N/A¹: What's up, gleeks? ;D
Before It's Too Late
CGates
Chapter #1
Desde criança ela escutava as pessoas falarem que o tempo curava tudo e desde então, sempre tentou se apegar a isso. Todas as vezes que acontecia alguma coisa ruim sua vida, ela pensava 'o tempo irá curar', porém chegou um momento em sua vida que ela foi obrigada a enfrentar a realidade de que nem tudo o tempo podia curar, porque simplesmente, ela não queria que curasse.
Não sabia há quanto tempo estava dormindo ou se realmente havia dormido - e não tirado um cochilo - quando ouviu alguém bater na porta. Ela já imaginava quem poderia ser e por isso não fez questão de abrir os olhos tão rápido, porém sentiu que não estava sozinha naquela cama e com a curiosidade falando mais alto do que a sua preguiça, abriu os olhos lentamente.
Não se surpreendeu quando observou as duas mulheres nuas deitadas ao seu lado na cama. Ambas morenas e com corpos bastante definidos. Não fez questão de tentar lembrar o nome das duas, como sempre, muito menos em tentar acordá-las. O que ela não precisava e não queria no momento era complicação em sua vida. Não precisava de mais uma cicatriz.
Levou as mãos até os olhos esfregando-os tentando afastar de vez o sono quando ouviu mais batidas na porta. Ela quis amaldiçoar a pessoa que estava batendo, porque corria o risco de uma das garotas acordar e teria que começar a tal conversa que procurava sempre evitar quando saía com alguma garota e acordava com ela no dia seguinte. Sentou-se na cama e tomou o máximo de cuidado para não acordá-las conforme se levantava. Caminhou até a poltrona ao lado e vestiu o roupão branco. Logo em seguida caminhou em direção ao guarda-roupa pegando a roupa que vestiria para o trabalho naquela manhã nublada e comum de Seattle. Com as suas vestimentas em mãos, ela finalmente saiu do quarto, olhando pela última vez o rosto das duas garotas para não correr o risco de esquecer pelo menos isso.
Assim que fechou a porta, não conseguiu nem dar um passo em direção ao banheiro do corredor que uma mulher de cabelos curtos e castanho claro, com a pele muito clara veio em sua direção com os braços cruzados no tórax e uma expressão nada alegre no rosto.
"Você sabe que horas são Santana?". Perguntou Lisa ajeitando os óculos de grau rapidamente para não atrapalhar a sua atuação ao passar o sermão que era um ritual em seu dia-a-dia.
"Eu não estou atrasada". Retrucou contornando o corpo da mulher, voltando a caminhar em direção ao banheiro antes que ela a fizesse atrasar para o trabalho de verdade.
"Não está atrasada? Você tem que estar na empresa às 8:00 e agora são 08:30". Contradisse Lisa aumentando o tom de voz e a morena foi obrigada a fazer um sinal para que ela diminuísse o tom de voz que estava ficando perigosamente alto. "Você saiu ontem de novo?". Ela perguntou arregalando os olhos surpresa. Santana não sabia por que ela fazia isso todas as vezes, sendo que ela sabia que esse era o ritmo que a morena costumava ter.
"Os papéis se inverteram e agora eu que devo satisfações a você?". Perguntou arqueando uma sobrancelha enquanto empurrava a porta do banheiro. Lisa era a sua secretária há três anos, porém ela não agia como se pertencesse a esse posto, talvez por ela ser um dos poucos amigos que possuía.
"Pode vir com essas grosserias pra cima de mim, que eu não importo. Você sabe que se continuar nesse ritmo vai acabar morrendo e você tem uma empresa para administrar". Ela retrucou mais uma vez soltando um suspiro no final, provavelmente cansada de discutir o mesmo assunto várias vezes quase todas as manhãs. 'Quase' porque havia dias que Santana trancava a porta com a chave extra e Lisa não conseguia entrar no apartamento para levá-la ao trabalho. "Agora vá tomar banho antes que se atrase ainda mais". Ela ordenou e Santana até pensou em não obedecer porque ela não recebia ordens de ninguém, porém ela precisava se apressar antes que John acabasse descobrindo o seu atraso.
A morena havia se formado em jornalismo em Seattle. Durante a sua graduação, seu pai possuía alguns contatos e ela conseguiu um estágio em um grande jornal da cidade. O salário não era ótimo, porém nunca passou dificuldades, pois seus pais estavam sempre a ajudando com as despesas do apartamento e da universidade, o que restava a ela gastar o dinheiro com festas e bebidas.
