Apenas um acordo?
By Ravena Taisho
Capítulo 1
Estando sua secretária ocupada na outra linha, Saori atendeu ao telefone:
-Parceiros Perfeitos, Saori Kido falando.
-Aqui é a srta. Yuri, da JetCorp. Tenho uma ligação para sr. Mitsuma Kido do sr. Seiya Ogawara. Por favor, aguarde que eu vou passar.
- O sr. Mitsu... – começou Saori quando a jovem do outro lado cortou a ligação.
Executivos que instruíam seu pessoal a fazer a conexão telefônica e então deixar o receptor esperando na linha a irritavam. Assim, preparou-se para não gostar de Seiya Ogawara. Mas em seu negócio, como caçadora de talentos, aprendera a conviver com isso.
A linha fez um ruído de transferência, mas não houve outro som por vários segundos. Então, de repente, Saori ouviu uma das conversas mais fascinantes da sua carreira:
- Tenho quase certeza de que a Parceiros Perfeitos não é o que você pensa que é, Seiya- dizia a srta Yuri.
- Não? E o que eu penso que é Yuri?
- Está achando que é uma... Agência de encontros, não é?
- Na verdade, não. Pelo que sei, é um serviço de acompanhantes - afirmou ele, em tom de zombaria, fazendo a secretária bufar.
A srta Yuri soava como uma senhora puritana e, pelo jeito, o sr. Jovem executivo tinha imenso prazer em provocá-la.
- E acho que uma firma chamada Parceiros Perfeitos pode ser o lugar exato onde encontrarei o que procuro: uma mulher que necessite de uma posição lucrativa temporária. Ou quem sabe até mesmo permanente, não é? Não foi isso o que a Júlia Roberts conseguiu em Uma linda mulher?
- Não sei, Seiya. Não vejo filmes em que há... Prostitutas.
Saori estava prestes a cair na gargalhada, e desse modo informar Seiya Ogawara que a linha se achava aberta, quando ele falou:
- Uma vez que a garota que procuro já está acostumada a vender seu produto para uma série de indivíduos, não deverá fazer objeção em vendê-lo para um homem em bases exclusivas, por um período indeterminado.
"Minha nossa! Talvez ele esteja falando sério!" Saori se pôs em alerta.
- Pretendo fazer os termos do contrato muito atraentes para a pessoa certa, Yuri.
E quais seriam esses termos?, Saori queria perguntar. E como devia ser a mulher "certa"?
Yuri perguntou por ela:
- E que qualidades espera encontrar nessa moça, considerando o passado dela?
Seiya riu.
- Não tenho a menor intenção de me envolver, portanto, o que me importa o passado dela? Meus requerimentos são claros. Tem que ter uma boa aparência, ser saudável, social, fértil e disposta a conceber um filho para mim. Talvez dois.
- Como conseguirá isso sem envolvimento físico?
"Obrigada, srta. Yuri. Era isso o que eu queria saber."
- Já ouviu falar em inseminação artificial, Yuri? Depois providenciarei uma babá para criar meus filhos, o que fará da coisa toda uma mera inconveniência temporária para ela. E será muito bem recompensada antes de receber uma dispensa.
- Que coisa horrível! Não pode estar falando sério!
- Seriíssimo. Contratar alguém para fazer o trabalho não é a solução para o problema que meu avô espera que eu resolva?
- Um problema que você mesmo criou, isso sim. Nunca deveria ter deixado Shina partir.
A resposta do homem do homem foi interrompida pelo som de uma porta se abrindo, e então a voz impaciente de um homem mais velho:
- Seiya, meu garoto, seus três meses acabam ao meio-dia de hoje. O que tem para reportar?
- Sente-se vovô. Falo com você em um minuto. Estou ao telefone. Passe a ligação, Yuri.
Após alguns cliques, Seiya murmurou nos ouvidos de Saori:
- Minha querida, senti tanto saudade sua...
Atônita, Saori demorou alguns segundos para responder.
- Aqui é Saori Kido, da Parceiros Perfeitos. Acho que há um engano.
Ela estava prestes a desligar quando ele falou de novo:
- Espero que possa almoçar comigo hoje, Saori, meu amor. Meu avô está ansioso por conhecê-la. Mitsumasa irá conosco também?
