OBS: Fanfic inspirada nas músicas do Snow Patrol, principalmente a What if the Storm Ends.
Quando a Tempestade Acabar
.: I - Limbo :.
Aconteceu tudo muito rápido. Ele estava de pé ao lado de uma clareira, a varinha em riste, conjurando um Protego e no segundo seguinte estava sendo arremessado para o lado, seu corpo girando no ar, uma fumaça intensa, um barulho ensurdecedor, explosões gritos e a estranha sensação de que todo o seu corpo estava em chamas.
Sua varinha estava perdida, seu rosto estava afundado na terra e um profundo terror começou a dominar sua mente. Arrastando-se, conseguiu atravessar alguns arbustos e alcançar as raízes de uma árvore. Se mover era doloroso, respirar era mais doloroso ainda, mas ele precisava pelo menos se proteger para avaliar o estrago e tentar pensar em como sair dali.
Com muito esforço conseguiu se sentar e recostar contra o caule da árvore. Ainda era capaz de ouvir gritos e sons de batalha, porém estava tudo muito distante. Era como se ele tivesse sido arremessado uns trinta metros adiante, mas isso não significava que ele estava a salvo, precisava ser cuidadoso.
Um repentino surto de tosse o dominou e ele precisou se contorcer enquanto tapava a própria boca para abafar o som. Depois de um tempo, sem fôlego e com a garganta queimando, tornou a recostar contra a árvore, olhando para a própria mão em meio à penumbra que envolvia a mata.
Não precisou se esforçar para perceber o sangue, mesmo porque o cheiro metálico rapidamente assolou suas narinas. Uma súbita onda de náuseas se seguiu e no instante seguinte ele se virou para o lado e vomitou. Aquilo já estava fora de controle.
Trêmulo, banhado em suor, terra e sangue, finalmente conseguiu reunir um pouco de energia para estender uma das mãos e murmurar baixinho. "Accio varinha."
Por longos segundos pensou não ter concentrado magia o suficiente para conjurar o feitiço e se isso fosse verdade ele estava derradeiramente perdido. Mas após um tempo, em meio a uma espera dolorosa, ele assistiu com um alívio mórbido uma varinha avançar em sua direção em meio aos arbustos. Na distância da floresta os sons começavam a diminuir, contudo ele não sabia se era porque estava muito fraco e prestes a perder a consciência, ou se era porque a batalha começava a migrar para longe.
Tentando não perder tempo com suposições, capturou o pedaço de madeira com dedos trêmulos, tendo dificuldade para segurar a superfície lisa com as mãos escorregadias devido ao próprio sangue.
Mais uma vez, tentando não se render ao cansaço e a súbita vontade de cair no sono, ele girou a varinha em um movimento lento e chacoalhante, mas nem por isso imperfeito. Se pudesse arriscar diria que poderia conjurar aquele mesmo feitiço dormindo, o que era uma mão na ronda agora que ele estava no meio do nada e em um estado de semi-morte.
"Expecto Patronum!"Arfou, e no instante em que a magia foi canalizada para fora de seu corpo ele teve certeza de que finalmente iria desmaiar. Precisou de todas as forças que tinha para se manter sentado e de olhos abertos enquanto observava o brilhante cervo que começava a se forma diante de si.
Sorrindo de leve ele ergueu uma das mãos e com muito esforço quase apalpou a cabeça esfumaçada do patrono.
"Ei, Prongs," cumprimentou em um meio suspiro, tossindo logo em seguida. O patrono pareceu olhá-lo com interesse, batendo um dos cascos no chão com impaciência. Recuperando-se por muito pouco da crise, Harry limpou o sangue que passou a escorrer do canto dos seus lábios com as costas da mão. "Encontre Remus, sim? Diga a onde estou," e em meio a um delírio pensou no quanto isso seria impossível, já que nem ele sabia a onde estava exatamente, por isso acrescentou com um último fôlego. "Traga-o até mim."
O cervo ergueu a cabeça com certa severidade, parecendo – por alguns instantes – quase que indeciso, mas logo em seguida, sem aviso, girou ficando de costas para seu dono e com um impulso firme saiu galgando em meio às árvores.
Harry assistiu por alguns instantes a figura esfumaçada desaparecer na escuridão e finalmente, com um suspiro raso, parou de lutar contra o cansaço e por fim desmaiou.
