St. Helen

Capítulo 1 O Bolsista!

St. Helen... hum... não gosto desse papo de internato... – resmungava o jovem menino à caminho do novo colégio - vocês sempre me preferiram por perto ! Que Raios deu em vocês?

Comporte-se Henrrique! você já não é mais uma criança! Páre já com essa birra menino! – retrucou-lhe a mulher falando do banco da frente. -

MENINO! Tá vendo ! nem você acredita no que fala mãe! – prosseguiu solitário em seu mau humor. –

O pai nada falava do banco do motorista, então resignado, o rapaz calou-se, virou a cara para o vidro e pôs-se à observar o movimento do carro e a paisagem tão conhecida desvanescendo-se e ficando para trás na estrada que continuava insistentemente crescendo e crescendo...

O menino não compreendia como sua vida tinha dado aquela reviravolta nas últimas 6 semanas...

Um teste que fora aplicado em eu antigo colégio revelou aos seus pais que ele , Henrrique, tinha grandes capacidades de raciocínio que fosse superdotado até. Com a notícia, seus pais procuraram, instruídos pelos professores , um novo colégio para ele. Preferencialmente um internato aonde poderia desenvolver suas aptidões sem ter de se preocupar com fatores externos. Pelo menos foi o que sugeriram.

Todos sabiam que o Internato St. Helen seria a melhor e a mais difícil instituição a qual ele poderia se candidatar à uma vaga. Era um lugar conhecido por seus alunos socialites, por suas boas exposições e peças, por suas instalações suntuosas e principalmente por suas provas que , diziam , serem algumas das mais difíceis de todo o País. É claro que com tanto requinte, sua mensalidade também era à altura... apenas uma prova de bolsa poderia colocar Henrrique entre aqueles alunos...

Por mas estranho que pareça ao analisar a cena aterior, o garoto tinha realmente se empolgado bastante com a possibilidade de talvez estudar naquele lugar... contudo seus pais fizeram de sua vida um verdadeiro inferno às últimas semanas por causa daquela maldita escola!

Obrigaram-no à estudar 6 vezes mais! NADA do que fazia ou aprendia era o bastante, suas horas de sono ficaram todas comprometidas e sinceramente também não gostava da idéia de ter de se separar de seus pais e do resto de toda a sua vida por causa de um exame bobo que nem mesmo ele acreditava ter tido um resultado considerável.

" Você espera muito pouco de si Henrrique" –dizia sempre a mãe em resposta à esse argumento-

Sua família era muito agarrada e sempre foi criado com muito carinho... sabia que se ficasse muito tempo longe deles sentiria-se muito sozinho e deprimido e, mesmo acreditando que eles o veriam sempre, Henrrique conhecia bem a renda e os gastos de sua família... sabia que já seria muito difícil para eles sustentarem o novo colégio mesmo com uma bolsa de estudos... sendo assim, provavelmente não conseguiria vê-los tão cedo e isso lhe causava aquele nó na garganta que quase o sufocava no banco de trás do carro.

Definitivamente passara a odiar aquele lugar!

Depois de quase duas horas de viagem, finalmente chegaram aos portões do colégio que ficava bem afastado da cidade.

Enquanto o portão lentamente se abria, ia revelando uma íngreme ladeira e uma pequena cabine de segurança ao lado da entrada no lado de dentro. Podia-se vislumbrar os numerosos prédios com seus contornos médio-ocidentais que se assemelhavam àqueles palacetes que sempre via na televisão e nos documentários. Próximo à entrada o que mais lhe chamava atenção era o ginásio de esportes aonde podiam-se ouvir alguns alunos rindo e jogando lá dentro sob a tutela de seu instrutor. Adentrando e subindo pela ladeira deixaram o carro no pequeno estacionamento lotado de carros e tiveram de seguir à pé até o fim próximo da ladeira, passando pela entrada do conhecidíssimo teatro abaixo da capela. Ao olhar para cima, o rapaz pôde vislumbrar a pequena ponte que ligava o que ele descobriria ser um pátio secundário até a entrada suspensa do Ginásio pelo qual tinha passado no momento anterior.

