Sem saber o que se passa em sua vida, você deita, chora, e pensa no que acontece ao seu redor. Tenta imaginar os sentimentos das pessoas, tenta compara-los com os seus, mas descobre que nada disso é verdade e que não há ninguém igual a você.. você é apenas mais um, incapaz de solucionar seus problemas, e de entender o que se passa em seu coração ........
Julho de 2002 – Inuyasha: 17 anos.
A partir do momento em que Inuyasha, começou a perceber bem e notar tudo ao seu redor, passou a falar menos, observar mais, entender um pouco mais a mente humana, e a mente youkai. Ver o que se passa na cabeça de cada um e tentar entender porque da falsidade, do preconceito, e da falta de sensibilidade. Será que existe alguém como ele em algum lugar?
Com certeza... Ele ainda não esbarrou com essas pessoas parecidas com ele por ai. Pelo menos por enquanto.
Tarde de Sol – Tudo tem um início.
Era uma bela tarde de sol, várias pessoas caminhando apressadas, com a expressão de que eram muito ocupadas, e que as suas vidas nunca seriam entediantes.
Estava Inuyasha andando, sem nenhuma pressa de chegar em casa, havia acabado de sair de seu cursinho, saíra imaginando o que fazer depois... Cinema? Não.. Balada? Não.. Tentava evitar ao máximo os programas das pessoas normais, pois ele não era normal, não ele.
Chegando em casa notou que seu irmão estava em sua poltrona lendo jornal. Sem olhar para hanyou* (*meio-youkai) ele perguntou:
- Isso são horas irmãozinho? - perguntou Sesshoumaru sarcasticamente.
- Meio-irmão. - Enfatizou o "meio"- E eu não lhe devo satisfações.
Inuyasha se dirigiu para o quarto. Seu quarto não era dos mais bonitos e arrumados, claro que não. Podia-se notar que a decoração, os móveis, tudo estava combinando com o coração dele. Algo sem vida, sem sentimento. Sua cama era de casal, encostada a parede esquerda do quarto, ao lado tinha um criado mudo, no qual deixava seu despertador e o controle da televisão. Sua televisão estava em um suporte na outra parede. No seu quarto também tinha uma sacada, bem ampla, ele dizia a si mesmo que era o melhor lugar da casa e também o melhor lazer dele. Tirando treinar, que era a coisa do qual ele melhor fazia. Sentava no parapeito da sacada, e olhava as estrelas. O sol ao anoitecer, conhecia exatamente quais os horários de cada estação do ano, pois não ficava um dia sem ver o pôr do sol, tirando o primeiro dia do mês. Nesse dia ele odiava o pôr do sol, mas só nesse dia. Pois era nesse momento que ele se tornava o que mais odiava. Jogou sua mochila num canto qualquer, trocou rapidamente as suas roupas, colocando algo mais confortável. Logo após isso foi para a sacada, sentou no parapeito e esperou o pôr do sol. Ele sabia que ainda era 4hrs, porém no momento queria relaxar, esquecer de tudo, antes que ele enlouquecesse.
Nesse momento ouviu uma discussão ao longe. Sim eram gritos, apenas palavras indecifráveis, ao longe, mais precisamente no prédio que ficava de frente para a sua sacada. Logo que notou, esticou seus ouvidos na discussão. Sem perceber que estava se metendo na vida dos outros Inuyasha olhou diretamente para a janela a frente, notou tudo escuro e olhou a debaixo. Era desse apartamento. Estava com a sacada aberta, e dava para ver uma sala. Viu uma senhora, chorando desesperadamente. Um senhor, já idoso tentando consola-la e uma moça, aparentemente nervosa, descontrolada.
- Não pode ser, acabou tudo, acabou a minha vida. - Essa moça andava de um lado para o outro, descontrolada, tinha um papel na mão. Inuyasha tentou imaginar o que seria esse papel, várias coisas passaram em sua cabeça, mas no momento estava preocupado em ver o desfecho dessa história, como se aquilo fosse um filme. A moça parou de andar, leu o papel mais uma vez, amassou e jogou longe.
-Quer saber.. – disse ela um pouco mais calma – Eu vou dar uma volta, ficar nervosa agora não vai mudar nada. E ela saiu correndo de seu apartamento. Aparentemente triste e inconsolável. Seu avô tentou segura-la, porém ela foi mais rápida.