"Oh, Merlin!" Foi à única coisa que Harry ouviu no sossego da floresta, já não sentia mais o próprio corpo e a dor há muito tempo havia esvanecido. Não conseguiu abrir os olhos, ou captar qualquer tipo de cheiro. Por isso foi com muita surpresa que continuou escutando alguns ruídos.
Um barulho tímido de panos sendo movimentados e passos e folhas sendo esmagadas se destacou. Alguém deixou escapar um gemido angustiado e ele teve ganas de abrir os olhos para buscar a origem do som, mas não conseguiu se mover.
"Espere!" Pediu uma voz áspera e carregada de tensão.
Novamente um zunido de atrito dominou os sentidos de Harry, como se duas pessoas tivessem se esbarrado. Esforçou-se para mover ao menos os dedos, ou qualquer coisa, mas foi em vão.
"Harry!" Alguém o chamou bem alto, a voz carregada de preocupação. No fundo de sua consciência algo pareceu suspirar de alívio. Ele reconhecia aquela voz.
Remus!
"Lupin, não seja idiota. Afaste-se!" Outra pessoa exclamou, seu tom trepidando com força. Ele se esforçou para associar a voz com algum conhecido. Estava confuso. Será que ainda estavam na floresta? Quanto tempo havia se passado?
As perguntas inundavam sua mente quando tornou a ouvir novos barulhos, agora bem próximos, como se alguém estivesse se agachando ao seu lado.
"Ele está inconsciente, não sei por quanto tempo, mas levando em conta o quanto demoramos para chegar aqui, arrisco dizer que ele já está assim por no mínimo quinze minutos."
Harry se esforçou para prestar atenção, agora preocupado. Não sabia o que estava acontecendo. Se ele estava desmaiado porque ainda conseguia ouvir tudo ao seu redor? E pior, aparentemente continuavam no meio da mata! Em sua cabeça, se tivesse que adivinhar, teria arriscado que estivera dormindo por longos dias, o que estava incorreto, pois, aparentemente, não fazia muito tempo desde que conjurara Prongs.
Alguém pareceu tentar se aproximar, mas os passos foram interrompidos. Um sibilo alto ressoou, como se algo tivesse sido movido muito rápido, e novamente Harry pode ouvir a voz de Remus.
"O que é isso? Sangue?" E o lobisomem soltou um ganido.
"Inferno, Lupin, eu disse para você não se aproximar!"
"Mas Severus, ele está sangrando!" E ao ouvir aquele nome Harry finalmente soube por que a voz de antes parecera soar tão familiar. Deveria ser sua infinita sorte lhe pregando peças, porque de verdade, ser encontrado desfalecido no meio da mata logo pelo morcego velho do seu ex-professor não era uma situação nada agradável.
Mas Snape, alheio ao que se passava na escuridão da mente de Harry, pareceu ignorar Remus, mantendo-se compenetrado. Se ele pudesse adivinhar diria que o homem procurava freneticamente por qualquer sinal de ferimentos em seu corpo que pudessem explicar a quantidade de sangue espalhado no chão. Bem, ele só podia ouvir e esperar, repetindo em sua mente que não, ele não tinha feridas abertas e que tudo aquilo ao seu redor era fruto de uma medonha e inexplicável crise de tosse. Obviamente nada saiu de sua boca e ele não conseguiu mexer sequer um fio de cabelo, ficando imensamente frustrado.
"Ele não está ferido," Snape murmurou pensativo.
"Mas-" Remus começou a dizer, sendo imediatamente interrompido.
"Um momento, Lupin, deixe eu raciocinar. Preciso avaliar o estrago para saber se podemos aparatar com ele."
Isso pareceu acalmar Remus o suficiente para que ele ficasse os minutos seguintes em silêncio. Harry, por sua vez, estava agoniado, era como se estivesse preso em uma escuridão profunda, sem poder ser mexer, enquanto Snape conjurava freneticamente uma série de feitiços e o examinava com os olhos. Se o bruxo o estava tocando, ele não sabia, mas a ideia de que isso poderia estar acontecendo era o suficiente para lhe dar arrepios mentais.
"Ele provavelmente expeliu todo este sangue e está com algumas estranhas queimaduras pelo corpo," Severus comentou depois de um tempo, pensativo, e Harry podia ouvi-lo bem perto, "ele também vomitou um pouco, isso não é um bom sinal." O bruxo acrescentou logo em seguida e o moreno teria arregalado os olhos se pudesse.
