O mundo era branco.
Todas as cores em todas as matizes, misturadas, homogêneas num perfeito tom do mais puro branco. Branco. Paz. Eu devo estar delirando.
Alguma coisa me puxa bruscamente para a realidade. Alguém está chorando. Parece um garoto. Não consigo vê-lo, então não tenho muita certeza. Para ser franca, não sinto certeza de nada. Eu não sei aonde estou. Não sei nem mesmo quem eu sou. Duvido até de que esteja viva.
Me levanto e examino o lugar ao meu redor. Parece uma igreja antiga e colossal. Torres e mais torres de objetos e mais objetos, empilhados até o teto alto e abobadado. Ouço um pássaro. Há um grande armário. Parece mágico. Estou louca? É, acho que sim. Pouco importa. Me aproximo do armário, e acho que o pássaro está lá dentro. Mas alguém continua chorando. Agora posso vê-lo. É, sim, um garoto, alto e pálido, com os cabelos louros claríssimos. Ele me olha - seus olhos cor de tempestade parecem hipnóticos, mas no momento estão inchados e vermelhos. Fixou-os em mim.
- Charlie... - ele diz, com a voz rouca e quebrada. - Charlie, eu... eu... Charlie. Me desculpe.
