O Recomeço

Autora: Ty e Aline

Gênero: Geral

Classificação: K, PG, 14 anos

Sinopse: Prue Halliwell acorda da morte pela intervenção de uma poderosa e misteriosa feiticeira necromante. E agora, para manter-se viva terá que enfrentar a ira do Anjo da Morte.


Era noite e em seu quarto, Piper Halliwell colocava algumas fotos novas em porta retratos. Em suas mãos estava uma grande fotografia tirada no mês anterior nas escadas da varanda, onde ela, sentada em um dos degraus, sorria abraçada ao marido que segurava no colo o filho caçula, já com dois anos de idade. As irmãs Paige e Phoebe faziam caretas sentadas ao chão junto com seu filho mais velho, com quase quatro anos, sorria brincalhão com as tias. Ela sorriu ternamente para a imagem em suas mãos e colocou-a no retrato, sentindo uma pontada de nostalgia, aquela seria a imagem perfeita de sua família se não fosse pela ausência se alguém que lhe era demasiadamente querida e lhe fazia extrema falta.

Prue, sua querida irmã mais velha, que se fora, fazia agora seis anos. Em sua mente o rosto da irmã começava a aparecer difuso e aquilo lhe doía, era necessário olhar fotos para se recordar dos detalhes da face dela. A saudade já não machucava mais, se acostumara com a dor. E apesar de alegar que já se acostumara, desejava todos os dias, em seu íntimo que a irmã voltasse. Não se culpava mais pela morte dela, mas ainda julgava que deveria ter feito algo para salvá-la. Sim, sabia que a perda de Prue lhe trouxera a nova caçula da família, Paige. Amava-a muito, mas o carinho que sentia pela irmã mais velha era insubstituível.

Ouviu três batidas na porta e viu a cabeça de Phoebe adentrando o quarto com um sorriso sapeca.

– Oi! Tem alguém pelado aí?

Piper riu.

– Não, entra. Estava só colocando umas fotos nos porta-retratos. Finalmente os comprei.

Phoebe entrou no quarto batendo palmas.

– Adoro fotos.

Piper mostrou a fotografia em suas mãos e Phoebe riu.

– Nossa! Eu não acredito que você escolheu essa pra ampliar. Olha a minha cara. – Outra risada. – Olha a Paige.

– Foi a foto que ficou mais bonita. É uma maneira de nos lembrar que apesar de toda a loucura, nós arranjamos tempo de ser uma família saudável e feliz.

Phoebe arqueou as sobrancelhas.

– Depende do que você define como saudável. – Disse com ironia, apontando sua pose na imagem.

– Boba.

Phoebe suspirou, ainda olhando a imagem da família.

– Sabe, essa foto só podia estar mais perfeita se a Prue aparecesse.

– Eu pensei a mesma coisa. – Piper respondeu melancólica. – Eu sinto tanto a falta dela. Às vezes eu fico pensando o que teria sido diferente se ela não tivesse morrido.

– Pra começar, nós não teríamos a Paige.

– Eu sei... Ah... Não dá pra explicar.

Phoebe se inclinou para a irmã e deu-lhe um beijo na testa.

– Eu sei como você se sente, querida, eu também desejo todos os dias que ela volte.

Naquele instante, próximo as lápides onde jaziam os restos da família Halliwell, uma mulher vestida com uma longa túnica negra se materializou. Envolta nas sombras, ela caminhou a passos calmos até a lápide que pertencia a Prudence Halliwell - a irmã mais velha das encantadas. Mulher pousou delicadamente a mão sobre o material frio e foi como se pequenos tentáculos de sombra saíssem de sua pele e envolvessem a superfície da lápide.

– Arliss. Tu não podes fazer isso. – Disse uma voz atrás dela.

A mulher sorriu, ela sabia quem era.

– Eu posso e vou fazer. Não podes me impedir, Ceifador.

Um sujeito alto, trajando uma longa capa preta ergueu uma mão cadavérica, de dedos demasiadamente longos e magros com unhas compridas e pontiagudas e tocou no ombro dela.

– Alguém terá que ser levado no lugar dela. – Ele disse.

– Não o impeço de realizar o teu trabalho, guardião da morte. Escolha quem quiseres.

– Não... Tu profanas o leito eterno de uma alma. Tu deves oferecer outro em sacrifício.

O rosto da feiticeira se tornou inexpressivo e de súbito as sombras sobre a lápide retornaram rapidamente para a mão dela. Arliss virou-se para o Ceifador, a sombra pousou sobre seus olhos cujas íris eram cinzas e pálidas como a de um cadáver.

– Como quiser – Respondeu e se inclinou em uma reverência. - Em meu próximo ritual, executarei um sacrifício duplo para pagar por esta. Agora, deixe-me concluir o que comecei.

Sem esperar a resposta do Ceifador, ela se voltou para a lápide. No chão as sombras se movimentavam, anormalmente, erguendo-se verticalmente do chão e materializando um cajado, onde na parte superior continha uma esfera verde cintilante.

– Pelo passado, trarás o futuro. O poder nascerá da tua linhagem...

Arliss recolheu o cajado erguendo-o. Ao redor dela as sombras se ergueram vorazes, consumindo toda a luz a sua volta. Quando a escuridão se tornou uníca, a esfera do cajado cintilou, tímida e aos poucos. Cânticos na língua dos mortos foram sendo recitados. Eram como gritos e murmúrios de agonia. Ela podia sentir como se os espíritos a tocassem e a acariciassem. Os olhos dela se abriram, brilhando brancos e denunciando um sorriso malicioso. Os gritos de agonia se tornaram mais intensos e uma trilha de luz esverdeada partiu da esfera desenhando e delineando um corpo feminino. Quando a agonia se tornara insuportável aos sentidos mortais, o corpo de Arliss flutuou, se tornando o condutor de toda a energia que a envolvia.

O corpo envolto de luzes a frente dela tomava a formas cada vez mais humanas, já quase podendo distinguir a face de uma moça. Arliss largou o cajado que se manteve reto no ar e avançou seu corpo contra a mulher envolvendo-a em seus braços. Os gritos foram se amenizando, gradualmente se tornando gemidos e com corpo de luzes em seus braços desceu ao chão deitando-a no mármore frio.

O cajado também desceu, rompendo a trilha que levava até o corpo da mulher, e mantendo-se perpendicular ao chão. As sombras foram baixando e a luz emanada da moça foi se esvaindo, dando lugar apenas a um cadáver. Pálido e sem qualquer resquício de vida. Com as pontas dos dedos, Arliss acariciou o rosto dela sentindo a textura da morte ainda sobre ela. Sorriu. Inclinou-se sobre ela, pressionando seus lábios sobre os delas. Deu-lhe o beijo que lhe daria a vida de volta.

Ao erguer-se, observou a musculatura dela se tencionar subitamente. Sim, a dor do acordar.

XXX

Piper e Phoebe tinham acabado de descer para a cozinha, onde se juntaram com Paige e Leo para um chá. Conversavam e riam ao lembrarem de coisas do passado. Coisas que haviam rendido muita agonia e agora rendiam risadas. Era o poder de superar os traumas. De alguma forma se fora um tempo que apesar de tudo sentiam falta.

Piper observou as feições do marido se enrijecer de súbito.

– Algum problema, querido? – Ela perguntou suave, tocando na mão dele.

– Não pode ser... – Ele resmungou para si mesmo.

Piper ficou séria e outras irmãs voltaram suas atenções para o cunhado.

– O que foi? – Piper tornou a perguntar.