Ela se recordava perfeitamente do dia que se formou. Santana estava sentada em uma mesa conversando com alguns colegas de classe quando seu pai pediu licença para poder conversar um assunto sério. Ela lembrava que ficara assustada e quase enfartou imaginando que ele havia descoberto sobre a sua sexualidade, porém quando ele começou o assunto sobre cirurgias ela ficou mais aliviada. Ele contou que o dono do jornal onde ela trabalhava havia feito uma cirurgia com ele recentemente e o seu caso era grave. Ele possuía um tumor no intestino e seu pai conseguiu retirá-lo perfeitamente. Seu pai disse que John não tinha palavras ou ações suficientes para agradecê-lo e tentando recompensar o grande 'favor' que o cirurgião havia feito pra ele, ela havia tornado a sua nova sócia. O espaço ao redor de Santana ficou desfocado e irreconhecível enquanto ela tentava organizar os pensamentos e o que acabara de ouvir, pois ela havia acabado de se formar com vinte e dois anos, não possuía experiência e muito menos nome no mercado e de repente, tornou-se sócia de uma famosa empresa com um salário absurdamente bom, porque isso era o que realmente importava.
Foi no primeiro dia de trabalho que ela conheceu Lisa, ela era dez anos mais velha do que a morena. Foi hilária a cara que Lisa fez quando viu Santana pela primeira vez. Ela diz até hoje que nunca sentiu tanta raiva por saber que receberia ordens de uma adolescente. 'Como se eu fosse tão nova assim', resmungou Santana enquanto passava o condicionador nos longos cabelos escuro.
Demorou certo tempo para surgir uma amizade entre as duas e Santana não se arrependia de ter deixado surgir. Ela agia como se fosse sua irmã mais velha e era extremamente reconfortante para Santana. A morena conseguiu fazer amizades com poucas pessoas do trabalho, porque John a disse que 'eles' precisavam manter um nível de autoridade que para Santana significava ser esnobe com quem tem um cargo muito abaixo do dela.
"Você morreu afogada aí?". Lisa bateu na porta a tirando de seu devaneio e só então ela percebeu que seu cabelo ainda estava repleto de espumas, assim como todo o seu corpo. Não a respondeu e tratou de finalizar o banho mais rápido possível.
Abriu a porta do banheiro relativamente pronta, pois faltava apenas calçar seus sapatos. Caminhou com passos apressados pelo corredor e encontrou Lisa sentada no sofá com os pés na mesa de centro com Miranda a servindo uma xícara de café. "É muito abuso". Ela resmungou indo em direção ao sofá e se sentando ao lado da secretária para calçar o salto.
"Vai tomar café hoje Santana?". Perguntou Miranda com o seu sotaque hispânico dançando em sua voz ajeitando o avental branco enquanto esperava a resposta da morena. Ela abriu um sorriso e balançou a cabeça negando. Miranda era uma das poucas pessoas em sua vida que não conseguia agir com grosseria. Ela havia sido sua babá desde quando tinha dez anos e agora ela havia aceitado vir para Seattle com a família Lopez apenas para ficar mais uma vez perto de Santana. Ela já estava na casa dos cinquenta e era difícil julgá-la, afinal, sua pele morena e cabelos curtos a deixava jovem. "Você precisa comer alguma coisa pelo menos". Ela insistiu caminhando até o balcão, pegando uma barra de cereal. O que a morena mais adorava nela era que ela sempre foi a mãe presente que nunca teve.
"Ok. Só para você não ficar reclamando depois". Cedeu pegando a barra de cereal de suas mãos e se levantando. "Você já sabe o que fazer, certo?". Santana perguntou como perguntava todas as manhãs quando trazia alguma garota para casa. Isto significava que Miranda iria despachar as duas meninas sem mencionar o nome de Santana, deixar o telefone e inventaria alguma desculpa para elas não procurarem pela morena. Santana sempre ficou curiosa com a desculpa que Miranda dava que funcionava tão bem, pois eram raras as vezes que ela arranjava alguma stalker ou algo do tipo.
Miranda assentiu com um balançar de cabeça e um revirar de olhos. Ela era a única próxima da família que sabia do seu 'segredo' e não a julgava. Sempre a apoiou, até mesmo quando ela era adolescente e ainda morava em Lima. Uma dor aguda em seu peito logo foi percebida e antes que Santana pudesse deixá-la crescer e a derrubar em questão de segundos, ela afastou as imagens que começavam a perturbar sua mente e caminhou em direção à porta apressadamente.
"O que houve?". Perguntou Lisa correndo logo atrás enquanto a morena apertava o botão do elevador.
"Você disse que nós temos hora para chegar". Mentiu entrando assim que as portas se abriram. Resolveu não encará-la, porque Lisa possuía um olhar analisador que era muito desconfortável. Virou-se para o espelho que possuía logo atrás e ajeitou seu cabelo mais uma vez, ignorando o reflexo da mulher ao seu lado. Ele não havia mudado muito nos últimos anos, o comprimento continuava o mesmo e a franja cortando a testa também continuava intacta. Só a cor que estava um pouco mais escura.
