Three blind mice, three blind mice.
See how they run, see how they run.
They ran after the farmer's wife
Who cut off their tails with a carving knife
Have you ever seen such a sight in your life
As three blind mice?
(Três ratos cegos, três ratos cegos.
Veja como correm, veja como correm.
Eles perseguiram a mulher do fazendeiro
Que cortou seus rabinhos com uma faca afiada
Você já viu algo semelhante
A esses três ratos cegos?)
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O Primeiro Rato Cego
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Era um belo navio, o S. S. Shinsengumi. Não era grande, nem luxuoso, mas ainda assim parecia encantador, ancorado naquele cais japonês, sob o céu azul quase sem nuvens, sendo gentilmente balançado pela brisa.
Soujirou Seta sorriu, como sempre fazia, enquanto punha suas malas no chão de madeira. Em duas semanas aquele mesmo navio ancoraria na América, onde ele tinha negócios a tratar. Esperava estar sozinho naquela viagem, afinal, já era meio de maio. Uma época muito fraca em termos turísticos.
Mas observou, com polido espanto, uma casal que se aproximava.
Kenshin e Tomoe Himura aproximaram-se do navio e a jovem conferiu um papel. "Parece que é aqui," Ela comentou, séria. "onde está o capitão?"
"Oro? Talvez já esteja lá dentro. Creio que podemos subir." Respondeu o ruivo, parecendo meio confuso. Soujirou veio até os dois, com um ar de guia turístico.
"Saitou-san já deve estar chegando. Já podem deixar suas malas lá em cima." O casal voltou-se para achar o sorridente rapaz. "É a primeira vez que viajam de navio?"
Tomoe olhou-o com desconfiança mas, se pretendia fazer algum comentário, foi rapidamente ultrapassada pelo marido: "Bem, um homem da minha idade deveria se sentir envergonhado de admitir que sim, mas..."
"Da sua idade?" Soujirou inclinou a cabeça para o lado, numa cortês surpresa. "Mas o senhor não parece muito mais velhos que eu..."
Kenshin riu desconfortavelmente. Embora os lábios de Tomoe não tenham se curvado num sorriso, havia divertimento em sua voz quando ela interrompeu. "Meu marido tem vinte e oito anos."
Certo. Ele guardaria as perguntas para depois.
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"Não é lindo, Aoshi-sama?"
Misao Makimachi inclinou-se sobre as barras de ferro que delimitavam a extensão do S. S. Shinsengumi com uma risada de puro divertimento. O guarda-costas, parado logo atrás dela com os braços cruzados, assentiu displicentemente com a cabeça.
"Não quer deixar suas malas na cabine, Misao? Haverá tempo o bastante para admirar a vista depois."
A jovem fez um muxoxo. "Você não fica nem um pouco animado, Aoshi? Vamos passar férias na América! E de mais a mais..." Ela riu, meio embaraçada, antes de continuar. "... Você sabe que assim que essa coisa começar a se mover, eu estarei muito ocupada vomitando para pensar na vista, não é?"
Aoshi reprimiu um sorriso. Como não saber, quando tinha sido praticamente a babá daquela menina durante tantos anos?
"Bom dia!"
O par de virou e encontrou uma mulher de longos cabelos negros parada na proa. "Este é o navio que está indo para a América, certo?"
"Sim." Confirmou Aoshi.
"Que bom, obrigada. Ah, sim, perdoe-me, mas não pude deixar de ouvir..." Ela voltou-se para Misao. "... meu nome é Megumi Takani e eu sou médica. Se tiver problemas de enjôo, pode bater na minha cabine, ok?"
A menina sorriu largamente. "Muito prazer! Eu sou a Misao e esse aqui é o Aoshi. Não ligue, ele não é de muitas palavras." Ela deu tapinhas no ombro do guarda-costas. "Se você tiver problemas para, uh—abrir um pote ou coisas assim, pode bater na nossa cabine que ele resolve!"