Alguns segundos em profundo silêncio se seguiram, sendo interrompido com brutalidade quando Snape pareceu se virar na direção de Remus para fazer uma pergunta.
"Você está sentindo este cheiro?"
O lobisomem demorou alguns minutos para responder, mas quando o fez foi com indescritível agonia.
"Severus, isso não é hora, Harry est-" Mas foi interrompido novamente por Snape, que claramente não estava interessado no que quer que fosse que Remus tinha para reclamar.
Harry, em seu mais novo limbo, continuou atento, esperando qualquer tipo de ruído. Pensava desvairadamente em uma forma de se comunicar, mas era em vão. Vasculhou a escuridão, testou seus limites, mas não havia nenhum, ele flutuava em algo infinito.
Enquanto isso os barulhos ao seu redor continuavam. Remus permanecia – aparentemente – em silêncio e sem nenhum aviso ele tornou a escutar a voz de Severus, agora quase um sussurro bem próximo de seu ouvido. Se sua situação já não fosse terrível com ele estando paralisado e conseguindo apenas escutar algumas coisas, ele teria ficado aterrorizado com a perspectiva de ter Snape literalmente fungando em seu cangote.
"... hortênsia... pó de chifre de bicórnio... losna..."
E Harry continuou escutando sem poder reclamar, imaginando o porquê de o bruxo estar murmurando logo agora uma lista inexplicável de ingredientes que só poderiam pertencer a alguma poção.
De repente, sem aviso, um zunzunzum dominou o ambiente e no segundo seguinte ele tornou a ouvir Snape, só que agora mais distante.
"Ele foi envenenado." O bruxo anunciou e ao ouvir isso Harry só conseguiu pensar que fazia certo sentido. A explosão, a falta de ferimentos graves (fora as queimaduras), a tosse. Nada disso era compatível com as azarações que ele conhecia, mas se ele pensasse em algum veneno, sim, tivera aquela fumaça e ele definitivamente inalara boas golfadas dela.
"E o antídoto, você tem?" Remus perguntou apressado, a voz praticamente um sussurro.
"Lupin, poções não são como feitiços, você não pode simplesmente balançar a varinha e fazer o efeito desaparecer!" Snape respondeu exasperado e frustrado. Bem, Harry compartilhava da frustração que o outro homem estava sentindo, afinal, não havia nada mais angustiante do que ouvir duas pessoas discutindo sua vida sem poder falar nada.
"Mas nós não temos tempo. Se é um veneno e se não fizermos alguma coisa, qualquer coisa, poderá ser tarde demais!"
"Você é algum tipo de idiota, lobisomem? E se eu administrar o antídoto errado? E se ao em vez de ajudar eu fizer é acelerar a ação do veneno? Pelo que tudo indica, já é tarde demais, Lupin."
Um som semelhante a um rosnado reverberou da direção em que Harry acreditava estar Remus.
"Não," o lobisomem vociferou, "você não vai desistir dele. Pense em uma solução, não interessa. Você conseguiu identificar alguns ingredientes da poção só pelo cheiro, não foi? E você é um dos melhores mestres de poções que eu conheço. Tem que haver alguma coisa que você possa fazer!"
"Sou um mestre de poções, lobisomem, não um adivinho! Administraram hortênsia. Será que você esteva tão ocupado durante as aulas de herbiologia, aprontando com seus amigos, que não aprendeu nada sobre as propriedades desse veneno?" Cuspiu com desprezo.
"Severus, por favor!" A voz de Remus era agora um mero gemido doloroso.
O som pareceu despertar em Snape algum tipo de sentimento de solidariedade, porque no instante seguinte Harry ouviu um silvo inconformado acompanhado pelo barulho de pano sendo revirado e logo em seguida o tilintar característicos de frascos.
"Obrigado, obrigado." Remus repetiu com um tom aliviado que foi prontamente ignorado por Snape.
"Ande, erga-o e o coloque sentado. De todos os ingredientes que consegui identificar a hortênsia é definitivamente o mais perigoso. Vou administrar um antídoto para o seu veneno e oh, seja o que Merlin quiser Lupin, mas se algo acontecer saiba que a culpa é sua."