"Onde você foi ontem à noite?". Lisa perguntou curiosa porque provavelmente ficar em silêncio era muito difícil para a secretária.
"Eu não gravei o nome do bar". Respondeu franzindo o cenho, ajustando a bolsa no ombro e pegando a chave do carro.
"Como você sai e não lembra o nome do bar?". Ela perguntou intrigada caminhando ao lado de uma Santana irritada e apressada.
"Eu vou lá para beber, não pra fazer propaganda pra quem eu conheço". Respondeu automaticamente e logo sentiu que foi rude demais, porém Lisa já estava acostumada com as mudanças repentinas no temperamental humor de sua chefa e não levou a sério. Ela já havia respondido-a pior.
"Mais uma morena?". Ela perguntou em um tom brincalhão, mas Santana sabia que quando ela fazia isso era porque queria saber o motivo da morena se envolver com morenas ou ruivas, nunca loiras.
"Mais duas". Esnobou um pouco enquanto entrava no carro e ajeitava o cinto de segurança. O suspiro que Lisa deu a fez olhar em sua direção e vê-la rir e arregalar levemente os olhos. "O que foi?". Perguntou curiosa.
"Enquanto todos precisam de água e alimento para sobreviver, você precisa de sexo". Respondeu Lisa rindo logo em seguida e Santana até se sentiria ofendida se não fosse verdade. Ela apenas não acompanhou o riso da castanha ao lado, porque havia um motivo a mais para essa rotina e ele definitivamente não a fazia sorrir.
• • •
Seria mais um dia como todos os outros. A sócia iria se reunir com Nicholas - que ocupava o cargo de diretor comercial - para planejar o que precisa ou não ser planejado. Após os planejamentos com Nicholas, Santana iria fazer algumas entrevistas de emprego com a Lisa e com a Morgan - que ocupava o cargo atual de editor-chefe da empresa. E por fim supervisionaria alguns editores, o que renderia boa parte do seu dia. Um dia como todos os outros.
Santana e Lisa entraram no prédio e a morena repassou a lista mentalmente do que precisava fazer ainda hoje. Ela não entendia porque John insistia que ela continuasse fazendo parte das entrevistas sendo que se Morgan estivesse sozinha, conseguiria lidar tranquilamente com a situação. 'Talvez seja para adquirir experiência? Mas por quê?', retrucou Santana em pensamento.
"Você ouviu o que eu disse?". Lisa perguntou distraída a tirando do devaneio. Olhou ao redor e percebeu que seus pés haviam trabalhado sozinhos e já estavam em sua sala.
"Não". Respondeu enquanto jogava a bolsa no sofá de couro perto da porta e caminhava até sua cadeira. Analisou rapidamente o estado do cômodo para certificar de que estava tudo certo, afinal, ela não era muito querida entre seus colegas de trabalho e uma desconfiança é sempre bem vinda nessas situações. Os objetos em cima da mesa como porta-retratos, post-it e porta-caneta estavam no mesmo lugar que havia deixado. Todas as suas gavetas possuíam travas, assim como os seus armários, e sua cadeira estava ajustada do modo que gostava. Santana não precisou decorar muito da sala porque quase não ficava nela, porém adorava o pouco tempo que passava dentro dela. Talvez fosse pela aparência confortável, como as paredes claras com os móveis escuros e uma boa luminosidade, por estar em um dos andares mais altos do prédio comercial.
"Eu perguntei se você quer que eu faça alguma coisa agora ou se eu posso ir adiantando o trabalho pra quando Morgan estiver pronta, ela nos chamar". Explicou Lisa ajeitando o óculos mais uma vez no rosto. 'Ela sempre teve essa mania?', Santana se perguntou enquanto estreitava os olhos e analisava Lisa.
A morena bocejou antes de respondê-la e acabou constatando que sair dia de semana não estava fazendo nada bem para o seu rendimento no trabalho. "Pode ir". Respondeu se ajeitando confortavelmente na cadeira enquanto ligava o computador e gesticulava para a mulher em sua frente.
"Quer um café? Você vai acabar dormindo sobre o teclado". Perguntou Lisa arqueando as sobrancelhas.
"Eu estou bem. Pode ir". Respondeu desviando o rosto da tela rapidamente para encarar a secretária que assentiu com um balançar de cabeça e se retirou, fechando a porta logo em seguida.