Leo, porém não respondeu e desapareceu na habitual luz tremeluzente característica dos Anjos de Guarda. Piper revirou os olhos ao notar o lugar do marido vazio.

– Eu odeio quando ele faz isso...

– Ele recebeu um chamado, Piper... – Paige disse tentando amenizar a situação do cunhado.

– Eu sei e mesmo ele sempre fazendo isso, eu continuo odiando. – Piper deu de ombros. – Não casem com Anjos de Guarda. Excelente companhia, mas com hábitos terríveis. – Ela resmungou. – Seu marido bem sabe! – Acrescentou para Paige.

Leo orbitou para o cemitério, no local onde jazia o corpo da irmã mais velha de sua esposa, uma de suas protegidas. Para sua surpresa encontrou o corpo nu da moça deitado no chão.

– Meu deus! – Exclamou e caiu de joelhos ao lado dela. – Prue!

Ele pegou no rosto dela e ela ofegou com desespero, tentando respirar. Leo observou-a, atônito. O Anjo ergueu de leve o tronco dela para ajudá-la. Mais uma vez ela ofegou, mas desta vez a respiração foi se tornando regular. Depois de alguns minutos, seus olhos verdes começaram a se abrir, mas ao invés do usual verde brilhante, eles estavam num cinza indistinto, como se toda a vida tivesse sido sugada deles.

– Prue... – Leo postou uma mão na bochecha dela. Ela o encarou, em choque. – Prue... Diz alguma coisa. – Ele acariciou-a. De repente, a mão dela se moveu agarrando seu pulso e afastando-o.

– Morta... – Ela balbuciou em um tom asmático. – Eu... estava... morta! – Ofegou. – Por... Porque você me trouxe de volta? – Ela apertava seu pulso com tanta força, que ele queria gritar.

– Prue... – Mas ele não pode terminar, naquele instante ela desfaleceu.

Leo ergueu o olhar e teve a impressão de ver um vulto se afastar. Não, eram apenas sombras.

Ele retirou a camisa e colocou em volta do corpo dela, ainda mortalmente gelado. Ergueu-a em seus braços e orbitou com ela de volta para a casa.

– Leo!! – Deu de cara com Paige quando chegou. – Ah meu Deus!

Ele botou o corpo de Prue no sofá. Ela ofegava, tentando oxigenar o sangue. Paige se aproximou e reconheceu a mulher que só tinha visto em fotografias e que sabia que tinha ido ao enterro.

– Essa é a... Ah meu Deus! PIPER!! PHOEBE!!

– Paige traga algo para esquentá-la. – Mas ela não respondeu, observando descrente o corpo de Prue – RÁPIDO!!

A moça se assustou e correu escada acima.

– Leo!! – Piper e Phoebe adentraram a sala para ver Leo tratando de Prue. Prue...

– Ah meu Deus... – Phoebe exclamou num fio de voz com os olhos se enchendo de lágrimas.

Piper levou as mãos à boca começando a chorar também. Prue ali na sua frente, como era possível.

– O que você fez, Leo!? - Ela perguntou com o tom seco e aterrorizado misturado com o princípio do choro. – O QUE VOCÊ FEZ?! – E avançou contra ele dando-lhe tapas. – ELA ESTÁ MORTA! ELA ESTÁ MORTA!!

Leo virou-se para a esposa tentando contê-la.

– O QUE VOCÊ FEZ, LEO?! PRUE ESTÁ MORTA!!

– Ela está viva. – Phoebe disse e correu na direção do corpo ofegante de Prue.

Piper parou imediatamente, observando em choque Phoebe ao lado de Prue, mas ainda segurava Leo com força. Ele se virou para a esposa e disse com ternura:

– Deixe-me cuidar dela...

– Ela está morta... – Piper balbuciou incerta.

– De alguma forma não está mais.

Leo afastou gentilmente as mãos da esposa e voltou-se para Prue. Paige apareceu naquele momento com um cobertor e viu Piper afundando numa poltrona com uma expressão de profundo terror, Phoebe ao lado do corpo inerte da irmã, imersa em lágrimas.

– Leo, eu não consegui pensar em nada melhor. – Paige se desculpou e jogou o cobertor para ele. Foi para o lado de Piper e segurou sua mão, lembrando-se de como a perda da irmã mais velha tinha sido dolorosa para ela. Ao se tocar daquilo, um sentimento se insegurança a fez estremecer.

Leo envolveu com cuidado o corpo de Prue com o cobertor, deixando o tórax desnudo. Delicadamente colocou as mãos sobre o peito dela, mas sem encostar, fechou os olhos e se concentrou. Submergiram num silencio sepulcral, até mesmo a respiração ruidosa de Prue havia silenciado. Ele aspirou quantidades reguladas de ar, repedidas vezes e suas mãos brilharam. A luz da cura viajou lentamente das mãos dele por todo o corpo de Prue atingindo todas as extremidades. Ela abriu os olhos e Phoebe ao lado trancou a respiração. Leo sentia a protegida cada vez mais forte.

Atrás deles, Piper, incapaz de ver, afundou o rosto no colo de Paige e se permitiu ser tragada por um choro compulsivo e emocionado. A caçula acariciou os cabelos macios da irmã, o sentimento de insegurança cada vez mais forte. Contagiada por toda aquela emoção, lágrimas também lhe subiram aos olhos. Porém uma ponta de incerteza a dominava, estava chorando pela emoção da irmã mais velha que voltava a vida ou pelo medo de ser deixada para trás agora que não era necessário substituir ninguém para manter o Poder das Três. Paige sacudiu a cabeça tentando afastar tais pensamentos, aquele não era momento para a ignorância.

Leo abriu os olhos e interrompeu o processo de cura, completamente esgotado. Caiu sentado no chão, porém não deu atenção ao cansaço, estava mais preocupado com a protegida. Suas feições ainda estavam pálidas, porém era a palidez da fraqueza, pois o sangue já corria em suas veias. Ela não se mexia e seu olhar, agora tomando de volta a coloração verde mantinha-se opaco, vazio. Mirava o teto, porém o anjo não podia afirmar que ela o enxergava.

– Prue, querida... – Ouviu Phoebe chamá-la com suavidade.

Piper erguia o olhar tomando coragem de ver a irmã, até pouco tempo completamente morta e se arrastou para junto de Phoebe.

– Prue... – Piper chamou ainda chorosa.

Prue, porém, parecia não escutar.

– Por que ela não responde? – Perguntou Phoebe já sucumbindo novamente ao desespero.

– Eu não sei, nunca devolvi o sopro da vida para ninguém.

– Não importa... – Disse Piper dando um beijo no rosto da irmã. – Nossa Prue está de volta.

XXX

O dia estava amanhecendo e com calma assentando aquele turbilhão de emoções da noite anterior. Paige estava no sótão, sentada num sofá velho, folheando o Livro das Trevas. Aparentemente ela era a única que se preocupava em descobrir como Prue havia regressado da Morte. Apesar de que lia e lia as informações do livro e não conseguia absorver uma palavra sequer. A única coisa que podia pensar era: o que aconteceria com o Poder das Três? Prue estava mais forte a cada hora que passava e sabia que era uma questão de tempo até que estivesse usando seus poderes e apta a trabalhar com feitiçarias. De tudo que sempre ouvira Piper e Phoebe falarem, Prue sempre fora a mais poderosa das três, porém os poderes das outras três havia crescido muito naqueles seis anos em que a primogênita estivera morta. Suspirou.

