Can't Be Tamed (by Mistress Alice)

1. Noção.

"... E continuei lendo, até que o dia tivesse terminado. E me sentei com o remorso de todas as coisas que não havia feito... Por todas as coisas que abençoei, e por todas em que errei, irei vagar até a minha morte durante os meus sonhos".

Traduzi, mentalmente enquanto ouvia a música.

Quando estou sem nada para fazer, gosto de deitar na minha cama, no meu quarto quente com o aquecedor ligado e praticar os idiomas que tenho experiência e assim, posso ter um aprendizado melhor quando tenho alguma missão ao redor do mundo. Além do quê, gosto de estudar através da música. Alemão por exemplo. Moramos em Munique, mas nossa pronúncia é completamente diferente do Alemão dito em Berlin ou Frankfurt. Italiano também é assim...

Itália. Pandora pretende me mandar para lá daqui algumas semanas e assim, e estou ferrado. Faz mais de dois anos que não viajo para lá, e o meu domínio pela língua caiu um pouco. E é assim os clientes falam a língua-mãe, e eles não irão admitir que eu fale qualquer outra coisa a não ser italiano. E talvez eu deva procurar o Caronte. Acho que ele poderá me ajudar, nem que for só para indicar algum livro útil que tenha na biblioteca.

Fiquei no dilema em levantar ou não da cama. Até porque eu havia combinado de sair com uns amigos, e eu deveria começar a me arrumar, ou algo do gênero. Mas para quem está solteiro e muito afim de não passar a noite só na cama, eu tinha que ficar completamente impecável para a balada de hoje.

Só imaginei quem iria. Um bando de homens, bonitos, e eu pensando em pegar alguém que eu nem conheça em um lugar cheio de gente bêbada. Embora não pareça tão má idéia... E tem dessa, eu não curto sair com alguém que eu não conheça, e debaixo de efeito de álcool e drogas.

Para dizer a verdade, não estou de olho em ninguém aqui dentro. Mulheres maravilhosas, as poucas que tem, e homens de dar inveja a pessoas comuns que não nos conhecem. Ou que até nos conhecem, mas não se aproximam. E para ser ainda mais verdadeiro, só sei que eu queria alguém.

Existe momentos que nos fazem querer ter alguém para rir, amar, chorar, enfim, alguém para se viver junto. Mas aí a pergunta, quem iria querer partilhar alguma coisa comigo? Sou um belo partido, e segundo o que costumam falar por aí de mim, um bom partido até demais... Que não chegam perto.

Não mordo. A não ser que peçam.

Não é me gabar, mas nem sempre, ser homem e bonito quer dizer apenas coisas boas. Mas enfim, um dia alguém olha para mim e vê mais que um rosto e um corpo bonito. Não sou feito só disso. E sei que se continuar pensando nisso, não levanto nunca daqui.

Deixei a música rolando no meu player e fui para o banho.

Não costumo demorar, a não ser que a minha mente fértil faça com que eu pense em alguém ou na minha solidão deprimente que anda me incomodando demais.

Saí, enquanto eu pegava a minha toalha e me sequei o suficiente para poder voltar ao meu quarto sem dar banho nele também. Não me incomodava em ficar pelado, e não pelo fato de estar sozinho ali, mas talvez eu fosse confiante demais com o meu corpo e não me importava exibi-lo.

E enquanto eu me trocava, entraram no meu quarto, sem bater. Olhei para a porta, pronto para dar uma bronca, aí, sorri.

-Perfeita forma física, hein, irmãozão? – Ele disse, dando risada enquanto se aproximava.

-Que coisa, achei que fosse um tarado entrando, Wimber. Mas bem, dá no mesmo. – Tentei ser cínico, ou irônico, mas percebi que fui apenas debochado com ele.

-Tarado é você que fica se expondo desse jeito. – Ele se aproximou de mim e me deu um beijo no rosto. Acho que ele é o única que realmente me suporta. – Então, vai com a gente hoje?

-Sim, eu vou, mas naquelas.