A ex-cheerio encostou o cotovelo na mesa e apoiou o rosto na mão enquanto checava o seu e-mail para saber se John queria alguma coisa. Para o seu alívio a caixa de entrava estava vazia, o que significava que poderia tentar sair mais cedo hoje e refrescar a cabeça, porque desde o momento que havia acordado, um sentimento estranho estava rondando pelo seu corpo. Ela não conseguia distinguir o que era e não acreditava em superstições ou coisas do tipo para achar que irá acontecer algo hoje.
Balançou a cabeça para afastar tais pensamentos e sentiu as primeiras pontadas de dor de cabeça. Já estava até estranhando a demora. Retirou a chave do bolso da calça e abriu a primeira gaveta. Possuía vários papéis que não se lembrava para que serviam e no fundo, possuía um caixa de analgésicos, a fiel companheira após suas longas e conturbadas noites. Retirou um comprimido e caminhou até o balcão que ficava perto da porta. Sobre ele, possuía uma jarra de água de vidro com algumas taças em perfeito estado. Encheu a primeira taça que encontrou em sua frente e colocou o comprimido na boca, engolindo-o e bebendo água logo em seguida. Uma rotina, por assim dizer.
Santana estava voltando para o seu lugar quando ouviu batidas na porta. A morena deu meia volta e encontrou um homem claro, com o cabelo castanho levemente grisalho e com uma barba mal feita em pé com uma pilha de papéis em seus braços. "Ah, é você". Ela disse desanimada dando espaço para Nicholas entrar na sala.
"Já começou o dia com um ótimo humor, não?". Ele perguntou ironicamente deixando as pastas sobre a mesa enquanto Santana fechava a porta e cruzava os braços no tórax já desanimada pela quantidade de projetos que ele possuía.
"Claro. Até parece que você não me conhece". Respondeu no mesmo tom, dando a volta na mesa e se sentando de frente para o rapaz. "Você precisa ter uma vida social Nicholas". Ela disse apontando para pilha de papéis.
Ele soltou um riso e a encarou. "Igual a sua, por exemplo? Ir para a cama com duas mulheres toda noite?". Ele perguntou afoito, fazendo seu sangue agitar, não por vergonha, ela nunca sentia isso - pelo contrário, soava até mais bravio quando outra pessoa pronunciava aquelas palavras - mas sim por Lisa não conseguir ficar calada.
"Mais ou menos isso, mas acho difícil você levar uma, imagina duas?". Retrucou arqueando as sobrancelhas pegando o primeiro papel da pilha antes que ele voltasse com aquele assunto. "O que você tem pra mim hoje?". Perguntou cerrando os olhos enquanto analisava a escala gráfica do orçamento da semana.
"Como você pode ver estamos caindo em relação à concorrência. É a segunda semana seguida que nós descemos um ponto no mercado devido à falta de criatividade dos colunistas e pelo atrasado de certas notícias, principalmente no meio do entretenimento". Ele explicou com um tom de voz preocupado, o que estava fazendo a dor de cabeça da morena piorar porque ela sabia que teria que levantar as mangas e tratar de colocar a criatividade e força de vontade em ordem para melhorar a situação para o bem de todos.
"Droga, pelo visto não vou sair cedo hoje". Retrucou Santana para si mesma enquanto cerrava os olhos para tentar aliviar a dor de cabeça. "O que você propõe?". Perguntou massageando as têmporas com a ponta dos dedos.
"Eu tenho alguns contatos em NY e descobri que Kristen Huston está pedindo conta". Nicholas colocou as duas mãos sobre a mesa e abriu um sorriso estranho em sua direção. Kristen Huston era uma das melhores colunistas de NY, seu trabalho era conhecido e almejado por vários lugares do país e seria ótimo se conseguissem trazê-la para trabalhar na empresa. O sorriso no rosto de Nicholas aumentou e só depois de associar a careta que ele estava fazendo que a morena compreendeu o que ele estava insinuando.
"Você não pode estar falando sério". Ela disse surpresa dando uma gargalhada nervosa.
"Por que não? Eu ouvi dizer que ela joga no mesmo time que você e está solteira. Todo esforço será bem vindo". Insistiu Nicholas cruzando os braços.
"Por que não?". Ela ironizou. "Porque ela tem o dobro da minha idade e eu não faço isso para conseguir alguma coisa". Respondeu ainda em choque com o que ele estava propondo. 'O que ele estava insinuando que eu fosse? Uma máquina?', indagou Santana em pensamentos.
"Claro que você faz pra conseguir alguma coisa". Ele retrucou.
"Mas é para mim, não para a empresa". Em certas partes isso era verdade. "Além do mais, ela pode querer algum tipo de relacionamento depois disso e eu não me envolvo com colegas de trabalho". Disse dando o veredito final.
