A Herança dos Anjos

AUTOR: eu mesma

BETA: sem beta

DATA: outubro de 2009

FANDOM: Supernatural

PARES: Dean/Maria

NOTA1: O universo de Sobrenatural infelizmente não é meu, se o fosse eu estaria mais que feliz por ficar tão perto de JA e JP...rs... Não ganho dinheiro com isso, ganho apenas diversão e se vc achar q eu mereço algum pagamento pela história, faça isso em forma de review.

CONTÉM SPOILERS DA 5ª TEMPORADA

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Parte I

- Que horas são? – perguntou Sam, sentando-se na cama e esfregando os olhos como se acordasse de uma ressaca e tanto.

Não, ele não se lembrava de haver bebido nada além de água ou umas duas cervejas no caminho. No entanto sua cabeça latejava e o menor ruído parecia uma tempestade em seus ouvidos.

- Quase duas, - respondeu Dean – quer comer? Tem umas batatas e um sanduíche no criado-mudo.

O mais novo dos Winchester reparou que Dean já estava vestido, com a mochila pronta e se ocupava em limpar uma das armas sem ao mesmo se dar conta do que fazia. Era tudo automático, enquanto não tirava os olhos da janela.

Sam vestiu a camiseta cinza, pegou seu blusão de moletom e calçou os tênis. Havia dormido de calça jeans como nas últimas duas semanas. Deveriam estar sempre preparados para fugir de algum perigo ou para caçar o que quer fosse sempre que Castiel ligasse.

Em 10 dias eles já haviam caçado mais criaturas do que em todos os 5 anos que estavam juntos. Sam ainda sentia o olhar desconfiado de Dean sempre que algum demônio sangrava perto deles, mas ele estava determinado a não se abalar mais com aquela desconfiança. De certa forma, ele concordava com o irmão. Fazia um esforço sobre-humano para poder resistir, e apesar da dor de cabeça que sentia sempre após as batalhas, só o fato de olhar para o irmão e ver que ele voltava a esboçar um sorriso de satisfação e "quase orgulho" dele, já era recompensa suficiente.

Ao voltar do banheiro, já com o rosto lavado e os dentes escovados, Sam notou que até suas coisas estavam arrumadas. Alguma coisa havia acontecido enquanto ele dormia para que Dean se preocupasse em arrumar todas as coisas do irmão, inclusive o notebook.

- Vai me dizer o que está havendo? – perguntou.

- Cass. – foi a única coisa que Dean respondeu.

- O que tem Cass?

- Ligou de madrugada, dizendo que tem algo "especial" para a gente.

- Por que não me acordou?

- Porque não sabia exatamente a hora em que ele chegaria. E você estava...

O mais velho contraiu a boca, como se estivesse constrangido em falar alguma coisa.

- Eu estava o quê, Dean? Anda, fala.

- Deixa pra lá.

- Ah não! Não vamos começar com isso de esconder as coisas um do outro de novo. Por favor!

- Ok! Você estava "dormindo bem", era isso que eu ia dizer.

Sam abriu a boca, meio incrédulo. O que ele queria dizer com "dormindo bem"? Vendo a expressão do irmão, Dean achou melhor continuar:

- Faz meses, Sam, meses que você não dorme bem. Quero dizer, seus pesadelos, tremores, conversas... Você fala dormindo, grita como se alguma coisa estivesse te queimando por dentro.

Havia alguma angustia na voz de Dean enquanto ele falava. Seu rosto não demonstrava qualquer expressão, mas Sam podia sentir na respiração do outro o quanto ele estava preocupado e cansado.

- Você nunca disse nada.

- E ia adiantar alguma coisa? Eu cheguei a te sacudir, joguei água em seu rosto, até água benta eu tentei lhe dar, mas nessas crises você nunca acordava. Hoje foi a primeira vez que você dormiu. De verdade.

O mais novo mordeu o lábio inferior sem saber o que dizer. Passou as mãos pelos cabelos e tornou a sentar na cama. Depois de alguns minutos, disse:

- Obrigado! Por me deixar dormir. Digo... Eu nem sabia mais como gostava disso.

O momento seria constrangedor para ambos se o celular de Dean não tivesse tocado. Ele deixou a arma sobre a mesinha e atendeu.

- Quarto 17. Isso. É só bater conforme o combinado.

Ele mal fechou o aparelho e três batidas ritmadas ecoaram pelo quarto. Dean fez um sinal para Sam, levantou apressado e destrancou a porta, enquanto o irmão se posicionava já com a faca preparada para atacar.

- Pode abaixar essa faca, Sam. E você Dean deve saber que sou o único a ter esse novo número do seu celular. Agora vamos. – falou Castiel, mais determinado do que de costume.

- Para onde? – perguntaram os dois ao mesmo tempo.

Eles se olharam admirados e sem conter um ar de satisfação. Há tempo não falavam junto. Talvez aquilo fosse um sinal de que as coisas entre eles estavam novamente entrando nos eixos?

- Encontrei uma maneira de salvar Sam.

Dois segundos foi o bastante para se refazerem do choque e correr atrás de Castiel que já estava dentro do Impala.