Megumi riu, mas por pouco tempo. Um barulho de um corpo caíndo e atingindo uma mala, que em seguida atinge um outro corpo, e acaba levando os três a um contato violento com o chão de madeira (trata-se de um barulho muito interessante, e você nunca deve desperdiçar a oportunidade de ouvi-lo) interrompeu-a.
O barulho foi seguido por uma porção de gritos:
"Kaoru, sua obesa! Quer sair de cima de mim?"
"Yahiko, isso não é coisa que se diga para uma dama que acabou de escorregar da escada!"
"Estou sufocando!"
"Com quem você aprende esses modos?"
"Com quem você acha? Agora saia de cima de mim antes que eu comece a gritar estupro!"
Misao correu até a escada, seguida pelo guarda-costas e pela recém-adquirida amiga. Pôs as mãos sobre os joelhos e olhou para o montinho do embaixo. Ela mal conseguia distinguir onde acabava uma pessoa e começava a outra.
"Precisam de ajuda aí embaixo?"
Reunindo toda a dignidade que conseguir juntar, a jovem levantou-se e sacudiu a poeira imaginária das roupas. "Oh, não, parece que estamos bem agora." O sorriso dela parecia estampado no rosto, e uma veia ainda pulsava na testa. "Sabe como é, essas sandálias... não foram feitas para subir escadas."
Ah, sim pensou Misao e além disso são muito feias.
"Gi e hakama," Observou Aoshi. "Você é espadachim?"
Alguma coisa brilhou como fogo no fundo dos olhos da jovem e todos perceberam que tinham tocado no ponto forte dela. "Mas claro! Sou Kaoru Kamiya, mestra assistente do dojo Kamiya e mestre do estilo Kasshin. Este é meu discípulo Yahiko!"
Ela fez um gesto grandioso para indicar o garoto, mas corou até a raiz dos cabelos em seguida. Ali, estatelado no chão, todo desarrumado por causa da queda e xingando todos os impropérios que conhecia, ele definitivamente não parecia o discípulo dos sonhos.
"Bem, tentem subir sem nenhum acidente dessa vez," Megumi sorriu. "Vamos zarpar assim que o capitão Hajime chegar.
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Enishi Yukishiro checou o papel em suas mãos. Olhou o navio em sua frente e checou de novo. S. S. Shinsengumi, não tinha erro. Era naquele navio que estava sua irmã... e aquele maldito marido dela!
Com certeza, longe, na América, seria o lugar perfeito para Himura dar o golpe do baú que, Enishi tinha certeza, vinha tentando dar há anos, só não obtendo sucesso graças à presença do próprio Enishi. Mas não. Ele não permitiria que fosse tão fácil assim.
"Hey!"
Afinal, Himura não tentaria nada enquanto... Ok, alguém tinha falado algo?
"Você está indo para a América?" Yahiko, casualmente passando pela proa, gritou para o homem parado no cais que conferia um pedaço de papel quase compulsivamente.
"... Sim." Enishi respondeu cuidadosamente.
"Então pode subir!"
Lançando um segundo olhar ao garoto, para ter certeza de que não estava sendo enganado, o jovem de cabelos brancos pegou sua mala e subiu ao barco. Sem sequer notar a sinistra figura que surgiu no cais assim que ele se encontrava longe o suficiente para não perceber nada.
As mãos enfiadas nos bolsos e a espinha de peixe entre seus dentes passavam a impressão de uma pessoa totalmente livre de todas as convensões. Impressão absolutamente correta.
"América, hein?... isso parece interessante."
Por um segundo, ele pareceu parar para pensar se era de fato uma boa idéia. Como não chegou a nenhuma conclusão, Sanosuke Sagara esgueirou-se sorrateiramente para dentro do barco.
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Um fósforo foi riscado, e em seguida um característico cheiro de tabaco preencheu o ambiente.
