Nova Iorque, 15:34p.m.
Era inverno e nevava, Camus terminava de noticiar uma matéria sobre o clima e as pessoas que se escondiam como podiam da neve e do frio. As ruas não estavam tão movimentadas, mas ainda tinha um fluxo notável de gente circulando pra lá e pra cá.
— Eu sou Camus Dumont, e ficamos por aqui. — Abaixou o microfone assim que a câmera parou de filmar.
— Muito bom, Camus.
— Obrigado, Shura. — O ruivo levou as mãos — com luvas — até os lábios, bufando na esperança de aquecê-las. — Você vai para o hotel agora, Shura?
— Não, quero dar uma volta pela cidade e tirar umas fotos também. Não gostaria de me acompanhar? — ofereceu ao amigo com um sorriso simpático.
— Agradeço, mas passo. Estou cansado, vou direto para o hotel. Nos falamos depois então, está bem?
— Certeza?
— Sim, obrigado. Te vejo mais tarde.
Shura se responsabilizou pelo equipamento enquanto o ruivo ia para o hotel. Gostaria de ajudá-lo, mas se o fizesse teria de o acompanhar em sua aventura pela cidade, coisa que não estava nem um pouco afim de fazer.
Camus seguiu pela cidade totalmente coberta pela neve branca e fria até o hotel onde a equipe estava hospedada. Quando entrou, falou com a recepcionista, e quando já estava se retirando para seus aposentos, ouviu uma gritaria e uma grande movimentação de garotas histéricas. Em toda sua curiosidade, se atentou em direção do elevador — onde acontecia a confusão — e percebeu que de lá um loiro saía, junto a um segurança que tentava controlar a situação. Não conseguiu ver seu rosto direito, mas tinha a leve impressão de já tê-lo visto antes. Em algum lugar...
Como não queria ser tomado por um fanboy daquele homem, resolveu se retirar antes que ficasse estranho. Seguiu para o seu quarto, as coisas já estavam preparadas por lá.
Desta vez haviam se superado, o quarto era lindíssimo, bem iluminado, com cores neutras e aparentemente era bem tranquilo. A primeira coisa que fez, foi andar até suas malas e selecionar uma muda se roupas para então, seguir até o chuveiro. Era tão bom sentir a água morna escorrer por todo seu corpo, uma experiência realmente relaxante como essa era rara depois de uma semana de viagens e se trabalho direto. Isso porque preferia antecipar o trabalho e relaxar depois, sendo assim, fizera tudo que precisava antes do tempo estimado. Seu trabalho consistia em muitas viagens por ano, recolhendo notícias do mundo todo, por isso às vezes era bem cansativo, mas não reclamava, fora sua própria escolha de profissão e adorava o que fazia com toda certeza.
Assim que saiu do banho, pegou um livro de sua mala, sempre os trazia consigo. Era realmente apaixonado por literatura, e onde quer que fosse, sempre trazia no mínimo dois ou três livros consigo. Sentou-se na cama, se ajeitando de forma confortável e iniciou a leitura, entretanto, em algum momento desta, acabou por pegar no sono.
Acabava de voltar de uma torturante sessão de autógrafos e fotos, com várias garotas histéricas gritando por seu nome e querendo se aproximar. Não que não amasse seus fãs, mas o problema é que muitas vezes, estes passavam dos limites para conseguir um toque, uma olhada, um objeto, qualquer forma de atenção. Eram situações absurdas que o cantor já presenciara, mas gostaria de andar por aí sem que seja cercado pelas pessoas ou então que se materialize em sua frente os fotógrafos e jornalistas que o pegam de surpresa querendo informações sobre sua carreira e sua vida pessoal.
Por isso era tão cansativo, mas tudo valia a pena quando pensava nas pessoas gritando seu nome e lhe dando apoio com suas vozes enquanto estava em cima do palco, uma visão realmente esplêndida e privilegiada de poucos. Sim, amava a música, e amava cantar. Era tão prestigiante, sentia-se vivo exercendo essa profissão, ainda que por vezes, recebesse muitas críticas, ainda era verdadeiramente gratificante.
Como não gostava de andar sendo observado e com seguranças por aí, tinha apenas um. Um que era seu fiel amigo também.
— Você tem que parar de me dar tanto trabalho, garoto! — brincou o grandalhão.
— Como se eu tivesse culpa, na próxima saio com um boné e óculos escuros. - Olhou-o se cima a baixo. — Mas aí você vai chamar mais atenção do que eu, Debas!
Seu apelido sempre foi Aldebaran, quase um codinome, mas Milo sempre o chamava assim, isso porque realmente eram companheiros, amigos a ponto de se confidenciarem alguns segredos um para o outro.
Os dois seguiram para o elevador que os levariam até a cobertura torcendo para que nenhum fã atrasado os alcançasse no caminho. E por sorte, ninguém apareceu mesmo.