– Ei, estou sentindo certa agonia em você... – Paige ouviu a voz suave de Leo e se moveu para que ele sentasse ao seu lado.

– Não é nada, estou apenas preocupada com o que trouxe a Prue de volta. – Mentiu ela. – Phoebe e Piper estão excitadas demais para pensar nessas trivialidades.

– Isso não é nada trivial. Eu também estou muito preocupado com isso. Ressuscitar alguém é algo muito grave. Principalmente porque requer um poder muito grande para isso, só os mais ousados ousam bater de frente com a Morte. Além de que, quem volta muito raramente volta como antes. Duvido que Prue ainda seja a mesma.

Paige absorveu com cuidado as últimas palavras de Leo.

– Olha, – disse ela. – Eu achei algo no Livro. "Necromantes. Pouco se sabe sobre esses degenerados. São feiticeiros extremamente poderosos. Especialistas em Necromancia, a arte de manipular os mortos. Podem convocar os mortos, banir ou aprisionar as almas, até mesmo forçar a incorporação de fantasmas em corpos vivos ou mortos e devido a essas habilidades, dizem que são os únicos capazes de realizar rituais para acordar um corpo da morte com perfeição. A Necromancia pode ser aprendida por qualquer bruxo ou bruxa, porém ela só pode ser ensinada por um necromante praticante e para isso acontecer é necessário ser escolhido para tal. Obedecem a uma hierarquia rígida e organizada de modo que só aceitam iniciantes pelo objetivo de levar seus conhecimentos para além da parede da mortalidade. Uma vez inserido nesta ciência, não há caminho de volta. Uma vez envolto pelas sombras da morte, elas jamais o abandonarão". Credo...

– Eu pensei neles, mas os necromantes são tão poucos... E eles só agem de acordo com os seus interesses, pela movimentação dos clãs, não consigo ver uma ligação com a Prue. Apesar de que... – Então ele lembrou do vulto se afastando quando encontrara Prue no cemitério. Podiam ser apenas sombras, mas sabia que os necromantes também tinham a capacidade de manipular a escuridão. Não era uma possibilidade a ser descartada.

– Apesar do que, Leo? – Paige perguntou.

Ele ia responder, mas ouviram Piper os chamando lá em baixo.

Adentraram o quarto de Prue, que dormia. As outras duas irmãs estavam lá.

– O que foi? – Perguntou Leo.

– Ela está acordando... – Piper disse sorrindo.

– Eu vou continuar minhas pesquisas no sótão, ela não me conhece. Acabou de acordar depois de seis anos e descobre que tem uma irmã no lugar dela... – Paige falou e saiu rápido antes que pudessem segurá-la ali.

Prue se mexeu de leve novamente e abriu os olhos lentamente. O quarto estava com todas as cortinas fechadas, recomendação de Leo, para que as retinas dela se acostumassem com a iluminação aos poucos.

– Oi, querida... – Cumprimentou Piper, mal podendo conter as lágrimas.

Prue encarou-a como se não a reconhecesse e virou o rosto para Phoebe. Ela estava tão confusa.

– Onde... – Balbuciou com a voz fraca e o tom incerto.

– Ela não nos reconhece. – Phoebe afirmou.

Leo naquele momento ouviu o chamado dos Anciões, mas ignorou, seu dever naquele instante era com sua protegida. Tinha de qualquer forma, falar com ele, mas agora Prue precisava dele. Sentou-se na beira da cama e tocou de leve na mão dela. Deixando seu calor fluir para ela.

Ela o encarou com desespero no olhar, implorando que dissipasse a confusão que sentia. Apertou as duas mãos dela com as suas e pediu que fechasse os olhos. Piper juntou as duas mãos num misto de prece e expectativa. Phoebe a abraçou compartilhando do sentimento.

Prue arregalou os olhos de súbito, o semblante tomado pelo terror.

– Eu estava... morta...

Piper e Phoebe não se seguraram e correram para abraçar a irmã. E juntas, como em tantos momentos as três choraram outra vez.

Leo deu espaço a elas e caminhou até a porta onde flagrou Paige espiando a cena comovida.

– Por que você não vai lá? – Leo convidou com carinho.

– Eu não tenho esse direito...

– Você é tão irmã dela quanto é de Piper e Phoebe.

– Não sei... E estou com medo do que pode acontecer agora que Prue voltou.

Leo tocou no rosto dela com as duas mãos e limpou as lágrimas dela.

– Você não está pensando que elas vão te excluir porque a Prue voltou, está?

– E por que elas não fariam isso, Leo. O Poder das Três original foi restituído, eu sou apenas a peça de reposição. Prue vai recuperar os poderes dela e eu não terei mais serventia aqui.

– É realmente isso que você pensa das suas irmãs, que elas te mantêm junto delas porque precisam do Poder das Três?

– Foi por esse motivo que elas me trouxeram para junto delas no começo.

– Vocês construíram um laço forte demais para ser rompido assim. E você vai construir esse laço com Prue também. Ela vai precisar de toda a ajuda possível para se restabelecer. Isso se os Anciões permitirem que ela fique.

– Como é?

– Eu recebi um chamado deles, e sei que é pra falar da Prue. Bem, ao invés de achar que ganhou uma concorrente, pense que ganhou mais uma irmã. E uma irmã maravilhosa! Você, toda maluquinha, Prue vai adorar tomar conta de você também.

– Obrigada, Leo – Ela disse dando-lhe um abraço. Sim, estava sendo egoísta demais. – Você é o melhor.

Leo sorriu e pediu a ela que avisasse Piper que fora se encontrar com os Anciões. Por fim desapareceu tremeluzindo.

Paige tornou a observar as três irmãs. As palavras Leo haviam amenizado um pouco dos seus temores, mas ainda assim sentia-se ameaçada.

XXX

– O Papai ta demorando muito. – Piper ia dizendo para o filho mais novo que estava em seu colo. – Ah! Paige, você está aí! Estava ficando preocupada com você, você sumiu.

– Estive na casa o tempo todo, Piper. – A caçula respondeu sem mover o olhar do livro das trevas, onde lia pela enésima vez sobre os Necromantes.

Piper suspirou e pôs o Chris no chão, que foi se aventurar sem seus passinhos desajeitados. A Mãe sentou ao lado de sua irmã e tocou-se a mão de leve.

– Por que você não ficou com a gente lá em cima? – Piper perguntou com o tom suave que usava com seus filhos quando estavam tristes.

– Eu não quero atrapalhar, Piper, esse é o momento de vocês três. Achei que seria mais útil tentando desvendar esse mistério ao redor da Prue.

– Por que você acha que vai atrapalhar, querida, você é nossa irmã, irmã dela também. Jamais atrapalharia.

Paige encolheu os ombros.

– Melhor não, esse é o momento de vocês. Tanto queriam que ela voltasse que conseguiram. – Piper notou uma ponta de ciúmes na voz da caçula, mas esta logo desviou o assunto. – Você já apresentou os sobrinhos dela?

– Não. – Piper respondeu suspirando. – Ela mal consegue lembrar da gente. Ainda ta assustada demais por ter voltado. Ela não lembra de nada relacionado a morte dela. Diz que lembra apenas de sentir muito frio e de estar tudo muito escuro, mas é difícil pra ela estabelecer um período de tempo, é tudo muito vago.

– Eu imagino que sim...

– Essa reabilitação da Prue vai ser bem penosa. Se fossem apenas alguns dias, algumas semanas. Foram seis anos! Ela está muito confusa, chora o tempo todo por tentar entender e não conseguir. Não quero assustar os meninos.

