UM PEIXE FORA D'ÁGUA
PADALECKI ALTERNATIVE UNIVERSE
PRÓLOGO
AUTOR: DWS
SINOPSE
Às vezes, é preciso lutar muito para conquistar um lugar no mundo. Ter nascido muito pobre não vai deter Jared Padalecki.
Um peixe fora d'água. É como se sentia todas as vezes que entrava em lugares como aquele. Mas, houve um dia em que um peixe se arrastou para fora d'água e conquistou o mundo. Onde estaríamos todos nós se esse peixe tivesse desistido? Se não tivesse ousado sonhar ser mais do que estava destinado a ser?
Um dia, se formaria advogado. Riram todas as vezes que anunciou seu sonho em voz alta. Mas, isso só fez aumentar sua determinação. Ia provar que não era impossível. Que era só uma questão de se esforçar o bastante. Um amigo lhe dera a lista de livros do primeiro ano de Direito da Universidade de Stanford. Sempre que encontrava algum desses livros numa biblioteca pública, retirava e o estudava com afinco. Já dominava o jargão jurídico básico, os principais conceitos constitucionais e a jurisprudência sobre os assuntos do interesse da sua comunidade, como hipotecas e despejo por dívidas. Queria entrar na universidade já dominando as disciplinas. Quem é pobre não pode ser mediano. Tem que se sobressair. Seu plano era estar sempre um passo à frente dos colegas. Tinha certeza que conseguiria.
Alguns livros não eram fáceis de serem encontrados. Foi isso que o levou cada vez mais longe da comunidade onde crescera. As bibliotecas do seu bairro não tinham os livros que precisava. E por que teriam? Nascera naquela comunidade e não conhecia ninguém ali que acreditasse que o caminho para subir na vida fosse estudando muito para conquistar uma bolsa de estudo integral numa faculdade de prestígio.
Quem almejava algo mais e era do bem apostava na música ou nos esportes. Nada contra. Era um caminho válido. Alguns até conseguiram. Só não era o seu caminho. Não tinha um ouvido musical e prezava muito seu rostinho para tentar o boxe, o único esporte acessível a quem não tem dinheiro e não tem amigos. Gostava de basquete, mas sempre ficava no banco. Acabou desistindo. Para ter sucesso em esportes coletivos é preciso ser parte integrante do grupo. É preciso haver cumplicidade. Seu time tem que lhe passar a bola e comemorar com você as suas boas jogadas. Tem que ficar feliz quando você brilhar.
Nascera numa comunidade paupérrima. Seus avós paternos vieram da Polônia ao final da Segunda Guerra Mundial praticamente com a roupa do corpo. Estabeleceram-se ali porque era onde estavam os aluguéis mais baratos da cidade. E, como é fácil imaginar, existia uma boa razão para que fossem baratos. Para serem baratos ainda hoje.
Seu avô comeu o pão que o diabo amassou, mas conseguiu dar uma educação decente a seu único filho. Seu pai, Gerald, formou-se contador e, entre seus clientes, havia uma pequena venda cujo proprietário tinha uma filha professora. Sharon, a jovem professora, se casaria com Gerald e se tornaria mãe de dois garotos e uma menina. Era um dos garotos, o filho do meio.
Sua família, com sua crença no trabalho duro, era a exceção naquela vizinhança. Não que todos ali fossem desonestos, mas faltava aos honestos uma ambição saudável. Algo que os impulsionasse a querer mais, a não se contentar com o que tinham, a investir no futuro dos filhos. Eram dominados por um inexplicável fatalismo que os fazia acreditar que, não importa o que fizessem, nunca ascenderiam socialmente. Como se a pobreza fosse seu destino inescapável.
E havia os que tinham ambição de sobra. Muita ambição e nenhuma ética. Os que se acham muito espertos. Os que se dizem malandros. Infelizmente, são muitos os que acreditam que existem atalhos para o sucesso. Caminhos rápidos e fáceis para conseguir prestígio e dinheiro. Quantos dos seus colegas de colégio acabaram mortos ou estavam presos?