-Tem muitos que vão e não gostam de mim, mas ainda assim combinamos essa noite. É sexta, precisamos disso. – Ele colocou as mãos nos bolsos, não tinha gostado de ouvir o que eu falei. – E também que se dane, a maioria vai se embebedar e não vão se lembrar no fim de semana que conversaram com a gente.

Suspirei. Ainda assim, me incomodava.

-Acho que sei o que mais incomoda você nessas reuniões. – Ele teve um tom e um sorriso, ambos maliciosos. Típico de quando ele me lia através das minhas atitudes.

-Ah é? – Desafiei. – Quero ver. Se acertar...

-Quero um beijo. – Sorrimos, consenti com a cabeça e deixei-o continuar. – Incomoda não se dar bem alguns, pois anda atrás de um namorado. Ou namorada... E prefere que seja conhecido seu. Acertei?

Puta que pariu, odeio esse Morcego.

-Wimber, te desprezo. – E ele gargalhou vitorioso. – Aí lhe dei um selinho de má vontade.

-Acho tão fofo quando você fica puto comigo. E acho ainda mais fofo meu irmão querer namorar. – Ele apertou as minhas bochechas e ainda rindo da minha cara.

-Wimbeer... – O olhei, inexpressivo.

-Quem é o Fiodor-fofo-do-papai?

-Wimbeeer. – Estava doendo, adorava quando ele me tratava assim, mas já estava sendo demais.

-Fiodor, não sei o que eu faria sem você. – Eu sorri. Não sei se eu merecia um melhor amigo como ele. Especial demais.

-Sua vida seria uma droga! – Pus a mão no peito dele e o afastei, rindo. – Vá! Vou me vestir e me arrumar

Ele ria bastante e foi se afastando.

-Vergonha do quê, menino? – Dando passos para trás, ele foi saindo do meu quarto.

-Estou pelado, viu seu tarado!

Ele gargalhou ainda mais, e eu o observei fechando a porta.

~/~

-Isso está desconcertante. – Olhei Wimber ao chegarmos na garagem.

-Convivemos há mais de séculos e acha que agora é desconcertante? – Conversávamos quase em sussurro. A garagem estava cheia e senti olhares em cima de mim.

-Lembre-se que não faz anos que estou no Castelo. Minha vida era no Inferno e lá não rola social.

-Não se martirize Fiodor, deixe a noite te levar. – Ele sorriu para mim e então me puxou para irmos ao carro dele.

Conosco, e pelo que cabia no carro, iria Flégias e Pharaó também, o que me fez sentir mais relaxado e bastante tranqüilo, já que eram dois dos poucos que me suportavam, e ainda queriam ser meus amigos.

-Achei que você iria com o Miles. – Comecei a conversar, depois de ter colocado o cinto. Olhei pelo retrovisor, afim de olhar Flégias enquanto eu comentava.

-Eu não cabia no carro. – Ele deu um sorrisinho que não me convenceu.

-Ele não dispensou você logo hoje, não é mesmo? – Ergui uma sobrancelha, virando um pouco o rosto para olhá-lo.

-Não, não foi isso. Ao menos nós dois não temos nada do que reclamar da nossa relação. – Ele olhava pela janela, distraído. Então parei de falar, pensando nele e no Miles.

-Pharaó, achei que o Gordon ia levar você. Ou achei que ia reclamar pelo meu convite. – Agora foi a vez de o Wimber falar.

-Nem que ele quisesse. Gordon vai mais tarde. – Senti um tom de frustração. – Tinha que terminar um trabalho do Radamanthys. Eu quis ficar e esperar, mas ele não deixou, quis que eu guardasse um lugar para ele quando eu chegasse.

-Huuum, alguém está apaixonado. – Falei, rindo travesso pelo tom triste na voz dele. E os outros dois riram comigo.

-Parem de rir! E apaixonado nada. Somos só amigos.

-... Que transam... Sabe, adoro esse gênero de amizade. – Impagável a ironia do Flégias.

-Não fala nada que você e o Miles compartilham da mesma amizade, garotão.

Continuei rindo pela discussão saudável. Acabei olhando no retrovisor novamente e meu olhar encontrou com o de Lycaon. Ele já não ria mais, porém me mostrou um sorriso malicioso e refleti o que significaria. Não senti que era pela brincadeira ali.