A maior parte dos capitães reuniria a tripulação para se apresentar, indicar em quanto tempo chegariam e toda essa baboseira que provavelmente todos os tripulantes já sabiam. Era sempre com prazer que Hajime Saitou pulava esta parte. Os interessados que o procurassem depois.
"Saitou-san," Veio o grumete, esbaforido. "todos estão à bordo!"
Então ele ligou os motores, e eles partiram.
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O auto-proclamado gênio cozinheiro estava em um dilema.
O que deveria servir para seus passageiros, fettuchini al mar e monte ou ravioli ao pesto e pomodoro? Ou quem sabe tagliateri à buffala?
Fettuchini al mar e monte. Definitivamente, fettuchini al mar e monte.
E Seijuuru Hiko voltou a as cebolas como se mil paparazzis fossem aparecer a qualquer momento.
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Megumi Takani sobressaltou-se quando um homem repentinamente invadiu sua cabine. Ele rapidamente sentou-se numa das duas camas, sem perguntar nada, e sorriu-lhe meio marotamente. "Alô! Então, hm... somos companheiros de quarto, hein?"
A médica ergueu as sobrancelhas elegantemente.
"Ora! Mas, se não me engano, eu viajaria sozinha nesta cabine..."
"Comprei minha passagem de última hora," Mentiu o clandestino, abanando-se com uma das mãos. "puxa, como está quente aqui. Quando vamos comer?"
A falta de sentido dessa frase fez com que Megumi parasse as palavras em sua garganta por alguns segundos para pensar se, em algum aspecto médico qualquer, o ato de comer de alguma forma aliviava o calor. "Mas senhor," Interviu enfim, sentindo-se estúpida. "não somos aparentados, nem marido e mulher. Não podemos ficar na mesma cabine!"
"Qual o problema? Eu não vou te estuprar nem nada assim."
Ela corou involuntariamente e reprimiu um tapa que sua mão estava pronta para dar. "Como você espera que eu troque de roupa?"
"Posso virar de costas."
"Ok, chega de ser educada." Megumi Takani não é o tipo de mulher que você gostaria de ver fora de seu normal. Ela começava a se assemelhar com uma panela de pressão como irritada: se você não desse atenção ao apito, a explosão seria inevitável. "Vamos chamar o capitão. Obviamente erraram na distribuição de quartos."
"Er—Oi, Megumi!... Estão com algum problema aí?"
Os dois rostos se viraram para a porta, onde Kaoru estava parada, meio insegura por interromper a calorosa discussão. Megumi ergueu altivamente o queixo, adquirindo ares de realeza.
"Kaoru, pode ir procurar o capitão? Parece que esperam que eu divida o quarto com um total estra—"
"Não, não, olha, não precisa," Interviu Sanosuke, levantando-se rapidamente. "Devem ter feito uma confusão qualquer na central ou sei lá o que é. Só vou pedir para trocar de quarto. Não precisa incomodar o capitão nem nada assim."
Kaoru deu um passo a frente, prestativa. "Pode trocar comigo, se quiser. Vai ter que suportar duas semanas dividindo quarto com Yahiko, mas acho que será mais confortável do que—"
"Quem é Yahiko?" Ele interrompeu. "Escuta, donzela, eu não sou muito de dividir cama com um homem, então..."
"Yahiko é meu discípulo e filho de criação!" Ela apressou-se em explicar, corando violentamente. "Dormimos em camas separadas, como nessa cabine aqui. Mas tudo bem dividir a cabine comigo, Megumi?"
A médica suspirou, mas sorriu em seguida. "Será um prazer ter companhia."
"Beleza!"
"Ok. Então vou buscar minhas coisas." Kaoru sorriu e voltou-se para o desconhecido. "Vou te indicar a cabine, senhor, uh—"
"O nome é Sanosuke Sagara, mas pode tirar o 'senhor'." Ele piscou-lhe e pegou a trouxinha que continha todas as suas posses.