"Não se envolve? Então aquelas vezes que você levou algumas estagiárias e umas duas editoras para a sua casa, foi apenas para assistir televisão?". Ele perguntou arqueando as duas sobrancelhas. Bom, a morena havia saído um pouco do controle algumas vezes, mas tudo porque elas começaram. Santana sempre tratou de respeitar o espaço de trabalho por causa do John e da mídia, porém às vezes ficava um pouco difícil controlar certas coisas. E bom, ela não tinha nada a esconder e não devia satisfações a ninguém.
"Eu não me envolvo mais". Alertou ajeitando a franja que caía sobre o olho. "E minha resposta final é não". Decretou encarando-o pesadamente. Nicholas deu um balançar de ombros e revirou os olhos enquanto pegava o próximo papel e a entregava.
Santana analisou rapidamente e era apenas um quadro de mudanças dentro da rotina dos funcionários. Ele esticou a caneta em sua direção e a morena rubricou sobre a linha no canto da folha. Ela refez essa ação no resto das folhas enquanto ele lamentava o quão tediosa estava a sua vida. Como se ela tivesse o interesse em ouvi-la.
As horas voaram no período que passou com Nicholas e quando menos percebeu, Lisa passava pela porta com sua agenda em mãos. "Oi de novo Nicholas". Ela o cumprimentou e se Santana não a conhecesse tempo suficiente, jamais teria percebido o modo como a secretária suavizou a voz e endireitou a postura. "Não acredito que eu estou vendo isso". Soltou Santana enquanto franzia a testa e colocava os cotovelos sobre a mesa para observar a interação dos dois. Nicholas pelo contrário, não pareceu perceber a ação de Lisa e apenas virou o rosto sorrindo em sua direção, já voltando a atenção para os papéis.
"Já temos que ir para a entrevista?". Santana perguntou afastando-se da mesa e encostando as costas na cadeira, soltando um longo suspiro. Acariciou uma mão na outra na tentativa de aliviar a pressão de ficar escrevendo por algumas horas e soltou outro bocejo.
"Morgan já está te esperando, ela atrasou um pouco por causa da reunião na escola do filho dela". Respondeu Lisa ajeitando o óculos.
Santana levantou da cadeira e pegou o celular, guardando-o no bolso logo em seguida. "Mais um dia sem horário de almoço. Por isso que eu não quero ter filhos". Resmungou enquanto espreguiçava-se.
"Não fale isso que daqui a pouco você acaba tendo uma ninhada e vai morder na própria língua". Zombou Nicholas recolhendo todos os papéis, segurando-os firmes para acompanhá-las até a porta.
"Até parece". Retrucou soltando um riso enquanto passava pela porta e esperava os dois passarem.
"Você tenta parecer que é feita de gelo Santana, mas eu sei que você não é". Disse Lisa caminhando até sua mesa que ficava ao lado da porta da sócia para fiscalizar se estava tudo certo para irem para as entrevistas.
A morena deu de ombros e se virou para acenar para Nicholas que seguia pelo corredor. E é claro, não perdeu a segunda encarada de Lisa no rapaz. Revirou os olhos e acabou se focando em alguns cubículos que ficavam do outro lado do corredor, de frente para a sua sala. Tantos editores focados em seus trabalhos, sem parar para piscar um segundo. Às vezes ela sentia falta, porém não sabia se teria toda essa vocação para ficar nesse ritmo maçante. Para falar a verdade, Santana estaria passando fome se não tivesse conseguido este cargo.
"Vamos?". Perguntou Lisa tocando seu braço, provavelmente por ter a chamado antes e a morena não ter prestado atenção. 'Díos, o que está acontecendo comigo hoje?', pensou Santana. 'Não estou conseguindo me focar em nada'.
Assentiu com um balançar de cabeça e caminhou ao lado de Lisa pelo corredor. "O que você viu no Nicholas?". Perguntou naturalmente ajeitando o cabelo e ajustando a roupa.
"O que?". Ela gaguejou ao perguntar e Santana a encarou arqueando as sobrancelhas. "Eu não sei do que você está falando".
"Ok". Disse a morena sarcasticamente parando rapidamente para encher um copo de café para manter-se acordada nas próximas horas, porque as entrevistas de emprego sempre a derrubavam de tédio.
"Eu estou falando sério". Ela insistiu com a voz em um tom firme para tentar demonstrar autoridade, mas ela sabia que isso não funcionava muito bem com a ex-cheerio.
"Se você está falando". Deu de ombros levando o copo de café à boca e sentindo-o queimar seus lábios. Santana deixou um resmungo um xingamento baixo sair de sua boca enquanto assoprava o líquido.