-Wimber só rindo. E você anda pegando quem, adorável Morcego? – Pharaó sempre curioso.

-Eu? Ninguém, oras. – O vi segurar ainda mais firme o volante, e dar um sorriso muito malicioso também, mas acho que só eu percebi. Então o olhei.

-O que não anda me contando, maninho?

-Vocês não estão tentando pegar no meu pé, certo?

-Estamos.

-Gostei.

-Amigos são para isso. Agora diz, quem é o pobre coitado que tem que acordar na cadeira de rodas no dia seguinte? – As risadas de antes viraram gargalhadas ali dentro, Lycaon conseguia ser sutil de uma forma incompreensível.

-Ou melhor, quem são, né Flégias. – Eu achava que eu não prestava. E aí notei o sorriso dele ficar ainda mais malicioso.

-O Iwan e o Niobe... – Eu ri quando ele falou, pois lembrei que eu sabia. Mas os outros ficaram chocados.

-Wimber de caso com eles dois? A gente você não pega, né? – Não evitei abrir a boca para fazer uma piadinha.

-Que declaração na sua cara, Wimber!

-Um sabe do outro, não é? – O egípcio não prestava, e sei que ele gostou da idéia. Principalmente se ouvisse que os três já transaram juntos.

-Flégias, mais tarde eu sacio o seu ego. – Olhou para ele pelo retrovisor e vi piscar sensualmente. – Esfinge, eles sabem melhor do que eu que há três numa relação só.

-Esse é o meu Morcego. – Eu sorri depois de ouvir isso.

-Fiodor, quais os seus planos hoje? – Lycaon aproveitou o assunto.

-Nossa, nem faço idéia. Acho que vou só beber.

-Duvido. – Wimber começou, assim que terminei. – E vocês sabem que ele está à procura de alguém especial?

-Wimbeer, me deixa. – Só não aperte as minhas bochechas. E os dois atrás riram. Sabia que era uma idéia ridícula, mas não tanto, fiquei até um pouco constrangido.

-Que gracinha! – Pharaó se divertida com a minha cara da forma que ria.

-Serei solidário, sei como é, caro Fiodor. – Flégias colocou uma mão em meu ombro.

-Quer o Miles como namorado é? – Indaguei, tentando entrar na brincadeira.

-Ah! Seu chato! – Ele me soltou e eu fiquei rindo.

-Sabe quando o Flégias vai sossegar e ser fiel? Nunca! – Novamente, olhei para trás quando Esfinge falava e vi ele levar um tapa do colega do lado.

-Você fala nada, Pharaó-apaixonado-pelo-Gordon. – E então Esfinge emburrou. E eu caí na risada.

Acabei notando o caminho que Wimber tomava para ir até a boate, e vi que o carro em que estava Gregory, Chesire, e mais alguém se colocou na nossa frente.

-Achei que você sabia onde era.

-Até sei, mas juro que não sei chegar lá. – Ele falou frustrado.

-Quem está com o Chesire e o Gregory naquele carro? – Ainda estava curioso.

-Acho que o Laimi, ou a Verônica, não me recordo.

-Gêmeos. Você olha para o Laimi e ele é igualmente loira e gostosa. Olhá-los é jogar "Ache Os 7 Erros".

-Flégias deveria ser comediante, não Espectro. Cheio de graça.

-Você sabe que ele nasceu gozado, não é?

Disfarcei uma risada. Será que aqueles três não falam nada sério? Amei isso.

-E respondendo, é o Laimi, Fiodor. A Verônica não vinha conosco. E no carro do Gregory ela não entraria.

-É nessas horas que seria péssimo ser hetero. A única mulher não vai. – Flégias riu, e eu fiz o mesmo.

-Mas por quê? – Perguntei.

-Sabe que eu não sei? Já ouvi dizer que foi uma ficada que não deu certo. Outros falam que ele não vai com a cara dela.

Fiquei um tanto surpreso sobre a primeira hipótese. Nunca me passou pela cabeça de ver os dois juntos. Aliás, acho que nunca vi.

