Oi a todos.

Como prometido estou postando a minha fic Dias Passados aqui para ir alternando com O Sétimo Selo (já avisando que estou com os esquemas em mãos e alguns trechos que a Silver já havia escrito. Este fim de semana já tento começar a trabalhar com a história e repassar para a betagem, canetagem e aprovação da Silver).

Mas, voltando a Dias Passados, como alguns aqui já devem estar familiarizados, eu e a Lulu escrevemos juntas no site de fics "Expresso Hogwarts", naquilo que acabou sendo conhecido como "fanfics em interatividade", já que mistura o formato de fanfics com a idéia de um rpg.

Ao longo desses quatro anos de Expresso (isso tudo, acreditem), posso dizer que aprendi muita coisa. E, durante o caminho veio a necessidade de escrever algo em um formato mais "clássico" (capítulos organizadinhos) ao invés dos posts eventualmente mais curtos.

Embora os personagens da tia JK apareçam no decorrer da trama, aqui eles são secundários. Por que isso?

Bem, parafraseando o genial diretor de cinema, Billy Wilder, os personagens que não estão na trama principal podem levar também a idéias interessantes (ele argumenta isso ao dizer que seu protagonista de Se meu apartamento falasse foi criado a partir de outro que viu no filme Desencanto, de David Lean).

Eu sempre gostei dessa idéia de que, além de Harry e cia, além dos Marotos e de Lily, existem outros alunos, outros bruxos que também vivenciaram a guerra.

Foi assim que surgiu a idéia do Expresso Hogwarts, e, foi assim que ele se expandiu para Dias Passados, uma crônica dos tempos da Primeira Guerra Bruxa.

E, quem me conhece, sabe que, apesar de usar personagens originais, eu sou exageradamente obcecada com a idéia de não contradizer a Tia Jay.

Dias Passados foi publicado originalmente no Expresso Hogwats (cujo link está no profile da Silverghost). A primeira parte se passa em Hogwarts e foi co-escrita com a Lu (Dhara), encarregada dos Ivory.

No profile vou deixar um link para o background dos Ivory e dos Black-Thorne.

No mais, espero que gostem, comentem. E, tudo dando certo, nós vemos em breve com O Sétimo Selo.

Abraços, Meri (Ana)


Cap 01 - O Noivado de Elizabeth

Sentada na penteadeira do quarto em que passara a sua infância, Elizabeth mirava-se no espelho. Seus cabelos longos, encaracolados e quase rubros se encontravam presos em um rabo alto e contrastavam com o branco de sua pele. Usava um longo vestido de cetim verde, da mesma cor de seus olhos. Piscou algumas vezes ante a sua imagem refletida. Os convidados estavam para chegar e ela não conseguia terminar de se aprontar.

Aquele deveria ser um dos dias mais felizes de sua vida. Era sua festa de noivado. Contudo, Elizabeth não se sentia feliz, tão pouco se sentia triste. Uma certa indiferença lhe preenchia o peito. Não entendia o motivo, afinal, seu namoro com Maxwell Sinn havia sido uma escolha dela. Fora ela mesma quem aceitara o pedido de namoro do rapaz cerca de um ano atrás e nunca se arrependera disso. Constantemente sentia-se até mesmo afortunada. Não era como a maioria de suas primas, cujos pais acertavam seus casamentos sem sequer mencionar-lhes o fato.

Max era um rapaz educado e bem apessoado. Descendente da antiga e nobre casa dos Sinn era um bruxo de alta estirpe, sangue-puro e sonserino. O relacionamento de Elizabeth com os pais melhorara consideravelmente depois do início de seu namoro com Max. Até mesmo Marguerith, que mal conversava com a filha desde que Elizabeth entrara para Hogwarts e fora designada para a Grifinória, passou a lhe dirigir palavras polidas e até mesmo calorosas (para os padrões da matriarca dos Black-Thorne).

Betsy foi tirada de seu estado de estupor por uma leve batida em sua porta.

- Pode entrar – respondeu.

Ludovic adentrou impetuosamente no quarto e deixou-se cair displicente na cama da irmã caçula, cruzando os braços por cima da cabeça.

- Maninha, você está realmente um estouro. Quem diria que nossa pequena ovelha negra um dia criaria juízo, hein? Eu não poderia estar mais orgulhoso.

Elizabeth virou-se para o irmão. O rosto ainda impassível.

- Vindo de você, Ludo, eu nunca sei se a coisa é séria ou se é um comentário sarcástico.

- Pode acreditar, minha doce Elizabeth, eu nunca falei tão sério em toda a minha vida. Você sabe o quanto eu gosto de você, irmãzinha.

Elizabeth sorriu. Ludovic era um cara estranho. Infernizou a vida dela nos primeiros anos em que Betsy entrara para Hogwarts. Ludovic dizia que aquilo era a sua obrigação, afinal, ele era um sonserino, ela uma grifinória. Seu argumento era que fizera tudo aquilo para moldar o caráter da irmã caçula. E ainda assim, ela não conseguia odiá-lo, pois sabia que por baixo dessas demonstrações distorcidas de afeto, ele, a seu modo, realmente a amava.

- Então, Ludo, mamãe te disse quem confirmou a presença na festa?

- Você sabe, irmã, as mesmas pessoas de sempre... Nossos estimados primos Ivory, filhos da querida tia Betelgeuse. Até mesmo a prima Alrischa e seu marido. Os Star e mais algumas outras famílias importantes. Grande parte dos Black. Infelizmente terei que suportar o pomposo do Malfoy, nunca vou entender porque a prima Narcisa se interessou por ele. E, é claro, seu noivo, junto com o irmão e a cunhada. Mamãe ficou deveras desapontada pela recusa dos Priout e dos Goddriac em comparecer. Não entende porque famílias de tão alta classe podem ser sentir constrangidas em se associarem a nós...

- Eles devem ter seus motivos e...

- Posso interromper?

O rosto de Elizabeth iluminou-se ao ouvir aquela voz.

- Você nunca interrompe, Aldo. – disse ela.