"Você está insuportável hoje". Soltou Lisa revirando os olhos ao seu lado. A morena não conseguiu conter um sorriso que acabou se tornando um riso pela expressão frustrada no rosto da secretária. Era engraçado como pessoas apaixonadas se frustram a toa, Santana não se recordava de ter ficado assim quando... 'Droga, não posso pensar nisso'. "Não precisa ficar com essa cara só por eu ter falado isso". Lisa disse assustada fazendo Santana engolir seco e fechar os olhos rapidamente pra tentar recuperar a postura. "Você está bem?".
"Só com um pouco de dor de cabeça". Mentiu mais uma vez.
"Quer alguma coisa? Ainda tem analgésicos na sua gaveta?". Perguntou Lisa preocupada parando em sua frente e a analisando. Só então Santana percebeu a diferença significativa de altura entre as duas. Ela batia, praticamente, em seu ombro.
"Não precisa. Vamos acabar logo com isso". Cortou voltando a abrir os olhos e tomar um gole longo de café. Lisa assentiu e como sempre preferiu não insistir, pois sabia que sua chefe não iria explicar.
O silêncio as rondou até a sala das entrevistas. Isso acontecia todas as vezes quando Santana não conseguia controlar o que pensava. Já foi pior, como no começo, por exemplo, mas chegou uma hora que ela precisava acabar controlando, porque precisava continuar em pé, respirando e vivendo.
"Bom dia senhoritas". Cumprimentou Morgan com um sorriso simpático nos lábios. Seu cabelo longo e castanho estava preso e isso lhe dava uma aparência muito mais jovem do que os quarenta anos de idade que possuía.
"Bom dia Morgan". Santana e Lisa cumprimentaram ao mesmo tempo. Elas rondaram a mesa e a morena se sentou em uma ponta e Lisa em outra, deixando o meio para Morgan que seria a responsável pela entrevista.
"Lisa lhe explicou o meu atraso?". Perguntou Morgan receosa virando-se sua direção.
"Sim, não se preocupe com isso". Respondeu a morena retirando o celular do bolso procurando por algum jogo para distraí-la naqueles próximos minutos.
"Certo, então eu acho que podemos começar, não?". Ela perguntou sugestivamente e Lisa assentiu e levantou-se, indo em direção à porta para chamar o primeiro candidato. "Está tudo bem?". Perguntou Morgan em um sussurro virando-se para a morena mais uma vez.
"Só estou com dor de cabeça". Santana respondeu sem retirar os olhos do aparelho. Ela não queria correr o risco de encarar a mulher e deixar passar alguma coisa, pois como todos falavam pelos corredores, Morgan conseguia ser bem acolhedora o que acabava deixando todos muito vulneráveis.
A porta se abriu e Santana continuou encarando o jogo. Morgan cumprimentou o candidato. Uma tal de Jennifer alguma coisa. A morena não prestou atenção e conteve a curiosidade em saber se ela era bonita ou não. Isso já havia acontecido uma vez e não deu muito certo. E como ela havia dito mais cedo para Nicholas, não se envolvia mais com colegas de trabalho, mesmo que essa não venha a ser.
Morgan tratou a menina perfeitamente bem. Era assim com todas as pessoas que entravam para fazer entrevista. Desse modo ficava até mais fácil manter a calma e conseguir o emprego, parece até que ela não sabe que isso os deixava em desvantagem. Porém, Santana não iria comentar sobre isso, afinal, Morgan possuía experiência e a morena não podia reclamar de suas escolhas. Talvez ela trabalhasse com algum tipo de psicologia reversa. 'Por falar nisso, seria até bom se ela me desse algumas aulas para que eu não tivesse tantos problemas como eu tenho', imaginou a morena. 'Já pensou eu conseguir enganar uma garota educadamente? Seria a melhor coisa que iria acontecer na minha vida'.
A ex-cheerio recordava que nas primeiras vezes que acompanhou Morgan em suas entrevistas sempre tratava de anotar as perguntas chaves e algumas dicas para não ficar tão perdida, e se caso um dia precisasse recorrer à procura de emprego, ela já saberia exatamente o que falar e como falar. Mas com o passar do tempo ela acabou 'se acomodando', como diz Morgan, e só entrava na sala para fazer a presença. É claro que John não poderia nem sonhar que isso estava acontecendo, caso contrário Santana perderia todas suas mordomias. Ela tinha sorte que havia conseguido, de certo modo, a confiança e amizade de Morgan e não precisava se preocupar muito.