-Ele anda se encontrando com alguém, bom, além dela se levarmos em consideração? – Wimber me olhou.

-De olho no garoto, é? – Senti certo ciúme, ele nem sorriu, nem riu, tinha certo descaso na expressão.

-Não, é que pouco o vejo... Estava viajando?

-Acho que não... Anda a tira colo com o Gatinho.

-Me desculpem, mas aquele Chesire é fedelho para qualquer um, sério. Cara, a Verônica é quase um quilômetro maior que ele! Onde já se viu um homem daquele?

-A Verônica? – Ouvi uma risadinha.

-O Chesire, sua anta. E não falem assim dela, se não fosse tão difícil...

-Você gosta de loiras, não é, Fiodor? – Flégias se interessou na conversa.

-Loiras como a Verônica não vejo porque recusar.

-Como ela? Concordo que ela é linda e tudo mais, mas aquela jeitinho esnobe é meio irritante.

-Pandora é igual e ninguém liga para isso... – Era fato.

-E outra, seria só sexo. Não é? – Wimber olhou para mim, enquanto eu me ajeitava no banco para poder olhá-los melhor. – Ou ao menos começaria assim.

-Sim, à princípio falo disso apenas. Agora, se for alisá-la mais profundamente... – Ri pelos termos que usei. – Seria outra história. Nasu gosta de homens que lhe dê luxo. Agora digam, olha só para nós, que luxo a gente pode dar para ela?

-Ou ela que quer demais. – Nisso, não pude discordar do egípcio. – Gosto muito dela, é uma ótima companhia, mas diga-se de passagem que ela é bastante esnobe. Até a própria Pandora... Em um lugar que o que não falta é homem de todos os gêneros, raças, religiões, países e tudo mais, que mulher hetero não iria ficar em um salto ainda maior do que já usa para poder aparecer?

-Pharaó entende de mulher... – Estava começando a me divertir com as risadinhas maliciosas do Flégias. – Mas sério, é isso mesmo que eu quis dizer. Principalmente mulher mimada por dinheiro. Não sei da vida sexual dela, não vem ao caso, mas com certeza ela banca a mulher difícil para os caras que se interessarem correrem atrás dela. Seja homem bi, hetero ou gay.

-Isso para mim chama-se garota de programa, de luxo. – Dei um tapinha no braço do Wimber. – Mas é, Fiodor. E como se você não soubesse, já pagou por muita mulher por aí que eu sei, bem. E todas em estilo Verônica.

Ele não podia falar de mim, dentro daquele Castelo muitos já usaram do dinheiro para... luxo sexual, e o Wimber era um deles.

-Fiodor tem tanta queda assim por ela?

-Flégias, foram outros verões... – Ele riu.

-Só falta dizer que já pagou por travesti. – Não respondi e o silêncio reinou dentro daquele carro. Pelos segundos seguintes, senti dois, ou até três pares de olhos em cima de mim.

Achei que rolariam piadas a rodo, mas estendeu quase minuto e ninguém falou nada. Agora, eu comecei a corar.

-É sério... Fiodor? – Ele continuou.

-Olha, eu sei que vocês querem rir, o façam de uma vez, está bem? – Não olhei para ninguém, mas o pigarro que Wimber deu, entregou todo mundo.

E enfim, porque fui autorizar risadas? Não faltou muito para eu perceber Flégias chorando de tanto que ria. Suspirei, rezando para que chegássemos logo, e fiquei quieto.

-Ai, Zeus, me desculpe, Fiodor... Mas jamais achei que eu fosse rir tanto... Você estava bêbado, só pode. – Bufei, já não estava achando graça mais.

-Achei que tinha sido da vez que eu paguei um. Era aniversário do Fiodor... Mas vi que ele gostou da idéia.

-Wimber. – Falei entre os dentes.

-Foi mais de uma vez? – Pharaó já não falava mais. E Flégias... Bom... E juro que senti uma facada no peito ao ver o meu irmão rir tanto do meu constrangimento, também.

Por que ainda não chegamos à boate mesmo?

