Fic escrita para um Challenge já terminado. Gostei da idéia do plot e decidi fazer algo por diversão.

PLOT - Hermione Granger como sendo Sonserina. Linha 2: Relacionamento entre Hermione e Malfoy quando crianças.

Itens: Brinquedos/Jogos.

DISCLAIMER: Harry Potter não me pertence, apenas a JK Rowling. Escrevo apenas por diversão.


Hermione Granger – Triângulo Mágico de Rubik.

What do I do to ignore them behind me?
Do I follow my instincts blindly?
Do I hide my pride away from these bad dreams
and give into sad thoughts that are maddening? (COLDPLAY – Easy Beautiful).

Suas narinas se dilataram discretamente quando ela respirou de forma cuidadosa e quase inaudível. Os olhos castanhos encaravam a tranca prateada da porta, esperando por algo acontecer, rezando para algo não acontecer. Suas pernas estavam um pouco separadas e seus pés sobre o vaso sanitário para que os outros não fossem capaz de ver que ela estava ali se acaso olhasse por baixo das portas.

Seus sapatos pretos estavam sujos – o que faziam quase serem marrons – e as meias três quartos estavam dobradas quase até a metade das pernas. Na barra saia preta, como um detalhe quase imperceptível, haviam duas listras que rodeavam a vestimenta. Cores as quais ela não sentia empatia alguma. Não era como o azul elétrico do Sabre de Luz de Luke Skywalker, ou ainda o vermelho escarlate de seu super-herói favorito, ou o amarelo ouro da roupa de Wolverine. Não. Eram duas cores que não combinavam, pelo menos não pra ela. A primeira listra era cinza, fina, bem como a segunda, e ela até gostava de cinza, mas a segunda listra, que completava o detalhe na saia preta do uniforme, lhe dava certo tipo de remorso a cada vez que ela encarava aquela cor. Era verde. Verde esmeralda.

O peito sentia as batidas do pequeno coração contra ele apreensivo. O ombro direito começava a ficar dolorido pelo peso em que a mochila o colocava, mas ela tinha que agüentar. Pelo menos mais alguns minutos. A alça longa, marrom e diagonal pertencente á mochila estava transversal ao seu peito – se é que ela tinha algum, pois ainda tinha 12 anos e estava um pouco longe de começar os sintomas de seios por ali. A mão esquerda segurou a alça marrom com força e mais apreensiva ela mordeu o lábio inferior quando ouviu algumas risadinhas finas perto dali.

'Castor?'

Os olhos castanhos se fecharam com força quando ela escutou aquela voz. Era Pansy Parkinson, a pior de todas.

'Sabemos que está aqui, Castor!' Ouviu de novo aquele nome e seu punho direito se fechou forte, talvez até mais do que ela esperava, e um pequeno ardor começou a acompanhar a unha presa na palma da mão.

'Você não pode se esconder pra sempre!'

Ela adoraria.

Ela tinha vários motivos para querer se esconder para sempre. Talvez eram os mesmos motivos que faziam-nos odiá-la. E havia muitos deles: porque ela era baixa demais, porque ela era chata demais, porque ela tinha os dentes um pouco para frente, porque ela era suja demais. E ela até poderia passar despercebida, mas ela tinha uma mania irritante e incessante. Ela levantava o braço nas salas de aulas. Em todas elas. E aquilo era uma declaração de sua existência. Uma prova de que ela sabia alguma coisa. E justo ela saber alguma coisa era proibido. O problema real era basicamente sua existência e qualquer lembrança de sua existência naquele lugar era um crime.

Ela adoraria se esconder para sempre. Afinal, eles provavelmente a transformariam em um esquilo de verdade. Ou quem sabe raspar sua cabeça e afundá-la na água da descarga. Qualquer coisa que eles inventassem, era um alívio quando acabavam.

Um chute se fez na porta ao seu lado e ela tentou não respirar. Os cabelos castanhos – em algumas mechas- pregavam-se na nuca, na testa e nas laterais da cabeça dando a ela um ar quase de Vandinha. Mas a Vandinha da Família Adams estava do outro lado da porta, chutando com força as portas do banheiro feminino.