Colegas, não amigos. Não tinha amigos de infância. Não se tem amigos quando se é o único branco numa escola de negros e latinos. Não era racista. Muito pelo contrário, sabia o quanto doía ser vítima de racismo. Só não entendia a lógica de quem praticava o que dizia condenar. Vítimas que se tornavam algozes. Tentava não levar para o lado pessoal. Não guardar rancor no coração. Preconceito nasce da distância. Muitos pareciam ser legais. Poderiam ter se tornado seus amigos, bons amigos, mas nunca permitiram que se aproximasse. Não se deram a chance de conhecê-lo.
Infringir dor aos outros não diminui a nossa própria dor. Lera essa frase em algum lugar e a repetia sempre que se sentia tentado a pagar na mesma moeda. Foi isso que o levou a socorrer a mãe do bandidinho que na véspera o tinha ameaçado com uma faca e roubado o dinheiro que, com muito sacrifício, tinha guardado para pagar o aluguel. A mãe do sujeito que o tinha derrubado no chão, chutado suas costelas, cuspido no seu rosto e o chamado de otário. Sabia quem era a mulher quando a socorreu. Ali todo mundo conhecia todo mundo. Quando viu a senhora passando mal na rua, esqueceu as dores e a grana curta. Chamou um táxi e levou a senhora a um hospital. Ficou com ela até que os médicos garantiram que estava fora de perigo.
Fez por ela o que gostaria que alguém fizesse por sua mãe. Não fez esperando retribuição de qualquer espécie. Por isso, foi com surpresa que recebeu o dinheiro roubado de volta com um pedido de desculpas do agressor. E o agradecimento veio acompanhado da garantia que ninguém ali voltaria a importuná-lo.
E, coincidência ou não, notou que mudou a forma como era visto e tratado na comunidade. Pelos dois lados da lei. Mais gente chegava a ele, passou a ser cumprimentado na rua, a clientela do escritório de contabilidade, o negócio da família, aumentou. Com isso, passou a sobrar um dinheirinho no final do mês. Até consultas jurídicas pintaram, mas, por estas, não podia cobrar. Seria exercício ilegal da profissão.
Era muito bom ser respeitado. Mas, ter apanhado quando criança também teve um lado bom. Obrigou-o a aprender a se defender. Fora um garoto magrelo, mas crescera e encorpara. Sua altura e seus músculos agora impunham respeito. E atraíam olhares. Fazia sucesso com as garotas latinas. Também com as garotas negras, mas aprendera desde muito cedo que existem regras que devem ser respeitadas por quem não quer acordar morto. Há sempre um irmão, um primo, um pai, que, em pleno Século XXI, ainda considera uma ofensa grave um garoto branco olhar para uma garota negra.
A melhor forma de se manter longe de encrenca era ter uma namorada fixa. E agora tinha. Sandy era uma dançarina de formação clássica que dava aulas de balé para meninas pobres da comunidade. Estava ali num projeto de inclusão patrocinado por uma ONG. Conhecê-la foi uma nova janela que se abriu para o mundo de fora. O mundo ao qual queria pertencer.
Vivia focado nos estudos, mas não era monge. Podia dizer que tinha com Sandy uma vida sexual satisfatória. Sandy era inteligente e divertida. Sandy era tudo que se pode querer de uma garota.
Mas, há coisas que uma garota não pode oferecer.
É por isso que uma vez por mês ia a boates como aquela. Boates que gente da sua comunidade não tinha condições de frequentar. Boates que homens de sua comunidade faziam questão de manter distância. Onde sabia ser um peixe fora d'água. E esse era um motivo a mais para querer estar lá.
Era um ponto de descolados, não propriamente uma boate gay. Ficava em um bairro afastado da zona nobre da cidade, numa região que estava passando por um rápido processo de revitalização. Ali, no último ano, surgiram points que atraíam os playboyzinhos mais aventureiros. Os que gostavam de brincar com o perigo.
Rapazes de músculos definidos e bundinha dura. Rapazes de mãos macias e cabelos sedosos.
Esforçava-se para fazer sempre a coisa certa, mas não aspirava à perfeição. Permitia-se ser falho e contraditório. Era humano. Também tinha seus segredinhos sujos.
DISCLAMER
Embora tenha personagens com nomes associados ao elenco de Supernatural, esta não é uma fic sobre as pessoas reais dos atores. Pense na fic como o roteiro de um filme estrelado pelos atores cujos personagens foram batizados com seus nomes reais. Apenas isso.
No próximo capítulo, Jared encontra a pessoa que mudará sua vida para sempre.
09.05.2016