— Sabe Debas, a gente podia sair hoje, né?
— Ah, Milo, e se alguém te reconhecer?
— E daí?! Depois vemos isso, não estamos em horário de trabalho, e podemos escolher um lugar mais reservado.
— Tá certo então, mas eu que não vou conter a multidão que vier te perseguir.
Ambos riram e esperaram o elevador chegar no andar desejado.
Já era final de tarde quando despertou, ainda com o livro em mãos, foi sorte não ter ficado com dores de ter dormido de qualquer jeito. Depositou o livro no bidê ao lado de sua cama. Pensou em verificar se Shura já havia chegado, mas era muito provável que ainda não, quando se programada para fotografar a cidade e sair com os amigos, geralmente se demorava muito nisso. Foi justamente enquanto refletia sobre isso, que recebeu uma mensagem de Shura dizendo que Afrodite estaria na cidade. Era um amigo de longa data de Camus, que trabalhava como médico, inclusive, resolveu seguir essa profissão por influência indireta do ruivo.
Não estava muito afim de sair, mas até que o clima na cidade estava agradável, já não nevava mais; então deixou de lado o desânimo e foi procurar algo para vestir, não demorou muito e já estava pronto. Haviam marcado em um restaurante da cidade, um não tão movimentado, mais simples, mas "Dite" havia garantido que o lugar era o melhor e possuía classe, e o sueco já havia viajado para todo lugar, portanto conhecia os melhores lugares não importa pra onde fosse. Se olhou no espelho uma última vez, estava vestido casualmente, mas mesmo assim, elegante. Usava um blazer escuro e deixou os cabelos rubros e compridos, indo um pouco acima dos quadris, soltos. Pegou o celular e enviou uma mensagem dizendo que estava a caminho do restaurante. Verificou se havia pego tudo que precisava e ao ver que sim, por fim, deixou seu quarto e em seguida o hotel.
Não demorou muito e o ruivo já estava lá, deu uma procurada com os olhos, e avistou Shura fazendo sinal para si, andou até a mesa onde estavam o fotógrafo e o médico.
— Camus! — Afrodite se levantou e lhe deu dois beijinhos no rosto como cumprimento. — Que saudade!
— Oi, Dite! Também estava com saudades, mas só faz um mês e meio...
— JÁ faz um mês e meio. — Corrigiu ele contrariado.
O ruivo sorriu e os dois sentaram-se, junto de Shura.
— Já pediram?
— Não, estávamos esperando você.
— Conseguiu tirar as fotos que queria?
— Sim, tirei muitas! Depois vim me encontrar com Afrodite, só faltava você!
— A propósito, Dite, como vão as coisas no hospital? — antes que o loiro respondesse, o garçom se aproximou para atendê-los. Fizeram seus pedidos e então o médico pôde responder.
— Agora estão mais calmas, tem épocas do ano que fica uma loucura, mas por sorte estamos conseguindo dar conta tranquilamente. Não vou nem perguntar como está o seu trabalho, porque te vejo todo dia na televisão!
Camus deu uma risadinha contida.
— Mas se perguntasse, eu diria que estão agitadas.
— Imagino. Ah, Shura seus blogs estão cada vez melhores e as fotos que me manda são incríveis! Meus parabéns!
— Obrigado! Suas dicas foram úteis também. — Ele sorriu abertamente.
Já Camus tinha uma certa confusão estampada no rosto.
— Não sabia que trocavam fotos um com o outro. —"E em que eram tão íntimos". Pensou, mas não chegou a falar em voz alta.
— Às vezes recebo algumas fotos do trabalho do Shura sim!
— É que a opinião dele me ajuda bastante a encontrar os lugares certos a serem fotografados.
— Entendo, dessa eu não sabia.
— Nem tivemos tempo de falar pra você, Camus! - o sueco sorriu o olhando fixamente com os seus olhos azul-piscina.
— Sei. Vou ao banheiro. — O ruivo levantou e deixou a mesa, migrando para o banheiro.
Desde quando aqueles dois mantinham contato tão frequentemente? Pelo que se lembrava, eles se falaram com o que podemos chamar de "conversa" apenas umas duas vezes. Não que isso fosse um problema de qualquer jeito.
Na entrada do banheiro, acabou esbarrando em um homem alto, pelo menos uns dois metros de altura.
— Ah, perdão... Eu estava distraído.
— Sem problemas! — o homem lhe deu passagem e assim que saiu do seu campo de visão, Camus ficou vidrado no loiro que se arrumava no espelho.
Era ele de novo. O mesmo do hotel, o mesmo que pensou conhecer...
Mas de onde?
Assim que os olhos azuis encontraram os seus castanhos, sentiu um arrepio e como um estalo em sua mente, conseguiu recordar-se de onde o conhecia. Enquanto ele apenas o mirava de forma confusa e ambígua.
— Mi... - Balbuciou baixinho tentando lembrar de seu nome. —Milo?!