- Só se for na sua opinião. – resmungou, Ludovic, baixinho.

Aldebaran fingiu não ouvir o comentário do irmão mais novo, apenas lhe lançou um olhar firme e frio. Ludovic se levantou da cama da irmã, dizendo:

- O ambiente aqui ficou insuportável. Te espero lá embaixo, maninha. Não demore, você sabe que mamãe não tolera atrasos.

Saiu.

- Quando é que vocês vão acabar com essa implicância toda, Aldo? Você e Ludo não são mais crianças.

- Betsy, você sabe que nosso irmão está seguindo um caminho com o qual eu não posso concordar, mesmo com o aval de nossos pais. Mas eu não vim aqui falar sobre Ludovic, e sim sobre você. Tem certeza de que é isso mesmo o que você quer?

- Por que não, Aldo? Eu gosto do Max, ele me ama. E todo mundo está feliz, papai, mamãe, os Sinn. Sei que estou fazendo a coisa certa.

Aldebaran olhou afetuosamente para a irmã. Sabia o quanto Elizabeth era teimosa e determinada. Quando colocava algo na cabeça era difícil fazer com que ela mudasse de idéia.

- Para seu próprio bem, mana, espero mesmo que esteja certa. – disse, beijando-lhe a testa. – Antes de irmos, eu tenho um presente para você. Eu ia esperar até a sua festa de formatura para te entregar, mas...

Estendeu uma caixinha para a irmã. Dentro havia um lindo pingente dourado em forma de fada.

- É maravilhoso, Aldo. – Elizabeth abraçou o irmão, num pulo. – Vou colocar agora mesmo.

Aldebaran sorriu levemente, e, estendendo o braço para a irmã, falou:

- Vamos?

Elizabeth desceu a ampla escadaria do antigo palacete da família de seu pai de braços dados com o irmão. Marguerith e Péricles a esperavam no fim da escada, acompanhados por Ludovic.

- Você nunca esteve tão magnífica, minha filha. – disse Péricles, beijando suavemente a mão de Betsy. – Hoje vejo que você é verdadeiramente uma herdeira dos Thorne.

Marguerith pigarreou discretamente.

- Ou melhor – corrigiu-se Péricles, - uma verdadeira Black-Thorne.

A garota baixou os olhos, ainda não estava preparada para encarar a mãe, não depois do que Marguerith acabara de fazer. Era irritante o modo como, mesmo depois de todos esses anos de casamento, ela ainda sentia necessidade de se impor ao marido, mesmo nas coisas mais insignificantes. Aquilo fazia o sangue de Elizabeth ferver, e ela não queria brigar novamente com a mãe. Afinal, hoje era um dia de festa, tudo deveria ser perfeito. Além disso, não queria aborrecer o pai, cuja saúde estava cada dia mais debilitada. Respirou fundo.
Marguerith olhou a filha de cima a baixo, avaliando os mínimos detalhes. Por fim, falou:

- Realmente, minha cara, você está deveras apresentável. Digna do nome que carrega.

Elizabeth fitou a mãe por alguns segundos, vindo de Marguerith, aquelas palavras significavam muito mais do que um simples cumprimento. Eram um sinal de aprovação e orgulho.

- É melhor irmos para o Salão de Festa. Os Sinn e os demais convidados estão para chegar – disse a matriarca dos Black-Thorne. Depois voltando-se para Ludovic completou – E você, meu amor, por favor, poupe-nos de discussões frívolas com o jovem Malfoy. Não fica de bom tom um Black-Thorne se envolver em querelas triviais.

- Se você está pedindo, mamãe, quem sou eu para desobedecer.

Ainda de braços dados com Aldebaran e dirigindo-se para o salão de festas do palacete, Betsy murmurou baixinho ao irmão:

- Você sabe se o Sirius vai vir?

- Provavelmente não. Você sabe que ele evita eventos familiares desde que saiu da casa dos pais. E, por favor, Betsy, não comente nada sobre ele ou Andrômeda perto dos primos de nossa mãe. Causaria um mal-estar desnecessário, e a última coisa que queremos ver é a senhora Marguerith de mau humor.


O salão de festas estava ricamente ornamentado. Os Black-Thorne não pouparam esforços para tornar o noivado da filha um evento memorável.
Centenas de velas flutuavam pelo salão, uma enorme mesa de banquete estava bem disposta no canto esquerdo do amplo cômodo. Bandejas levitavam com canapés e taças borbulhantes de champanhe, enquanto instrumentos musicais enfeitiçados tocavam uma suave música clássica. Um jovem e elegante bruxo, vestindo uma casaca verde musgo se postava na entrada do salão, pronto para anunciar a chegada dos convidados. E, em pouco tempo, foi possível ouvir sua ressoante voz dizer:

- O Sr. Henry Armand Sinn acompanhado da esposa, a Sra. Justine Lisseth Valmont Sinn, e do digníssimo noivo, Maxwell Dorian Sinn.

Os Sinn adentraram o recinto, indo cumprimentar os Black-Thorne.

- Sr. Péricles, Senhora Marguerith – disse Henry, se inclinando em uma leve reverência. – Hoje realmente é um dia bastante feliz para ambas as nossas famílias. O noivado de sua graciosa filha Elizabeth com o meu estimado irmão caçula, Maxwell, é o primeiro passo para selar a união de tão distintas casas como as nossas.

- Também estamos muito contentes com o noivado – respondeu Péricles.

- A senhora Marguerith está realmente muito elegante e distinta, como sempre, é claro. – disse Justine, dando um sorriso de invejar a uma veela, e passando discretamente os dedos por entre seus longos cabelos escarlates. Voltando-se para Elizabeth emendou: – E você, criança, está radiante. Tenho certeza que fará nosso pequeno Maxwell muito feliz.

Max, que até o momento se mantivera calado, disse:

- Justine tem razão, Betsy, você está... Nossa... – e esquecendo-se de qualquer regra de etiqueta, deu um longo beijo na futura noiva.

