Enlevar, arrebatar e extasiar
- Três passos para a conquista
1º passo: enlevar
O vestido
Não. Ela não tinha mania por limpeza. Ela simplesmente não conseguia ver o estado em que ficava o quarto sempre que Harry saía. Era como reclamar com uma criança, que sempre faz o que você havia proibido. Hermione chegava a pensar que ele fazia aquilo simplesmente para pirraçá-la.
A toalha dele estava largada no chão, ao lado da cama. Ela abaixou-se e a apanhou. Olhou para baixo da cama por um instante e percebeu uma caixa aberta, como se alguém tivesse mexido nela. Esticou-se e puxou o pacote. Pôs a toalha dele sobre os lençóis – esquecendo-se que ela mesma brigava com ele por fazer isso – e abriu o caixote.
Viu um álbum logo de cara e, ao abri-lo, deparou-se com uma foto sua e de Harry na época do colégio. Boas lembranças. Pousou o álbum sobre a cama e continuou a vasculhar. Encontrou bilhetes que trocavam às escondidas durante as aulas, folhas de caderno completamente ocupadas com as letras dos dois... Mas o que a intrigou foi ver um pedaço de pano – envolto por um plástico – que parecia estar escondido embaixo de tudo aquilo. Removeu algumas tralhas até que pôde perceber do que se travava.
Era um vestido amarelo claro, muito simples, esvoaçante, com uma fita na cintura de tom mostarda, alças finas e com um pequeno decote. Estava bem cuidado apesar do tempo.
Ela sorriu. Harry adorava aquele vestido. Era o seu preferido. Sempre que ela o usava, dizia que a achava particularmente linda nele.
Não se lembrava como ele fora parar ali no meio de tantas outras coisas. E somente naquele momento, como um estalo, ela percebeu que havia sentido falta do vestido, mas que com o tempo acabou se esquecendo de procurá-lo. Talvez o próprio Harry o tivesse escondido.
Ele entrou no quarto e a viu sentada na cama. Hermione levantou-se e foi até ele com o vestido a mão.
– Harry? – perguntou seguindo-o até o guarda-roupa, onde ele procurava uma camisa.
– Oi? – disse, virando-se para ela.
Era incrível. Simplesmente incrível. Mesmo depois de anos Harry ainda tinha o mesmo charme, seus olhos ainda brilhavam como da primeira vez que se viram e seu corpo ainda continuava desconcertante.
Ela o encarou. Ele tinha um sorriso irritantemente superior nos lábios. Como se soubesse que causaria essa reação nela ao parar a sua frente vestindo apenas uma boxer.
– Você escondeu o meu vestido? – questionou.
Não iría dar a ele o gostinho da vitória.
O homem encarou as mãos dela e seus olhos arregalaram-se.
– Eu nem sabia onde ele estava – mentiu.
Mas ele não era bom com mentiras.
– Por que você escondeu o meu vestido? – indagou – Você sabe o quanto eu gostava dele.
– Eu não queria que ele desgastasse – falou – Queria preservá-lo. Ele esteve presente em muitos momentos que passamos juntos – Hermione sorriu.
Sim, era verdade.
Situação: fugindo de casa com o Harry.
Eu estava dormindo até que ouvi algo batendo na minha janela. Levantei assustada e pensei em acordar meu pai, mas se fosse realmente um ladrão, ele não jogaria pedrinhas na minha vidraça.
Abri as cortinas e ergui a janela. Era Harry, ainda com a roupa de dormir e um casacão por cima. Claro! Sabia que horas eram? Mas quem disse que ele se importou com aquilo.
– O que você faz aqui a essa hora?! – indaguei.
Outra garota em meu lugar se sentiria lisonjeada com essa cena típica de filmes românticos, mas eu achava aquilo muito clichê.
– Troca de roupa e vem comigo – ele falou com um sorriso largo no rosto.
– Ir com você? Para onde? Enlouqueceu? – questionei pasmada com a proposta dele.
Sim, eu era uma estraga prazeres. Mas isso não diminuiu o sorriso e a excitação dele.
– Vamos, Hermione! – pediu – Você não confia em mim?
– Confio –afirmei, me rendendo a um sorrindo.
– E por que ainda está parada aí? – brincou – Vamos! Você sabe que horas já são?
Eu ri, peguei o ursinho que estava em cima da estante e joguei nele. Harry o apanhou e sorriu para mim antes de eu ir me trocar.
Saí pela janela de costas e desci pela escada que Harry pegara na garagem da Srª Walker. Ao chegar ao chão, sorri e beijei-lhe enquanto ele me abraçava.
Ao passar a mão na barra do meu vestido, que havia sujado durante a descida, lembrei-me que Harry estava segurando a escada enquanto eu descia.
Olhei para ele chocada, mas ele parecia não ter entendido.
– Você estava olhando para a minha calcinha enquanto eu descia a escada! –exclamei.
– Não – ele rebateu imediatamente.
– Não minta para mim Harry James Potter! – falei cruzando os braços e ficando séria.
– Foi só um pouquinho... – ele disse baixinho e corou levemente.
Eu o encarei. A chance de vê-lo completamente sem graça era só minha e eu aproveitei. Contive um riso. Certamente ele não queria mais nem olhar para mim depois daquilo.
Esperei que ele dissesse algo e isso não demorou muito.
– Você sabe que eu gosto de como você fica nesse vestido – sussurrou me olhando.
Eu sabia. E ele também sabia que eu me desarmava só de ouvi-lo dizer isso.
– Ainda não – ele disse, segurando as minhas mãos.
Eu tinha meus olhos fechados e era guiada por ele até algum lugar. A curiosidade me instigava a trapacear. Abri um pouquinho de um dos olhos, mas Harry gritou e eu o fechei antes de ver qualquer coisa que fizesse sentido.
Paramos de andar. Eu sentia a grama roçar os meus pés vestidos em sandálias simples. Senti ele se aproximar de mim. Depositou um beijo em meus lábios, depois outro e mais outro.
– Hei! – falei, dando um tapa em seu ombro – Pare de se aproveitar de mim! – reclamei divertida.
Certamente ele sorrira do meu comentário.
– Pode abrir os olhos – sussurrou no meu ouvido.
Eu obedeci e à minha frente encontrava-se a fonte de jatos de água luminosos que havia inaugurado na praça aquela manhã. A música instrumental que regia os jatos era suave e tocava baixo. Passei longos segundos acompanhando os jatos subindo e descendo numa sincronia invejosa. E as cores se alteravam ao passo que a música mudava de tom.
Nós havíamos visto a fonte naquela manhã, na estréia. Mas a noite era deslumbrante.
– Não é lindo? – ele me perguntou, também bestificado.
Sim, Harry ainda estava ali. Havia me esquecido completamente disso.
– Muito – respondi buscando seus dedos com uma das minhas mãos e os enlaçando ao encontrá-los.
– Eu sabia que, à noite, seria melhor ainda – disse – Não há tanta iluminação, apesar dos postes de luz. E ouve-se muito melhor a música sem o burburinho da cidade inteira na praça – virou-se para mim e sorriu divertido.
Eu o encarei e sorri de volta. Harry beijou-me o rosto e me abraçou por trás. Ficamos olhando para a fonte durante mais umas duas músicas. Em pé mesmo. Juntos. Ele me deixou em casa com um beijo e um "boa noite".
