O Cárcere
(desafio proposto por Mounna)
Pedra, fria e estéril, arranhada dia-a-dia até perder-se a conta de quanto tempo passado na clausura. Não a minha, na verdade: já estava assim quando cheguei, testemunhando o sofrimento dos pobres coitados antes de mim. Também há nomes, orações, frases, datas, e estranhamente a letra A repetida em trios, várias vezes. Paredes cobertas de lembretes desesperados daqueles que não queriam esquecer os momentos felizes que os dementadores passam o tempo todo querendo nos roubar.
Uma cela que poderia ser uma caverna em um edifício que poderia ser uma rocha, que poderia não ser nada, e que nada é pra quem está lá fora. Às vezes o é silencio completo, noutras ouve-se nitidamente os gritos dos mais loucos e dos mais recentes. Porque ninguém grita muito por muito tempo, ao menos enquanto ainda estiver são. Somente as ondas continuam batendo contra as pedras, sempre batendo, sempre as triturando em areia fina, seu som filtrando-se por entre minhas grades, impregnando minha mente, entorpecendo meus sentidos... É um som que jamais poderei esquecer. Como viver dentro de uma concha oca.
Deito-me imóvel na cama – também de pedra – sentindo o tempo passar. Quanto tempo eu não sei. Meses e anos somam-se, confundem-se, até eu ter dificuldades em reconhecer a mim mesmo. Sobrou muito pouco de quem eu era antes. Só resta a dor da perda que me trouxe até aqui, calado, manso, moribundo de sofrimento.
Eu durmo e acordo, como e defeco, leio um livro emprestado pelo carcereiro pelo que poderia ser a décima terceira vez. Talvez eu esteja morto e não tenha me dado conta disso. Estar vivo não faria sentido algum, não quando tantos outros melhores que eu morreram por nada.
A fraca luz que vem do corredor indica se é dia ou noite, e com um pouco menos de precisão, qual a lua que deve brilhar lá fora. Ah, o que eu não daria por uma janela!
Um dia em especial amanhece mais agitado. Aurores, homens do Ministério, até mesmo Cornelius Fudge com seu ar de superioridade condescendente, como se eu lhe devesse um imenso favor somente por ainda estar respirando, à custa do seu governo. Com eles vem o acaso e deixa em minhas mãos um jornal.
Diante meus olhos a imagem de Judas sob as manchetes, prova incontestável da sua traição e da minha inocência. Em preto e branco vejo o rato sujo que matou meus melhores amigos, o homem vil que hei de matar. Só consigo conter o ódio vislumbrando a promessa de consumar o crime pelo qual estive pagando por tanto, tanto tempo.
O destino se manifestou enfim, mostrando-me um motivo pra ter sobrevivido por tanto tempo: vingança.
n/a: Há um personagem escondido nessa fic, do qual deixo apenas uma boa pista. Cabe a ti, caro leitor, o desafio de encontrá-lo, em sofrimento no passado. Se for atento e perspicaz o bastante para conseguir, deixe por review e receba meus mais sinceros parabéns, senão pode sempre contar comigo para saciar sua curiosidade por MP.
Com minhas mais sinceras estimas, Pearll.