Ao se soltar dos braços do rapaz, Elizabeth apenas sorriu e olhou discretamente para Aldebaran como se quisesse dizer: "Não tem com que se preocupar".

Aos poucos o salão foi se enchendo, com a chegada dos demais convidados.


A grande carruagem puxada por cavalos alados da raça Graniana e que ostentava o brasão do clã Ivory passava pelos portões do antigo palacete da família Thorne, agora rebatizada de Black-Thorne graças à Marguerith e seu imensurável orgulho do sobrenome que carregava quando solteira.

A matriarca dos Ivory e viúva do antigo líder da família, Betelgeuse, ajeitava as luvas de tecido azul índigo que faziam par ao belo vestido que usava. No banco defronte para ela estavam seus dois filhos.

O primogênito, Rigel, tinha uma postura imponente e sentava-se reto no banco estofado. Era um homem bonito, com feições marcantes que lembravam muito o pai, mas os olhos azuis ligeiramente escuros e os cabelos muito negros, penteados de maneira impecável, eram características que ele havia herdado da mãe, marcas de uma legítima Black.

O caçula, Kamus, fisicamente parecia-se bastante com o irmão: as mesmas feições marcantes, o mesmo cabelo liso e negro, com a diferença que o de Kamus não estava impecavelmente penteado. Os fios estavam levemente molhados, como se ele não houvesse se dado ao trabalho de secá-los depois do banho, e alguns caíam-lhe sobre os olhos, também azuis. Porém, o que mais diferenciava Kamus de Rigel era a aura de descaso e arrogância que o cercava o caçula, e que, de certa forma, o tornava bem mais interessante do que seu irmão mais velho.

- Por acaso Alrischa lhe disse a que horas chegaria a carruagem em que ela está vindo com Nott, Rigel? – perguntou Betelgeuse.

- Não, minha mãe. Mas eu acredito que ela não irá se atrasar, não se preocupe.

- O mais indicado seria que Alrischa e o marido chegassem junto conosco, já que também são parentes da noiva. – Betelgeuse suspirou de maneira exasperada – Eu espero que a sua irmã tenha o bom tom de não parecer feliz demais. Essa é a primeira aparição pública dela depois que voltou da lua-de-mel, uma Black não deve dar nenhum motivo para ser alvo das más-línguas.

Kamus, que ouvia a conversa enquanto observava a paisagem do jardim dos Black-Thorne pela janela da carruagem, sorriu de lado. A julgar pela conversa que tivera com a irmã pouco antes do casamento dela com Nott as preocupações de Betelgeuse não tinham o menor fundamento. Não havia nem o remoto risco de Alrischa parecer feliz demais.

A carruagem finalmente parou às portas do palacete e um empregado apressou-se em abrir a porta do veículo.
Rigel desceu primeiro, logo estendendo a mão para ajudar Betelgeuse. A matriarca Ivory deixou a carruagem de forma altiva, segurando o longo vestido e sendo seguida por Kamus. O primogênito ofereceu o braço direito à mãe, que ela prontamente aceitou, e ficou esperando que o filho caçula lhe oferecesse o braço esquerdo. Kamus, com um sorriso irônico, permitiu que Betelgeuse enlaçasse seu braço.

Os três representantes do clã Ivory subiram com singular imponência os degraus até a enorme porta de folhas duplas da mansão Thorne e cruzaram o hall de entrada, atraindo no caminho os olhares dos demais bruxos de alta estirpe que chegavam para a comemoração do noivado de Elizabeth Black-Thorne e Maxwell Sinn. Ouviram um bruxo de voz ressonante anunciar os seus nomes com grande respeito e admiração e finalmente adentraram o salão de festas.


Aproveitando que a mãe se afastara para conversar alguns convidados, Ludovic se aproximou lentamente de Lucius Malfoy, que estava acompanhado de Narcissa.
Obviamente Lucius se pavoneava frente os demais convidados. Como aquilo divertia Ludovic. A rivalidade entre eles era antiga. Sempre achou o loiro um completo idiota, desde os tempos de escola. Sentia uma imensurável prazer em provocá-lo, pois sabia o quanto aquilo irritava o orgulho de Malfoy. Seria realmente um desperdício se ele não aproveitasse o momento.

Cumprimentado Narcisa com um sorriso nos lábios, o jovem Black-Thorne reclinou-se beijando a mão da prima, dizendo:

- Você está realmente deslumbrante, minha querida, é uma pena a maioria dos que estão ao nosso redor não sejam o suficientemente dignos de seus raros e valiosos encantos – disse olhando diretamente para Lucius.

- Seus elogios são sempre bem vindos, caro primo. – respondeu a moça, completando – E acredito que Lucius concordaria com você, não é mesmo querido?

Malfoy empertigou-se um pouco mais antes de responder.

- Certamente, Narcisa. A propósito, Black-Thorne, eu também não poderia deixar de elogiar a Sra. Marguerith pela festa. Está realmente impecável. Ela é uma mulher de extremo requinte, certamente quase todos os seus filhos herdaram o bom gosto e a boa educação por parte dela. – disse o loiro, enfatizando a palavra quase.

Ludovic sorriu ante a provocação, aquilo estava começando a ficar interessante.

- Malfoy, fiquei sabendo que não aceitaram seu pedido para trabalhar no Ministério... De novo.

Malfoy mordeu o lábio inferior e apertou com força a ponta em forma de serpente da elegante bengala que sempre trazia consigo. Black-Thorne pisara em um calo dolorido demais para o rival.

- Pelo menos eu procuro tentar ser mais útil naquilo que faço, ao contrário de certas pessoas... – respondeu, lançando um olhar de puro ódio em direção de Ludovic.

- Eu espero mesmo que tenha sorte nos seus intentos, Malfoy. Felizmente eu não preciso me preocupar com isso, afinal, sou o melhor nas coisas que faço. Meus atos falam mais que as minhas intenções.

Antes que Lucius pudesse responder, Aldebaran se aproximou do grupo, postando sua mão pesadamente no ombro do irmão mais novo. Cumprimentou Lucius e Narcisa com um aceno de cabeça, dizendo:

- Espero que estejam aproveitando a festa.

