Estigmas
Preso, acabado, sujo. Como ele desejava que fosse esquecido. Mas seria lembrado eternamente. Não apenas pelo ilustre sobrenome, que imediatamente o ligaria ao Lorde das Trevas. Nem pelo fato de ter sido preso.
Preso. Ele tentava diluir o peso da informação em sua torrente de emoções. Ele fora pego, tudo por causa de uma bobagem. A maior idiotice de Rabastan Lestrange. Tentara, durante anos a fio, ser melhor do que o irmão. Nunca conseguira e jamais conseguiria. Rodolpho não fora pego. Porque não era um idiota. Rabastan era um idiota.
Lembrava do olhar que o irmão lançara para ele antes de deixá-lo sozinho na mansão. Rodolpho tinha pena dele, o que poderia ser pior? Nem a falta de nicotina era pior.
Falando em nicotina, isso o lembrou que ficaria muito tempo sem ela. O que fez seu sangue bombear mais rápido, como se espalhasse um alerta para o resto do corpo. Sentiu a dor do vício pela primeira vez em todos aqueles anos.
Um sino batendo, muito ao longe, informou Rabastan que era meia-noite. O que os outros presos chamavam de "A Hora do Louco". A princípio, ele não entendera por que. Mas naquela noite, depois de uma semana enjaulado, ele tinha certeza de que estaria presente. A tal igreja trouxa – que ele achava não ser uma igreja e sim algum lugar com ritos satânicos -, só batia o sino uma vez ao dia. Sempre a meia-noite. Transformando Azkaban em um inferno. Todos os presos acordavam, alguns imploravam por Deus. Outros apenas gritavam coisas sem sentido. Outros ainda, vociferavam ameaças, alguns se descabelavam. Era o som mais apavorante que Rabastan já escutara na vida. Azkaban era silenciosa e, de repente, era tomada por gritos ensurdecedores, desesperados, enlouquecedores. Sentiu sua boca abrir involuntariamente e a voz sair. Estava gritando. Tinham razão: essa era a hora do louco.
Quando se deu por conta ele estava ajoelhado, as mãos arranhando a porta, sangrando. Ele pedia desculpas, desculpas ao irmão. Por ter sido tão idiota. As pesadas correntes o impediam de se movimentar muito, mas era o suficiente para que ele sentisse tanta que caía no chão, ainda implorando por perdão. Tentou, com todas as forças, continuar acordado. Mas só enxergava escuridão e sentia-se cair cada vez mais. Desmaiou.
Estava em um lugar fechado, escuro, cheirava a mofo. Rodolpho olhava para ele, Bellatrix estava ao seu lado, sorrindo cinicamente. Ele queria matar os dois, mas não conseguia se mexer. Então ele gritava, e gritava...
Rabastan acordou encharcado de suor. Um pouco de claridade entrava por um quadrado a uns três metros acima de sua cabeça. Azkaban o enlouquecera. Ele sentia isso. Muito mais rápido do que a qualquer outra pessoa. Ele perdera a cabeça no momento que entrara ali. Sentia-se fora de si.
Um prato foi colocado por de baixo da porta, junto com um Profeta Diário. Rabastan não entendeu o gesto, até ver o rosto de Dumbledore o espiando por baixo da porta.
- O que quer, seu velhote? – ouviu-se perguntando.
- Leia, Rabastan. Espero que traga algumas memórias – respondeu Dumbledore, levantando-se e saindo.
E então ele leu. E o jornal trouxe memórias. As malditas memórias que ele havia conseguido apagar de sua mente. E Rabastan odiou Dumbledore como nunca em sua vida.
"OS ESTIGMAS DE RABASTAN LESTRANGE
Um conhecido Comensal da Morte foi preso há dez dias. Rabastan Lestrange, irmão de Rodolpho Lestrange, foi pego dentro da Mansão Fudge, após assassinar o Ministro da Magia; Cornélio Fudge.
Essa foi uma grande perda para o mundo bruxo, em seu lugar está Rufus Scrimgeour, ex-chefe do Departamento de Aurores do Ministério da Magia da Grã-Bretanha.
Segundo fontes, Rabastan Lestrange teria assassinado o irmão antes de assassinar Fudge – o corpo de Rodolpho Lestrange foi encontrado não muito longe da Mansão Fudge. Dizem que o homicídio deve-se ao fato de que a importante missão teria sido dada a Rodolpho, por Aquele-Que-Não-se-Deve-Nomear, e não a Rabastan, causando ciúmes no irmão caçula. Assim, surgiu o tão falado "Estigma de Rabastan". Ele foi preso, marcado não pelo assassinato do Ministro da Magia e, sim, pelo fato de ter inveja do irmão. Dizem que o Lorde das Trevas pouco se importa com quem matou o Ministro. Mas não está nada contente com a morte de Rodolpho. Rabastan está sendo chamado entre os seguidores do Lorde, de 'o invejoso'. Estigmas que certamente ficarão para sempre na memória de Rabastan e de todos os familiares do falecido Rodolpho."
Rabastan jogou o jornal longe, rasgando cada pedaço que conseguia, deixando as lágrimas de raiva escorrerem. Esse era o fim, não era? Esses seriam seus estigmas. E os levaria até o dia de sua morte. Aquele dia gravado sempre em sua memória: o dia em que enlouqueceu, matou o irmão e foi preso. O invejoso. Que decepcionou não só aos outros, mas também a si mesmo.