XXX

Alguns dias haviam se passado e naquela manhã Prue observava o movimento da rua pela janela de seu quarto. Quieta, sentada em uma poltrona com as pernas para cima. Algumas crianças brincavam na rua, haviam adultos também e alguns rostos lhe pareciam quase familiares, porém não tinha certeza. Assim como não tinha certeza de nada sobre ela mesma. As irmãs lhe faziam companhia o máximo de tempo possível e pacientemente esclareciam todas as dúvidas que podiam. Mas era estranho, sabia que elas eram suas irmãs, sentia isso, entretanto ainda lhe pareciam tão estranhas. Lembrava-se de tão pouco e tudo que lembrava era tão confuso. Era terrível.

O único capaz de lhe oferecer um pouco de calma e um sentimento de clareza era Leo, seu Anjo de Guarda e seu cunhado. Quando ele se aproximava era como se toda a agonia se esvaísse permanecendo um agradável conforto, paz e tranqüilidade.

Ouviu uma batida na porta, provavelmente era uma de suas irmãs e pelo horário devia ser Piper, trazendo-lhe algo para comer. Murmurou um "entre" e permaneceu onde estava. A porta se abriu e para sua surpresa uma moça alta adentrou o quarto com uma bandeja. Ela deu um sorrisinho tímido e colocou o conteúdo em suas mãos sobre a cama.

– Piper e Phoebe tiveram que sair, por isso pediram que eu lhe trouxesse o seu almoço. – Ela disse tímida.

Prue sorriu em agradecimento.

– Eu não te conheço. – Afirmou antes que a moça se retirasse do quarto. – Digo, todas as pessoas que eu conheci antes de alguma forma elas me parecem familiar. Mas você eu não reconheço.

– Você devia tomar cuidado ao falar assim... – A moça respondeu, repreendendo-a. Prue percebeu que ela sabia de sua ressuscitação.

– Piper não colocaria em minha presença alguém que não soubesse da situação.

A moça sorriu pela primeira vez.

– Você está certa.

Prue sorriu. De alguma forma daquela moça sentia naquela moça o mesmo poder de transmitir paz e tranqüilidade que sentia com Leo.

– Então, como se chama? – Prue perguntou ao se levantar da poltrona.

– Paige.

Prue franziu o cenho.

– Quantos P's ao meu redor...

Paige riu.

– Bem, eu vou deixá-la comer.

– Não, fique e me faça companhia. Por favor, eu me sinto tão sozinha.

– Mas Phoebe e Piper estão o tempo todo com você. – Paige disse ao sentar-se na cama ao lado da irmã mais velha que ainda vem fazia idéia do laço que as unia.

– Sim, eu sei, mas é diferente... – Prue falava lentamente, em seu olhar a curiosidade presente, como a de uma criança. Ela esta reaprendendo a viver. – Eu preciso da companhia de alguém que não cobre que eu lembre de alguma coisa.

– Entendo,

– Então, por favor fique. Eu não sei porque, mas eu sinto em você a mesma tranqüilidade que só o Leo consegue me passar.

Paige sorriu. Como ela reagiria?, perguntou-se.

– Deve ser porque eu sou metade anjo.

Prue sorriu por um momento, mas logo ela se tornou séria, pensativa, analisando os traços de Paige. Tocou o rosto da moça gentilmente, estudando-o. Por fim o resquício de um sorriso quase apareceu no rosto dela.

– Tem algo de familiar em você. Seu olhar...

Então, de repente, ela balançou a cabeça como se acordasse de um devaneio e riu nervosa, talvez embaraçada. O que mostrava que ela pudesse estar recuperando sua antiga personalidade. Paige ouvira Piper e Phoebe dizerem que Prue pouco se expressava e quando falava era sem qualquer emoção.

Observou-a começar a comer timidamente.

– Você vive aqui? Com Piper e Phoebe? Vejo-a entrar e sair da casa constantemente.

– Vivia... Depois que casei, fui morar com meu marido.

Paige jamais acreditara que Prue de alguma forma desejaria seu mal. Temia que em função da magia e das profecias, tivesse que se afastar. Não suportaria perder sua família outra vez.

– Prue, você já tentou usar seus poderes?

Prue limpou a boca com um guardanapo antes de responder.

– Não, ainda não tive coragem.

– Por quê?

– Não sei, temo pelo que pode acontecer. Eu estava morta. Não pertenço mais a esse lugar. Por mais que Piper e Phoebe desejem que eu fique, não me surpreenderei se a qualquer momento Leo aparecer dizendo que tem que me levar lá para cima.

– Leo está fazendo de tudo para que você fique.

– Eu sei, mas não quero perder tudo de novo.

– É esta a sensação, quando... – Paige tinha medo de falar e de alguma forma entristecê-la, ou mesmo ofendê-la. - Quando morremos?

– Pra falar a verdade, não faço idéia. – Prue pareceu não se importar. – Lembro-me de nada de quando estive morta. Agora é como se fosse um longo sono sem sonhos. Lembro-me de sentir muito frio e de ser muito escuro. Fora isso, é um grande vazio que acabou se estendendo por toda a minha memória. É por isso que eu gosto da companhia de Leo, essa sensação de frio e escuridão vai embora. E agora com você.

Paige sorriu.

– Você não tem idéia de como Piper sofreu quando você se foi.

– As pessoas vêem a morte de maneira errada. – Prue se limitou a dizer.

Elas ouviram o ranger da porta de abrindo e se viraram para ver um pequeno menino por volta dos seus quatro anos, de cabelos loiros e olhos azuis cativantes adentrar o quarto timidamente.

– Tia Paige... – Ele resmungou coçando os olhinhos.

– Wyatt, você acordou.

O menino correu para o colo de Paige.

– Wyatt diga 'oi' para sua Tia Prue.

Prue encarou Paige surpresa.

– Oi, Tia Prue... Tia Prue? Você é minha tia de verdade ou só aquelas tias que não são tias de verdade? – Ele perguntou, aninhado no colo de Paige

– Eu... Eu... Não sei... – Prue procurou a resposta no rosto da moça que a encarava com um sorriso.

– Ela é sua tia de verdade, Wyatt. – A tia mais nova respondeu.

– Legal, agora eu tenho três tias de verdade. – Ele fez o número três nos dedinhos gorduchos – Tia Paige, Tia Phoebe e Tia Prue.

– Ele é filho da Piper.

– Isso mesmo.

– E pelo que ele diz... Você também é minha irmã.

– Apenas meia-irmã.

Prue abriu um sorriso desengonçado.

– É irmã o suficiente pra mim.

Paige não pode conter que as lágrimas subissem-lhe os olhos.

XXX

Junto com Phoebe, Piper voltara para casa carregando o pequeno Chris num braço e algumas sacolas na outra. Vindo lá de cima pode escutar as gargalhadas de Wyatt, provavelmente às farras com a Tia Paige. Esperava que ela tivesse enfrentado sua insegurança e tivesse ido finalmente ter com Prue. Fora conselho do marido, forçá-la indiretamente a conhecer a irmã mais velha. Sabia que a caçula sempre se vira como uma substituta da primogênita e vira o medo dela estampado dos olhos desde que a outra regressara. Paige teria que superar e entender que, com Prue ou sem Prue, ela era parte da família.

Ela virou-se para a irmã que sorria ao escutar as gargalhadas do sobrinho

– Você acha que deu certo? – Perguntou Phoebe baixinho.

– Se não deu, eu desisto e parto pra briga com a Paige. – Piper respondeu pondo Chris no chão.