A troca foi feita e, embora Yahiko tenha murmurado alguns protestos, nada demais aconteceu. Kaoru instruiu o filho de criação a não hesitar em bater no quarto das duas caso 'alguma coisa acontecesse' (e, nesse ponto, ela lançou um olhar meio desconfiado que Sanosuke não viu ou fingiu não ver).
Depois, Kaoru Kamiya deixou o quarto.
"Bom," O garoto iniciou o diálogo. "é sempre bom saber que não vou ter que agüentar o falatório daquela velha."
"Ah, não precisa se preocupar com isso, eu sou sempre quieto," Sanosuke jogou-se sobre a cama que ele escolhera e constatou que era a coisa mais macia que via em muito tempo. "exceto quando estou falando, claro."
Houve um momento de silêncio.
Ambos perderam-se em profunda reflexão.
"Escuta, hum... Sanosuke, né?" Cortou Yahiko. "Isso que você disse... faz algum sentido?"
"Por que está perguntando para mim?" Resmungou o outro. "Eu apenas disse."
O garoto juntou as sobrancelhas e observou seu companheiro virar de lado. Para o pé-rapado que ele parecia ser, até que tinha um talento natural para a retórica.
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"Mana!"
Tomoe Himura virou-se, surpresa, ao ouvir a voz do irmão. "Enishi?"
"Mana!" O jovem de cabelos brancos correu até a porta da sala de jantar, onde estava sua irmã. "Non sabia que você também estava neste balco, mana."
"Kenshin tem negócios a resolver na América," Ela explicou. O marido, ao seu lado, fez um rápido aceno de cabeça. "O que você...?"
"Ah!" A necessidade de inventar uma desculpa rapidamente pegou Enishi de surpresa. "Eu—bem, eu estou de félias."
Ele se deu um tapa mental. Péssimo, Enishi, péssimo. Você não tem um emprego. Férias de quê, de ser milionário? Mas se Tomoe notou qualquer coisa, não demonstrou.
"Mas que coincidência." Ela comentou brevemente, dando o braço ao marido. "Bem, vamos? Parece que pretendem fazer uma socialização no jantar, seria muito rude nos atrasarmos."
Kenshin sorriu-lhe. "Vamos."
Segurando-se para não dar um soco no cunhado, Enishi seguiu-os para dentro da sala, onde já esperavam seis dos dez tripulantes. A mais jovem—e aparentemente mais ativa—deles deu um passo à frente.
"Oi! O cozinheiro disse para irem pegando o champanhe, já servirão a comida." Ela apontou a mesa com várias taças por cima. "Não é demais? Champanhe de graça! Ah, sim, eu sou Misao Makimachi, muito prazer!"
"Boa noite," Cumprimentou Kenshin, aceitando a taça que Megumi lhe estendera e passando-a a Tomoe. "eu sou Kenshin Himura e esta é minha esposa. Muito prazer."
"Kenshin?"
A cabeça morena de Kaoru apareceu detrás da barreira humana que era Aoshi Shinomori. Eles se entreolharam por alguns segundos antes que Kenshin abrisse um largo sorriso de reconhecimento.
"Kaoru-dono! Há quanto tempo!"
"Se conhecem?" Interviu Enishi, mil idéias de adultério imediatamente cruzando sua mente.
"A Hiten Mitsurugi Cia. investiu no dojo Kamiya há muito tempo atrás," Explicou o ruivo. "nos vimos algumas vezes."
"Um dos piores investimentos de sua vida, imagino." Kaoru corou ante a lembrança. Kenshin descartou a idéia com um aceno de cabeça. "Acho que nunca lhe agradeci o suficiente por aquele dinheiro."
Se alguém iria responder ao comentário com algum ditado clichê como dinheiro vai e vem, os amigo ficam, perdeu sua chance, pois Soujirou Seta chegou, seguido de perto pelo capitão Hajime, e o jantar foi servido.
Ao fim dele, Misao, que tinha bebido um pouco demais, pendurava-se em Aoshi.
"Opa, parece que a garotinha passou da conta," observou Sanosuke com seu tato habitual. "você não deveria impedir que esse tipo de coisa acontecesse, ô grandão?"
