Notas: História escrita para a Quinzena Sailor Moon, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.

A história se inspirou na primeira temporada do anime, adaptando também algumas informações do mangá, como a questão dos shitennou, mas não garanto que estejam usadas corretamente. Esta é minha segunda fic com os nomes originais... Estou muito mais acostumada com as versões brasileiras, então, desculpa pelos erros e pela estranheza que talvez tenha ficado impressa nas frases. Também, como decidi não usar honoríficos, os apelidos fofinhos "Mamo-chan" e "Usako" acabaram sem graça (Mamo e Usa). Acho que não foi uma boa pedida eliminá-los, né? E bem, como estava escrevendo em português, decidi não pôr as pessoas se chamando pelo sobrenome, ou se chamando com o sobrenome na frente do nome como muitas vezes aconteceria no Japão, outra má ideia que acabou me deixando desconfortável, rs. Enfim, é um modo experimental de escrever que não deu muito certo. Sejam pacientes comigo... orz


Parte 1 – A Nova Vida

O cheiro de ferrugem mexeu com suas narinas e causou-lhe enjoo. Até aquele momento, tudo havia sido um sonho, mas a ânsia de vômito era real. Usagi olhou para o que estava em seus braços e sentiu vontade de gritar até perder a voz; mas todo seu corpo estava dolorido, cansado. Seus movimentos eram lentos. Era como se sua mente fosse duas: uma parte histérica e uma letárgica.

Usagi pulou sentada em sua cama.

Estivera sonhando. Tinha certeza de que tudo, exceto o enjoo, havia sido um sonho. Agora, notava que as lágrimas também haviam sido reais. Olhou para os braços que, até havia pouco, seguravam o corpo de um jovem. Um homem. Não lembrava muito bem seu rosto, nem mesmo por que ele havia morrido em seu sonho, mas sabia que era alguém a quem a moça não via fazia bastante tempo.

Levantou-se da cama e começou a se arrumar. Precisava tirar do corpo a sensação ruim que aquele sonho lhe deixara; principalmente, quando tinha a sensação de que já o havia tido noutras vezes. Foi quando olhou para o relógio e notou que ainda faltava meia hora para sua hora de despertar.

Ela deu de ombros e voltou à rotina matinal, até estar pronta para descer e tomar o café da manhã. Sentia-se exausta demais mesmo para dormir.

Cumprimentou Ikuko no andar de baixo e ajudou a pôr a mesa.

- Seu pai ligou, disse que chegou bem em Osaka, - disse a mãe, terminando de mexer a sopa.

- Bem, ele sempre chega. – Usagi deu de ombros, beliscando o ovo frito já à mesa. – Desde que você e o Shingo voltaram pra cá pra Tóquio, ele vem todo fim de semana. – Virou os olhos.

- Por que será que sinto uma ponta de ciúmes? Eu sei que você se divertia enquanto isso lá em Osaka. Não dê uma de menor abandonada em casa... – Ikuko lhe sorriu, pondo uma tigela de sopa para a filha mais velha.

- Pode deixar, estou feliz por estar de volta a Tóquio. – Usagi também sorriu.

Após os três terminarem, Usagi juntou suas coisas e o potinho preparado pela mãe com seu almoço para, em seguida, ajeitar o cabelo no espelho. Havia apenas um ano que entrara para aquele emprego, não podia se dar ao luxo de ser dispensada ainda no estágio probatório. Mas deu língua para seu reflexo, precisava relaxar sua tensão em algum momento.

- Já estou indo! – gritou para Ikuko, calçando o sapato na saída.

- Espere, filha. O jantar hoje à noite. Não se esqueça dele.

- Sei, sei... Como saio tarde hoje, irei direto do serviço. Não se preocupe!

- Pra garantir, vou enviar o endereço do restaurante pro seu celular... – Ikuko pegou desajeitada o aparelho pessoal e já estava digitando quando a filha se despediu novamente antes de sair.


Usagi olhou distraída para a revista que a amiga folheava, cheia de fotos de doces coloridos e suculentos. Queria ser boa cozinheira, mas nunca conseguira aprender nada apesar dos dons que sua mãe possuía.

- Vou fazer este no final de semana! – Makoto apontou para um profiterole de chá verde. – Trago alguns na segunda-feira.