Deixando sua mãe aos prantos. Mãe? É talvez seja sua mãe. Kikyou estava totalmente descontrolada. Seu mundo havia acabado naquele momento. Nunca imaginaria algo assim na sua vida. Nunca. Saiu correndo de sua casa, desceu as escadas muito rápido. Qualquer descuido com certeza tropeçaria e rolaria. Talvez ela quisesse isso. Mas não o faria, não de propósito. Por isso parou um pouco, cansada. Gotas de água salgada, quentes, rolavam em seu rosto. Voltou a descer as escadas, agora um pouco mais devagar, mas ainda com velocidade tal, que sem notar esbarrou em várias pessoas. Ignorou os comentários rudes.
Correu até o seu carro, sentou no banco, ligou o mesmo. Pensou em fazer uma besteira. Mas não faria, não teria tanta audácia. Tirou o seu carro da garagem e decidiu ir até a praça. Num ato impensado, ao vê-la sair, Inuyasha colocou a roupa que estava antes e a seguiu, como era um meio-youkai, correu pelos prédios seguindo o carro. Ainda não sabia o que estava fazendo, mas queria saber o porquê daquela garota chorar tanto. Sem querer admitir, seu coração se comoveu de pena e compaixão. Ao chegar à praça, ela estacionou seu carro, andou até um banco e sentou e começou a chorar. Ele ao perceber que ela parou e sentou, pulou em uma árvore perto do banco, evitando fazer barulho e passou a observá-la, e a ouvir cada palavra que ela balbuciava em meio às lágrimas.
- Não pode ser... Porque..Porque comigo? – falava consigo em voz baixa.
Então, vendo esse sofrimento da garota, Inuyasha desceu da árvore, e andou até o banco. Sentou-se ao lado dela de cabeça baixa, procurando palavras para quem sabe, consola-la. Ela o viu, assustou-se com o garoto de cabelos prateados e orelhinhas. "Deve ser um youkai" pensou ela.
Quando ela ia se levantar para ir embora ele perguntou:
- Porque você está chorando moça? – um jeito infantil, porém, meigo.
- Não quero falar sobre esse assunto. - e foi andando. Ele se levantou e a seguiu.
- Se não quer falar, não fala, mal agradecida. Só queria ajudar. – ele disse isso cruzando os braços e seguindo ela.
-... – Ela não disse nada e continuou andando.
- Feh, fala alguma coisa, odeio silêncio. – na verdade ele amava o silêncio, mas tinha que inventar qualquer coisa para chamar a atenção dela.
- Falar o quê? – Nesse momento ela para de andar, sente uma tontura. Põe a mão na testa. E volta a andar.
E ele vai seguindo ela, até o carro. Ela para, procura a chave do carro no bolso. Olha para a chave na tentativa de abrir a porta do carro e sente uma tontura. Agora mais forte.
- Ah.. droga. – Ela diz isso e logo tudo escurece.
Ele que no momento tava chegando até o carro, quando vê ela desmaiando, corre ao seu encontro. Se ajoelha e pega ela nos braços, e começa a gritar.
- Ei moça, acorda.. ACORDA.
Percebendo que ela estava mesmo desmaiada, viu a chave do carro e resolveu leva-la no médico. Colocou-a no banco traseiro e logo depois sentou no lugar do motorista.
- Droga eu não tenho carteira ainda, mas sei um pouco.. Tomara que nenhum guarda me pegue...
Dirigiu-se ao hospital. Chegando lá ela foi colocada em uma maca, tomando soro. Alguns minutos depois Kikyou acorda e nota o hanyou sentado ao seu lado olhando a janela.
- Já acordou? – disse sem encará-la.
- O que aconteceu?
- Você desmaiou, e eu te trouxe para o hospital. – ele falou normalmente.. "Talvez ninguém do hospital saiba ou resolveram não contar a ele" pensou ela.
- Ah, e o meu carro? Você me trouxe com ele?
- Sim, mas pode ficar tranqüila. Ele está inteirinho lá no estacionamento.
- Moço, você me ajudou, Muito obrigada viu...
- Feh, não tem importância...
- Qual o seu nome? – "ela está até um pouco animada para quem a pouco chorava como uma desesperada. Talvez tenha esquecido do motivo que a fez chorar" pensou Inuyasha.
- Taisho InuYasha. Bom, moça me diga o número da sua casa. Eu ligo para a sua família vir te buscar.
Ela falou os números sem realmente prestar atenção no que estava falando. Mas de uma forma automática disse os números corretamente. O que estava desligando ela da terra nesse momento, era o turbilhão de pensamentos e hipóteses se formando em sua mente. E não chegou a conclusão nenhuma até que Inuyasha a interrompesse.
- Qual o seu nome? – E Kikyou num estado súbito de duvida perguntou.
- Porque quer saber? – deixou transparecer seu tom de duvida e também sua total ignorância ao que estava acontecendo ao seu redor.