Estupefata, não podia pensar em nada sensato para dizer. Evidente que ele não discara o número errado, o que ele sabia desde o começo, apenas a concepção estava errada. Entretanto, se ele conhecia seu avô, antigo dono da Parceiros Perfeitos, devia saber que serviços a empresa dela prestava. E quais não prestava.
Seiya aproveitou o silêncio:
- Não quero apenas vê-la. – A entonação era intima e sedutora. – Na realidade, preciso ver você. Mas também necessito do conselho de Mitsumasa outra vez. Tenho um bom cargo em aberto e sei que ele será capaz de encontrar a pessoa certa para preenchê-lo. Pode colocá-lo na linha ou convidá-lo para almoçar conosco?
Saori se controlou para não rir.
- Mitsumasa se aposentou há quase um ano, e agora quem está no comando dos negócios sou eu, neta dele. Se precisa de um profissional para uma vaga, talvez eu possa ajudá-lo. – Fez uma pausa, mas então não resistiu a indagar: - Qual seu nome mesmo?
Seiya ficou quieto. Como poderia dizer seu nome para sua noiva, bem diante de seu avô?
Vindo do outro aparelho, ele escutou uma risada, seguida por uma questão provocativa que levou um sorriso involuntário a seus lábios. E também certa dose de admiração por Saori Kido.
- Você sabe como se chama?
Sim, Seiya sabia, e constatou que ela também devia saber. Yuri teria anunciado de quem era a ligação, por isso Saori Kido, naquele momento, estaria com a "Quem é quem nos negócios" aberta diante de si, checando informações. Aquela altura, estaria a par que ele tinha vinte oito anos, era divorciado e diretor geral e herdeiro da JetCorp Ogawara, um conglomerado familiar de bilhões de dólares. Apesar de não gostar desse tipo de exposição, fora incapaz de se manter fora da mídia. O bom partido. Era isso o que as mulheres pareciam ver nele.
Não que fizesse objeção à atenção delas, mas seria maravilhoso que alguém se interessasse por quem de fato era, e não por sua situação financeira.
Saori Kido podia estar a provocá-lo, mas não flertava. O que o agradou. E desejou saber como era ela. A voz, o jeito, a risada calorosa... Uma combinação que formava uma imagem tentadora.
- Saori meu amor, se mitsumasa não encontrar a funcionária que procuro, então não me chamo Seiya Ogawara.
Ela tornou a rir.
- Boa saída, sr. Ogawara. Mas agora conte-me, o que acha que meu avô teria feito se tivesse atendido a ligação e o escutar dizer: "minha querida"?
Certo. Outro desafio. Mas Seiya não podia responder, com seu avô escutando.
- Por favor, peça para Mitsumasa ir almoçar conosco no Fountainhead. Mas, depois do almoço, sairemos apenas eu e você para escolher aquele diamante especial.
O súbito ataque de riso dela o encantou. A srta. Kido estranha tinha senso de humor. Seiya começou a pensar que ela talvez pudesse ajudá-lo em seu plano, se ele jogasse as cartas certas.
- Na verdade, querido- disse ela -, prefiro esmeraldas.
Ele achou graça.
- Então será esmeralda, querida. Só falei em diamantes porque acho que combina com os brilhos dos seus olhos.
- Certo, sr. Ogawara. Vou consultar meu avô sobre sua sanidade. Se ele me garantir que tudo bem, vou encontrá-lo, e a seu avô, para almoçar. Afinal, negócios são negócios, e detesto perder um cliente. Só que meu avô não nos acompanhará, pois está em sua casa em Kyoto.
- Ah, sim, aquela linda propriedade... Pensei em pedir a ele para nossa lua-de-mel. Você acha que Mitsumasa emprestaria?
- Bem, diamantes e esmeraldas são uma coisa, mas... Casamento e lua-de-mel? Isso está se tornando muito sério para duas pessoas que nunca se viram, não acha?
- Como quiser meu amor.
- Seu avô está escutando essa conversa louca e, por alguma razão, você quer que ele creia que sou sua noiva, por isso minha recusa em almoçar com você lhe causaria problemas, certo?
- Saori, eu sempre disse que foi sua inteligência a primeira coisa que me atraiu.
