Eu cresci cultuando filmes de terror, nos quais mortos vivos se colocavam no papel de nossos antagonistas e em um estalar de dedos, esses conseguiam implantar um pandemônio soturno, nos deixando de mãos atadas em um primeiro momento de desesperança.
A origem desses seres, nem sempre seguiam uma mesma lógica de subsistência. Por vezes, a presença desses vinha à tona após uma seita maldita de final discrepante ao esperado, e em outros casos, era a ciência empregada com leviandade que se tornava grande aliada à emersão de caos entre a população, seja por causa de experiências genéticas dissimuladas e equivocadas, ou emissão de radiação desenfreada. Até mesmo, havia longas em que esses seres sedentos por carne humana, se voltavam contra nós sem motivo definido, apenas voltavam à "vida", porque era chegada a hora e ponto.
Nós nunca perdemos tempo imaginando que essa ficção pudesse se voltar contra nós. O famoso apocalipse zumbi nunca foi levado a sério, mas agora, e ao contrário do final dos filmes de terror, a nossa nova rotina estava longe de obter um final, no qual nos colocaríamos no papel de vencedores.
Há pelo menos dois anos, uma epidemia insondável alastrou-se por todo o nosso território, nos deixando desamparados contra os mesmos personagens, que um dia nos trouxeram tanto entretenimento. Fomos todos obrigados a sair de nossas zonas de conforto, e estávamos experimentando na pele a lei da sobrevivência, tão comedida a nós com o passar dos séculos.
Estávamos cercados por um caos que aparentemente nunca cessaria, mas apesar de tudo isso, a resiliência que nos movia a continuar resistindo, ainda era capaz de nos fazer crer que ainda havia esperança, e que ainda havia sobrevivência.