- Não poderia estar melhor. É sempre um deleite estar em um ambiente tão agradável, especialmente se estamos cercados pelos mais nobres membros da sociedade bruxa – respondeu Narcissa.

- Fico satisfeito em ouvir isso. – e olhando discretamente para o irmão, completou – Tenho certeza que Ludovic está sendo uma agradabilíssima companhia para vocês, afinal ele sabe o quanto nossa mãe ficaria sentida se nossos convidados não apreciassem plenamente as festividades. Se me dão licença – retirou-se, fazendo uma leve reverência.

Ludovic nada disse após a saída do irmão. Lucius, por outro lado, sorriu para o rival, triunfante:

- Não sabia que você tinha medo de Aldebaran, Ludovic.

- Eu não tenho medo de nada, Malfoy, nem de ninguém – respondeu Black-Thorne por entre os dentes. – Se você duvida, posso te provar um dia desses, é só marcar. Agora, se vocês também me derem licença, preciso conversar com meu primo Rigel.

Ludovic saiu, pisando duro. Mais uma vez Aldebaran estragara sua diversão. Quando aquele cretino iria parar de atrapalhar a sua vida? E ainda por cima o fizera parecer inferior justo na frente do pateta do Malfoy. Um dia ele iria pagar. Os dois iriam pagar: o irmão certinho e o pavão loiro.

Precisava se acalmar, não adiantava perder a cabeça ali, não na festa preparada com tanto afinco por sua adorada mãe. Também não poderia estragar o grande momento de sua irmãzinha querida. Sim, iria conversar com Rigel. Isso iria fazê-lo se sentir melhor, pois o primo mais velho o compreendia muito bem e era uma companhia bastante aprazível, especialmente depois do embate com seus mais fortes desafetos.


A maioria dos convidados circulavam pelo enorme salão, mas Rigel e Kamus Ivory estavam sentados sozinhos em uma das melhores mesas, especialmente reservada para os familiares mais próximos dos Black-Thorne.
Betelgeuse fora conversar com alguns primos que não via desde o seu casamento com Stephanio Ivory, enquanto que Nott, que havia recém chegado com Alrischa, insistira em levar a esposa para cumprimentar cada um dos representantes de famílias puros-sangues que estavam presentes naquela festa.

Rigel abaixou a taça da qual bebia e olhou para o irmão.

- Está gostando da festa, Kamus?

O caçula dos Ivory recostava-se de maneira displicente na cadeira, tinha os braços cruzados sobre o peito e a costumeira expressão de descaso no rosto. Parecia nitidamente entediado, mas mesmo assim era uma figura bastante atraente e alvo de diversos olhares.

- Preferia estar em casa. Foi desperdício de tempo nos deslocarmos de Moscou até aqui apenas para ir a uma festa de noivado, já são realizadas várias dessas todos os anos dentro do nosso clã.

- Elizabeth é uma das nossas primas mais próximas, seria um insulto à tia Marguerith nós deixarmos de comparecer. – Rigel o repreendeu em tom de clara censura.

Kamus não demonstrou ter ficado nem meramente preocupado com as palavras do irmão e então levantou-se de sua cadeira, tencionando deixar a mesa.

- Aonde você vai? – Rigel perguntou, surpreso com aquela atitude nada cortês vinda de Kamus.

- Para os jardins.

O jovem Ivory afastou-se sem dizer mais nenhuma palavra. Rigel pousou a taça que ainda segurava sobre a mesa e ficou observando seu irmão mais novo caminhar de forma altiva entre os convidados, fazendo-se de surdo quanto aos cumprimentos que lhe eram dirigidos e não dando atenção para os sorrisos que as moças solteiras lançavam para ele.

- A atitude dele é preocupante, não acha?

Virando o rosto para o lado Rigel percebeu que seu primo, Ludovic, estava parado ali. Realmente, as atitudes de seu irmão poderiam não ser das mais polidas e corretas, mas ainda assim ele jamais havia sido motivo de desgosto para a família, ao contrário, Rigel acreditava que Kamus ainda poderia trazer muito orgulho para o clã dos Ivory.

- Eu discordo disso, primo. Não acho que essa pequena rebeldia de Kamus seja digna de preocupação. Ele tem apenas dezessete anos, terá tempo para corrigir-se.

Ludovic franziu o cenho.

- A rebeldia dele é semelhante à de Sirius. E não se esqueça que com dezesseis anos nosso ex-primo já nos infligiu a maior das vergonhas.

- Meu irmão jamais trairia o sobrenome e o sangue, Ludovic. – Rigel disse com frieza.

Nesse instante Ludovic percebeu que havia ido longe demais em suas suspeitas, acabara ofendendo o primo. Jamais fora sua intenção indispor-se com Rigel, afinal, depois de sua querida mãe, ele era umas das pessoas que mais o apoiava.

- Tem razão. – ele sorriu, desculpando-se, embora interiormente ainda acreditasse que o primo mais novo tinha germinando em si a semente da traição. Por fim, sentou-se, sem cerimônias, na cadeira que Kamus havia deixado vazia.

Rigel tinha os olhos fixos em um ponto do salão, Ludovic percebeu que ele estava observando sua irmã, Elizabeth, dançar com o noivo.

- Ela está muito bonita. – disse Ludovic, mal escondendo o orgulho.

- Elizabeth é uma jóia muito preciosa, - Rigel voltou a encarar o primo – ela se perdeu algumas vezes, mas fico feliz em ver que encontrou o caminho correto.

Ludovic sorriu.

- Nunca tive tanto orgulho da minha irmã como estou tendo hoje. Imagino que seja o mesmo que você sentiu quando Alrischa casou-se com Nott.

O primogênito de Betelgeuse olhou para a irmã mais nova, que estava em silêncio ao lado do marido enquanto ele conversava com os irmãos Lestrange, Rodolphus e Rabastan. Reparou, mesmo de longe, que, apesar de Alrischa manter um sorriso educado nos lábios, os seus olhos azuis, idênticos aos dele e de Kamus, estavam estranhamente vagos.