Harry ouviu som de passos e soube que Remus escolhera ignorar a provocação e estava se aproximado. Por alguns instantes concentrou-se no que estava acontecendo, apreensivo. Não conseguia sentir nada, por isso era difícil dizer se Remus havia feito o que Snape pedira.
"Deixe ele mais ereto, Lupin, desse jeito ele irá sufocar!" Snape vociferou impaciente e Harry jurou que Remus iria retrucar de forma áspera, mas o que se seguiu foi um silêncio pesado.
O som de algo sendo aberto, seguido pelo o de um líquido sendo derramado foi tudo o que ele ouviu.
"Você acha que irá funcionar?" Remus perguntou minutos depois, soando cansado e derrotado.
"Eu não sei," Severus respondeu só que dessa vez com suavidade e se Harry pudesse arriscar, com um pouco de delicadeza, "eu sinceramente não sei."
Ele aguardou ansioso por um efeito, qualquer coisa que indicasse que o antídoto havia controlado a tal da hortênsia, mas nada. Continuava sem sentir o próprio corpo, continuava escutando tudo ao seu redor e continuava rodeado por uma escuridão profunda. Era um pesadelo.
"Vamos, precisamos sair daqui." Snape finalmente tornou a falar, dessa vez com certa autoridade. "Precisamos leva-lo para o St. Mungus. Vá na frente, eu aparato com ele logo em seguida."
Se Harry pudesse se pronunciar teria protestado, a ideia de ficar a mercê de Snape não era nada agradável, mas para sua surpresa Remus parecia confiar no bruxo o suficiente para não brigar contra a sugestão, optando por obedecer a quase ordem.
Ouviu um suave pop e tudo ficou em silêncio, um sentimento de apreensão começando a se formar em sua mente. E se Snape os traísse de alguma forma?
Soltou um suspiro mental, frustrado. Era muito fácil esquecer tudo o que Snape fizera durante a guerra, o que era uma imensa ingratidão de sua parte já que o ex-professor sempre fora alguém em quem a Ordem pudera confiar.
Alguns minutos se passaram e ele ouviu um som áspero de atrito que foi logo acompanhado pelo barulho indistinguível de um violento turbilhão de ar. Finalmente eles haviam aparatado.
O burburinho era infernal. Depois do que pareceram ser longas horas escutando atentamente tudo o que estava acontecendo, Harry podia afirmar com toda a certeza que estava em St. Mungos com cerca de seis pessoas ao redor do que ele supunha ser sua cama.
"Não, eu não vi nada! Um minuto ele estava do meu lado e no outro havia desaparecido. Você sabe como é-" Uma voz um pouco estridente se destacou entre as outras e ele teve certeza de que ela pertencia a Ginny.
"Isso não é hora de apontar dedos, Sr. Weasley." Agora quem estava falando era Kingsley.
"Severus administrou um antídoto, Luna, mas não sei-" Remus.
"Você deveria ter ficado de olho nele! Você sabe como são as coisas no meio do campo de batalha, custa-" Ron, que estava berrando com alguém, provavelmente Ginny, um hábito relativamente comum entre os dois irmãos depois que ela se formara pela Academia de Aurores e entrara para o seu batalhão.
"Ron, pare de gritar!" Hermione, ele seria capaz de reconhecer o tom mandão da amiga em qualquer lugar.
"Não fale assim com ela!" Uma voz mais grossa se sobressaindo por entre as outras, Harry tentou se esforçar para identifica-la, mas foi em vão.
"Não, Neville. Ela tem que escutar. Toda vez é sempre a mesma coisa. Ela é inconsequente. Aurores precisam trabalhar em equipe, e sempre, sempre, a Ginny desaparece e deixa o grupo sem suporte!" Ron estava falando novamente e agora ele também sabia que a outra pessoa que acabara de defender a caçula dos Weasleys não fora ninguém menos do que Neville.
"Ron, por favor, você sabe que eu-" A voz de Ginny era definitivamente de choro e o coração de Harry se apertou, odiava vê-la sofrendo, por mais que ela fosse culpada de alguma coisa. Mione adorava chama-lo de coração de manteiga por conta disso.
"Ah, é sempre a mesma coisa com você!"
"Ronald Weasley!" Dessa vez foi Hermione que berrou para se sobrepor as outras vozes, ela parecia estar furiosa.