"Eu sou guarda costas dela, não babá." Pelo menos, não mais Aoshi completou em pensamento.
"Tem uma coisa que vem me intrigando desde hoje de manhã," Interviu Tomoe, placidamente. "Makimachi... este não é o sobrenome do dono da maior indústria bélica do Japão?"
"É o papai!" Esclareceu Misao, sorrindo largamente.
"Então porque você está viajando em um barco pequeno como este?" Prosseguiu. "Se me permite o comentário, você poderia pegar o navio mais luxuoso daquele cais."
"Bah, tudo isso é muito sem graça," A garota balançou a mão, quase perdendo o equilíbrio no processo. "um monte de ricaços de nariz empinado que ficam te olhando como se você fosse um animal selvagem caso você pegue três fios de macarrão, e não dois, numa só garfada!"
Todos na mesa riram, menos Aoshi.
"Acho que sei o que quer dizer, Misao-sama." Riu-se Kenshin, erguendo a taça de champanhe para um brinde. "Ao direito de se pegar quantos fios de macarrão se queira!"
"Ao direito de se preferir pão com manteiga à caviar!"
Todas as taças se ergueram e ouviu-se o cling de vidro de chocando. Saitou contou o número de mãos. Onze, contando a sua própria. Franziu a testa: deveriam ter apenas nove passageiros nessa viagem, então por quê...
Seu olhar percorreu a mesa, na tentativa de descobrir se Seijuuro Hiko tinha escapado da cozinha para degustar seu próprio prato, mas não pôde achá-lo. Seus punhos de fecharam num prazer sádico: havia um clandestino ali!
Apoiou os cotovelos na mesa e remexeu seu prato com o garfo. O jovem penetra não perdia por esperar.
O fettuchini al mar e monte estava, como sempre, perfeito.
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Já era o oitavo jantar desde que tinham partido naquela viagem. Enishi Yukishiro estava ficando um pouco entediado.
O último entretenimento acontecera logo no segundo dia, quando o capitão passara de cabine em cabine pedindo os passaportes. 'Uma simples formalidade', ele ficava repetindo, mas havia um brilho cruel em seus olhos.
Quando ele recolheu o passaporte de Sanosuke Sagara, seus lábios se curvaram num sorriso parecido com uma cicatriz.
"Senhor Sagara, parece-me que seu passaporte está vencido há quase dez anos," Enishi lembrou-se da fala sibilada do capitão. "não lhe parece tempo demais?"
"É mesmo?" Perguntara Sanosuke com indiferença. "Devo ter pegado o passaporte antigo. Quando chegarmos na América, lembre-me de... sei lá, ligar para a agência ou o que quer que seja necessário."
"Não lhe parece curioso que haja um tripulante a mais nesse navio e que você seja o único que esqueceu o passaporte?"
"Puxa, mas que coincidência, hein?"
Saitou havia instalado em seu rosto uma expressão sorridente que o assemelhava muito com o mais perigoso dos psicopatas. Enishi anotou mentalmente que tinha que aprender a reproduzir aquele olhar, pois poderia ser muito útil.
"Pode me acompanhar, senhor Sagara?"
Saitou conduziu Sanosuke até a proa, e foram seguidos por todos os curiosos, que tinham certeza que não podiam ser vistos. O capitão então, voltou-se e, ainda sorrindo, disse:
"Agora, por favor, retire-se do meu navio."
"Briga, briga!" Sussurara Misao, muito animada.
O clandestino não se mexeu, mas começou a encarar um ponto aleatório no mar como se fosse a coisa mais interessante que já vira. Saitou, sempre com a polidez digna de alguém de seu posto, prosseguiu:
"Vejo que não vai sair por livre e espontânea vontade. O que sugere que eu faça, que o mate aqui mesmo e jogue seus pedacinhos no mar ou que o atire vivo?"