Seus dentes trincaram-se e ela fez um murmúrio e ouvindo as falas de 'Te achei!' e 'Esquilinho, vamos brincar' tentou pensar no que poderia fazer. Ela nunca desejou tanto ser como Flash, seu super-herói favorito, e ser tão rápida que poderia atravessar paredes. Ela correria o mais rápido que conseguisse, e com isso ninguém a notaria, e quando chegasse ao Dormitório Feminino, ela poderia dormir em paz. Quem sabe, se ela fosse forte como o Super-Homem, ela poderia usar sua força para quebrar as mãos daquelas pessoas e assim parariam de atormentá-la.

Mas ela não era o Flash. Nem muito menos o Super-Homem. E quando dois braços a seguraram e a puxaram com força, fazendo-a cair do vaso e bater o rosto no chão de pedra do castelo, ela percebeu aquilo.

'Vamos, Granger, urre! Urre como um esquilo de verdade!' Mandou Parkinson segurando com força seu braço direito.

'Ou como um porco! Já que você é tão suja quanto um!' Ela se perguntou se Pansy Parkinson era realmente pior do que Emily Bullstrade.

Aquele era o trato. Se ela imitasse um esquilo ou um porco, elas a deixariam ir. Sem machucá-la como das outras vezes. Hermione não sabia qual o ruído que uma esquilo fazia e então optou pelo porco. E quando Emily Bullstrade puxou um pouco os seus cabelos, ela gritou. Como um porco.

E quando sentiu um chute no seu estômago, ela soltou uma exclamação de dor e teve falta de ar. Seu rosto bateu novamente no chão de pedra sujo e fedorento daquele banheiro e ela se deixou ficar ali, deitada de bruços, com o estômago latejando, os ombros arrítmicos e um gosto de ferrugem na boca.

As duas meninas correram para fora do banheiro feminino, rindo, continuando a chamá-la de esquilo, porco ou algum outro animal ridículo que poderia combinar com ela. Passados alguns segundos, ela tossiu de leve e levantou-se do chão sujo, indo para a frente de um dos espelhos da longa bancada. Ela piscou os olhos quando viu um pouco de sangue escorrer pelo nariz e novamente se perguntou porque seus olhos ficavam escuros quando ela queria chorar. E ela chorou. Como uma garotinha.

Hermione Granger era uma garotinha. Ela só tinha 12 anos e só fazia dois meses que estava em Hogwarts. Ela teria que agüentar mais 6 anos e 8 meses daquilo. Talvez se acostumasse com o passar do tempo e não chorasse mais. Lanterna-Verde não choraria por causa daquilo.

Levantando o rosto, Hermione encheu o peito de ar, ajeitando a torta gravata verde-prata, colocou-a para dentro da veste preta do uniforme de Hogwarts, e encarando mais uma vez o brasão de Serpente com o nome Slytherin, ela deixou escapar mais uma lágrima.

E não importava o quanto ela dissesse a si mesmo que seria a última. Aquelas lágrimas sempre voltavam no dia seguinte. Mais fortes e mais intensas.

Intensamente covarde, Hermione Granger mais uma vez prometeu que aquela seria a última. Apenas por uma pseudo-coragem interior. Coragem que ela não tinha e por isso não estava na Grifinória.

Quando seus olhos voltaram a serem castanhos cor de mel, ela puxou as meias para cima, ajeitando-as, e saiu do banheiro feminino, indo diretamente para o Salão Comunal da Sonserina, pois faria tudo para que não ficasse perto dos outros sonserinos na hora do jantar.

Reconheceu certo garoto de cicatriz na testa ao lado de um menino ruivo com sardas. Haviam se falado no trem de Hogwarts. E uma pequena parte de sua alma queria que eles fossem amigos. Mas eles não eram. Aquele garoto tinha o garoto ruivo como amigo, Hermione Granger não tinha ninguém. Ninguém gosta de esquilos. Ninguém gosta de porcos. Eles fedem a lama.

Hermione piscou os olhos castanhos quando disse a senha para entrar no Salão Comunal da Sonserina e reconheceu Draco Malfoy deitado num dos sofás perto da lareira. Ele era o pior dos sonserinos na visão dela. Parkinson e Bullstrade eram ruins com ela, mas nenhuma delas a deixava mais desapontada e enojada do que aquele garoto tão loiro que Hermione pensou que talvez fosse albino quando o viu pela primeira vez.

Draco Malfoy era o avesso do que ela era. E por isso ele era amado. Ele era alto, dentes perfeitamente brancos e bem postos, poderoso e limpo. Dois garotos gigantescos veneravam Draco Malfoy. Eram Crabbe e Goyle e parecia que aqueles dois estavam no jantar naquela hora.