- Alrischa será muito feliz. Ainda não está acostumada com o casamento, mas logo irá se apaixonar por Nott e me agradecerá por tê-lo escolhido como seu marido.

Rigel deixava transparecer plena certeza em sua voz. Apesar de ser uma dama exemplar, Alrischa ainda deixava muito a desejar como uma representante da união da nobre família Black com o antigo e tradicional clã Ivory. Mas ele acreditava que o casamento daria a sua irmã o necessário para que o poder do sangue finalmente aflorasse nela.


A música chegava suave nos ouvidos de Elizabeth, que dançava de olhos fechados, o rosto encostado no ombro do noivo, Maxwell Sinn.

- Betsy? – chamou o rapaz.

- Sim? – respondeu ela, abrindo os olhos e encarando o noivo.

- Você está gostando da festa?

- Claro, todos estão felizes... Por que não estaria gostando?

- É que você está um pouco distraída esta noite.

- Não é nada, acho que é o nervosismo típico do momento. E você, Maxie, o que está achando?

- Ora, não poderia estar mais feliz. Todos nos observam com inveja e respeito. Somos o centro das atenções. Isso é obvio, afinal tenho em meus braços a moça mais linda de todo o salão.

Betsy riu ante o gracejo. Maxwell tinha essa mania engraçada de querer se destacar no meio das multidões, provavelmente aquela era a marca registrada dos Sinns, já que Henry e Justine não eram muito diferentes. Contudo, para Elizabeth aquilo não fazia a mínima diferença, o que lhe importava era aproveitar o prazer do momento: uma boa música, o suave compasso da dança. Que lhe interessava se os demais convidados a olhavam ou não?

- Acho que Justine não ficaria muito contente se te ouvisse falando isso.

- Pois a minha cunhada vai ter que se acostumar a ter as atenções desviadas para você, afinal, depois que nos casarmos teremos muitos eventos sociais para freqüentarmos. E sei que você irá se destacar em todos eles. Bonita, educada e elegante como só você sabe ser, vai causar inveja nas demais feiticeiras e ser alvo de cobiça dos outros bruxos. E eu estarei orgulhoso, ao seu lado, sabendo que no fim de tudo você será apenas minha.

- Assim você me deixa encabulada, Maxie... – respondeu a moça, com o rosto quase tão vermelho quanto os seus cabelos.

- Mas eu estou sendo sincero – disse ele.

- Eu sei... Mas depois que nos casarmos, vamos ter muito com que pensar além de festas...

- Claro que sim. Prometo te comprar jóias, vestidos e te levar nas melhores estações de férias bruxas de todos os tempos. Soube que os Mont-Blanc têm um chateau aconchegante na França...

- Maxie! Eu estou falando sério... Já teremos profissões e muitas outras responsabilidades até então...

- Betsy, querida, para quê trabalharmos? Somos herdeiros de famílias riquíssimas, basta investirmos adequadamente nossas fortunas que nunca iremos precisar nos preocupar.

- Você está brincando, não é?

- O que você acha? – respondeu o jovem Sinn, sorrido de forma sedutora para a noiva.

Betsy não respondeu, recostou novamente a cabeça no ombro de Maxwell, cerrando os olhos em seguida, para aproveitar melhor a música. Max sabia o quanto era importante para ela se tornar uma auror como seu irmão mais velho, ela já lhe falara isso diversas vezes. Com certeza ele estava apenas brincando.

O jovem Sinn beijou a noiva no alto da cabeça, por cima dos cabelos. Para ele, Elizabeth era uma obra de arte inacabada. Bela como poucas, tinha berço e educação, mas infelizmente também tinha a tendência desagradável de tratar com igualdade membros de casta inferior, como os descendentes de trouxas, sem falar dessa história irritante de querer trabalhar. Mas, com o tempo, ele iria conseguir molda-la a seu gosto. E aí sim, a sua futura esposa seria a perfeita companheira de alguém tão nobre quanto o filho mais novo da casa dos Sinn.


A voz dos homens ao seu lado preenchia-lhe os ouvidos, mas as palavras que diziam não chegavam a fazer o mínimo sentido para ela.

Alrischa, a única filha mulher provinda da união de Stephanio e Betelgeuse Ivory, tinha o braço esquerdo enlaçado ao do marido e sorria de forma polida e gentil, aparentando devotada atenção à conversa do herdeiro da família Nott com Rodolphus e Rabastan Lestrange. Porém, um olhar mais atento denotaria a total distração da jovem de tez pálida e longos cabelos lisos cor de bronze.

Embora a mãe já tivesse a repreendido incontáveis vezes pela sua inconveniente mania de estar sempre distraída, Alrischa simplesmente não conseguia prender-se inteiramente a uma conversa, principalmente quando o assunto não lhe interessava nenhum pouco, e também, intimamente, ela sabia que ninguém ali importava-se verdadeiramente com a sua opinião.

Mulheres não deveriam interferir nos assuntos tratados pelos homens, fora assim que as professoras de etiqueta sempre lhe ensinaram. Então Alrischa permitia que seu pensamento vagasse para longe dali, muito além daquele salão de festas. Apenas o que tinha que fazer era deixar Nott enlaçar seu braço de maneira possessiva e sorrir como uma distinta dama, isso era tudo o que esperavam dela.

- Alrischa e eu estamos planejando passar as férias de inverno na casa que recém compramos em Zurique. Uma bela residência, sem dúvidas, muito ampla e confortável e localizada em uma área exclusivamente bruxa. Não é mesmo, minha querida?

Nott acariciava levemente a mão da esposa que repousava em seu braço. Alrischa virou-se para o marido ao perceber ele parecia estar esperando por alguma resposta sua.

- Sim, é claro.