– Se não deu certo deixa que eu falo com a Paige.

O bebê saiu cambaleando até cair sentadinho e elas puseram as sacolas sobre a mesa de jantar. Em seguida, Piper pegou o bebê e seguiram escadas acima. Para sua surpresa as gargalhadas vinham do quarto de Prue.

Adentraram devagar e viu as duas irmãs brincando com seu filho mais velho.

– Mamãe! – Ele gritou quando a viu.

– Oi Piper, oi Phoebe, – Paige cumprimentou-a levantando-se do chão.

Prue também se levanta, porém com a expressão séria.

– Como é que vocês me escondem meus sobrinhos e pior, minha irmã? – Prue disse com uma expressão no rosto que arrepiou até Paige.

Piper olhou para a irmã mais velha sem saber o que responder e em seguida encarou a caçula, meio que procurando a resposta do olhar dela. Por fim Prue sorriu e Piper também.

– Foi ela que se escondeu sozinha! – Phoebe apontou para Paige, dizendo em sua defesa.

– Esse seu olhar continua tão assustador quanto sempre. – Piper disse se juntando a elas.

XXX

Vários dias tinham se passado, aos poucos Prue foi retomando sua vida dentro da casa ainda não tendo coragem de por os pés na rua. De fato nem era bom ela sair, visto que as irmãs ainda não tinham arrumado uma história para justificar sua volta, após seis anos estando morta.

Naquele fim de tarde, porém, ela se sentia agoniada. Conversara sobre isso com Leo que ainda era sua companhia preferida, porém não conseguira aliviar o peso que sentia. Pediu que ele a levasse até o cemitério onde seu corpo estivera sepultado.

– Eu vou te deixar sozinha. Quando quiser voltar, é só me chamar.

Prue afirmou com um aceno em resposta e observou ele desaparecer em meio a luz. Voltou-se para sua lápide e leu em voz alta: Prudence Halliwell 1970 – 2001. Tocou as letras douradas em alto relevo.

– Como isso foi possível? – Perguntou-se.

Abaixou a cabeça, procurando por resposta e viu uma sombra mover-se. Virou-se de súbito sentindo o coração parando em seu peito por um momento. Viu um sujeito alto, usando veste longas e pretas, a face escondida pelas sombras. Ele estendeu as mãos de dedos longos, magros e cadavéricos, que compunham uma imagem que ela só vira uma vez antes em pessoa e jurara nunca mais querer ver novamente. Mas quando fora que o vira? Não conseguia recordar.

– Você me quer.

– Você me pertence. – Disse uma voz sussurrante como o vento e espectral.

Prue sentiu os pelos da nuca se arrepiarem. Sabia quem era aquela criatura e sabia que não estava errado. Não pertencia mais a este mundo, portando baixou os olhos permitindo a ele que a subjugasse espiritualmente. A mão dele tocou sua face erguendo-a e forçando-a a mirar seu rosto misterioso oculto pelas sombras. Seus lábios de abriram um pouco e foi como se com o ar que saía de seus pulmões saía junto a vida que existia em si. Começou a ouvir um lamento agonizante ao longe e seus olhos viram uma mulher de olhos mortos, segurando um longo cajado onde na parte superior uma espera brilhava verde. De repente ela desapareceu. Prue fechou os olhos, sentindo-se fraca demais, seu corpo caindo nas mãos mortas da criatura a quem sua vida pertencia.

– Ceifador, a dívida não é dela... – Prue teve a impressão de ouvir alguém dizer, mas estava fraca demais para distinguir qualquer coisa.

Momentos depois, ouviu o som de uma explosão e sentiu seu corpo caindo num baque surdo contra o mármore frio do chão.

Frio... Frio e escuro. Arrastava-se em direção a escuridão.

– Prue, – Seu nome ecoou através de uma voz masculina e firme. – Prue, não vá.

Ela custou a abrir os olhos, encontrando-se aninhada nos braços de um homem de rosto familiar. Sentiu o calor do rosto dele e fracamente empurrou-se para perto, tentando puxar o calor dele. Seu corpo tremia muito e queria ficar o mais perto dele que fosse possível. Ele a abraçou. Ele tinhas olhos azuis, profundos que traziam dentro de si uma grande tristeza.

– Não vá. – ele sussurrou.

– Este não é mais o meu lugar... – Prue disse num fio de voz.

– Pode voltar a ser, Prudence.

Prudence. Ninguém a chamava assim, nem ele, jamais a chamara assim antes, porque agora.

– Ajude-me... Cole.

Ele se levantou, erguendo-a nos braços, em seguida eles desapareceram.

Materializaram-se na sala da casa das Halliwell, para a surpresa das três irmãs, que lá estavam. Prue imediatamente acordou da letargia que se encontrava e começou a se debater no colo de Cole.

– Me solta. – Ela ordenou.

Ele colocou-a gentilmente no chão.

– Cole! – a voz de sua ex-esposa chamando-o.

– Como vai, Phoebe?

– O que você está fazendo aqui, e com a Prue!?

Cole voltou-se para Prue que se afastou, escondendo-se atrás da irmã.

– Ela anda desorientada demais, é melhor terem cuidado. Principalmente agora que o submundo já está sabendo que a Halliwell mais velha despertou do sono dos mortos.

– Obrigada pelo alerta e obrigado por trazê-la, agora pode ir, Cole.

– Como quiser, Phoebe. É bom ver que você está bem.

– Vá, Cole.

– E a propósito, fico feliz por vocês terem conseguido a Prue de volta, seja lá como vocês fizeram, foi um ritual muito bem feito. – Ele disse num tom sujestivo e desapareceu.

Phoebe ignorou e voltou-se imediatamente para a irmã.

– Você está bem, querida, ele te machucou?

– Não, ele me salvou. Mas eu não gosto dele – Prue respondeu olhando para o ponto onde Cole estivera.

– Você nunca gostou.

– Eu vou para o meu quarto. – Prue disse e subiu a escada apressadamente.

Phoebe franziu o cenho, tentando imaginar o que Cole fizera com ela, ou será que a relação dos dois se baseava em um pouco mais que antipatia a primeira vista. De fato não gostava de nenhuma das opções, especialmente agora que Prue estava tão debilitada espiritualmente. E a notícia de que o Submundo podia estar de organizando para se aproveitar disso para feri-la só pioravam as coisas. Phoebe suspirou e voltou-se para Piper e Paige, sabendo exatamente que nas mentes delas se passava o mesmo pensamento de passava em sua mente. Prue ainda não recuperara seus poderes e seja lá o que pudesse acontecer, elas deviam estar preparadas para defender a irmã.

XXX

Cole se materializou de volta em um cemitério, porém, não o mesmo onde resgatara Prue de ter sido levada para a Morte. Perguntava-se se deveria ter permitido que o Ceifador concluísse seu trabalho. Sabia que sim, não deveria ter interferido. Mas o Anjo da Morte iria atrás dela quantas vezes fossem necessárias para levá-la de onde jamais deveria ter saído.

Estava às portas de um Mausoléu, onde descansavam os restos de sua família. Adentrou e caminhou lentamente até a tumba onde jazia Elizabeth Turner.

– Maldita seja... Por que, minha mãe?

XXX

O quarto de Prue estaria totalmente imerso na escuridão se não fosse pelas luzes dos postes das ruas atravessavam tenuemente as cortinas translúcidas. A moça estava deitada na cama em posição fetal. Tremia muito, porém não era frio e também não era medo. Sentia-se nauseada e repetidas vezes fora surpreendida pela ânsia de vomitar, porém, não tinha forças para se levantar. Mas não se preocupava, tinham muitas horas que não comia nada.