Caminhando para o tópico de amizades, sua lista não era tão grande já que ela ia do trabalho para casa e de casa para o trabalho, exceto quando parava no bar antes, mas não ia para fazer amizades então não contava. Santana acreditava que era possível até contar na ponta dos dedos o seu ciclo de amizades. Bom, tinha a Lisa que considerava como melhor amiga, mas ela não sabia disso; tinha o Nicholas, porque querendo ou não, um laço de amizade foi formado entre os dois, talvez fosse pelo fato de vê-lo todos os dias e terem os gostos parecidos, como times e estilos musicais; tinha a Morgan como havia sido mencionado, que na opinião da morena era a mais madura e que a colocava muitas vezes na linha, assim como a Lisa; tinha o Patrick e o seu namorado, Mark, que são seus vizinhos e devido o interesse de Lisa em Patrick ao pensar que ele era hetero, acabaram fazendo amizade. Santana recordava como se tivesse acontecido alguns segundos atrás, Lisa convidando Patrick para sair com elas em uma sexta a noite - ela estava um pouco alterada por ter bebido com a morena ao chegar em casa - e ele respondeu que iria ligar para o namorado para ver se ele animava de acompanhá-las. Santana não conseguiu controlar as risadas enquanto Lisa ruborizava e pedia licença ao seu lado. Patrick havia compreendido desde o começo as intenções da secretária e tentava alertá-la de um modo educado, como ele disse, e essa foi a única solução na qual encontrou. Por incrível que pareça, Mark não se exaltou quando ouviu a história, pelo contrário, achou engraçado porque isso sempre acontecia. Talvez fosse pela aparência de Patrick, que possuía o cabelo loiro curto e olhos claros, com um corpo não tão definido, mas robusto. Já Mark era mais magro do que Patrick, com o cabelo castanho levemente raspado e com olhos também claros. Bom, Santana poderia não ter muitos amigos, mas os poucos que possuía, eram suficientes para ela.
A morena se distraiu com um apito em meu celular alertando que a bateria estava fraca, talvez fosse porque ela estava no mesmo jogo há uma hora e meia, mais ou menos.
Ela não tinha certeza de quantas pessoas entraram naquela sala. Havia perdido a conta quando um tal de Sean entrou e começou um entediante assunto sobre alienígenas e teorias conspiratórias quando Morgan o perguntou sobre qual era o tipo de matéria que procurava e se interessava mais. Essa pergunta que fazia, na opinião da morena, era a melhor parte da entrevista e talvez essa fosse a grande chave, pois mostraria se o candidato tem realmente paixão pelo que faz para poder se empenhar dentro da empresa e trazer bons resultados para nós, além de ser possível visualizar a seriedade do indivíduo. E é claro que Santana não passaria se fosse o caso.
Olhou para o relógio em seu celular e ainda eram 14:15, sendo que o seu expediente terminava apenas às 19hs, o que significava que ainda tinha muita coisa para fazer e não teria como enrolar. Fechou a janela do jogo no celular e o guardou no bolso mais uma vez. O último candidato havia saído da sala e ela aproveitou para esticar o corpo, porque ficar sentada naquela mesma postura em uma cadeira ruim, que nada se comparava com a da sua sala, estava matando suas costas. Aproveitou para espreguiçar e andar de um lado para o outro para movimentar o corpo. "Até agora estamos indo bem?". Perguntou Santana caminhando até o balcão que ficava ao lado para se servir de mais um pouco de café.
"Não muito. Poderia ser melhor". Ela respondeu em um suspiro e aproveitou para se alongar e se servir de um pouco de café junto com a morena.
"O que você está procurando hoje?". Perguntou acrescentando açúcar e provando rapidamente.
"Nicholas pediu colunistas hoje". Morgan respondeu voltando ao seu lugar, ajeitando os currículos sobre a mesa.
"Nós estamos precisando. Ele te contou que caímos de novo?". Perguntou caminhando até a enorme janela de vidro que ficava por trás da mesa para analisar a vista. Era engraçado como tudo ficava relativamente pequeno desta altura, fazia Santana senti-se grande e forte, sendo que o último adjetivo não era tão verídico.
"Sim e por isso estou sendo rigorosa". Ela respondeu limpando a garganta.
"Eu preciso pensar em algo urgente". Analisou mais para si mesma enquanto observava um helicóptero passar sobre o prédio. A morena aproveitou para olhar como estava o tempo, e como sempre, estava nublado. Era estranho não ter chovido ainda.
Santana ouviu a porta se abrir e logo em seguida a voz da Lisa preencheu o cômodo. "Eu acho que o último candidato não virá hoje".
"Ele está quantos minutos atrasado?". Morgan perguntou e a morena supôs que ela estava analisando a ficha do atrasado. "Ou melhor, ela". Morgan se corrigiu ao perceber que era uma mulher a próxima candidata. Uma gota molhou o vidro e Santana quase riu da coincidência de ter acabado de analisar que não havia chovido, mas ela iria parecer uma idiota rindo para o vidro e preferiu continuar calada com o copo de café em mãos analisando o trânsito e os outros prédios em sua frente.