Ao chegar finalmente na sede do complexo, seus pais se ocuparam de preencher sua ficha de inscrição e de confirmar sobre seus dados para a prova de bolsa que se realizaria dali à duas horas e meia aproximadamente.

Ele foi deixado no pátio principal que achava simplesmente majestoso ! Havia se acomodado em um dos bancos e relaxava displicentemente... de fato era o único momento de paz que tivera desde logo cedo. Tinha sido um dia muito agitado e agora, naquela paz, raciocinando com clareza, o rapaz se sentia, de certa forma, reconfortado. Seus pais estavam tendo todo aquele trabalho para que ele pudesse ter algum futuro... tentavam colocá-lo à qualquer custo no melhor colégio...buscavam sempre dar-lhe o melhor... e ele que desde cedo havia sido tão egoísta e ranzinza...sentia-se até mesmo culpado...

Quando terminasse a prova,daria um tempo à seus pais e lhes pediria desculpas!

E lá estava ele, seus cabelos negros meio bagunçados pela viagem pendiam pela cabeça jogada para trás no banco, os olhos cor-de-mel protegidos pelos óculos de armação dourada, cerravam-se durante um espreguiçar forte e profundo em que estendia os braços e depois largava-os estirados ao lado do corpo.

AH! Que sensação bôôôôaaaaa!

Reabriu os olhos analisando melhor aquele lugar tão aconchegante... haviam outros bancos dispostos em toda a volta de uma fonte muito bem trabalhada aonde dois anjos de vidro, pintados com tintas translúcidas; e em alguns pontos opacas; pareciam pousar suavemente no centro do pedestal rodeados por esguichos de águas cristalinas que no mínimo ressaltava toda a pompa daquele lugar.

Por de trás dos bancos se encaixavam diversos canteirinhos de plantas com pequenas flores e alguns arbustos... várias árvores também emolduravam aquele lugar... algumas ainda guardavam algumas poucas frutas em seus grossos galhos e um cheiro de terra úmida pairava no ar... era um dia quente, mas ainda assim ali, esse calor nem era tão incômodo... sentia-se protegido...

Aos poucos os outros alunos iam aparecendo para a prova de bolsa e enchiam o pátio com conversas e nervosismos à mesma medida em que começava à ficar insuportável permanecer ali.

Aproveitou-se do transtorno para explorar melhor o lugar.

Foi até o ginásio observar se aqueles alunos que escutara ainda se encontravam lá... devia ser praticamente o fim do ano letivo deles e provavelmente não se importariam com alguém à observar seus treinos sem contar que estava curiosíssimo para saber como eles se pareciam... falavam tão mal deles na cidade... riquinhos, enjoados, metidos... tinha de confirmar!

Marcou o horário no relógio, não poderia se atrasar por nada! Ele e seus pais contavam com aquela bolsa!

Chegando ao ginásio, achou melhor não entrar, preferiu espiar por de trás de uma parte do gradeado de pedra que havia incrustado em todas as paredes do lugar. Podia ver os alunos lá embaixo jogando sob o olhar do treinador e em verdade, pareciam mais que estavam brincando do que treinando. Aliviou-se...afinal jogando ali eles não pareciam mais normais do que ele nem superiores , ou inferiores de qualquer forma... em verdade chegou à se reconfortar como pensamento de que talvez ali fizesse bons amigos .

Com a sineta a maioria dos alunos se recolheu para o vestiário mas alguns ainda permaneceram pela quadra comentando o jogo e rindo em alto e bom som.

Seus olhos percorreram o ginásio analisando os alunos um a um. achou-os velhos para serem de sua futura turma... talvez fossem do 2º ou 3º ano... mas sempre é bom conhecer o mundo à nossa volta e as pessoas que estão perto ... seus olhos passeavam pelos alunos quando seu olhar cruzou com outro que o encarava de volta sem a menor cerimônia!