Estava num estágio de pré-sono no qual não sabia distinguir o real do irreal e achava que as estranhas tremulações das sombras na parede eram apenas fruto de sua imaginação. Tentáculos escuros subiam pelas paredes e Prue mirava hipnotizadas pelos movimentos lentos. Não tinha medo da escuridão, aliás, era a única coisa que lhe acalentava desde que acordara subitamente do sono na morte, onde estivera por tanto tempo.

Mirava as sombras e sentiu um corpo quente deitar atrás de si. Pelas formas que lhe tocavam suavemente, sentiu que era uma mulher. A mão dela subiu lentamente pela lateral do corpo de Prue que permanecia imóvel encarando os desenhos engolirem a parede. A mão intrusa subiu pelas coxas, demorando-se no quadril e partindo pela curva da cintura. Prue sentiu a respiração quente em seu pescoço. O toque subiu gentil contornando os seios e alcançando seu braço. Lábios tocaram seu ponto sensível atrás da orelha e a voz quente inundou seus pensamentos.

– É hora de retornar, minha encantada.

Prue fechou os olhos e logo todo o calor se foi e o quarto inundou a escuridão total. Sentiu um calafrio arrepiar-lhe os pelos da nuca. Sentou-se na cama e viu o Ceifador de pé. Sabia que seu rosto oculto pela sombra trazia uma expressão de puro desdém.

– Ninguém pode me enganar. Eu sempre volto para realizar o meu trabalho.

Prue baixou os olhos, não teria coragem de impedi-lo. Uma brisa fria cruzou seu rosto e ouviu sons estranhos. Tornou a abrir os olhos e viu-se em uma estrada. As luzes dos faróis de um carro que se aproximava chamou sua atenção e teve um pressentimento ruim. Quando o carro alcançou sua vista, viu sua irmã caçula, recém descoberta, Paige. Seu coração gelou quando viu o Ceifador avançar por cima do carro. Suas mãos descarnadas de unhas pontiagudas furando e rasgando o teto do veículo que avançava em alta velocidade. Prue não acreditava no via. O golpe final foi dado quando ele enfiou uma mão inteira para dentro do veículo e puxou o corpo de Paige. O corpo dela balançava nas mãos enormes dele como se fosse uma boneca sem vida. E então viu o carro, sem motorista, perder o controle e bater contra uma árvore.

Prue, sem pensar, correu até o veículo e encontrou Paige, morta, com a cabeça caída sobre o volante. O pára-brisa havia quebrado com o impacto e os estilhaços de vidro, cortado a face e os braços da moça.

– Não! Não... NÃO!!

Prue abriu os olhos de repente e viu-se sozinha em seu quarto, deitada em sua cama. Virou-se para a parede e não havia qualquer sombra diferente do usual. Fora tudo um sonho. Porém estava agoniada. Algo estava muito errado, sentia isso.

Saiu da cama e correu pelos corredores a procura de Paige. O desespero começando a tomar conta ao não encontrá-la.

– Piper, onde está a Paige? – Perguntou assim que encontrou a irmã.

– Ela foi para o apartamento dela. Prue você está bem? Está toda suada.

– Eu não estou bem. – Atacou, esquivando-se dos cuidados de Piper. – Ela foi de carro? Ela foi dirigindo? Responde!

– Acalme-se, Prue! É claro que ela foi dirigindo.

– Ah, meu Deus!

– O que está acontecendo Prue.

Ela não respondeu, ao invés disso, começou a gritar para o nada.

– Por que você está fazendo isso, seu Maldito? Deixe-a em paz, é a mim que você quer. Leve a mim e não a ela. Fui eu quem o enganou. Leve-me!

Piper puxou Prue com certa violência forçando-a a encará-la.

– Prue, o que está acontecendo?

– Paige... – Começou com a voz trêmula. – Ela vai morrer. Por minha culpa. O Anjo da Morte vai levá-la no meu lugar.

– Por que você está dizendo isso? Paige foi para a casa dela, ver o marido.

– Ela vai sofrer um acidente de carro.

– Espere aí, quem tem as premonições aqui é a Phoebe.

– Não é premonição, Piper. Ele me disse. Ele me ameaçou em sonho. Ele vai levá-la.

– Ele não pode fazer isso!

– Ele tem que levar a mim...

– Ele não pode fazer isso também.

Prue sentiu-se tonta e por um momento, achou que o Ceifador havia escutado suas palavras e estava finalmente fazendo o que devia. Sentia seu corpo viajando para fora de seu corpo, mas a sensação era completamente diferente da sentida quando ele tentara levá-la pela primeira vez e fora interrompido por Cole. Aquilo era algo familiar. Já tinha executado aquela ação centenas de vezes antes, em vida.

Projetou-se para o exato ponto onde estivera no sonho. A sombra da morte se fazia presente em todo lugar que olhava.

– Se é pra levar alguém, leve a mim. – Disse entre dentes.

O carro se aproximava em alta velocidade e Prue se colocou na estrada, na direção do veículo. Trancou a respiração, fechou os olhos e ouviu a freada brusca e sonora.

Prue abriu os olhos apenas para ver Paige descer do carro, assustada e sentiu seu corpo sendo puxado de volta, então se viu de volta na mansão. Onde seu corpo estava caído no chão com Piper debruçada sobre.

– Oh Deus, Prue.

– Paige está bem...

– O que diabos foi aquilo?! – Ouviram a voz de Paige soar próxima, após uma violenta batida na porta da frente, cerca de vinte minutos depois

– Aparentemente, Prue acaba de te salvar? - Piper tentou explicar.

– Me salvar de quê? De chegar em casa para descansar nos braços do meu marido?

– Você ia sofrer um acidente de carro... – Prue disse baixinho.

– E você quase causou outro.

– Calma, Paige. O Anjo da Morte apareceu e ameaçou Prue, disse que ia te levar se ela não se dispusesse a ir com ele.

– Logo eu!?

– Paige, por via das dúvidas eu acho melhor você passar a noite aqui.

Paige revira os olhos e suspira, resignada, mas não fala nada e vai em direção ao telefone, já imaginando a reação do marido que exigiria explicações. Definitivamente não era o tipo de vida de recém casados que sempre imaginara. De qualquer forma, desde que descobrira que era bruxa, nada ocorria do jeito que imaginara. Tinha até uma irmã que voltara da morte!

As quatro irmãs se reuniam na sala de jantar. Piper sentou Prue em uma cadeira. A irmã mais velha ainda estava muito sensível e aquela projeção astral repentina não ajudara muito. Pelo menos sabia que agora era uma questão de tempo até Prue recuperar os seus poderes.

– Eu só não entendo, porque o Anjo da Morte quer levar a mim? – Paige perguntou ao se aproximar.

– Deve ter sido uma escolha aleatória. Ele quer levar a Prue de volta, mas como ela não deixa, está ameaçando-a. – Piper supôs.

Prue estava com o rosto escondido entre os braços que estavam apoiados na mesa. Sentia a mão de Phoebe acariciar gentilmente seus cabelos.

– Então estamos todas correndo perigo. – Phoebe concluiu

– Exatamente.

– Estamos nas mãos do único ser mágico que não podemos evitar.

– O único jeito de vocês se livrarem disso, é ele me levando. – Prue disse finalmente, mas sem levantar a cabeça.

– Mas isso está fora de questão. – Piper disse imediatamente.

– O que os anciões disseram a respeito da volta da Prue? – Phoebe perguntou.