"Era para ela ter chegado 14hs, que foi quando você dispensou aquele loiro". Respondeu Lisa mencionando o tal do Sean que gosta de ETs. A morena ouviu a cadeira sendo arrastada, o que seria provavelmente Lisa. "Ela está bem?". Perguntou Lisa em um sussurro para Morgan.
"Eu estou bem, só estou com dor de cabeça, Lisa". Respondeu pela Morgan ainda sem encará-la. A secretária talvez tivesse revirado os olhos ou se assustado, assim como Morgan, mas bem, isso não importava para a ex-cheerio.
"Ok chefe". Ela respondeu ironicamente. Santana levou o café à boca e deu um longo gole aproveitando que havia esfriado um pouco. Pelo menos agora não iria correr o risco de quase perder a garganta por causa desse singelo ato.
Tirou o celular do bolso para olhar as horas mais uma vez e deu um longo suspiro. A candidata não iria vir. Não sabia por que ainda estava parada olhando pela janela tentando controlar seus pensamentos, sendo que poderia muito bem ir adiantando o trabalho para sair mais cedo e ir finalmente beber, porque esse dia estava sendo horrível. Colocou o celular no bolso mais uma vez e olhou pela última vez a chuva fina que caía sobre a cidade e estava se preparando para se virar e sair quando escutou a porta sendo aberta e uma voz, que era tão familiar e que estava presente só em suas lembranças e sonhos, ecoou no cômodo. "Desculpe-me pela demora, o trânsito estava uma loucura e eu acabei me perdendo nesse prédio enorme". Santana esqueceu-se como que respirava e sentiu o copo escorregando de suas inertes mãos indo direto para o chão aos seus pés.
A morena girou o seu trêmulo corpo em choque para ter certeza que não estava sonhando acordada como de costume. Suas pernas bambearam e ela sentiu o olhar de Lisa e Morgan em sua direção, provavelmente estavam assustadas com a sua expressão, na qual ela suspeitava que estivesse medonha pela surpresa inesperada e indesejada.
E bom, a morena não estava sonhando. Ela estava realmente ali, a encarando com aqueles olhos azuis e doces que ansiavam preocupação e choque. Seus olhos perfuravam os castanho e o peito da morena encheu em dor, sentindo seus olhos lacrimejarem e fez o possível pra não deixar uma lágrima se quer cair, afinal, ela havia sido forte por algum tempo e não poderia deixar a barreira cair tão fácil. Porém, ela ainda não havia se preparado para encontrá-la. Santana sequer queria vê-la novamente, mas o destino adorava brincar com a sua vida e a jogou de volta nesse barco.
"Brittany". Um suspiro fraco saiu de seus lábios automaticamente enquanto observava a surpresa nos olhos da loira tomar um caminho diferente, um caminho no qual a morena sabia que se seguiria quando a loira a visse: raiva.
N/A²: Heey povo! Pois é, eu acho que eu demorei só um pouquinho para começar a postar a future Brittana, né? Espero que vocês não tenham desistido (nem estejam com muita raiva) e que continuem aqui comigo, acompanhando essas coisas que eu escrevo. ;d Então, eu queria começar primeiro pedindo desculpas, aconteceu tanta coisa nesses últimos meses comigo que eu até fico surpresa quando começo a lembrar de tudo, de precisar ficar internada até madrugadas viradas estudando. Mas, fazer o que, né? E eu recebi algumas PM's com leitoras me perguntando se eu tinha desistido e bom, eu jamais farei isso. Não sou de começar um trabalho e deixá-lo pela metade e além do mais, eu devo vocês uma fanfic future Brittana, né? ;D Falando um pouquinho dela, a historyline é de quando a Santana havia se assumido para a Brittany no 2x15 recebendo um corte da loira. Depois disso eu modifiquei algumas coisinhas e vocês entenderão conforme os capítulos forem postados (não é confuso, prometo. E ah, não tem nada da terceira temporada aqui). Por falar nos capítulos, eu não sei o dia certo que postarei, porque mesmo com as universidades em greve, estou caçando emprego, então... E eu estava com dúvida e até recorri algumas leitoras para me ajudar, pois eu queria postar essa fanfic em primeira pessoa, com o POV da Santana, porém havia cenas que não daria para a Sants narrar e com isso ficaria meio misturado e acho que nem fica legal, né? Então é mais uma em terceira pessoa e talvez, tenha uns POV no meio. ;]
Nossa, como é bom estar de volta. Estava com saudades dessa gente bonita acompanhando! ;D Espero que continue satisfazendo o gosto de todos vocês e mais uma vez, obrigada por terem acompanhado SMS até o final.
Um grande beijo e abraço pra todos os (as) leitores (as) que acompanham, com comentários ou não.
I've missed you, guys. ;*