Hermione franziu a testa quando viu que Draco Malfoy segurava algo desconhecido para ela. Possuía a forma de um triângulo pequeno e era constituído por pequenas pedrinhas coloridas. Na verdade as pedrinhas se distinguiam em três: vermelhas, verdes e azuis. Os olhos azuis do menino pareciam estar inteiramente focados naquele brinquedo e seus dedos rodavam as pedrinhas coloridas aparentemente sem sentido.

'Então está aqui.' Ele disse com a voz esnobada sem tirar os olhos do brinquedo.

'Então está aqui.' Hermione repetiu a estatação do garoto ao mesmo tempo numa tentativa de perguntar porque ele estava ali sozinho e não jantando com os outros sonserinos.

'Quero ficar sozinho.' Seus olhos azuis piscaram quando uma pedrinha ficou ao lado de outra pedrinha azul.

'Quero ficar sozinha.'

'Vai embora então.' Ele afinou a voz dando a clara idéia de que estava mandando.

'Vá você, os incomodados que se retirem.' Toma! Talvez com aquilo ele saísse dali.

'Vá você, estou aqui há muito mais tempo que você!' Hermione tomou a consciência de que eles sempre alfinetariam um ao outro sobre qualquer coisa que eles falassem. E ela pensou por um momento sair dali e subir para o dormitório feminino. Mas se ela fosse, não estaria ela fazendo o que disse? Como sempre faz com todos os sonserinos? Obedecendo para que eles não a machuquem? 'O que é isso?' Ela perguntou curiosa notando a concentração do garoto loiro em colocar quatro pedrinhas azuis alinhadamente.

Um sorriso desdenhoso se fez no rosto pálido do menino. 'Você não sabe de nada, não é?'

'Sou a melhor aluna do nosso ano em Hogwarts.' Ela frizou com a voz fina. Ela tinha que frizar aquilo. Embora soubesse que era mais uma prova de sua existência. Mais um crime hediondo.

'Você não sabe de nada, não é?' Ele repetiu ignorando o recente comentário da castanha. 'Você é apenas um esquilo imundo...'

Hermione sentiu o coração se contorcer dentro do peito ao ouvir aquilo de novo. 'Eu não sou um esquilo imundo!'.

'Você tem sangue de lama. Como um porco. Nós comemos porcos no almoço lá em casa. Sua família deve criá-los, não é?'

'Se vocês comem porcos, são vocês que devem criá-los, não nós.' Ela repeliu a exclamação dele pensando porque a família dela cuidaria de porcos se eles nem os comiam.

'Mas você fede como um. Para feder como um porco, você deve ao menos ter um em casa.'

As unhas ruídas e curtas machucaram a palma da mão esquerda de Hermione. Por quê? Porque eles insistiam em dizer aquelas coisas imundas para ela? O que ela tinha feito?

'Se você sabe o quanto um porco fede, é você que deve ter um em casa.'

'Não temos porcos lá em casa.'

'Então como podem comê-los no almoço?' Hermione indagou franzindo a testa. Malfoy piscou os olhos azuis discretamente e não respondeu. O que deu a Hermione um singelo sentimento de vitória. Novamente, ela ficou intrigada com o que ele tinha nas mãos. 'O que é isso?'

'Isso é um Triângulo Mágico de Rubik.' Respondeu Malfoy sem alteração no tom de voz. Quando ele percebeu que não conseguiria juntar mais pedrinhas azuis, todas as pedrinhas coloridas do brinquedo se inverteram e Malfoy soltou uma exclamação de raiva quando viu que deveria começar tudo de novo.

'É algum tipo de Quebra-Cabeça?' Ela perguntou curiosa dando alguns passos á frente de onde estava. Draco levantou os ombros e ela soube que ele quis dizer sim. 'O que tem que fazer?'

'Precisa fazer três triângulos com as pedrinhas coloridas. Cada triângulo deverá conter apenas uma cor. O primeiro triângulo é o menor, está no meio, o segundo é um pouco maior e o terceiro é esse da ponta. Quando se chega a um ponto em que não é possível fazer os três triângulos, as pedrinhas mudam de posição magicamente e você deve começar tudo de novo.' E isso era irritante.