– Leo está indo lá em cima o tempo todo. Os anciões não tem idéia do que fazer com a Prue, pois essa volta dela não estava nos planos de ninguém lá em cima. Prue estava reservada para outros planos.

– E será que ela não está reservada para os planos de alguém lá de baixo? – Paige perguntou, pensativa.

Neste momento, Prue ergueu um pouco a cabeça, lembrando-se da estranha presença da mulher em seu sonho e as sombras na parede. Simbolismos surreais ou simplesmente a realidade?

– Mas para saber se isso precisamos saber quem a trouxe de volta. E não existe feitiço pra isso. – Phoebe falou. – Tentei invocar uma premonição mas não vejo nada.

– O fato é que demoramos demais para nos preocupar com isso. Devíamos ter começado a trabalhar no momento em que o Leo a trouxe. – Piper disse.

Paige fora a única que pensara em trabalhar a respeito, mas permaneceu em silêncio.

– Paige, suas pesquisas sobre os necromantes deu em alguma coisa?

– Até deu. Mas nada de muito conclusivo, Piper. Os necromantes permanecem neutros na disputa entre o Bem e o Mal e neste momento, não têm qualquer interesse em tomar qualquer partido. Então fica difícil imaginar um motivo para eles ressuscitarem a Prue. Mas Leo me informou que muitos deles prestam serviços mediante a pagamentos.

– Ou seja, temos uma chance em um milhão para descobrir quem foi... – Phoebe suspirou.

Completamente absorta em seus próprios pensamentos, Prue tentava estabelecer uma relação entre a estranha mulher e os outros elementos do sonho. Quem era ela? "É hora de retornar, minha encantada", ela dissera. Retornar para a morte? Era o que fazia mais sentido, porém algo a fazia acreditar que a mulher não fora enviada para seduzi-la.

– Temos que falar com um necromante, então! – Ouviu Paige dizer.

– Mas como vamos encontrar um?

– Pendulando, oras!

– Ah, sim! Que óbvio! Vamos pendular, mas vamos pendular pelo quê, Paige? Não temos nada como referência.

– Claro que temos, a Prue.

Nesse instante, Prue levanta a cabeça.

– Eu!?

– Sim, irmãzona, você vai pendular pela pessoa que te ressuscitou.

Prue mira as outras duas irmãs que estão com a mesma expressão apreensiva no rosto.

– Mas a minha magia está fraca, eu não vou conseguir.

– Vai sim, confie em mim.

As quatro irmãs estavam no sótão, com um mapa de São Francisco aberto sobre uma mesa. Prue girava o cristal com o olhar direcionado para do mapa. Respirava calmamente, lembrando de todas as vezes que fizera isso antes. Era simples e a resposta era sempre certa. Sentiu Paige de pé atrás de si. Permaneceu concentrada no cristal.

Paige delicadamente moveu as mãos, deixando-as sobre a cabeça da irmã mais velha, mas sem encostar. Piper e Phoebe estavam do outro lado do ambiente, apenas olhando e esperando que algo acontecesse. As palmas das mãos de Paige brilharam e Prue sentiu o calor envolvê-la e de certo modo clarear suas idéias e o silêncio absoluto ao seu redor foi quebrado pelo bater do cristal na mesa.

Piper, Phoebe e Paige avançaram imediatamente para ver o local que marcara.

– O cemitério da igreja São Lucas? – Paige identificou estranhando um pouco

– Estamos atrás de um bando que brinca com defuntos. – Disse Piper em seguida.

– Mas um cemitério católico?

– Vai entender...

Prue foi puxada por Phoebe para fora do sótão. Vestidas com casacos – a noite estava fria lá fora – todas deram as mãos para Paige e orbitaram para o tal cemitério.

– Ok, isso é bizarro... – Disse Paige assim que aterrissaram e deram uma olhada no lugar.

Observaram as várias lápides de pedra espalhadas obedecendo um padrão pelo chão quase sem grama e coberto por mato alto em algumas parte. Aos pés de algumas lápides haviam flores. Piper, Paige e Phoebe caminhavam de mãos dadas, sem coragem de se largar. Prue, entretanto, se desvencilhou delas e tomou a dianteira.

– Esse lugar é assustador, principalmente com a idéia de que tem um maluco que pode fazer todos os cadáveres se levantarem contra a gente e ainda invocar um monte de alma-penada – Phoebe sussurrou para Piper que estava no meio. – E olha a Prue. Ela não está com medo.

– É lógico que não, ela passou os últimos seis anos dentro de um caixão. – Paige disse irritada por se sentir tão acuada.

Piper as silenciou com um chiado.

Prue caminhava com cuidado, olhando tudo a sua volta, a procura de alguém. Em sua mente pedia licença aos mortos por estar perturbando seu sono. Depois de já ter estado entre eles, se tornara mais respeitosa com as almas que dormiam o sono eterno. A lua cheia brilhava no céu, iluminando o pequeno cemitério e foi graças ao seu brilho prateado que pôde identificar os familiares tentáculos de sombra subindo por seus pés. Parou de andar e olhou em volta.

As três logo atrás estranharam.

– O que foi? – Perguntou Piper sussurrando, mas Prue não respondeu. Sequer teve tempo de responder.

– Eu creio que vocês não são adolescentes tentando explodir uma das lápides mais uma vez... – Uma voz grave e ressonante disse atrás delas.

As três quase enfartaram naquele instante e tiveram que se segurar para não gritar.

Prue sabia que em situação normal, estaria tão apavorada quanto elas. Mas aquela situação era tudo, menos normal. Recém ressuscitada e caçada pelo Anjo da Morte. Não temia pois não tinha mais nada a perder. Podia estar viva de novo, mas não tinha uma vida para reclamar como sua.

Avistaram um homem alto, magro e um pouco curvado. Ele tinha cabelos grisalhos, longos que caíam até os ombros. Trajava uma túnica escura e carregava uma espécie de cajado de madeira, porém não se apoiava nele.

– Quem são vocês? – Ele perguntou rispidamente.

Piper respirou fundo tentando disfarçar o temor.

– Acredito que estejamos a sua procura.

As feições do homem relataram a surpresa.

– A minha procura? E o que quatro bruxas iriam querer com um zelador de cemitério?

Piper engoliu em seco. – Você tem respostas que nós precisamos.

– E quem a senhora acredita que eu sou para crer que posso responder suas perguntas.

– Provavelmente o maldito necromante que me trouxe de volta da morte. – Prue interviu colocando-se ao alcance da visão do necromante.

Os lábios dele se contraíram em algo que parecia um sorriso. E em seguida as irmãs viram uma esfera de luz verde surgir na parte superior do cajado. Prue olhou para o chão e notou que as sombras subiam até seus joelhos.

– São poucos os que tem a ousadia de vir a procura de um necromante.

Piper, Phoebe e Paige deram gritinhos ao se verem sendo engolidas lentamente pela escuridão.

O necromante se aproximou de Prue. Ela pôde notar marcas tribais tatuadas no rosto dele onde a luz do cajado tocava seu rosto.

– Uma recém acordada... Quem diria. Devia ter previsto que esta seria uma noite de acontecimentos.

– Hei, você aí, não quero interromper, mas dá pra fazer isso parar?! – Paige gritou para ele se referindo as sombras.

Ele fez um gesto com a mão livre e a sombra se desfez imediatamente. Aproximou-se de Prue que deu um passo para trás.

– Tenho capacidades para acordar um corpo do sono da morte, senhorita, mas não fui eu quem te tirou do descanso eterno. Aliás, permita-me acrescentar, que nem faço idéia de como chegou até a minha pessoa.