- Você poderia ao menos me deixar destrancar a porta antes de se teletransportar pra dentro do meu carro? – disse Dean irônico.

- Você se prende a formalidades, Dean. Não temos tempo para isso.

- Ok, vocês dois, discutam essa relação depois. O que você falou, Cass, sobre me salvar. O que isso significa?

- Você não contou a ele, Dean?

Um silêncio denso tomou conta do veículo, enquanto Sam esperava a resposta do irmão.

- Eu não contei porque fiz diferente. Agi diferente. Foi o que aprendi com aquele passeio estúpido.

- Posso saber do que vocês estão falando? – Sam começava a se irritar.

- Se vamos fazer isso juntos, é preciso que haja verdade. Se ainda existir um resquício de mentira ou desconfiança, não vou conseguir fazer o que precisa ser feito.

- Está bem! – retrucou Dean a voz já alterada – Eu vi, Sam, no futuro. Você aceita Lúcifer. Você aceita ser O Vaso dele.

O rapaz passou as mãos pelo cabelo num claro sinal de nervosismo.

-E ainda tem mais...

- Mais? Mais do que ser o potinho do diabo? Mais do que saber que em algum momento eu simplesmente resolvo...

- Você me mata. – interrompeu Dean sem tirar os olhos da estrada.

Sam sentiu que um imenso buraco se formava em seu estômago e uma onda de frio percorreu suas veias com uma velocidade impressionante.

- Como assim?...

- Não você, eu quero dizer... Lúcifer, no seu corpo... Ele me mata.

- Quando? – perguntou em voz baixa.

- Daqui 5 anos.

Ninguém falou mais nada. Sam encostou a testa no vidro da janela e ficou observando a chuva. O mau tempo havia se tornado constante desde que ele trouxe Lúcifer de volta do inferno.

De repente, começou a rir. Uma risada alta, incessante, como se alguém lhe houvesse contado a melhor piada do século e não existisse nada de ruim acontecendo pela Terra. Dean tentou não rir, mas era difícil resistir ao som das gargalhadas do irmão. Há quanto tempo eles não riam juntos? Ele já tinha perdido a conta.

- Vamos, divida a piada – pediu.

- É que... isso é tudo tão irônico. Digo, eu morri uma vez. E você vendeu sua alma pra me ver vivo. Então, você morre e eu tento todas as formas possíveis de te ressuscitar. E no final das contas o plano é um acabar com a vida do outro.

Não havia nada de engraçado naquilo. Mas de alguma forma, encarar as coisas daquele jeito os fazia rir. E sem que eles percebessem, pela primeira vez, Castiel também sorriu.

Já estavam próximos à interestadual quando Dean se lembrou de perguntar para onde iriam, afinal de contas.

- Novo México. Para uma cidade chamada Las Cruces.

- Muito sugestivo! – brincou Dean e Sam riu novamente.

- O que vamos fazer lá? – perguntou Sam.

- Vamos encontrar uma pessoa. Alguém por quem eu andei procurando toda minha vida.

Foram quase 11 horas de estrada até que chegassem em Las Cruces. A cidade não parecia devastada por demônios ou tempestades, como outros locais do país. As pessoas pela rua não demonstravam pânico ou desconfiança e se não fossem os jornais e revistas a venda com as manchetes das tragédias no mundo todo, eles poderiam jurar que tinham voltado no tempo. Eles entraram numa lanchonete simples e fizeram seus pedidos.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou Dean.

- A questão não é exatamente esta, Dean. A pergunta certa é: o que NÃO está acontecendo aqui. Por alguma razão, o mal não consegue penetrar as fronteiras desta cidade.

- Isso significa... é... Você disse que veio procurar alguém aqui... então, nós finalmente temos uma pista concreta sobre... sobre Deus? – Sam não conseguia acreditar que finalmente estavam perto d'Ele. E que Ele havia escolhido aquele lugarejo pra se esconder.

Mas sua empolgação durou pouco.

- Não. Não viemos atrás de Deus. Estamos atrás de uma moça, uma mulher, chamada Maria.

Dean, que havia acabado de morder um grande pedaço de seu cheeseburguer com bacon extra, chegou a engasgar.

- Maria? – perguntou limpando a boca com a manga da blusa de flanela – Maria? Você quer dizer "aquela Maria"?

- Não. Você acha que alguém pode viver 2000 anos? Não seja ridículo.

O mais velho dos Winchester não gostou ser chamado de ridículo, mas ficou quieto. Terminou o lanche, pagou a garçonete e saíram dali. Trataram rapidamente de encontrar um motel barato e discreto.

Quando estavam devidamente alojados, sentaram novamente para traçar um plano de ação para chegarem até Maria.

- Cass, você sabe ao menos o sobrenome dela? – perguntou Dean.

- Não.

- O que você sabe?

- Que ela se chama Maria e vive em Las Cruces.

- Anh... ok. Então não temos absolutamente nada. – constatou Dean – Se levarmos em conta que esta cidade tem mais de 70 mil habitantes, acho que vai ser fácil encontrá-la.