Rodolphus disse algo sobre uma lei recém aprovada pelo Ministério que gerou uma nova discussão entre os três homens, fazendo Alrischa sentir-se grata por ter sido excluída da conversa novamente. Ela suspirou de forma quase inaudível e seu olhar acabou repousando na mão que Nott ainda acariciava. Uma aliança grossa e forjada no mais puro ouro circundava o seu anelar esquerdo, símbolo da eterna união que estabelecera com o homem que estava ao seu lado.

E, apesar da animação palpável do ambiente, ela sentiu uma leve sensação de melancolia instalar-se sorrateiramente em seu peito. Mas por fora, Alrischa continuava sorrindo com perfeita gentileza, como se fosse uma das requintadas bonecas de porcelana que enfeitavam o seu quarto quando era menina.


A brisa noturna que movimentava as folhas das árvores e o barulho da água que jorrava na grande fonte de mármore em forma de uma divindade céltica que enfeitava o jardim dos Black-Thorne contribuíam, mesmo que precariamente, para abafar o som da música que vinha da mansão.

Kamus sentia-se muito mais confortável ali, sozinho, do que no enorme salão repleto de convidados. Era fato conhecido que não gostava de festas, exceto aquelas em que ele era o dono e poderia fazer o que quisesse, sem Rigel ou Betelgeuse cobrando-lhe um comportamento digno de um cavalheiro.

O jovem Ivory percebeu passos leves amassando a grama bem cuidada do jardim e aproximando-se dele, mas não via nenhuma pessoa ao seu redor. Levantou-se do banco de mármore em que estivera sentado e esperou por alguns instantes antes de estender uma das mãos, agarrando alguma coisa no ar.

Foi apenas questão de segundos até que uma pessoa se materializasse no local. A mão de Kamus apertava o pescoço de uma jovem bonita, com cabelos negros, longos e crespos, um traço característico dos Black.

- Então é você, Bellatrix. – disse ele, soltando o pescoço da garota.

Bellatrix tossiu um pouco e levou a mão até a garganta dolorida.

- Você é sempre tão educado assim? Onde já se viu quase estrangular uma dama?

Ivory levantou uma das sobrancelhas, olhando com descrença para ela.

- Se realmente fosse uma dama não andaria sozinha pelos jardins encoberta por um feitiço de desilusão.

Bella sorriu de lado, apreciando a perspicácia do primo.

- Estava tentando lhe dar um susto, mas pelo visto você não abaixa a guarda nem durante uma festa.

Kamus não respondeu, voltou a sentar-se, ignorando a presença da jovem. Bellatrix levou as mãos até a cintura e caminhou até o rapaz, parando na frente dele.

- Por que não está lá dentro, festejando o noivado da nossa querida Elizabeth?

- Não gosto de confraternizações.

- Ah, é verdade... – Bellatrix sorriu e jogou sua longa cascata de cabelos para trás – Havia me esquecido do quanto você é sério.

- E por que você não está lá na festa?

- Simples, porque queria descobrir o que alguém poderia estar fazendo de interessante sozinho, aqui nos jardins. – Bellatrix cruzou os braços, dando uma olhada ao redor – O que há de tão especial neste lugar?

- Posso tornar as coisas mais interessantes, se você quiser.

Bellatrix encarou o rosto sério do primo por breves instantes antes de começar a rir.

- Por acaso você se esqueceu que Rodolphus está lá dentro? – disse apontando para a mansão – Se ele sequer desconfiar que exista algo acontecendo entre nós vai te matar na hora.

- Eu gostaria que ele tentasse, talvez uma boa luta quebrasse a monotonia desse lugar. – Kamus disse com displicência.

- Sim, e também arruinaria toda a bela festa que a prima Marguerith planejou com tanto esmero. Você realmente não se importa com isso?

Kamus não disse nada, apenas fixou seu olhar no rosto de Bellatrix. A garota abriu um sorriso malicioso.

- É claro que não. – respondeu por ele – Você não tem consideração por ninguém, nem mesmo pela sua família. – Bellatrix abaixou-se, ficando da mesma altura que Kamus e segurando o queixo dele – Aposto que não hesitaria nem por um instante em mandar todos nós para o inferno se um dia fizermos algo que o aborreça.

Kamus segurou o pulso dela, afastando a mão de Bellatrix do seu rosto.

- Se já sabe de tudo isso então por que veio aqui me aborrecer?

Bella sorriu, como se a resposta fosse muito óbvia.

- Porque eu gosto de correr perigo. – então aproximou seu rosto do de Kamus, beijando levemente os lábios do primo.

Kamus não disse nada quando ela afastou-se, continuou fitando-a da mesma maneira displicente, como se o que a jovem Black acabara de fazer fosse tão comum quanto um cumprimento qualquer.

Bella sorriu com malícia uma última vez antes de deixá-lo sozinho e tomar o rumo da mansão.


Marguerith caminhava, altiva, pelo amplo salão de festas, braços dados com seu esposo, Péricles Thorne. Cumprimentava todos os convidados com um leve meneio de cabeça. Apesar da expressão serena e contida que seu rosto denotava, por dentro sorria de ampla satisfação. O noivado da filha parecia ser um sucesso inquestionável, um evento inesquecível, enfim, a confirmação do prestígio e triunfo dos Black-Thorne.

Passou discretamente os olhos pelos presentes, percebendo, com orgulho, que os representantes de algumas das mais importantes famílias bruxas compareceram ao noivado. Enquanto fazia essa constatação, seu olhar se cruzou momentaneamente com o da irmã, Betelgeuse Ivory, que conversava polidamente com alguns de seus parentes. Bastou aquela rápida troca de olhares, um brilho diferente no rosto da irmã para que a senhora Black-Thorne compreendesse que a outra queria lhe falar.

- Querido, - disse ela voltando-se para o marido – preciso me ausentar rapidamente. Faça o papel de bom anfitrião sem mim por alguns minutos, sim?

Caminhou, então, em direção à irmã, que também se despedia do grupo com quem estivera até pouco tempo conversando.

