Dobraduras
O diretor da mui honrada Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts era já um ancião de longos cabelos e barbas prateadas. Um homem muito ocupado e requisitado, dada sua reconhecida sabedoria e poder. Trazia no rosto um sem número de rugas, e, pelo corpo, mesmo algumas cicatrizes, que atestavam as grandes batalhas que havia travado, as grandes decisões que havia tomado e as grandes vitórias que havia conquistado. A alguns ele parecia um tanto excêntrico, é verdade. E provavelmente muitos veriam graça se o assistissem nesse momento. Apesar da idade, parecia não ter problemas em se sentar sobre os joelhos, e assim estava, em gabinete, sobre um tapete próximo à lareira. Logo a sua frente estava uma velha mesa de centro, sobre a qual havia uma série de papéis amassados, cada um de uma cor diferente, e ainda uma pilha de papéis novos, também de cores e padrões sortidos. Adicionalmente, algumas outras bolinhas de papel se esparramavam pelo chão. Ele lutava com uma dessas folhas, tentando uma dobradura bastante complexa, que exigia precisão, concentração e habilidade. Depois de alguns minutos, o papelzinho prateado em suas mãos começou finalmente a tomar forma de ave. Ele estava tenso, tinha chegado muito longe e não podia errar agora. Em seguida, duas últimas dobras revelaram uma lindíssima fênix, de cauda longa, bico delicado e estrutura reluzente. Ele então, satisfeito e orgulhoso, teve o gosto de, por fim, a tocar de leve com a varinha. Ela abriu as asas e voou, fazendo rodopios no ar. De seu poleiro, Fawkes deu um assobio curioso, e Albus, sorrindo, viu a pequena ave de papel descer planando na direção da mesa de centro mais uma vez, sem, no entanto, pousar em nenhum momento. Ele parecia maravilhado. Foi então que reparou, com muito divertimento e, por que não dizer, alguma surpresa, em um gatinho, também de dobradura, feito a partir de um papel listrado, com pequenas marcas quadradas na altura dos olhos. O gatinho caminhava sobre a mesa, balançando o rabo de leve, com a cabeça inclinada para cima, observando a pequena fênix que voava contente e tranquila. Albus riu-se, dizendo a si mesmo que o gato se sentava de forma muito dura. Então, de repente, o gato deu um salto e capturou a ave no ar, a puxando novamente para sobre a mesa. Albus, paralisado, só fez sentir o coração batendo mais rápido. A pobre fênix não teve chance. A pobre fênix foi, em um instante, completa e totalmente desarmada, e agora estava lá, sobre a mesa, entregue. Ele, lembrando-se de respirar, deixou, entre surpreso e encantado, escapar um longo e silencioso suspiro. Então, sentindo mãos escorregarem por sobre seus ombros, sorriu, apreciando o abraço que lhe davam por trás... e fechou os olhos, entregue, completa e totalmente desarmado.