Ele já estava respirando fundo e balançando a cabeça em visível sinal de irritação, quando Sam perguntou:

- Você sabe ao menos se ela é velha, nova, alguma coisa do tipo?

- Ela tem exatamente 22 anos, 4 meses e 12 dias de vida. – respondeu Castiel como se a informação não fosse tão importante assim.

- E onde ela nasceu, Cass?

- Aqui. Sempre esteve aqui.

- Perfeito! Agora temos que limitar as buscas no banco de dados do governo e ver as pessoas nascidas nesta época que atendem pelo nome de Maria.

Sam ligou o notebook e em poucos instantes já havia invadido o banco de dados e esperava a resposta do servidor ao filtro de pesquisa usado. Ele tamborilava os dedos sobre a mesinha de vidro no centro do quarto enquanto Dean permanecia quieto.

- Bingo! – gritou o mais novo – Maria dos Anjos García. Anote o nome e vamos procurar o endereço.

Menos de uma hora depois, o Chevy Impala estacionava diante de uma residência sóbria na Rua dos Passos, no subúrbio. A casa, de madeira pintada de branco, tinha um jardim bem cuidado na frente, repleto de miosótis. Uma cadeira de balanço na varanda e uma bicicleta vermelha encostada no corrimão da escada montavam a típica cena das casas de família nos Estados Unidos.

- O que fazemos agora? – perguntou Sam.

- Descemos e nos apresentamos para ela. – afirmou Castiel.

- Claro, Mister Sutileza, vamos chegar no meio da noite e dizer: "oi Maria, eu sou o Vaso do Miguel, meu irmão é o vaso do Lúcifer e esse aqui é Castiel, nosso anjo da guarda! A propósito, ele foi despedido depois de um motim no céu!" Se ela não desmaiar ou chamar a polícia, o mínimo que vai fazer é rir na nossa cara.

- O que sugere? – quis saber Sam, que também achava imprudente essa mania de Castiel acreditar que a verdade podia resolver qualquer assunto.

- Bem eu...

Mas ele não teve tempo de responder. Castiel já havia descido do carro e estava, neste momento, tocando a campainha da casa. Eles correram atrás do anjo, praguejando contra ele e tentando pensar em como contornar a situação.

Assim que o alcançaram, a porta se abriu uma jovem bonita, de pele morena, cabelos muito negros e quase encaracolados, surgiu diante deles. Vestia uma calça larga verde musgo e uma blusa de alça fina branca com a imagem de Nossa Senhora do Rosário na frente.

Os dois irmãos abriram a boca para falar alguma coisa, mas parecia ser impossível formular qualquer frase. Não que a jovem ali fosse de uma beleza estonteante, mas havia algo em volta dela, quase como uma aura magnética que os impedia de pensar.

- Pois não? – perguntou com a voz mais comum do mundo. E só então eles notaram um detalhe que destoava de todo o conjunto: ela usava óculos escuros mesmo em casa. – Quem está aí? – tornou a perguntar.

- Maria? – disse Castiel com um tom de voz que beirava o respeitoso.

- Sim, esse é o meu nome. E o seu?

- Sou Castiel e vim só para lhe ver.

Sem entender o que se passava, os dois irmãos ainda em estado de choque notaram que ela abriu um sorriso, como se aquelas palavras do anjo fizessem com que se tornassem imediatamente "amigos de infância". Ela fez com que eles entrassem em sua casa e indicou um sofá.

- Não vão se apresentar? – perguntou sorrindo na direção dos rapazes.

- Oh, é. Desculpe – pediu Dean bastante embaraçado – Eu sou Erick Cooper e este é meu amigo Phillip Cornell.

- Cornell? Igual Chris Cornell? Legal! – disse ela rindo – Agora, que tal se vocês me dissessem seus nomes de verdade? Vocês sabem o meu nome e estão dentro da minha casa. Seria o mínimo que podem me oferecer pela hospitalidade, não acham?

Ela parecia divertida com a situação o que deixou os dois rapazes ainda mais encabulados. Como ela podia saber que eles estavam mentindo? Talvez Castiel tenha lhe falado sobre eles.

- Oi, eu sou Sam e ele é Dean, meu irmão.

- Agora sim, Sam, Dean, Castiel. O que querem de mim? Algo me diz que vocês não vieram atrás dos meus belos olhos.

Os três trocaram um olhar significativo, mas nenhum deles teve coragem de falar. Nem mesmo Castiel conseguiu dizer o que viera fazer ali.

- Tudo bem. Não precisam falar nada agora. Eu sinto que vocês não estão em condições. O lugar de onde vem, o que vem passando, isso realmente mina as energias de qualquer um. Fiquem aqui por um ou dois dias. Depois vão estar refeitos para a batalha.

- Não queremos...

- Incomodar? Não se preocupem. Não será nenhum incomodo. Amanhã vocês podem pegar suas coisas no motel. Mas por hora, vocês precisam de um lanche, um banho e uma noite de sono numa cama de verdade. Isso serve pra você também, Castiel. Suas asas também precisam de descanso em tempos de guerra.

Sem falar mais nada, ela pegou uma pequena bengala e foi caminhando pela casa até chegar à escada e com um sinal fez com que eles a seguissem.