Cassiopéia Marguerith e Betelgeuse Sandrine. Conhecidas na juventude como as Gêmeas Black, eram famosas por sua beleza e requinte, que ainda hoje conservavam, mesmo após os longos anos de casamento e do nascimento dos filhos. Mas não foram apenas esses atributos que conseguiram manter no decorrer dos anos. Ainda eram vistas por seus pares como senhoras soberanas. Emanavam um poder que reconhecidamente deveria ser respeitado.

Apesar de terem os mesmos traços finos e os mesmos olhos pequenos e penetrantes, não eram gêmeas idênticas. Ambas possuíam a vasta cabeleira negra, característica quase onipresente entre os membros da família Black, mas os cabelos de Marguerith eram um mar de longos cachos e os de Betelgeuse, embora também compridos, eram mais lisos, espessos e brilhantes. A primeira herdara os olhos verdes da mãe, enquanto a segunda possuía os olhos azuis do pai.

Em termos de personalidade, eram totalmente diferentes, mas, paradoxalmente complementares. Marguerith era uma pessoa dominadora e autoritária, comandando com mão de ferro a vida dos filhos e, até mesmo, de seu marido. Betelgeuse era igualmente manipuladora, mas usava de meios mais sutis e requintados para impor a sua vontade. E, de certa forma, até mesmo mais eficientes que os da irmã.

- E então? – perguntou a matriarca dos Black-Thorne de modo curto e direto. As duas se conheciam a tal ponto que palavras, muitas vezes, eram quase dispensáveis.

- Você tinha razão. No final, o sangue dos Black acabou falando mais alto em sua filha, não é mesmo?

- Confesso que algumas vezes receei estar enganada. Péricles é um marido digno e um homem nobre, mas, embora, os Thorne sejam uma casa quase tão antiga quanto a nossa, eles possuem uma mistura um pouco exótica demais em suas origens: romanos e celtas! Só assim para explicar o fato de duas de minhas crianças não entrarem na casa da Serpente conforme prega a nossa tradição.

- Neste caso, creio que tive mais sorte que você, cara irmã, afinal, os Ivory são quase uma contraparte russa de nosso próprio clã. Todos os meus rebentos, até mesmo Alrischa, para a minha própria surpresa, carregaram, ou ainda carregam no caso de Kamus, o estandarte da Sonserina no peito.

- Talvez, minha querida Sandy – comentou Marguerith, usando de modo levemente provocativo o apelido que tanto irritava a irmã – o destino tenha sido apenas um pouquinho mais generoso com você.

- Ora, querida Cassey – retrucou Betelgeuse no mesmo tom – você sabe que eu nunca gostei de me vangloriar.

Ambas se encararam silenciosamente por alguns minutos, sorrindo. Como sentiam falta daqueles pequenos embates de ego que o casamento e a distância geográfica resultante lhes havia privado.

- Acho que no fim das contas, alcançamos a grandeza destinada a todos os Black, não concorda, minha cara Bete?

- Certamente, Marge. Esta noite, esta festa, organizada com tanto esmero por você e agraciada por tão nobres presenças é apenas mais uma comprovação disso. Sem falar que nossos filhos parecem todos, finalmente, estarem trilhando um glorioso caminho.

- O seu Rigel será o próximo chefe do clã Ivory, não é verdade?

- Na realidade ele já tornou-se o nosso líder logo após o falecimento de meu querido marido, Stephanio, mas como continua aqui na Inglaterra, trabalhando pelo bem maior dos verdadeiros bruxos, eu desempenho o papel de representante de meu filho na Rússia.

- Um papel bastante admirável.

- Não tenho do que me queixar, irmã. Mas, soube pelo meu primogênito que Ludovic também anda tendo igual sucesso e destaque em prol da nossa causa.

- Ludo certamente é meu maior feito, meu maior orgulho. Aldebaran, apesar de ser atualmente um simples Auror, está destinado a galgar altos postos dentro do Ministério.

- Já meu Kamus, acredito que deverá seguir a mesma carreira do irmão mais velho e do primo. Percebo nitidamente que ele possui um talento nato para isso. E Alrischa conseguiu um excelente casamento graças a Rigel. Nott pode ser bem mais velho, mas é bastante respeitável. Alrischa poderá ganhar muito com essa união, se ela souber como agir. E, finalmente, temos a sua menina...

Marguerith quase suspirou ao pensar em Elizabeth. Um discretíssimo tremor percorreu-lhe o corpo. Praticamente imperceptível, a não ser para Betelgeuse, que tanto lhe conhecia.

- Ela sempre foi uma dor de cabeça, não?

- Talvez não tanto quanto o rapazinho de nossa prima e aquela garota insolente, irmã de Narcissa e Bellatrix. Esses dois sim, verdadeiras aberrações dentro de nossa família. Mas, quando Elizabeth foi designada para aquela casa, temi pelo pior. Felizmente, esse enlace com Maxwell Sinn mostrou-me que eu estava enganada.

- Então, querida Marge, acho melhor aproveitarmos as festividades e comemorarmos, afinal, tudo indica que o futuro das gêmeas Black e de sua prole não será menos que glorioso.

Péricles aproximou-se da esposa e da cunhada. Vinha acompanhado dos Sinn, e também da filha e de seu noivo.

- Desculpe interrompe-las, mas acredito que já está na hora de fazermos o grande anúncio. Creio que todos os convidados importantes já chegaram. O que acha, querida?

- Tem razão, esta é a hora apropriada. Se você me der licença, Bete, retomaremos a nossa conversa mais tarde.

A comitiva formada pelos noivos e seus guardiões dirigiu-se, elegantemente, até a mesa central. Péricles e Marguerith postaram-se do lado esquerdo da mesa, Henry e Justine do direito, tendo Elizabeth e Maxwell ficado no meio dos casais. O jovem Sinn era todo felicidade, mal podendo se conter. Já Elizabeth, apesar do leve sorriso nos lábios, continuava sem saber o que sentia. Não era nervosismo, tão pouco alegria. Talvez a descrição mais próxima do que lhe passava no peito era a de uma calma gelada...
Péricles levantou sua varinha, apontando, primeiramente, para os instrumentos musicais enfeitiçados, silenciando-os. Depois, apontou para a própria garganta, murmurando:

- Sonorus.