– Através de magia. – Prue disse, disfarçando o desapontamento. Tinha errado, não encontrara aquele que a despertara.

– Sua magia está falha, então. Mas não estranho, uma bruxa recém acordada. – Ele riu sozinho. – Quem te fez isto, foi alguém de muito poder. Muito provavelmente um ancião. Tua alma desperta há tão pouco tempo já é capaz de magias, mesmo com o auxílio da luz-branca ali.

Paige e Piper se encararam, começando a ficar realmente preocupadas.

– E onde posso encontrar estes anciões?

Ele riu novamente, desta vez escarneando de Prue.

– Não seja tola, menina, os anciões só são encontrados quando querem. E de qualquer forma, ressuscitamentos são realizados apenas por eles, e os recém acordados são mantidos em cativeiro até que estejam prontos para os objetivos de seu mestre.

– Mestre?

– Perguntas demais – O Necromante pôs-se a andar, Prue e as irmãs acompanharam-no. – O que ganho ao respondê-las.

– A chance de não ser explodido. – Piper interviu. E moveu as mãos fazendo um arbusto explodir.

O Necromante a mirou com desprezo e voltou a caminhar.

– Ressuscitados tem uma ligação com o praticante do ritual e são submetidos a sua vontade.

– E como eu vou saber quem me trouxe de volta?

– Aguarde, logo você se tornará o bichinho de estimação de alguém. Provavelmente um exilado, pois os anciões não teriam qualquer intenção de trazer de volta uma Encantada e ainda deixá-la aos cuidados de suas irmãs. Não... Sem mais perguntas. Agora deixem meus domínios.

Ele caminhou na direção da sombra de uma árvore e virou-se para Prue.

– Tome cuidado, Encantada, se quiser aproveitar essa chance que lhe foi dada, terá que enfrentar a ira do Anjo da Morte. Ele não aceita ser enganado... Por ninguém... – E com isso desapareceu.

Elas ouviram gemidos agonizantes ao seu redor e Prue sentiu uma sensação que começava a ficar familiar demais. O frio, intenso a ponto de doer os ossos. Ele surgiu na sua frente.

– Não! – Ouviu a voz de uma das irmãs, porém não conseguiu identificar qual.

Um dos membros dele a segurou pelas costas e a arrastou para longe delas. A lâmina da foice foi colocada contra seu queixo forçando-a a encarar aquele rosto encoberto pelas sombras. Ela não resistia. Não podia resistir, perdera completamente o controle de seu corpo. Queria virar-se e dizer para as irmãs que estava tudo bem, mas não conseguia. Podia apenas sentir, mais uma vez a vida sendo extraída de seu corpo. Seus olhos não viram mais nada, exceto a escuridão. Não sentiu mais nada, exceto o frio.

Estava indo embora. Os gritos desesperados de suas irmãs eram distantes...

– Cobre a quem fez isso a ela, seu desgraçado! – Ouviu ao longe, mas não pode diferenciar a voz.

Então sentiu seu corpo tocar o chão, uma queda macia, visto que não sentia nada.

Um par de mãos quentes envolveu seu rosto. Prue abriu os olhos e encontrou os mesmos olhos azuis e tristes que a salvaram do Ceifador da primeira vez.

– Cole... – Sua voz não era mais que um sussurro.

– Prudence, enquanto eu estiver aqui, ela não vai te ferir. – Ao ouvir isso. Olhou para o céu de teve a impressão de vê-lo claro, como de fosse dia. Ele realmente falara aquilo ou fora fruto de sua imaginação.

Tornou a fechar os olhos, cansada demais até para se manter acordada.

XXX

Quando Prue acordou era dia. Encontrou Piper deitada ao seu lado segurando sua mão.

– Oi... – Ela disse com um sorriso aliviado.

– Oi... – Prue respondeu fracamente.

– Pensei que ia te perder de novo.

– Eu tentei avisar que eu estaria bem.

– Sou egoísta, lembra, só aceito que você fique bem perto de nós.

Prue abriu um sorriso sonolento e em seguida tornou a ficar séria.

– Piper, quem me salvou?

Ela demorou a responder.

– Não sei... Quando o necromante desapareceu, você caiu no chão, sem conseguir respirar. Você estava asfixiando. Paige tentava te curar, mas não conseguia. E quando desistimos, você abriu os olhos, respirando desesperada.

Então elas não podiam ver o Ceifador.

– Engraçado, eu tive a impressão que o Cole me salvou.

– O Cole?

– É...

Piper franziu o cenho.

– Acho que você estava delirando, querida. – Disse e deu-lhe um beijo na testa.

XXX

No fim da tarde daquele mesmo dia, Prue ainda repousava, extremamente cansada. Toda aquela batalha com a morte acabaria realmente matando-a, mas de cansaço. Estava quase dormindo novamente quando viu alguém se materializar no centro do quarto.

– Cole...

Ele se aproximou e sentou na beira da cama.

– Oi, Prue.

– O que você está fazendo aqui.

Com a ponta dos dedos ele afastou uma mecha de cabelo do rosto dela.

– Vim apenas me certificar de que você está bem.

– Então foi você quem me salvou?

– Sim. – A voz dele era calma e suave. E o olhar dele, sempre tão cheio de tristezas trazia um brilho diferente que ela quase podia identificar como... Esperança

– Obrigada. – Ela disse séria.

– Por nada.

– Porque eu ainda assim não consigo confiar em você?

– Cedo ou tarde você vai aprender a confiar.

– Nunca confiei em você antes, por que confiaria agora?

– Queria dizer que porque temos uma segunda chance para isso. Mas já que você não aceitaria essa explicação, porque você não tem escolha, serve?

– Parece que você está tentando me intimidar...

– Prue, você vai, você volta e continua com essa mania de perseguição?

Ela abre um sorriso educado.

– Que injustiça dizer isso para uma moça subitamente arrancada do sono eterno e que está a ser caçada pelo Anjo da Morte. – Ela desvia o olhar, começando a se sentir incomodada.

– Uau, gostei disso! – Cole sorriu divertido.

– Gostou do que? – Ela começava a se irritar com a presença dele.

– Por um momento, você se sentiu como eu me senti! Veja como é bom?

Prue o encarou, séria, perguntando-se o porquê daquele sorriso petulante.

– Vai embora, por favor. Eu quero descansar...

Cole a olha nos olhos, inclinando-se até ela e diz suavemente aos ouvidos:

– Quem sabe um dia você me compreenda, Prudence! – E então desapareceu.

Prue franziu o cenho, ele a chamara de Prudence novamente. Por quê? Eram tantas as dúvidas. Ainda estava confusa demais para obter conclusões satisfatórias. Sabia que ele já a chamara de Prudence, em algum lugar de sua memória sabia que sim, porém era uma lembrança distante demais para ser acessada. Duas vezes ele a salvara, sendo que ela nem tinha certeza de que queria ser salva. Se fosse para partir novamente gostaria que fosse logo, antes que se apaixonasse pela vida novamente. Gostaria de partir antes que tivesse algo a perder. Por que ele fizera isso? Tinha que descobrir e logo. Não demoraria para que o Anjo da Morte fizesse uma nova investida em busca de sua vida. Tinha que descobrir muitas coisas antes de partir.

Suspirou, cansada. Mudou de posição e quando fechou os olhos dormiu quase que instantaneamente, sem perceber que as sombras na parece moviam-se de forma suspeita.

– Minha encantada...