- O quê? Não foram meus cabelos loiros e olhos verdes? Nem meu cento e vinte quilos de mulher devassa?
Cento e vinte?
- Certo, então, querido. A que horas no Fountainhead?
- A uma e meia.
- Até lá, meu bem.
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June, a secretária de Saori, olhou para ela e franziu o cenho.
- O que significam aqueles cento e vinte quilos?
- Eu falava com um velho conhecido do meu avô. Ele quer que o encontre para o almoço. Vou me divertir um pouco à custa do homem.
- Achei que não gostasse de misturar negócios com diversão.
- E não gosto, mas foi um telefonema muito estranho. Já ouviu falar de Seiya Ogawara?
June ficou boquiaberta.
- Claro! Quem não ouviu? – Meneou a cabeça, incrédula. – Eu a ouvi chamá-lo de querido. Isso parece muito mais diversão do que com negócios.
- Não se iluda.
Saori fez um breve relato da conversa que ouvira de Seiya com Yuri.
June riu muito.
- Então ele chama de inconveniência temporária gerar um filho?- Séria acrescentou: - Saori, você o conhece bem o bastante para chamá-lo de querido?
- Ainda não. Pode verificar a ficha dele, por favor?
- Não há necessidade. Embora tenha sido bem antes de eu vir trabalhar aqui, sei que o sr mitsumasa recolocou profissionalmente no mínimo uma dúzia de mulheres na compnhia de Ogawara nos últimos anos. Quando Neji Ogawara assumiu o lugar do pai como diretor geral, ele veio à Parceiros Perfeitos à procura de mulheres bem educadas com potencial executivo. Três delas estão agora em cargos de diretoria. Isso deve revelar algo sobre a JetCorp. É sólida e séria sobre oportunidades iguais. E isso ocorreu desde que os Ogawaras mais jovens passaram a dirigi-la, começando pelo irmão mais velho, Shiryu, depois Seiya.
Saori arqueou uma sobrancelha, e June continuou:
- A JetCorp possui uma enorme cadeia de hotéis cinco estrelas ao redor do mundo. E inúmeras lojas de departamento internacionais, além de consórcios. Estão em tudo, de agricultura a... Zíperes!
Saori fez a conexão. Passara um fim de semana no hotel Ogawara, em Nápoles. E recordou-se também de um em Paris. Eram mesmo estabelecimentos de alta classe.
Astuta, June sugeriu:
- Se precisar, posso acompanhá-la. Embora a empresa seja antiga, Seiya Ogawara não é.Na realidade, é lindo de morrer. E parte corações com a mesma facilidade com que troca de roupa.
- Rico, bonito... E então se agarra a qualquer voz feminina que por acaso atende ao telefone?
"Humm, isso será um exercício muito interessante..."
- Não está considerando a oferta, está?
- Não sei, June. Um rapaz rico, diamantes, lua-de-mel no chalé do Vovô... Quem resiste?
- O chalé do sr. Mitsumasa? O lugar cheira a mofo!
- Mas é óbvio que o nosso sr. Ogawara não sabe disso. – Ela sorriu. – Apesar de nosso suposto tempo passado juntos lá, muito apaixonados, durante o qual ele me pediu em casamento.
- E você, no caso, aceitou.
- Parece que Seiya quer que o avô acredite nisso.
- Por quê?
- Não tenho a menor idéia. Exceto... – Saori parou para pensar. – Quando o homem mais velho entrou, falou algo sobre um prazo de três meses de Seiya. Talvez ele tivesse esse prazo para achar uma noiva.
- Pode ser. Sei que eles são uma empresa familiar por gerações. Talvez estejam pressionando Seiya a construir uma família.
- Se estiver certa, June, o homem é bem convencido, e agora acha que tem um peixe no anzol. Talvez eu entre na brincadeira um pouquinho.
- O que pretende fazer?
Saori deu de ombros.
- Não sei. Mas posso lhe assegurar que o presunçoso sr. Seiya Ogawara vai desejar nunca ter ligado para a Parceiros Perfeitos em busca de tal arranjo. Será que você consegue alguma foto dele?
June suspirou, aquilo não ia dar certo. Ou será que poderia?