Os jovens curiosos saíram então de seu esconderijo. Houve muita discussão sobre o que fazer: Kenshin parecia ser um pacifista ativo e veio em defesa do jovem clandestino. Com o auxílio de Tomoe, Kaoru e Yahiko, o capitão Saitou acabou perdendo a chance de estrear sua nova prancha de pirata, mas ele recusou-se a dar comida ao rapaz.
"Se vocês vão mesmo estragar minha diversão, que ao menos ele não dê gastos." Falou o capitão antes de se retirar.
Mas Enishi tinha certeza que de Yahiko contrabandeava comida para o quarto todas as noites, o que o deixava muito curioso sobre como faria nessa noite específica, já que Hiko havia sua famosíssima sopa de capeletti in brodo.
Mas o jovem foi puxado de volta à realidade quando sua irmã levou a mão à testa e murmurou. "Hum... estou com um pouco de dor de cabeça..."
"Kenshin inclinou-se para ela. "Está tudo bem, Tomoe? Quer voltar para nossa cabine?"
"Não, está tudo bem," Respondeu ela. "Não é nada demais. Só preciso de uma aspirina e estarei bem."
Para a surpresa de todos, Aoshi prontamente puxou de um dos vários bolsos de seu casaco uma cartela de aspirinas, rapidamente entregando uma para a mulher na sua frente. Ela agradeceu e a tomou discretamente.
Soujirou riu, jogando a cabeça para trás. "Pensei que o senhor tinha dito que não era babá! Quantos remedinhos você tem nesses bolsos, hein?... O que foi, perdeu a língua?"
"Não, mas eu devia arrancar a sua." Respondeu Aoshi friamente. Misao sentiu que era hora de intervir. Se aqueles dois homens começassem a brigar, não sobreria o bastante da sala de jantar para que pudessem deduzir o que tinha acontecido.
"Opa, opa, sem ameaças de morte, ok?" Riu ela. "Se Soujirou aparecer assassinado amanhã, nós já sabemos quem foi!"
"Puxa, Misao, você acabou de estragar toda a minha morte, contando quem é o assassino!" Devolveu o garoto, recostando-se no espaldar da cadeira com seu sorriso habitual.
"Já imaginaram a gente andando pelo navio com lupas, atrás de algumas pegadas ou impressões digitais para descobrir quem foi?" Megumi entrou na brincadeira, batendo palmas de prazer. "Assim como nos livros!"
Os mais jovens da mesa perderam-se numa discussão sobre romances policiais. Pouco tempo depois, Tomoe levantou-se.
"Minha dor de cabeça não melhorou... Vou voltar para a cabine, está bem, querido?"
"Não quer que eu vá com você?" Sugeriu Kenshin, fazendo menção de levantar-se. Ela o impediu com um movimento de mão.
"Não, não precisa. Vou apenas me deitar. Pode acabar de comer, nos vemos depois." Ela sorriu e despediu-se polidamente de todos os presentes, pedindo mil desculpas por ter que partir desta forma, antes de sair. Enishi olhou-a preocupadamente até ela sumir de vista.
"Puxa," comentou Soujirou, apoiando os cotovelos na mesa. "seria tão divertido se acontecesse um assassinato neste navio!..."
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Na oitava manhã, Misao pressionava contra sua cabeça uma sacola de gelo, enquanto recusava o suco de laranja que Aoshi lhe estendia. "Eu disse para você não beber tanto assim, Misao."
"Ah, pare de me aborrecer," Resmungou a menina.
"Quer um biscoito?" Ofereceu Soujirou, estendendo-lhe o prato, mas também foi recusado. "Ah, é uma pena, mas eu não morri noite passada, e nós prosseguimos com nossa viagem entediante..."
"Yahiko, não coma tantos ovos!" Brigou Kaoru, o mais baixo possível. "O que é isso?... bacon? Você vai acabar pior que a Misao!"
Mas o garoto continuou comendo, independente das ameaças. "Onde estão Kenshin e Tomoe? Normalmente eles são os primeiros a acordar!"