Makoto Kino havia entrado para aquela empresa no mesmo dia que Usagi, mas parecia ser o oposto desta. Era alta, esportiva e acima de tudo ótima cozinheira. Ao mesmo tempo em que era difícil não admirá-la, as mulheres pareciam invejá-la demais para serem suas amigas; enquanto os homens a temiam por sua altura e não se aproximavam muito. Por essa razão, não foi uma tarefa muito competida quando Usagi decidira fazer daquela moça sua melhor amiga. E lucrava bastante com aquilo, já que todo dia a comida que Makoto trazia era deliciosa e todo início de semana havia um doce interessante à sua espera.

Interesses à parte, fora um alívio ter com quem conversar logo que entrara na empresa. Mesmo sendo de Tóquio, Usagi passara parte da vida na região oeste do país, razão pela qual até seu vocabulário e entonação das palavras estavam um pouco diferentes nos primeiros meses. Assim, a moça temia um pouco ser ridicularizada ou qualquer coisa do tipo. Se bem que viera parar numa excelente firma; seu departamento não era muito grande, mas todos eram amigos e a ajudaram muito.

- Você tá bem distraída hoje, hein? – perguntou Makoto, após pôr um papel adesivo na página com a receita.

Usagi estava pronta para lembrá-la sobre o jantar quando a porta da pequena salinha de reuniões em que estavam se abriu.

- Aí estão vocês! – Era o chefe do departamento, Shin Saitou, um homem mais velho com quem Usagi se dava muito bem, apesar de ser um intelectual introspectivo algumas vezes.

- Algum problema, chefe? – perguntou Makoto.

- Vocês tão esperando aquela encomenda, né?

As duas assentiram.

- Por que não vamos tomar um café? Abriu um lugar novo logo ali embaixo do prédio. É por minha conta.

Ambas se olharam e deram de ombros: não importava o quão estranho fosse o convite, ainda era comida grátis. Ao menos, era esse o recado que ela passou telepaticamente à amiga.

O local era um restaurante com um ambiente de café que Usagi lembrava haver visto inaugurar fazia menos de um mês, mas nunca visitara. Ainda que agora fosse uma adulta de quase vinte e quatro anos, café não estava entre suas bebidas favoritas e sempre achara um desperdício almoçar em lugares assim. Preferia salvar seu salário para roupas, revistas em quadrinho e jogos. Ela também queria guardar algo para viajar no feriado prolongado de maio, mas do jeito que suas economias estavam indo, só se fosse para a Disney japonesa, logo do lado de Tóquio. Para voltar no mesmo dia, claro. E aproveitando uma daquelas promoções de entrar mais tarde.

- Sejam bem-vindos! – alguém gritou assim que ouviu a porta abrir para o grupo.

O cheiro de doce atacou o estômago de Usagi, já vazio após mais de quatro horas desde que almoçara. Sempre considerara Shin Saitou algo como um rapaz muito seu amigo a quem ela sempre tratara como um irmão mais velho, Motoki. Mas, diferente deste, Shin era seu superior e, pior, os dois não estavam num salão de jogos como o em que Motoki trabalhava quando o conhecera. Era um pouco frustrante não poder escolher todos os bolos da loja, como faria com Motoki.

Assim que se sentou de frente para Shin, sentiu o cotovelo de Makoto bater em sua cintura. Ao olhar para a mulher a seu lado, o sinal fora bastante óbvio.

- Então, logo a encomenda vai chegar, né? Vão direto pra casa depois. – Shin forçou um assunto.

Mas já era tarde demais, pois seus olhares o haviam traído, fixos em uma loira que limpava as mesas do outro lado do restaurante. Para a confusão do homem, ambas começaram a rir da situação.

- Ah, Usagi – Makoto disse após fazerem seus pedidos. – Vai ter uma reuniãozinha neste sábado com um pessoal, vamos conhecer uns garotos, vai ser bem divertido. Vamos?

Usagi sentiu algo no peito. Todas as vezes em que Makoto se lembrara de lhe chamar para coisas assim, ela estava em Osaka visitando o pai. Não foram muitas, apenas recentemente. Por isso, desta vez que estava livre, não havia como não ficar animada.

- Ih, você tem o tal do cara, né? – Lembrou a outra. – Que seus pais tão te apresentando.

- Um encontro arranjado? – interrompeu Shin.

- Mais importante que isso! –Não fazia ideia de se estaria errado ir ao encontro em grupo ou não. Então, Usagi fugiu do assunto: – Qual é a dessa garota? – E virou o rosto para a loira.

Após dar um pulo no assento, Shin corrigiu a postura e limpou a garganta.

- Que garota?