~/~

Saí do carro batendo a porta, irritado e deixando-os ainda rir, depois de quase cinco minutos. Ah, e claro, as piadas que eu temia aconteceram e também os deixei conversando e caminhei até a fila da porta para poder entrar, nem que fosse sozinho mesmo.

Enquanto eu esperava, percebi que o trio do carro da frente vinha se aproximando de onde eu estava. Eu não possuía tanta intimidade nenhum deles, então permaneci na minha, até para ignorar eventuais fofocas do que aconteceu naquele carro.

-Ela tinha dito para mim que viria. O que a fez mudar de idéia tão rápido?

-Disse que você não a convidou. – Não era certo ouvi a conversa dos outros. Mas ou eu escutava duas garotas falando sobre maquiagem ou ouvia o que o trio tinha a falar atrás de mim. E eu estava sem fazer nada, portanto...

-Ela que esperasse convite de outra pessoa, nem somos amigos! – Gregory parecia irritado.

-Já passou pela sua cabeça que ela pode estar gostando de você, seu tonto? – Não hesitei em olhá-los por um momento, de quem falavam? E notei que Gembu ficou tenso.

-Laimi, olha os absurdos.

-Não vejo porque não...

-Vocês dois estão contra mim, certo?

Naquele momento, eu e o Gregory parecíamos iguais.

-Não entendemos de mulheres, mas acho que ela tentava uma brecha para poder sair com você.

Era sobre a Verônica? Estava completamente boiando naquele assunto, por isso não é certo ouvir a conversa dos outros. E nisso, tentei desviar a atenção e ouvi-o bufar.

-Podemos mudar de assunto, Laimi e Chesire? – Gregory tinha um ponto fraco. Se fosse essa Nasu mesmo, só me deixou ainda mais curioso. Merda.

Dei um suspiro, sentindo-me mais relaxado ao ver a não longa fila da entrada da boate se movimentar. Mas esse alívio durou poucos segundos, quando meus amigos vieram até mim.

-Obrigado por guardar lugar para nós. – Falou Wimber. Eu permaneci sério. – Gregory e os amigos dele que estavam atrás de mim.

-Vai, fala sério, Fiodor! Ficou de bico por causa do travesti? Tenho certeza que outros espectros fizeram coisas piores... – Para a minha alegria extrema, o trio que eu ouvia a conversa riu, e agora eu tive certeza que era de mim.

Puta merda.

-Flégias, espalha para o Castelo inteiro. – Olhei para ele, já bastante incomodado e vi que ele percebeu que foi longe, acabou ficando quieto.

-Tudo bem, irei ver se o Miles precisa de companhia. – Ele me lançou um olhar de desafio, um olhar estranho da mesma forma que no carro, quando sorriu malicioso. Algo eu não captava, mas ainda assim, dei de ombros.

-Você sabe como ele é, estava só brincando, poxa. – Meu irmão colocou a mão no meu ombro, tentando me consolar com toda aquela brincadeira.

-E você sabia o quanto esse assunto me incomodava quando contei e quando você fez aquela surpresa no que deveria ser a minha festa.

-Depois você se diz anti-social. Quando aparece um momento tranqüilo, você vira a cara. Deveria ser menos rabugento, irmãozinho. – Ele me olhou sério e me apertou o ombro, então ergui as duas sobrancelhas e desviei o olhar para o egípcio que estava ali, mas não prestando atenção, acho que estava impaciente por não ver Minotauro ali.

~/~

Mantive meu silêncio até o meu grupo e o do Gregory entrar na boate. Como um lugar comum do gênero estava com muita gente e eu, desengonçado para variar. Já havia ido à várias baladas, mas não o suficiente para eu dizer que estava em casa.

Wimber puxou à mim e ao Pharaó para uma das raras mesas vazias e nos fez sentar.

-Vão beber o quê? – Ele perguntou, sem sentar, e olhei para o egípcio.

-Aceito vodka, e você, Fiodor?

-Ah, o mesmo. – Sorri, levemente enquanto via Wimber se afastar.

-Que tédio sem o Gordon aqui.

-Valeu! – Senti que a minha noite prometia, para pior.

