quer confirmá-lo vindo no baile de Vivaldi.'
Levantou a barra de seu vestido de festa e desceu as escadas até uma varanda. 'Me pergunto como Vivaldi irá reagir quando notar que seu amor não–' Alice estacou na entrada da varanda quando viu o que a luz da lua iluminava bem ali no parapeito. '– faltou...'
"Estou surpreso. Não achava que te conhecia o suficiente para adivinha que em alguma hora você acabaria vindo aqui.", sua voz macia ecoou pela noite, fazendo carinho em seus ouvidos.
Alice engoliu em seco. "Pensei que não viria para o baile.", ela tentou soar casualmente.
Blood sorriu, ainda de costas para ela, sentando em cima do parapeito com as pernas balançando a mais de dez metros do chão... Irônico... Podia ignorar o fato de que um descuido e ele seria nada mais que pasta de melancia no Jardim dos Corações se caísse, mas ponha aquela mulher atrás dele e suas costas até formigavam. "Pensou, huh?"
Alice corou com seu descuido. "Claro, como poderia ser diferente? Vivaldi só fala em quais ângulos deseja ver sua cabeça rolando.", deu de ombros.
Ela o viu levantar a cabeça para olhar o céu estrelado e fez o mesmo, já que o silêncio que se instalara entre eles parecia que não acabaria tão cedo. E foi por pensar assim que pulou de susto quando ele continuou. "Eu não vim para o baile.", ele disse.
Alice arqueou uma sobrancelha. "É, eu sempre soube que eu falava com seu fantasma, Hatter."
Blood fingiu não se atingir pelo nome. Odiava quando ela o chamava assim. "Não para o baile."
Ela inclinou a cabeça para o lado, meio confusa. O que ele queria dizer com isso? Se não foi para o baile, então para quê?
E a resposta veio tão rápida quanto um raio.
Alice não escondeu a dor em seu rosto. Blood estava de costas, afinal. "Quer que eu chame Vivaldi? Eu faço parecer que estou te denunciando.", murmurou.
Uma mão empurrou seu ombro e logo estava contra duas paredes: a do castelo e o peito de Blood. Céus, estava começando a achar que o cara tinha um pequeno (note o sarcasmo) fascínio em pô-la contra paredes.
"Ainda essa história de amantes?"
"Você não me deu razões para pensar o contrário.", ela rebateu.
"Deveria?" Blood sorria convencido e triunfante. Aquilo a irritou profundamente, mas estava constrangida demais por ter sido descoberta. "Por que se importa?"
Aquele sorriso... lindo. Ela emburrou o rosto e desviou o olhar para o lado. "Não é da sua conta."
"Então de quem é, se não sua e minha?" Ele exigiu, ainda sorrindo e visivelmente ficando mais próximo dela do que já estava.
Ia sufocar. Mais um pouco e sufocaria – e nem era por falta de ar, mas por excesso dele. Engoliu. "Só minha.", ela disse. "Pode se afastar? Mais um pouco e eu sufoco." E não era mentira.
Blood sorriu. "E isso não é bom? Sufocar dessa maneira esmagadora e cheia de adrenalina?", ele perguntou, inclinando o rosto para frente até que seus narizes estavam se roçando.
Alice franziu o cenho, se perguntando – quase que esperançosa – como ele sabia que era dessa forma que ela falava e como sabia que era esmagadora. "Nunca disse que eu estava sufocando desse jeito."
Quando um sorriso involuntário brilhou no rosto dela, Blood percebeu seu erro. Estalou a língua, soltou a garota e se virou de costas, completamente frustrado. "Droga..." Não era para ser assim. Não era para Alice saber que o que ela sentia – o que quer que fosse – era muito bem recíproco. Blood arriscou uma olhada atrás de si e secretamente se encheu de alegria com o que vira...
Alice ainda estava sorrindo para ele.
