Capítulo 2
"Por que, Bones. Por que eu?"
Ele sabia que ela estava ali, antes mesmo de ela se aproximar dele. Não levou muito tempo para encontrá-lo. Talvez uns quinze minutos, no máximo. E ela tivera tempo para parar e comprar café. A caixa agora aquecendo suas mãos. Ele era tão previsível. Seus olhos estavam fixos na água à frente, mas o cheiro e calor dela chegaram até ele, pela brisa de outono. Booth permitiu sua mente divagar, imaginando um bebê, o bebê deles, crescendo em segurança no ventre dela. Ele se trouxe de volta à realidade, bravo consigo mesmo por se divertir ao pensamento.
"Você possui todos os atributos necessários. Fisicamente, você é esteticamente agradável, com características bastante simétricas. É inteligente, carinhoso, confiável. Provou sua habilidade com Parker várias e várias vezes. Quer que eu continue?"
"E se eu dissesse que não? E então?" Booth se virou para olhá-la, enquanto ela se esforçava para compreender a resistência dele à idéia.
"Eu teria que considerar outras alternativas. Doação anônima de esperma seria provavelmente uma opção favorecida, apesar de me preocupar com a falta de controle disponível nessa situação. Uma desvantagem a mais seria a falta de figura paterna que meu filho sofreria, o que, segundo pesquisas, é vital para um ótimo desenvolvimento."
"Então, você realmente quer que eu tenha um papel na criação?"
"Claro, Booth. Eu sei o quanto Parker significa para você. Eu nunca esperaria que você tivesse um papel indiferente nisso."
"Nunca planejei acabar nessa situação. Você viu como as coisas são com Rebecca. Constantemente sendo enrolado. Às vezes acho que não sou nada mais do que uma babá glorificada aos olhos dela."
"Então, está me dizendo que não pode fazer isso. Porque ficaria infeliz com as legalidades do direito parental."
"Sim." A saída dos covardes.
"Então, se você tivesse poderes parentais, não haveria problema. Porque tenho certeza que Caroline pode dar um jeito nisso."
"Não é tão simples, Bones."
"Por quê?"
"O que?" Ela não deixaria isso pra lá.
"Por que não é tão simples? Há alguma outra razão de você não gostar da idéia de procriar comigo? Não sou fisicamente atraente para você?"
"Não, Bones. Você é..." ele engoliu. "Linda. Nunca deixe que digam o contrário."
"Apesar de você ainda se manter fiel à declaração de que é mais atraente do que eu."
"O que? Eu nunca disse isso."
"Sim, Booth, você disse."
"Quando?"
"Quando disse que, se fosse uma garota, seria mais bonita do que eu."
"Se! Se eu fosse uma garota, Bones. Obviamente, eu não sou, ou você não estaria me pedindo para ser o pai."
"Você acha que..." a voz dela diminuiu até sussurrar "...que eu seria uma péssima mãe?"
"Deus, Temperance. Não!" Os olhos dela imploravam a ele que a ajudasse a entender o motivo. "Acho que seria uma ótima mãe." Ele lambeu os lábios nervosamente, e cobriu uma mão dela com a sua. "Algum dia. Não tenho certeza se agora é a hora certa. Você pode conhecer alguém amanhã e decidir que quer passar o resto da vida com ele. Alguém por quem possa se apaixonar. É com ele que deve escolher ter um bebê."
"Eu entendo o que está dizendo, Booth, mas tenho certeza de que é a hora certa para mim. E eu sei que você quer outro filho. Faz sentido. É uma solução completamente racional."
"Racional não é um fator."
"Não entendo, Booth. Por que não quer isto? Você adora ser pai do Parker."
"Eu sei, Por isso é tão difícil. Me machuca que eu não esteja presente. E não é só sobre os assuntos legais. Os primeiros passos. As primeiras palavras. A primeira vez que ele dormiu a noite toda. Perdi tudo isso. Todas as preciosas experiências que só acontecem uma vez. E eu realmente não sei se estou preparado para passar por isso de novo, Bones."
"Não seria a mesma coisa, Booth. Eu teria certeza disso."
"E então você conheceria outro cara, que vai querer estar com você o tempo todo, e você vai querer estar com ele e..." Booth bateu o punho contra o canto dos olhos para disfarçar as lágrimas que começavam a se juntar. "Eu estaria na mesma situação que estou com Parker agora. Não posso me afastar e deixar alguém roubar minha família."
"Está falando de nós, Booth?"
Ele olhou diretamente para ela.
"Ouça-me, Booth. Eu prometo. Não seria assim."
"Então, me diga, Bones. Como seria?"
"Como..." Ela parou para considerar. "Seria como é agora. Mas haveria um bebê." A resposta dela era confiante. Ela realmente acreditava nas palavras que dizia, sem censura.
Booth balançou a cabeça violentamente. "Não tem como você saber disso. Ter um filho muda você. Não faça promessas que não pode cumprir, Bones."
"Foi exatamente assim que aconteceu, quando tomamos conta de Andy. Ele estava lá, mas ainda assim conseguimos levar as coisas normalmente."
"Você! Você ficou com ele por dois dias. Era uma guarda provisória. Eu só estava ajudando."
"Não pareceu que cuidamos dele juntos?"
"Sabe, você pode ser bem controladora, Bones."
Ela baixou a cabeça. "Eu realmente pensei..."
"Espere! Está sugerindo que simplesmente joguemos um bebê na traseira da SVU todas as vezes que seguimos uma pista?"
"Há lugar para outra cadeira de bebê, mas creche parece ser a solução mais prática. Ainda estou indecisa quanto ao que prefiro. Apesar de que, com nossas longas e às vezes instáveis horas de trabalho, suspeito que uma babá seria a escolha mais certa."
Booth enterrou a cabeça nas mãos, quando seus protestos não foram ouvidos. Ela estava tão presa à sua fantasia, que nada que ele dissesse chegaria até ela. Erguendo a mão, ele segurou o queixo dela. "Para você, tudo é preto e branco. Eu sei que é como gosta. Mas sempre há manchas cinzas e você não pode ignorá-las, Bones. E, desta vez, há cinza demais."
"O que está dizendo, Booth?"
"Não posso fazer isso. Não posso ter um bebê com você assim. Sinto muito, Temperance."
"Não é como se eu estivesse te pedindo para se ajoelhar, Booth."
"Talvez seja esse o problema. Para eu ter outro filho, tem que ser tudo ou nada. Por favor, entenda o que estou tentando dizer."
Ela assentiu. Sua postura afundou, como se tivesse sido esmagada, enquanto o ponto de vista dele ficava claro para ela. "Você precisa estar com alguém que queira um casamento grande, duas crianças e uma cerca branca. Claro. Entendi." Ela não escondia a tristeza em sua voz, enquanto ficava de pé e corria dele, descendo as escadas.
Ela não entendera nada mesmo.