'Você já conseguiu alguma vez?' Ela perguntou curiosíssima com o tal brinquedo. Lembrou a Hermione o cubo mágico que ela tinha em casa. Conseguia montar aquilo em menos de quinze minutos.

'Naturalmente.' Ele respondeu tentando parecer firme. Na verdade ele nunca havia conseguido, mas ele não queria parecer idiota na frente daquela garota de sangue imundo.

Naturalmente. Nenhuma criança de 11 anos fala essa palavra. Isso deu a Hermione a percepção de que Draco Malfoy era servido de uma educação avançada e privilegiada, rica de vocabulários difíceis e que era comum entre conversas de adultos. Talvez por isso Parkinson, Bullstrade, Crabbe e Goyle veneravam Malfoy. Ele era rico e de alta postura social.

'Se já conseguiu antes porque ainda acha difícil?' Ela perguntou não entendendo a dificuldade do garoto loiro em montar aquilo.

'As pedrinhas estão sempre mudando.'

'Mas ela mudam apenas quando não se há mais maneiras de fazer os triângulos. E se já conseguiu uma vez, poderia conseguir outras vezes. É a mesma lógica.'

'Tenta você então já que é a mais inteligente daqui.' Ele exclamou irritado jogando o brinquedo em cima da mesinha de madeira á frente da lareira. Hermione respirou fundo mais uma vez, sentou-se sobre o chão gelado de pedra do castelo e fez menção para pegar o brinquedo mágico com ambas as mãos. 'NÃO!' Ela se assustou quando ele gritou de repente levantando-se do sofá preto. 'Você não vai tocar no meu brinquedo!'

'Mas você disse que eu poderia tentar...'

'Você não pode! É meu brinquedo! E não empresto pra você!'

'Você é o garoto mais rico desta escola, não pode comprar outro?' Ela perguntou piscando os olhos castanhos. Ainda tinha as mãos sobre a mesa de madeira, mas não encostadas no joguete mágico do sonserino.

'Por que gastaria dinheiro comprando um brinquedo que já tenho?'

'Porque ai você teria dois!' Ela falou como se fosse óbvio. Draco piscou os olhos azuis e pareceu pensar por um instante. Não parecia ruim ter dois brinquedos iguais. Poderia fazer inveja a Zabini.

'Você consegue montar?' Ele perguntou curioso piscando os olhos claros. Hermione levantou os ombros sem jeito. 'Uma vez. Você só pode tentar uma vez.'

'Isso não é muito justo.' Ela tentou rebater.

'O brinquedo é meu e eu digo quantas vezes você pode usar!'.

'Mas eu poderia conseguir de segunda. E aí você poderia dizer que foi você quem montou...' Draco mais uma vez se viu fazendo inveja a Blaise Zabini.

'Certo, pode tentar por hoje á noite.' Draco sentou-se sobre o sofá e observou a garota imunda mexer em seu brinquedo. Ele fez uma careta e pensou que realmente valeria a pena comprar outro. Talvez desse aquele para alguém, talvez Parkinson, embora Parkinson provavelmente tiraria as pedrinhas coloridas para fazer jóias. Malfoy viu os cabelos castanhos da menina se grudarem em alguns pontos da testa e os olhos cor de mel ficarem mais escuros. Ela estava tão concentrada naquele brinquedo que se alguém a assustasse por trás, ela iria até o teto e voltava com medo. Quando ele viu duas pedrinhas verdes se alinharem no triângulo do meio, ele decidiu ir embora. 'Amanhã você me devolve.'

Draco subiu as escadas de dois em dois degraus. Ao chegar em frente á porta do dormitório ele parou de repente, esperando por alguma resposta dela. Mas nada veio. E então ele entrou no quarto, já se despindo do uniforme escolar e deitando na cama só de cueca. Iria dormir e se Deus quisesse, ele não precisaria falar com a Esquilo novamente. Ela não montaria aquilo em uma noite. Sua mãe demorou dias e dias. E certamente aquela garota não era mais inteligente que sua mãe.

Hermione por um momento se esqueceu de sua própria existência. Ali sentada sobre o chão frio da Sonserina, no escuro da noite, montando um triângulo mágico fez com que ela voltasse inconscientemente para casa. Para sua casa. No mundo Trouxa e no mundo em que ela sentia verdadeiramente como o Flash e o Super-Homem. E naquele mundo, ninguém a atormentava. Ninguém a vencia.

Muito menos um estúpido Triângulo Mágico de Rubik.