Os Quatro Elementos

Parte I - Da Construção de Hogwarts ao Chapéu Seletor

Eram quatro amigos, quatro bruxos extremamente poderosos. Duas mulheres, dois homens. Diferentes entre si como os quatro elementos, mas vivendo, como estes, em completa harmonia.

E eles tinham idéias avançadas para a época. Educação para jovens? Meninos e meninas juntos? Impossível! Mas esses quatro amigos pensavam que poderia ser possível sim e, mais que isso, provável.

Juntos, procuraram por um bom lugar para abrigar o templo do saber que todos queriam... acabaram por encontrar um belo local, distante dos trouxas e perto o suficiente do único povoado totalmente bruxo da Grã-Bretanha: Hogsmeade.

Trabalhavam incansavelmente, às escondidas. Um ritmo lento, afinal eram apenas quatro pessoas e não queriam chamar a atenção dos demais. Fizeram, unidos, uma proteção mágica para o local escolhido. Era um trabalho cansativo, mas gratificante.

E, assim, o tempo passou... As folhas douradas do outono dando lugar à frieza do inverno que, por sua vez, deixava a neve derretida banhar as flores da primavera. Foi nessa primavera que a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts ficou pronta. Os quatro amigos já tinham o local, o material... faltava pouco para decidir e, ao que tudo indicava, a escola seria aberta em setembro.

Mas foi quando tudo parecia pronto que as dúvidas surgiram. Discussões começaram, calmas e exaltadas. A união daqueles bruxos brilhantes se abalava enquanto Hogwarts estava na iminência de abrir. Ironia do destino, pois era um desejo do grupo a abertura da escola.

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Estavam em meados de julho quando mandaram correspondências para algumas famílias bruxas, convidando seus filhos para ingressar à nova escola. Inicialmente, decidiram por mandar cartas apenas aos bruxos puros, da mais distinta ancestralidade. Os dias passaram e as discussões aumentaram... a desarmonia surgindo entre aqueles queridos amigos.

Estranho era observar que, enquanto três dos bruxos estavam entretidos numa discussão aparentemente interminável, uma pequena bruxa loira sorria, alheia a tudo. Parecia estar contente e agradavelmente esquecida de seus companheiros de fundação, mas ela observava os outros falando. Ela sorria porque seu desejo havia sido realizado e nada mais parecia importar. A loira não se importava que o homem forte de cabelos castanhos estava com o rosto vermelho de tanto nervoso... muito menos que o elegante moreno, o mais velho dos quatro, parecia fuzilá-lo com os olhos. O que a fazia pensar era a expressão da ruiva, sempre metida em seus próprios pensamentos, mas que nesse dia em especial resolvera expô-los aos companheiros.

Foi nesse momento que a pequena bruxa riu. Um riso espontâneo que, em outras ocasiões, teria feito os amigos rirem também. Dessa vez nenhum deles riu, somente a encararam. Foi o moreno de aparência elegante que começou a falar.

- Não vai compartilhar conosco o motivo para tanto riso, Hufflepuff?

A loira corou, piscou os belos olhos verdes e se dirigiu ao moreno. – Ora, Slytherin... estou feliz que finalmente conseguimos o que queríamos. Estamos unidos para educar jovens bruxos, numa escola que nós criamos... isso é maravilhoso!

Ouvindo isso, a ruiva sorriu. Era evidente que ela andara discutindo, os cabelos soltaram-se do sempre elegante coque baixo que Rowena fazia. – Sim Helga, é maravilhoso. Mas Salazar está certo... Precisamos discutir a qualidade dos alunos antes de abrirmos.

- Acho que deveríamos aceitar todos os que estão dispostos a aprender, não importando se são sangues-puros, mestiços ou nascidos trouxas... – Era o homem forte que falava; podia-se ver o quanto ele estava furioso com aquela discussão, o rosto profundamente vermelho.

Salazar Slytherin encarava o outro homem. Levantou-se e olhou para os colegas, dando uma leve tossidela para chamar a atenção. – Em Hogwarts ensinaremos só os da mais pura ancestralidade.

A ruiva lançou um olhar frio ao homem, ele podia se sentir gelar com o brilho azulado dos olhos de Rowena. – Ensinaremos os de inegável inteligência. – Falava encarando Salazar – Pois ter sangue puro não garante inteligência, meu caro...