Era um rapaz esguio com o corpo levemente definido pelos exercícios que certamente praticava, seus cabelos eram alorados , curtos e repicados dando-lhe um ar rebelde e anti social. O rapaz riu-se ao se perceber analisado por Henrrique e levantando-se da arquibancada a onde estava, catou qualquer uma das bolas espalhadas pela quadra e encestou-a magistralmente com um "loop" na meta de basquete. Ao voltar ao chão, todos os poucos as alunos presentes o olhavam e aplaudiam fervorosos e espalhafatosos

woa! Tá inspirado hoje né Tomás ! –disse um-

Ah! ele tá é se mostrando de novo! Tu não presta cara – brincou o outro-

O jovem parecia não ouvi-los continuava com os olhos fixos em Henrrique que se sentia hipnotizado por ele. Não conseguia não olhar, não podia ... simplesmente não dava... e não entendia como alguém podia exercer tanto poder sobre ele ou sobre qualquer outra pessoa! Ruborizou quando o rapaz pegou a bola que encestara do chão e num movimento que só eles entenderiam, entregou-lhe a cesta com um sorriso divertido e zombeteiro no rosto.

Ixi... gente... acho que o Tomás pirou...-continuou o brincalhão e todos riram - ô Tomás ! Tá mandando a cesta pro santo é! – todos caíram na gargalhada ninguém parecia ter visto Henrrique aonde estava nem que a tal dedicatória parecia ter sido para ele -

O jovem apenas virou de costas e dirigiu-se ao vestiário ignorando à todos.

...ip...bip...bipbip...bipbip... .bipbip...bippbip.. .bipbip...bippbip...

DROGA! –Henrrique olha para o relógio... provavelmente já estava tocando há um bom tempo e nem se dera conta! Estava atrasado! ATRASADO!-

Correu o mais rápido que podia até o pátio aonde os alunos já haviam sido dispersados para as salas. Arfava sonoramente e suas faces queimavam, em parte pela corrida, em parte ainda pelo olhar daquele tal Tomás, se era realmente esse o nome dele...mas não era hora para pensar sobre besteiras! Tinha de correr ou perderia a bolsa , se já não a tivesse perdido...

Encontrou um inspetor e ele o dirigiu até sua sala praguejando algo que envolvia responsabilidades e compromissos e que se ele era daquele jeito com uma provinha nem deveria fazer pois naquele colégio...

Mas Henrrique sequer ouvia... só queria entrar na sala, fazer sua prova e sair logo daquele lugar!

Chegaram à uma sala depois de subir uns dois andares ...era uma sala ampla no fim de um grande corredor, tinha janelas que ocupavam praticamente toda a parede oposta ... a sala possuía um teto bem alto e todas as carteiras eram mesas de madeira com cadeiras de igual feitio com recostado acolchoado. Todas as mesas possuíam uma prova , o material que seria utilizado para a prova e uma luminária. Apesar de claramente ser uma sala de aula, a decoração da sala era como a do interior de uma casa... no chão havia um grande carpete verde-escuro combinando com a cor dos recostados das cadeiras, o quadro negro era grande e imponente assim como a mesa que normalmente deveria ser a do professor da sala. Havia um jeitoso arranjo de flores frescas num dos cantos da sala e a iluminação apesar de ser excelente era acalentadora... nas janelas, pesadas cortinas tombavam pelas laterais vindas dos trilhos de madeira pendendo até o chão.

Ao permanecer algum tempo à porta da sala embasbacado, alguns alunos começaram à encará-lo e a soltar risinhos contidos o que chamou a atenção dos inspetores da sala.

QUIETOS! –e todos voltaram às suas provas -

Henrrique foi logo posto à uma das cadeiras todos o olhavam como se ele fosse algum tipo de louco que gritaria ou coisa assim... sentiu-se constrangido e sua vergonha só não era mais evidente devido ao fato de já estar com a face vermelha devido à correria.

Era demais! aquele colégio causava tantas sensações à ele que já nem mais sabia se REALEMENTE queria ir estudar naquela droga de lugar!

Afundou-se atrás da sua prova e a fez pura e simplesmente. "Ah! o que tiver de ser..." pensava ao iniciar sua prova.

Os dois inspetores o olhavam o tempo todo como se o recriminassem.

Acabou sua prova o mais rápido possível e saiu daquele lugar.

Contudo, seus problemas só haviam começado... quando retornou da prova, seus pais já haviam sido informados de seu atraso e é claro que na volta para casa o jovem ouviu bastante...

