Meu Caro Inimigo
Harry não era muito de usar ditados populares, nem tampouco de se voltar para o que sempre ouvia sua tia recitando quando não sabia muito bem o que dizer, e uma dessas frases comuns que todo mundo usa era a sua escapatória, mas quando se tratava de Draco Malfoy, ele não conseguia evitar pensar que "a primeira impressão é a que fica".
Harry não havia crescido no Mundo Bruxo, não sabia muito bem o que sangue puro queria dizer, mas ele conseguia lembrar, mesmo quando anos já haviam se passado, que um pouquinho dele começou a odiar a expressão simplesmente porque ela lhe fazia lembrar Malfoy. O garoto que lhe lembrara Duddley na loja de roupas. O garoto que fora a sua primeira amizade recusada.
Ele nunca havia recusado uma amizade antes. Nunca tivera a amizade de ninguém oferecida a ele para poder, de fato, recusá-la, de qualquer forma. E enquanto ainda vivia com os Dursley em tempo integral, ele nem mesmo pensaria em recusar a amizade de alguém.
Talvez um pedacinho dele, mesmo que fosse um pedacinho bem pequenininho, tivesse recusado a amizade de Draco porque, assim, como Duddley, em algum ponto no futuro, Draco ia acabar descobrindo que Harry não era bom o suficiente para ser seu amigo.
E se tinha algo pior do que não ter nenhuma oferta de amizade para ser recusada, era perder uma amizade depois de saber como era, de fato, ser amigo de alguém.
Harry teria deixado com que tudo morresse ali, não fossem os constantes lembretes de Draco de que eles não eram amigos. Tudo era uma desculpa para que Draco tentasse lhe prejudicar, e Harry passou a simplesmente revidar na mesma moeda. Foi ao longo daquele ano, o primeiro e mais inocente de todos os que viriam pela frente, que Harry descobriu não só o valor de seus amigos fiéis, como dos seus inimigos constantes. Draco o perturbando, o incomodando, chamando-lhe de nomes ridículos e tentando fazer com que ele pegasse detenção com Snape ou Filch era uma constante tão bem vinda quando as conversas com Ron e Hermione, e a presença sutil do professor Dumbledore na escola. Era uma certeza, algo reconfortante num mundo em que Harry estranhava a tudo, mesmo que soubesse que ali era seu lugar.
Draco, sua rivalidade e criancice, seus apelidos idiotas e tentativas frustradas de prejudicá-lo eram uma parte tão fundamental a Harry quanto todo o resto – amigos e inimigos, gostos e desgostos, certezas apenas, todas elas, de que, naquele mundo, Harry era normal.
E depois de tudo que passou naqueles últimos dias de seu primeiro ano, depois de ouvir parte de seu passado, e ser avisado de que quando fosse a hora haveria ainda mais por vir, Harry sentiu seus olhos buscarem por Draco Malfoy na imensidão do Salão Principal. Buscou o olhar de desdém, as palavras infantilmente cortantes, a certeza de que Draco Malfoy ainda era seu inimigo.
Porque se Harry fosse honesto consigo mesmo, ele gostava da ideia de ter um inimigo simplesmente porque havia recusado uma amizade, e não por algo tão maior e mais imenso do que ele que nem mesmo professor Dumbledore conseguira explicar.
R E V I E W !
