Disclameir: Naruto e tudo o mais pertencem ao Kishimoto e as drogas dele.
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Primeiro dia
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Ela não sabia o quão bonita ficava quando estava surpresa. Os olhos levemente arregalados por trás dos óculos, a boca um pouco aberta. Aquela expressão de "eu não esperava por isso". E a voz. Quando a voz saía, não era aquela voz que ela normalmente usava, irritada. Era só surpresa. "Shikamaru...?"
Em um dia frio como aquele, as pessoas normais estariam em casa, dormindo. Confesso que eu mesmo estaria fazendo isso, provavelmente. Mesmo assim, naquele dia, justo naquele dia, eu não poderia fazer isso. Eu tinha de visitá-la. Eu tinha de ver Karin. "O que você faz aqui?"
Sorri. Foi só um sorriso leve, que a fez perceber que o dia estava congelante e que eu estava lá, parado do lado de fora. Karin poderia ser muito mal-educada quando queria, mas certamente hoje não era um daqueles dias. "Entre, entre. Estou congelando.", foi o que ela disse. E eu só assenti e entrei, porque sabia o propósito dessa última frase. Era como se fosse um eu não me preocupo com você, eu estou com frio, então vamos entrar. Mas não era. Karin era várias coisas, mas não era egoísta.
Quando entrei, vi uma xícara de chá sobre a mesa, juntamente com um livro. Aproximei-me e li o título que havia na capa. Sorri. "Demian? Desde quando você lê as obras de Hermann Hesse?", perguntei. Karin suspirou.
"Desde que me deu vontade. O que você faz aqui, Shikamaru? Depois de todo esse tempo? A Ino terminou com você ou qualquer coisa assim? Porque eu achei que você não iria mais poder me visitar e blábláblá."
"Nossa, Karin. Vejo que está feliz em me ver.", mesmo assim, não deixei de sorrir. Era da natureza de Karin ser agressiva. "Você acha que eu deixaria a minha namorada me impedir de vir aqui hoje, Karin? Justo hoje?"
Ela balançou a cabeça. Eu senti que ela queria se fingir de desentendida, mas era impossível. Karin andou até a janela, observando tudo branco. E eu a observava, com aqueles cabelos vermelhos feito fogo. Antes, eles eram escuros, mas ela havia resolvido pintar. Atos de rebeldia da adolescência, garotas problemáticas. "Hoje. O primeiro dia do inverno, dia do meu aniversário, dia em que eu pintei o cabelo de vermelho, dia em que você pediu Ino em namoro, dia em que eu roubei seu primeiro beijo. Não necessariamente nessa ordem, claro."
"Principalmente pelo dia do seu aniversário, Karin... e o do beijo. Ino queria que eu ficasse lá para comemorar o nosso aniversário de namoro, mas-"
"Mas o quê, Shikamaru?", Karin ainda não havia se virado para mim. Eu sabia como aquilo poderia ser difícil – os anos nos dão a experiência. No começo, eu achava que todas as mulheres eram problemáticas. Tive esse meu pensamento até mais ou menos os dezessete anos. "Você a deixou lá. Deixou sua namorada lá por um estúpido dia frio. Quem sabe? Se você ficasse lá, ela poderia estar te esquentando agora.", Karin nem tentava disfarçar o tom de escárnio em sua voz.
"Você não muda.", eu disse, sorrindo. Isso fez com que ela se virasse para mim. Sua expressão era algo entre irada e magoada. "Uma vez problemática, sempre problemática."
"É só isso que você veio me dizer?"
"Não. Tem também um 'parabéns'.", falei. Andei até Karin. "Feliz aniversário, ruiva.", e tirei do bolso do meu casaco um colar. Era um simples cordão com um pingente com formato de floco de neve. Ela ficou muda.
"Um... floco de neve, Shikamaru?", riu sem graça, "É algo tão... feminino... e... ah. Um floco de neve...", pegou. "Obrigada.", e colocou no pescoço. Fiquei olhando-a, calmamente. Ficamos em silêncio. Não sabia o que passava pela cabeça de Karin, na verdade, poucas foram as vezes que eu consegui adivinhar. "Bem... aceita uma xícara de chá? Esse frio está de matar."