Só não entendo o por que raios esse menino não fala o que aconteceu para ter se atrasado! –a mãe comentou totalmente perdida.-

Não que estivesse proibido de dizer o que se passou, mas por algum motivo não achava que fosse uma boa idéia contar aos seus pais que ele ficara bobotizado vendo um jogo de bola ...

Duas semanas se passaram e Henrrique já começava à esquecer-se totalmente daquele lugar . Talvez sua jovialidade lhe propiciasse essa característica de abstrair coisas com as quais não tinha tanto contato... mas naquela terça-feira seus pais o chamaram para conversar...

Fazia as malas... meio à contra-gosto mas fazia...

Basicamente ele havia tirado uma das maiores notas no bolsão o que lhe garantiu a bolsa de 90 sobre todos os seus custos no Instituto St. Helen , o que realmente o surpreendeu bastante tendo em vista que nem se lembrava das questões da prova.

Seus pais ficaram eufóricos e lhe prepararam uma festinha só entre os amigos mais próximos naquela noite.

No dia seguinte seria inscrito no colégio e já ficaria por lá para "se aclimatar" como disse seu pai.

Dormiu mal aquela última noite...sabia que raras vezes nos próximos tempos estaria de volta em sua casa e com sua família... segurou o choro enquanto pôde, mas foi rendido em seu sono e nele várias lágrimas rolaram por seu travesseiro durante a noite.

Primeiro dia de colégio... um colégio praticamente vazio, devido ao fim do ano letivo e a penas alguns poucos alunos permaneciam no colégio... a maioria curtia férias com a família e coisas do tipo... A sua despedida de sua família havia sido bem emotiva... mas não queria pensar nisso, era a única forma que tinha para suportar ficar sozinho tanto tempo.

Ao chegar, foi formalmente apresentado às regras e ao colégio por um dos inspetores (o lugar tinha zilhares deles) .

Passou quase o dia inteiro conhecendo as instalações e regras do lugar... não seria tão ruim... para os alunos que ficavam, existiam várias atividades extracurriculares que ele como bolsistas era obrigado à concluir pelo menos uma em cada período que cursasse no St. Helen. Além disso o colégio designava boa parte de um dos prédios para uma vasta biblioteca que era aberta apenas aos alunos do colégio. Também era permitido circular por quase toda a instituição e, embora as salas de atividades encerrassem seus expedientes às 6 da tarde, ainda se podia andar por todo a parte pelo menos até as 11 da noite... desde que no dia seguinte todos os alunos estivessem de pé às 6 da manhã.

A quebra das regras que lhe haviam sido explicadas ocasionaria em perda de pontos em sua ficha e sem os pontos necessários ele não poderia passar de ano.

É claro que , como bolsista ele também teria que seguir mais à risca as regras , especialmente as de conduta mas essa parte só lhe seria mais cobrada depois do início das aulas. Nada com o que ele se preocupasse muito, afinal ele sempre foi um rapaz muito tranqüilo e bem relacionado. Mas aquela visão de desleixado que tiveram dele no dia da prova em sala, ... hum... nisso ele teria que dar um jeito...

Já era quase 3 da tarde quando se livrou da inspetora.

Resolveu colocar suas coisas no armário e acertar o restante que usaria no dia-a-dia. Depois disto feito, buscaria pela lista de cursos para escolher o que faria... fixou um quadro no estrado da cama de cima (acabou ficando numa das camas do alojamento da parte de baixo) aonde depositou fotos de sua família e amigos ...assim pelo menos poderia sentir como se estivesse sendo sempre zelado por seus amados pais.

"Hum... até que não é tão ruim... qualquer coisa é só ir ler um pouco ou jogar uma bola..." pensou e com um sorriso espontâneo dirigiu-se ao quadro afixado no pátio onde ficavam os cursos para serem escolhidos.

Vejamos... – divagava lendo a infindável lista... – iuchi... como isso é complicado... JÁ SEI! –pegou um pequeno caderno que sempre carregava consigo e anotou os cursos que mais lhe interessavam, assim decidiria com calma mais tarde o que fazer e teria mais tempo para pensar-

Com tudo anotado resolveu dar mas uma volta pelo colégio... uma boa volta... só que dessa vez ele seria seu próprio guia...

