La tortura

Eu poderia tê-la amado. Eu ainda a amo, na verdade. Sempre amarei. Acho impossível arrancar de dentro de mim isso que eu sinto por você. Hoje eu sei disso.

Mas como você e tantos outros sempre fazem questão de jogar na minha cara, como um jato de água fria, eu sou um covarde. Não tive coragem de dar uma chance ao que eu sentia. Preferi o mais fácil, o mais seguro, o mais aceitável. Ignorei meu coração batendo mais forte quando eu te via, como se isso não significasse que eu ficava feliz em te ver. Eu era seu e fingia que não. Mas agora traio a mim mesmo, sendo fiel aos meus malditos princípios. Não pretendo confessar o que sinto.

E sou torturado para que eu diga que me dói cada vez que beijo a boca daquela por quem a troquei, porque sei que não é você que me corresponde com lábios ávidos.

Astória não tem as suas sardas, sua pele é de um branco imaculado que já está me atordoando. Ela não me faz rir como você faz. Astória nunca fez meu coração acelerar pela expectativa de levá-la pra cama. E, obviamente ela não tem os cabelos vermelhos que me deixam louco. Seu perfume caro não tem o cheiro que só o seu corpo tem e ela não me beija como se nunca mais fosse me ver, porque todos nós sabemos que é certo que ela esteja sempre a meu lado. Isto me enlouquece, e é aí que começo a fraquejar. Astória demora horas pra se arrumar e não gosta que eu toque seu cabelo ou que eu demonstre carinho na frente dos outros ou que eu me atrase e então começam as chibatadas da voz dela. "Não", ela me diz, e a possibilidade de ter sido um sim dito por você me fere. Ela não se deixa levar pelos meus sussurros sacanas na orelha enfeitada com as jóias que eu dei para entrar em um armário de vassouras enquanto os convidados de uma festa bebem do meu champagne. Eu sei que você faria isso, porque eu já a arrastei para os jardins de minha casa, às escondidas e você me deixou te deitar na grama, enquanto meus pais não podiam sonhar que uma traidora do sangue estava na propriedade dos Malfoy. Eu tentei te esconder e consegui. Até hoje, ninguém sabe. Eu mantenho esse segredo inconfesso porque eu sou um idiota, que teria vergonha dos seus modos, mas os adoraria secretamente. Eu os adoro, eu confesso, se é isso que você quer saber. Eu sinto falta de você e do seu jeito e esta agonia está ficando insuportável. Enquanto tento disfarçar que estou quase me entregando, fica mais doloroso disfarçar tantas coisas que eu aprendi com você. É como um soco no estômago cada não que Astória me diz quando penso que devíamos deixar o mundo de lado e desaparecer por uns tempos e esquecer de tudo. – E ela nem sonha o que quero esquecer é você - "O que os outros vão pensar?" "Fodam-se os outros" – você diria, me desafiando, e eu penso em dizer isso a Astória com a mesma intenção. Ela não me entende como só você entende e então engulo as palavras, relutante. Minha contradição desce ardendo pela garganta. Isto chega a meu estômago, queimando-me por dentro como se eu tivesse bebido veneno. Negar você me envenena lentamente, e está cada vez mais difícil me manter firme e continuar negando.

A sua falta me tortura, preciso confessar.