A grave e imponente voz do bruxo preencheu todos os recantos do amplo salão de festa. Como patriarca dos Thorne (ou Black-Thorne, como a esposa costumava insistir) era o dever de Péricles anunciar o enlace da filha, mas não fazia apenas por obrigação, era o orgulho que lhe motivava as palavras.

- Meus caros amigos, fico contente de ter tão honrados e nobres bruxos aqui. Afinal, hoje é uma noite muito especial para minha família e não poderia deixar de compartilhá-la com todos vocês. Esta noite, eu, Péricles Thorne, tenho o orgulho de conceder oficialmente a mão de minha filha, Elizabeth, ao jovem Maxwell Sinn. Como pai, não poderia me sentir mais afortunado em saber que a minha herdeira encontrou um rapaz bom, digno, de nobre berço e origem, e que certamente a fará muito feliz. Como bruxo, acredito que a união de duas famílias tão antigas e importantes quanto os Black-Thorne e os Sinn é a confirmação do futuro brilhante de nosso povo, desde que nos atemos às tradições e aos costumes. Como disse, esta é uma noite especial para minha família, mas pelo que ela representa, acredito que seja importante para todos nós.

Um salva de palmas entusiasmadas ecoou pelo recinto, enquanto Maxwell colocava a aliança dourada na mão direita de Elizabeth. Muitos foram aqueles, que murmuram, entre os aplausos, comentários de aprovação às palavras de seu anfitrião: tradição e costumes eram aquilo que salvariam os verdadeiros bruxos.

Mas, havia uma pessoa que não compartilhava de forma alguma da aura de entusiasmo que emanava do ambiente: Aldebaran Black-Thorne. Embora seu rosto mantivesse o usual semblante impassível, por dentro sentia-se cada vez mais preocupado. Se não lhe bastassem as dúvidas que sentia sobre a decisão da irmã em se casar com o jovem Sinn, agora havia também o discurso do pai. Será que o velho Thorne tinha noção de como o que ele acabara de dizer poderia ser interpretado por aqueles que estavam presentes ali? Será que o pai sabia do peso de cada uma daquelas palavras na atual conjectura do mundo bruxo?
Aldebaran estava ciente de que uma tempestade estava se tornando cada dia mais densa no mundo mágico, e que as gotas que agora os atingiam, se tornariam um imenso furacão. Tudo o que ele desejava era que sua irmãzinha não fosse atingida por um raio no processo. Mas, do modo como as coisas estavam acontecendo, cada dia que passava, isso lhe parecia mais difícil.

Notas das Autoras

Ana (Meri): O nomes dos membros da família Sinn foram retirados de personagens literárias cujas personalidades retratavam de alguma forma o estilo sedutor e malicioso que é a característica marcante dos Sinn. Dorian (nome do meio de Max) e Henry foram retirados do livro O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Nele um homem, Dorian, nunca envelhece, mas toda a maldade e crueldade de sua alma passam a se manifestar no retrato do título. Armand (nome do meio do pai de Maddie) é o nome de um dos vampiros mais charmoso da saga de Anne Rice, As Crônicas Vampirescas, cuja edição mais famosa é Entrevista com o Vampiro, que virou filme com Tom Cruise e Brad Pitt. Justine é o nome da personagem mais famosa do devasso Marquês de Sade, cuja vida foi retratada no filme Quills, estrelado por Kate Winslet e George Rush. Lisseth é outro nome usado para Lilith, a primeira esposa de Adão em algumas versões do mito de criação. Lilith foi criada diretamente do barro, como o marido. Se rebelou, não querendo se subjugar a Adão. Fugiu para o Mar Vermelho, onde passa a viver em promiscuidade com vários demônios, gerando vários filhos chamados Lillim. Na série de quadrinhos Crimson, Lisseth é a mãe de todos os vampiros. Valmont é o nome do nobre Marquês que aposta ser capaz de corromper uma mulher casada e fiel no livro Ligações Perigosas, mas acaba se apaixonando por ela. Existem duas versões cinematográficas muito boas da história. A primeira é Ligações Perigosas com John Malchovich e Michelle Pfeifer. A outra é Segundas Intenções, com Sarah Michelle Gellar e Ryan Phillipe.

Lu (Dhara): Reconheço que as minhas notas podem não ser tão interessantes ou culturais como as da Ana (aposto todos os meus galeões que até o final de Dias Passados vocês já estarão diplomados nos assuntos cinema, quadrinhos, literatura e mitologia), mas eu não resisto a me intrometer.
Curiosidades sobre a família Ivory: Queria falar um pouquinho a vocês sobre os nomes dos membros da família Ivory que apareceram neste capítulo.
Como já sabe, Betelgeuse é descendente dos Black, que tem por tradição nomearem seus filhos com nomes de origem astronômica ou mitológica. E como eu gosto de ambas as coisas, resolvi seguir com a tradição da mui antiga e nobre família Black, adotando os mesmo conceitos para batizar meus personagens.
Betelgeuse é a estrela principal (também chamada de alfa) da constelação de Órion (ou Caçador).
Rigel é outra estrela de Órion, a segunda mais brilhante da constelação (beta). Isso o remeteria a uma posição imediatamente inferior à de Betelgeuse. O que também se aplica em Dias Passados.
Alrischa é a principal estrela da constelação de Pisces (Peixes). E este também é o signo da minha personagem.
Kamus possui como segundo nome Deneb, que é a estrela alfa da constelação de Cygnus (Cisne). Como Kamus nasceu na Rússia, achei adequado dar a ele o segundo nome de uma estrela de uma constelação boreal. Assim, Kamus não escapou à tradição dos Black.
E, finalizando, Adhara é a estrela épsilon (quarta em grau de importância) da constelação Canis Major (Cão Maior). Não preciso nem dizer que essa foi uma homenagem direta ao Sirius, não é mesmo?

Abraços e até o próximo capítulo.