Seu passeio não duraria muito... acabou dirigindo-se ao ginásio... desde aquele maldito dia da Bolsa não tirava mais aquele lugar da cabeça... Para ele era muito estranho... nunca se interessara até hoje por esportes...

Finalmente entrou no ginásio e se dirigiu à quadra...procurou o lugar certo e olhou para aonde estava espionando na vez anterior... não admira que não o tenham visto, era muito alto e com o gradeio mal se dava pra perceber alguém ali. À essa altura, se perguntava como o tal rapaz no outro dia o vira ali.. ou se realmente o teria visto... "vai eu foi impressão né?"-pensava-

Imitou divertido, os movimentos do rapaz do outro dia... achava engraçado. Logo pô-se à explorar melhor aquele lugar. Abaixo da quadra, indo por uma estreita escada chegou aos vestiários...o silêncio era perturbador. e sem o ar condicionado ligado, fazia muito calor ali embaixo, tirou a blusa e deu graças aos céus quando viu que a água funcionava!

Não pensou duas vezes! Retirou as roupas suadas que estava usando, atirou-as no primeiro armário que viu pela frente e caiu debaixo de um dos chuveiros sentindo a água fria refrescando sua pele quente e lhe trazendo grande alívio daquele imenso calor.

Acabou seu banho e começou à vestir-se.

Ouviu alguém abrir a porta do vestiário. Num instante, sentiu-se como um intruso naquele lugar e escondeu-se por de trás da longa fileira de armários.

Não podia ver nada , apenas ouvia quieto os passos fortes se aproximando. Seu coração batia rápido e percebeu que havia se esquecido de apanhar a blusa! Só poderia torcer para que nada fosse percebido. Na verdade nem ele sabia do que eleestava se escondendo , mas sabia que aparecer de detrás dos armários de repente , mereceria uma explicação que ele não saberia dar.

Divisou uma fina brecha entre os armários que lhe possibilitava alguma visão da situação.

Alguém estava do outro lado.. só conseguia ver um tórax claro e quem quer que fosse começava à tacar as próprias roupas para cima da porta do armário displicentemente.

O estranho afastou-se e logo se ouviu o som da água do chuveiro correr.

"É agora!" saiu de detrás da fileira de armários e começou à procurar abaixado pela blusa que lhe faltava e finalmente encontrou-a. Quando a alcançou vestiu-a rapidamente e saiu do vestiário quase correndo.

Saiu do ginásio e retornou ao pátio principal. Sentou-se à beirada da fonte e tentava compreender porque raios tinha agido daquela maneira .

Olhando melhor à sua volta alguns alunos andavam pelo local, mas não teve o impulso de falar com nenhum deles. Fechou os olhos esticou-se por um bom tempo à borda da fonte sentindo os respingos d'água em seu rosto.

Quase uma hora depois sentou-se novamente e ao olhar para frente quase levou um susto!

Sentado à sua frente num dos bancos da praça, lá estava ELE , aquele rapaz estranho de novo! E de novo olhando-o com aquela insistência e com aquela mesma cara !

Ficou paralisado por um instante "ele só pode tá de palhaçada comigo! EU MEREÇO"- pensou - sem escolha, fez a única coisa que sabia realmente fazer bem : Analisou-o:

Lá estava ele, com aquela mesma atitude "é uma pessoa decidida" , com aquele mesmo olhar "não tem medo de represálias" , os braços abertos jogados para trás do encosto do banco "está receptivo mas não sairá dali tão cedo."; a perna esquerda cruzada por sobre a direita com desleixo "definitivamente não se moverá... pode estar me desafiando... '; traz um riso debochado nos lábios ,"sim! é um desafio ! mas ele sabe que não sairei daqui, sabe que ele me perturba." –sentiu ruborizar violentamente e desviou do olhar inquisidor –

Quando voltou o olhar já estava de pé e buscava encará-lo da mesma forma sem êxito era como se estivesse nu, e essa sensação não lhe era agradável. Ele podia se relacionar com todos, é verdade, mas de fato era sempre muito reservado. não se sentia bem com aquele tipo de "invasão"

O rapaz riu-se numa gargalhada sonora jogando a cabeça para trás e encarando-o novamente.

