Como você fora parar ali? Uma grande gosma gelatinosa parecia ter substituído seu cérebro, deixando-o lento e burro. Só sabia que estava em uma festa com seus pais e, por conta de alguma coisa que mal se lembrava, agora estava ali com essa menina estranha.
Envergonhado, você coçou a nuca, os olhos voltados para baixo. As palmas das suas mão começaram a suar e você as limpou furtivamente na blusa. A garota parecia esperar alguma coisa. Mas, para sua grande satisfação, também parecia nervosa, quase ansiosa, com...a coisa toda.
Pessoas fazem isso o tempo todo. Sirius já fez isso e disse gostar, portanto, não deve ser ruim e nem difícil. Você tentava, em vão, tranqüilizar-se.
A menina, da qual, hoje em dia, você nem lembra o nome (de qualquer modo, era Christy, e ela e a mãe foram assassinadas por um Comensal da Morte), sorriu levemente e deu um passo quase imperceptível para frente. Você conseguia captar cada detalhe daquele rostinho de onze anos a sua frente (e tinha certeza de que ela fazia o mesmo com o seu).
Podia ver, em volta da boca molhada de chá, os granulados de açúcar dos doces que estava comendo, assim como a mancha de chocolate na blusa amarela. Podia ver a covinha minúscula no queixo que tremia. Os olhos que, de perto, eram cor-de-mel, e não castanho-escuros. Um arranhão já cicatrizado ao lado do nariz arrebitado.
(Será que ela via que você tinha uma sobrancelha mais fina do que a outra? Que achava muito feio seu nariz comprido demais? E aquela espinha na testa? Ela o abandonaria ali se percebesse que seus dentes da frente eram levemente separados?)
"Você nunca...?"
A voz dela, depois de tanto tempo de silêncio, pareceu estranhamente aguda e deslocada. Você acenou com a cabeça. É claro que não.
"E você?", sua voz saiu rouca pela falta de uso. Pigarreou.
Um risinho e bochechas coradas.
"Uma vez, no verão."
Silêncio. Tudo a sua volta parecia dizer para você que era hora de agir e que não perdesse tempo, antes que fosse tarde demais. Com uma das mãos, segurou a da garota e, com a outra, sua cintura. Foi se aproximando, devagar, ainda incerto sobre o que fazer. Podia sentir o cheiro de leite condensado nela. Suas pálpebras, inconscientemente, foram se fechando. Parecia mais apropriado sentir do que ver.
Finalmente, depois de vinte e sete minutos esperando (ou assim lhe pareceu), seus lábios se encontraram. Os seus estavam meio ressecados, mas os dela, completamente macios. Sentiu a língua quente pressionando sua boca, delicadamente, e, porque lhe parecia mais adequado, cedeu passagem. Era um simples instinto natural, como você veio a descobrir mais tarde. Depois de alguns acertos e erros infantis, vocês se separaram.
Vocês ficaram se encarando. Era uma coisa da qual você tinha medo. O que fazer depois de tudo terminado? Uma pergunta (foi bom para você?) pareceria estranhamente deslocada agora? Ela sanou essa dúvida para você, sorrindo. Então, deu um beijo na sua testa, e saiu correndo, fazendo seus cachos pularem, toda risonha, como se nada tivesse acontecido. Provavelmente, ela contaria para todas as amiguinhas dela como você beijava mal.
Mesmo assim, você, James Potter, decidiu que o melhor cheiro do mundo, na sua opinião, era leite condensado com chá.
(mas mudou essa decisão muitos beijos e anos mais tarde, quando Lily Evans e seu cheiro de flores roubaram seu coração numa tarde de outono)
# Nota: As 500 palavras mais suadas da minha vida, hahahahaah. Pro Projeto Just James, da seção JL, do 6v. Utilizado o item 3 - Primeiro beijo.