Isso foi o suficiente para que o burburinho escalasse e atingisse tons absurdos. Em pouco tempo todos estavam gritando e falando simultaneamente. Ginny parecia estar chorando, sendo consolada por Neville. Ronald provavelmente estava apanhando de Hermione, se é que os barulhos que Harry estava escutando serviam de base. Remus e Kingsley discutiam acaloradamente e Luna, bem, Luna era a única que permanecia em silêncio desde o início (graças aos deuses).
Os sons continuaram reverberando, as vozes se misturando e Harry estava começando a imaginar que seus tímpanos iriam explodir a qualquer momento. Será que eles não podiam ficar em silêncio? Não era obrigatório que as pessoas ficassem quietas quando iam visitar os doentes? Então porque diabos seu quarto parecia um espetáculo de circo com tanto falatório?
Se pudesse teria tapado as orelhas com as mãos. Se pudesse também estaria gritando.
Calem a boca!, pensou com força, ainda com uma fagulha de esperança de que as mesmas palavras sairiam de sua boca, mas em vão.
Calem a boca!, e novamente nada.
Calem-
"CHEGA!" e de repente fez-se silêncio e ele finalmente pode respirar aliviado. "Mas o que significa isso?" E depois de alguns segundos Harry rapidamente identificou a voz, era Snape, e ele definitivamente não estava feliz.
"Era só o que me faltava..." Ronald murmurou muito próximo e ele teria achado divertido se a situação não fosse séria e ele não concordasse com o mestre de poções.
"Sim, Sr. Weasley? Tem alguma coisa que você sente a necessidade de compartilhar com o grupo? Ou eu deveria dizer gritar?" E Harry não precisava ver para saber que Ronald deveria estar vermelho até os cabelos de tanta raiva.
"Merlin, que os deuses me ajudem, Snape, se não-", mas o bruxo o interrompeu.
"Se não o quê? Precisassem de mim?" Retrucou com a voz carregada de veneno. "Weasley, não pense por um instante que eu esteja fazendo isso da bondade do meu coração. E não tente justificar sua incapacidade de se controlar no fato do Santo Potter ter sido envenenado. Para mim está mais do que claro que você, assim como qualquer animal, é incapaz de se conter."
"Severus!" Remus guinchou, indignado, em um tom claro de aviso que não foi o suficiente para aplacar a tensão, porque no instante seguinte Harry pode ouvir ruídos de confusão e ele podia adivinhar que o último comentário fora o suficiente para fazer com que a raiva subisse a cabeça de seu melhor amigo, fazendo-o se lançar na direção do ex-professor.
"Como eu disse," a voz carregada de Snape tornou a soar, recheada de satisfação e ele tinha que admitir, o sonserino tinha o dom de provocar o pior nas pessoas.
"Pessoal, por favor. Eu sei que estamos todos muito nervosos, mas não podemos perder a cabeça," Remus tentou fazer com que o grupo tornasse a agir com bom senso, mas alguém escolheu este instante para deixar escapar uma fungada de deboche, "e Severus querendo ou não tem razão, estamos no St. Mungus e Harry, neste instante, precisa de paz e silêncio."
O burburinho retornou, só que dessa vez em um volume mais baixo. O som de cadeiras sendo arrastadas e passos começaram a ecoar pela sala e Harry soube que todos haviam decidido finalmente sair do quarto e deixa-lo em paz. Muito distante ele conseguiu ouvir Hermione murmurando furiosamente na direção de quem só poderia ser Ron, enquanto o amigo ruivo exclamava um ouch bem baixinho.
Alguns minutos depois tudo ficou em silêncio e Harry começava a achar que todos haviam ido embora e ele estava sozinho, até escutar um sussurro pesaroso.
"Precisava falar daquele jeito, Severus? Todos já estão muito preocupados com toda essa situação." A voz de Remus estava carregada de cansaço e tristeza.
"O que, Lupin? Vai me dizer agora que o Menino de Ouro ter sido envenenado é desculpa para que todos vocês comecem a se comportar como vândalos?"
"Claro que não! Mas você poderia ter sido mais delicado."
"Delicado?" Snape questionou com um nítido tom de deboche. "Não estou aqui para segurar a mão de ninguém e sinceramente, este tipo de comportamento não irá salvar Potter. Ao em vez de vocês ficarem aqui berrando como macacos, deveriam se fazer úteis, quem sabe pesquisando sobre os ingredientes ou pelo menos procurando por pistas do apotecário que confeccionou a poção. Mas não, gritar e atacar uns aos outros como se fossem hipógrifos sem cabeça parece ser uma decisão muito mais lógica."