Usagi sentiu Makoto a seu lado rir da reação evasiva do superior.


O espelho refletia Makoto, enquanto esta refazia seu penteado para algo mais arrumado. Agora que Usagi se via, não importava o quanto retocasse a maquiagem, não se sentia arrumada para o restaurante onde seus pais marcaram seu encontro.

- Vamos, Usa. Esse cara deve ser um almofadinha que não vale a cara feia que você tá fazendo pra si mesma.

- É só que...

- Bem, pela foto que te mandaram, não dá pra saber nada.

Usagi riu com a lembrança de quando vira a foto do pretendente. Nunca experimentara nada como um casamento arranjado. Nenhuma amiga sua encontrara o namorado assim, nem mesmo pela internet; por isso, ansiara pela chegada dos documentos do homem que seus pais lhe arranjaram. Até que, ao ver a foto, Usagi tivera um choque.

A mesma estava como uma imagem parcialmente corrompida de computador e acompanhada por um bilhete de desculpas feito pela mãe do rapaz e amiga de Ikuko. Aparentemente, ela não encontrara nada com apenas ele em seus arquivos e, quando tentara imprimir o que tinha, aquela havia sido a melhor cópia. Ikuko já havia respondido por telefone que estava tudo bem, que aparências não importavam; então, Usagi teria que ver o homem pela primeira vez naquela noite. Ao menos, os pais dela sequer enviaram uma foto decente e sim uma 3x4 usada na época de sua busca por emprego com seu pior cabelo e rosto irreconhecível. Uma foto que não era dela, em conclusão.

- Mas repito o que já te disse quando sua mãe começou com a ideia de te arrumar pretendente. – Makoto havia terminado o penteado e agora se apoiava no mármore do banheiro da empresa. – Quando foi seu último encontro?

Usagi riu, aquele fora o golpe final da amiga para convencê-la antes.

- Acho que em algum goukon na faculdade.

- Goukon só é encontro se você de fato encontrar alguém lá, Usa.

- Poxa, Mako, isso já é bullying. Vai me chamar de encalhada de novo? – Fato que havia ocorrido na primeira conversa sobre o encontro arranjado.

- Ninguém vai te obrigar a se casar com ele nesse miai, é só o que eu tô falando. Vocês nem vão tá com os pais dele do lado, né? Aí seria mais tenso dizer não depois de ver a cara dos velhinhos tremendo de medo de morrer sem neto, ha ha.

Então, a jovem suspirou concordando com a amiga. Quando aceitara o pretendente arranjado pelos pais, não havia parado para pensar em como realmente tudo funcionava.

Começou a se lembrar da conversa com Ikuko, uns dez dias antes. Ao ouvir o que a mãe lhe sugerira, Usagi ficara vermelha num misto de vergonha e raiva. Certo que ela era uma encalhada, mas estava nova demais para até sua mãe se preocupar com isso.

"É uma amiga minha de Quioto, aquela que trabalha num hospital. E o filho dela está com quase trinta, mas só trabalha, nunca arruma namorada. Como nos gostamos muito mesmo agora que moramos longe, achamos que ia ser bem legal ver os nossos dois juntos. Afinal, Usagi, quando foi a última vez que você me trouxe um garoto aqui?"

Usagi ficara boquiaberta com a nova insinuação sobre seu... estado social.

"Com a sua idade eu já tinha você e me preparava para o Shingo," continuara Ikuko. "Garanto que o rapaz é bonito, de ótima família e que ganha muito bem."

"Beleza não é tudo se ele não estiver comigo quando eu precisar." Usagi virou os olhos.

"É de tanto esperar esse príncipe encantado que a bela adormecida aqui vai ficar toda enrugada. E precisando da mãe pra arrumar marido!"

Mais um golpe bastante doloroso.

Ikuko tomara ar e pusera firme sua mão na mesa. Ela havia vencido nesse instante.

Um apito de seu celular despertou Usagi daquelas lembranças. Era exatamente Motoki Furuhata, o irmão mais velho que Usagi não tinha.

- Esse sim é um desperdício de homem - comentou Makoto ao ver o nome na tela do celular da amiga.

- Um desperdício de homem casado, não esqueça - respondeu com um riso, mas ocultou a mensagem da amiga. Em sua opinião, nem sempre o que aquele homem lhe mandava era para sequer ser lido pela própria Usagi. Após ver o conteúdo, inspirou fundo e anunciou: – Bem, hora de eu ir. Deseje-me sorte!

Continuará...