- Ora, como eu vou informar que você está aqui?
- Ahhh, sim. Higurashi Kikyou.
- Ok.
E novamente entrando no mundo de sua mente, Kikyou agora pensava como seria sua vida daqui para frente. Se é que sua vida "seria". Logo depois de chegar a um ponto que se forçasse a pensar certamente choraria, ela passou a pensar no moço que a ajudou e a trouxe. Ele era realmente lindo. Seus traços eram um pouco infantis, mas notava-se que em breve eles logo sumiriam e que traços totalmente masculinos tomariam seu lugar. Seus olhos, âmbares, eram realmente fascinantes. Seus cabelos, prateados, pareciam tão sedosos e macios. Só agora ela tinha se dado conta da aparência do ser que estava ao seu lado. Agora a encarando.
- Acho que seu pai vem lhe buscar. – Ele disse "pai" num tom interrogativo.
- Meu pai morreu há 15 anos. – ela disse num tom seco, agora olhando para o nada.
- Desculpe.. Mas quem me atendeu foi um homem, mesmo assim desculpe-me.
- Não tem importância... – ela já havia superado a morte de seu pai a muito tempo – certamente é o meu avô.
- Está bem, quando ele chegar eu vou embora. Acho que já me meti demais na vida dos outros por hoje.
- Obrigada. – ela disse num tom sereno, que encantou Inuyasha.
- Pelo o que? – ele quase sussurrou.
- Por ter me ajudado. Estou realmente grata. – ela ainda estava olhando nada.
- Feh, eu já disse que não tem importância. E pare de agradecer. – ele disse cruzando os braços.
- Qual é o seu nome? Acho que preciso saber o nome do meu salvador. – ela disse tão seriamente que, se as suas palavras não denunciassem o seu sarcasmo, certamente ela seria levada a sério.
- Pirou sua doida? Eu já falei o meu nome.
- Ah, ê mora por aqui Inuyasha? – por um breve instante ele hesitou. Não diria que a seguiu, mas também não poderia negar onde morava. Por enquanto evitaria detalhes.
- Sim.
- Como eu nunca te vi? – "convenhamos, dificilmente eu não notaria tal pessoa andando pela rua" pensou ela.
"Será que é porque eu fujo dos olhares? Das pessoas?" Quem sabe... Ele pensou.
- Eu não costumo sair.
- Ah, ok.
- Moça.... Err.. Quer dizer, Kikyou, Porque você tava chorando? – "Se ela começar a chorar ai mesmo que eu vou me arrepender"
- Ah...Eu não gostaria de falar sobre isso agora... – ela olhou triste para o chão.
- Desculpa, eu não devia ter me intrometido tanto. – "Merda, aposto comigo mesmo que ela vai começar a chorar.". Passados 10 minutos de silêncio, os dois olhando para o nada e mergulhados em seus devaneios...
Toc, Toc. A porta foi aberta.
- Aqui está ela senhor Higurashi. – disse a enfermeira.
- Ah, aqui está você Kikyou querida. Como você está se sentindo?
- Estou bem vô. Não se preocupe comigo. – "Ela não chorou, mas está brava, droga, Inuyasha burro, retardado, tinha que ferir os sentimentos da garota? Ela já tava mal e tu vai lá e cutuca a ferida dos outros? BURRO!".
- Que bom, querida você quer ir para casa agora? – "Parece que esse velho nem notou que o tom dela era indiferente e continua tratando ela bem, nossa que estranho."
- Sim vô. Obrigada por vir. – Ela olhou para o seu avô, e ele podia ver o rastro de tristeza em seus olhos, mas, agora mais do que nunca teria de ser forte.
- Quer uma carona Inuyasha? – ela disse num tom gentil, mas a seu convite não passava de uma forma de agradecimento pelo o que ele tinha feito por ela.
- Er...- "Pensa idiota, pensa logo! Ela não pode saber que você mora bem em frente ao prédio dela, pensa logo, pensa! Ah já sei, vou pedir pra parar uma quadra antes e depois vou andando devagar, isso!" – Quero sim, obrigado.
Durante toda o caminho, ninguém abriu a boca a não ser para falar o necessário. Chegando no local que Inuyasha decidira parar, ao sair do carro ele diz:
- Obrigado pela carona.
- Não seria mais do que a minha obrigação, pois você me ajudou muito hoje. Obrigada mesmo Inuyasha.
- Feh, não tem importância, eu já disse. Nos vemos por ai, tchau.
- Tchau. – e o avô dela tocou o carro.
Inuyasha ainda ficou um tempo parado na calçada perdido em pensamentos...