Com essa afirmação, Helga voltou a rir. Godric a encarou com um sorriso no rosto, adorava quando Rowena discordava de Salazar. Ele esperou um pouco para ver se o amigo responderia algo mas, como o mesmo ficou quieto, achou que era hora da sua declaração. - Ensinaremos os de nomes ilustres por grandes feitos. – Voltou a sorrir, exibindo os belos dentes brancos perfeitamente alinhados.

Helga o encarou chateada. Não imaginava que Godric, seu querido Godric, também quisesse fazer distinção entre os alunos. – Pois eu ensinarei a todos e os tratarei com igualdade.

Salazar ria com sarcasmo da afirmação da loira. - Todos, Hufflepuff? Em outras palavras: você ensinará o resto. Os que não se capacitaram o bastante para ser ensinados por mim, Godric e Rowena.

- Entenda minha afirmação como quiser, Slytherin.

- Então será assim? Dividiremos os alunos entre nós?

- Sim Rowena, que problema há nisso? – Podia-se notar um sorriso sincero nos lábios de Salazar. Estranho como esses sorrisos só eram dirigidos à Rowena Ravenclaw.

- O problema é que seria difícil "selecioná-los".

- E por quê? – Godric não entendia a razão das dúvidas de Rowena.

- É que cada um de nós preza diferentes qualidades. Para saber quais alunos condizem com nossas preferências teríamos que entrevistar um a um. Sem contar que o melhor seria saber o que passa pela mente de cada um deles...

- Considerando o uso de Legilimens, Rowena? – Helga parecia animada diante dessa perspectiva.

- Sim, querida. Mas seria melhor fazer algo mais... sutil. Sem que um de nós precisasse aplicar o legilimens em cada aluno.

- Hmmm... entendo. O que você quer, minha cara, é "alguém" imparcial que selecione os alunos por nós?

- Isso mesmo, Salazar. Seria melhor que nós não nos envolvêssemos na seleção.

Gryffindor olhava de um para outro com sorriso maroto. Tirou seu chapéu e o colocou no centro da mesa, à vista de todos. – Pois então seria bom deixar meu chapéu de selecionador! – Começou a rir da própria piada, Helga o acompanhando e Salazar fazendo uma imensa careta ao amigo.

Mas Rowena observava o chapéu e mexia os lábios sem emitir som. Ficou nisso um bom tempo até que os outros três percebessem o que estava ocorrendo e passassem a encarar a ruiva com ar de dúvida.

Rowena percebeu o olhar inquisitivo dos colegas e sorriu, pronta a esclarecer tudo. – Bem... o chapéu de Godric poderia sim selecionar os alunos por nós. – Os três bruxos a olhavam com surpresa, Rowena deveria estar louca! Um chapéu selecionar alunos? Nunca! – Só precisaríamos dotá-lo de inteligência para isso... um feitiço simples.

Godric, que estava rindo até momentos atrás, soltou uma estrondosa gargalhada. – Simples, Rowena?! Você está falando em dar inteligência a um objeto inanimado. Como isso pode ser simples?

Slytherin fechou os brilhantes olhos cinzas e suspirou, como se quisesse permanecer calmo. – Não é porque você acha um feitiço desses algo complicado que todos devem concordar. – Sorriu triunfante. Godric era um bom amigo, mas sempre gostara de discordar dele – E todos aqui sabemos da capacidade de Rowena com feitiços, além de outras coisas... – Um olhar nitidamente malicioso passou a encarar Rowena, que corou levemente.

Helga, percebendo o desconforto da amiga, começou a falar. – Então estamos combinados. Rowena vai deixar o chapéu do Godric inteligente para que ele possa selecionar os alunos. Enquanto isso nós três poderíamos tratar dos últimos detalhes para abrir Hogwarts. – soltou um suspiro e ergueu a taça que estava à sua frente. – À abertura de Hogwarts!

- À abertura de Hogwarts! – os outros três responderam em uníssono e brindaram, bebendo de suas taças.


1/5 - 17/04/2008

Nota: esta fic foi publicada originalmente em minha antiga conta, "Amanda Poirot"