-Não! Fiodor, não falo da sua companhia, por favor. – Ele riu baixo, dando um tapinha na minha mão. – Você sabe que eu adoro a sua companhia.

-Nem chegou e já quer transar? – Ri.

-É óbvio. – Ele riu também, mas respondeu na mesma inocência de uma criança ao perguntarem se ela queria chocolate, ou algum doce qualquer.

A risada ainda permaneceu por mais alguns segundos e ao olhar em volta de nós, notei alguns colegas se sentando por ali também, e em uma mesa ao lado da nossa, Chesire, Laimi e Gregory se sentaram, voltando a ter um clima amigável entre eles. Ao menos, Gregory falava enquanto sorria.

Fiquei distraído com a música. Eletrônica, até gostava, mas aquela eu não conhecia. E então, Wimber colocou as três bebidas em cima da mesa, e logo peguei a minha. Enquanto eu bebia, procurei com meus olhos por Flégias, sentindo um pouco de frustração pelo clima que ficou, mas não o encontrei.

Não só fui tomado pela frustração, mas também pelo desconforto e pela dúvida.

Eu deveria estar ali, já me divertindo, mas também me perguntava que porra eu fazia ali dentro. E pelos meus últimos desejos, observar as pessoas em volta rindo, algumas se beijando e outras em carinho me incomodaram tanto quanto o meu sentimento de encontrar alguém tão perdido como eu nesse mundo.

Meus dois amigos ficaram ali de conversa, e eu novamente distraído. Vi Laimi se levantar e ir para o meio da multidão, observei Kiew se levantar com um copo de bebida na mão e fazer alguma gracinha para os amigos ali em volta, ele ria, parecia estar se divertindo, ou já estava ficando bêbado.

Olhei novamente para Wimber, para a mesa e depois olhei Gregory. Estava, na teoria, de costas para mim, mas seu corpo estava virado de lado, um braço em cima do encosto da cadeira e de frente para o Gato. Prestei mais um pouco de atenção e percebi o ruivinho jogando certo charme para cima do amigo.

Não sei por que, mas me senti desconfortável com aquilo. Será pela vontade de ter alguém jogando charme para cima de mim? E outra, eu estava sendo ignorado naquela mesa.

-Com licença. – Ouvi Pharaó falar, e nisso já tentava passar pelas minhas pernas para sair da mesa. O olhei, querendo saber porque a pressa, mas a resposta apareceu automaticamente quando o segui com os olhos e vi Gordon surgir perto dos grupos.

-Que necessidade. – Tomei mais um gole da bebida quando Wimber comentou, mas fiquei quieto.

Comecei a sentir tédio, certeza que Wimber se levantaria e iria dançar, ele é louco por baladas, boates, lugares pequenos e cheios de gente. E bom, a cada segundo o tédio começou a ser pior principalmente depois de olhar Chesire, e o ver ao beijos com Gembu.

E me senti incomodado novamente e sem explicação. E novamente me perguntei o que eu fazia ali.

~/~

Notas da autora.

Prometi que escreveria algo semelhante à Para Sempre, Ou Nunca. E dessa vez, seria outro ponto de vista.

Digo que não tem nada a ver com aquela, são histórias distintas, mas quis usar a mesma visão dos personagens nessa, algo um pouco diferente das que tinha escrito e novamente, de capítulos.

Já aviso que, possivelmente, essa se torne mais longa por capítulo/completa. Mas como sempre, veremos o que pode sair daí.

Como de costume, pontos musicais nos contos. No começo a música traduzida pelos pensamentos dele, em itálico são dois trechos de Like A Stone do Audioslave. Nos títulos: Can't Be Tamed (Não Pode Ser Domada (o)) da Miley Cyrus e Notion (Noção) do Kings Of Leon.

E sim, foi um dilema colocar em Inglês ou Português o título, mas como não costumo deixar em outro idioma a não ser Alemão, é bom variar. E com o decorrer da história, irão entender que o idioma não irá mudar o sentido da música em relação ao protagonista. E será usada novamente.

Espero que gostem dessa nova, até o suficiente para ter paciência e a ler até o final.