Remus escutou todo o sermão em silêncio e Harry admirou a paciência do maroto, porque quando finalmente Snape se calou a única coisa que ele ouviu sibilo ofegante, que obviamente pertencia ao mestre de poções, e um suspiro resignado.
"Okay, Severus, eu sei que você também está preoc-"
"Não, Lupin, não! Nem comece. Não tenho tempo para os seus absurdos. Potter teve muita sorte. Os medi-bruxos ainda estão analisando as substâncias que estão contidas em seu sangue, mas já posso adiantar que se não fizermos nada rápido o seu querido menino-que-sobreviveu poderá morrer a qualquer momento."
Aquilo fez Harry congelar. Aquela escuridão às vezes fazia com que ele se esquecesse do quão próximo estava da linha entre sua vida e a morte.
"E eles não conseguiram encontrar mais nada?" Remus questionou.
"Não, quem quer que tenha confeccionado esse veneno sabia muito bem o que estava fazendo. Há uma grande quantidade de hemeróbios no sangue de Potter, eles estão mascarando as outras substâncias. Não podemos nem afirmar se a hortênsia realmente era o princípio ativo, ela pode ser uma mera distração enquanto outra toxina continua trabalhando para mata-lo."
Tudo o que Snape disse fez com que a consciência de Harry rodopiasse. Era nessas horas que ele se arrependia de não ter aprendido corretamente poções. O que o ex-professor acabara de descrever soava como algo complexo e difícil de ser resolvido e era sua vida que estava em jogo. Mas ele não podia fazer nada, estava preso naquele vácuo, e mesmo que pudesse se libertar, não fazia a mínima ideia do que fazer com as informações que estava recebendo.
"E agora?" Remus perguntou depois de um tempo.
Snape pareceu pensar para só depois responder. "Vou precisar de ajuda. Venenos não são a minha especialidade."
"E você conhece alguém capaz de nos ajudar?"
"Sim, mas acredite, Potter não iria gostar nenhum pouco."
Aquilo fez com que a curiosidade de Harry fosse às alturas.
"Não importa, Severus, desde que ele volte, não importa."
Quem?, pensou intrigado. Mas como sempre ninguém o escutou e ninguém respondeu.
E Harry teria gritado de frustração se pudesse, porque no instante seguinte tudo ficou muito quieto. Segundos, minutos e horas se passaram e o silêncio permaneceu e ele estava preso, sem poder fazer nada, e para piorar, sem saber a quem diabos Snape se referira.
Se aquilo não era pior do que a morte, então ele não sabia mais o que pensar.
Harry pensou que em algum momento acabaria adormecendo, mas estivera enganado. Sua consciência continuava ativa no silêncio do quarto e ele estava entediado. Aquela era uma prisão cruel e exaustiva, uma escuridão sem fim. O que ele não faria para sentir algo, nem que fosse uma pontada de dor. Começava a suspeitar que se permanecesse muito tempo naquele estado acabaria cedo, ou tarde, desejando a morte.
Foi com impaciência que ele finalmente ouviu alguns ruídos, pensou se não seria novamente apenas uma das enfermeiras checando seu estado, mas lá no fundo esperava que estivesse errado, que fosse alguém, qualquer pessoa, não interessava quem fosse.
Os sons suaves continuaram, agora se aproximando de sua cama. Um farfalhar logo ao seu lado, seguido pelo som de panos e de ar se movendo. Um suspiro profundo. Ele esperou que a pessoa falasse, proferisse qualquer coisa, apenas uma pista para saber quem estaria ali ao seu lado, mas nada.
Um zumbido fraco ressonou e ele começou a ficar preocupado. O que estava acontecendo? Será que estava sendo atacado logo ali no St. Mungus? A onde estava todo mundo?
Quem está aí?, pensou com ferocidade, mesmo sabendo que não seria respondido. Ron? Mione? Remus?
Mas nada aconteceu e o zumbido finalmente se calou.
Novamente um exalar áspero, barulho de passos e depois silêncio. Ele podia apenas ouvir, mas sabia que quem quer que fosse, não estava mais ali. Ele estava mais uma vez sozinho.