"É. Aceito sim.", sentei-me na outra cadeira da mesa. Peguei o livro e vi a página em que ela parou. Até que um trecho me chamou atenção.
— O amor não deve pedir — continuou — nem tampouco exigir. Há de ter força de chegar em si mesmo à certeza e então passar a atrair em vez de ser atraído. Sinclair, seu amor é agora atraído por mim. Quando chegar a atrair-me, então entenderei. Não quero ser uma dádiva, mas uma conquista.
Reli aquele trecho, até Karin chegar e colocar a xícara de chá na minha frente. Peguei o marca página que havia sobre a mesa e marquei o livro, fechando-o em seguida. "Talvez você sempre seja a Eva¹ para mim.", murmurei. Karin levantou as sobrancelhas.
"Claro. E é por isso que você está com Ino."
"Não,", eu sorri, "eu estou com você."
Ficamos em silêncio mais uma vez. Karin olhava pela janela, tudo branco, tudo frio. "Eu não gosto do inverno. Acaba com tudo. Acaba com as flores, acaba com a vida. Acaba... comigo.", ela disse, sem me olhar. "Lembrar-me de tudo dói, Shikamaru. Esse é sempre o pior dia do ano. Sempre. Ninguém nunca se lembra, sabe? Meus pais ligam, às vezes o Suigetsu também. Mas, de resto... nada. O inverno é frio e eu tenho medo de que... acabe me congelando."
Olhei para Karin, sério. Ela era, por natureza, estourada. Mas agora estava lá, se comportando como... bem, como uma adulta. Mas é isso que acontece, não é? As pessoas amadurecem com o tempo. "Você, Karin?", ri, "Você nunca vai congelar. É a garota mais estourada que eu conheço. Você só está sendo... problemática."
"Problemático é o seu passado.", ela respondeu, fechando a cara.
"Tem razão. Mas só porque você está nele. Atormentando-me, todos os primeiros dias de inverno. Não que você não me atormente em outras estações, claro. Mas no inverno, principalmente hoje, é sempre pior."
"Devia procurar uma psicóloga, então."
"Não. Eu devia ter procurado por você... antes."
"Antes da Ino? Que eu saiba, você sempre a amou."
"E você ao Sasuke."
"Eu não. Nunca o amei. Ele era só alguém para... alguém que eu queria amar. Eu sempre quis me apaixonar de verdade, e quando ele apareceu, eu resolvi que seria ele. Obviamente não deu certo. Eu já amava você. E você já amava a Ino."
"Por que você insiste nisso? Você acha que se eu realmente... realmente amasse a Ino estaria aqui, agora? Sinceramente, Karin. Você acha?"
"... não. Mas... que merda, Shikamaru! Por quê?", ela se levantou de súbito e me encarou. Olhava-me com uma mistura de raiva e mágoa. Mágoa que se acentuava pelas lágrimas que rolavam. "Eu estava... estava tendo um dia normal! Por que você veio? Para esfregar na minha cara que, sim, eu roubei seu primeiro beijo? Que, mesmo assim, você ainda está com a Ino? E ainda me trás um presente! Um presente, Shikamaru! Por que você está fazendo isso comigo, droga?"
"Na verdade, Karin, eu terminei com a Ino."
"Você... o quê?", ela me olhou, confusa.
"Eu só disse que ainda estava com ela para ver se você me deixaria entrar de qualquer forma. Para ver se eu ainda continuava sendo tão importante para você que você não se ligaria nesses detalhes. Você está para mim como Eva está para Sinclair. Importante, Karin. Eu ainda amo você."
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¹ Eva é a personagem por quem Sinclair, o personagem que narra Demian, é apaixonado.
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N/A: Ok, como diria Jack, o estripador... vamos por partes. Essa fic é uma twoshot para o torneio Eternity Love ou seja lá o nome complexo que aquela joça ganhou. Eu não sei que infernos me deu para escolher o casal Shikamaru/Karin, mas ok. Agora já foi. Sabe, apesar de estar achando OOC e tudo o mais, eu gostei. Está legal. XD Espero que eu tenha uma mínima chance de ganhar isso – provavelmente não, mas não custa sonhar. É isso. E valeu Anne, por betar XD Até o próximo-e-último.