"Tomoe-san estava se sentindo mal ontem, será que ela não melhorou?" Sugeriu Megumi, preocupada. "Acho que tenho um ou dois remédios na bolsa, será que devo ir lá e perguntar se ela está bem?"
Ouviram-se passos correndo pelo corredor abaixo, em direção à sala de jantar. Todos os olhares se voltaram para a porta.
Nela apareceu Kenshin Himura, precariamente vestido, como se tivesse saído correndo antes de ter tempo de abotoar a camisa. Seu olhar beirava o desespero.
"A minha esposa—Tomoe. Alguma coisa está errada com Tomoe." Ele disse, arquejando. "Ela não quer acordar. Eu acho que—eu acho que ela—"
Saitou foi o primeiro a se levantar e sair, a passos largos, da sala. Aoshi o seguiu de perto e atrás dos dois foram todos os presentes naquele café-da-manhã. O capitão debruçou-se sobre a cama da jovem esposa. Ele pegou-lhe a mão para sentir o pulso.
Hajime Saitou estreitou os olhos. Aquela delicada mão branca estava fria como a morte.
"Saiam da frente, eu sou médica." Megumi adentrou a cabine repentinamente. Empurrando Saitou para o lado, ela levou a mão à base da cabeça de Tomoe, na esperança de sentir a pulsação. Fechou os olhos. Nada.
"Ela está morta."
Houve um silêncio a seguir dessas palavras. Elas ecoaram por todo o navio.
Kenshin, como se suas forças o abandonassem, recostou-se contra a parede, cobrindo os olhos. Enishi, até então parado na porta, correu para o lado da irmã, numa fúria desesperada que até então jamais sentira.
"Mana! Minya mana! Acorda!" Ele gritou, sacudindo-a pelos ombros. "Acorda!!"
Kaoru adiantou-se e, maternalmente, puxou-o para trás. Enishi Yukishiro uivou de dor antes de empurrá-la e sair correndo da cabine. Saitou acendeu um cigarro. Jamais precisara tanto de um.
"Talvez tenha sido suicídio? Noite passada, ela pode ter tomado muitas pílulas para dormir." Sugeriu Aoshi. "Pode até mesmo ser morte por causas naturais, embora eu jamais tenha visto um caso em que tenha sido tão depressa. Ela tinha algum antecedente de doenças do coração?"
"A saúde de Tomoe era perfeita." Respondeu Kenshin fracamente, a voz abafada pela mão que cobria seu rosto.
"Podem deixar o cômodo?" pediu uma pálida Megumi, abrindo os primeiros botões da camisola de Tomoe. "Vou despi-la para ter certeza de que não há nenhum corte, ou—"
A frase foi interrompida por um grito da própria médica, que repentinamente soltou o corpo como se queimasse. Ela só não caiu da cama porque Soujirou aparou-lhe as costas com as mãos.
No colo exposto de Tomoe, lia-se, em tinta preta.
O primeiro rato cego.
Soujirou leu as palavras em voz alta, e um silêncio chocado instalou-se na cabine. "Parece que" começou ele. "Não foi suicídio."
"Tomoe Himura foi assassinada."
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AN: Olá!
Hell's Angel & Heaven's Demon com uma nova história! Tudo isso é tão empolgante!
É a primeira em algum tempo que podemos assinar com o nome da dupla. Embora a idéia geral seja minha (Heaven's Demon), ela jamais teria ido para frente se não fosse a adorável colaboração da Hell's, que basicamente me forçou a terminar esse capitulo após três dias intermináveis. Então palmas para ela!
Bem, eu adoraria saber quem vocês acham que é o assassino. Mandem palpites, opiniões, teorias conspiratórias, por mais malucas que sejam... acho que essa é a melhor parte de ler uma história de mistério.
A história inteira já está pronta e sim, há várias pistas nesse capítulo. Vão em frente com a lista de suspeitos!
Hell's Angel & Heaven's Demon