Henrrique se assustou por ele mesmo não ter saído correndo, mas o susto foi maior quando ouviu o grave timbre da voz do outro ressoar em seus ouvidos:

Hn! Quando te vi da primeira vez achei até que fosse um fantasma! Mas agora vejo que é somente por que você é muito branco!-sorriu descontraído- ...seguinte: eu ia te deixar quieto dormindo aí... mas não posso deixar quieto.

D-Diga...o-o-o—o-o que houve? . – respondeu Henrrique totalmente sem graça e acanhado mas ainda tentando dar um tom mais natural na cena–

Eu realmente não acreditei que tivesse mexido tanto com você! ... – fez uma pausa-

Henrrique não disse nada .. apenas olhou para o chão buscando alguma idéia que o tirasse dali.

... mas faz o seguinte : Da Próxima vez que quiser me espiar tomando banho no vestiário avisa, que assim você não tem que ficar atrás do armário ok!

Herrique quase teve um enfarto!sentiu-se extremamente sem graça e pior ... não tinha feito nada!

e-e-e-eu... e-e-e-eu.. não...

WAUWHAUWAHWAUAWUAWUHAWHUWAH! Não adianta ! Sei que estava lá! –continuou à olhá-lo divertido - Na boa. Não esquento não, só te acho muito novo para isso. Não sei nem como estuda aqui!

EU JÁ TENHO DEZESSETE, NÃO SOU MUITO NOVO PRA NADA! – disse Henrrique com convicção- E EU NÃO TAVA TE ESPIANDO!

Jura que tem 17! –espantou-se - Para mim não devia ter mais de 15 ! Phew! Que louco! – disse o outro se levantando - Olha nada contra, mas arranja outra desculpa para se embrenhar atrás do meu armário da próxima vez ok ? . E como eu disse, na próxima avisa se você quiser eu faço até um showzinho pra você! – deu de costas e seguiu descontraído-

Ora seu! – Henrrique puxou-o pelo braço- Já disse que não tava te olhando e NÃO QUERO NENHUM SHOW! Você não tem nada aí que eu queira ver ! Quem raios é você afinal de contas?

Todo mundo me chama de Tomás, prazer – Respondeu de imediato com um enorme sorriso. Parecia mudo as afirmações de Henrrique – e como eu disse, é só me procurar ok?

QUE ESTÁ HAVENDO AQUI? –um dos inspetores se aproximou – RESPONDAM!

nada ... o novato só tava me mostrando um golpe de luta. – respondeu Tomás de imediato como mesmo sorriso de sempre no rosto como se fosse realmente o mais natural dois jovens quase se engalfinhando no meio do pátio.- não é?

Isso é verdade Henrrique? – indagou a inspetora ao garoto que de imediato soltou braço de Tomás.-

s-sim senhora.

A inspetora logo se afastou e assim, os dois puderam conversar mais "civilizadamente".

Ahn... Henrrique...então esse é o seu nome... – divagou Tomás.- Combina com você !

Não mude de assunto!

Ei! Não quero confusão garoto! Como eu disse. Não me importo com isso nem acho que você devesse também, então que fiquemos como está, por que nada do que diga ou mostre vai me fazer pensar que você não estava me espiando no chuveiro! – continuou com o mesmo sorriso debochado - Então ficamos assim ! Tá certo ? – virou-se e saiu de modo até meio afetado demais para o gosto de Henrrique e antes de se virar e também deixar o pátio, ocorreu a cena que o manteria acordado a noite toda .

Psiu ! Henrrique... – o garoto olhou para trás. Tomás com metade do corpo para fora da esquina do corredor com o mesmo sorriso e o mesmo olhar para ele só que mais divertido que antes - Não esquece de me procurar depois tá? – jogou-lhe um selinho no ar de maneira debochada e deu uma piscadela para Henrrique–

Mas eu nem fiquei espiando nada, droga! –resmungou para si embaraçado com o que acabara de ouvir-

AHÁ! –Tomás voltou à esquina com metade do corpo sendo visto por Henrrique- Então você admite que QUERIA TER VISTO! – riu da mesma gargalhada cheia e descontraída de antes e foi embora-

O garoto quase deu meia volta e foi cobrar (e dar) explicações, mas desistiu... com um cara como aquele , talvez fosse melhor não arriscar ...Só torcia para que ele não colasse muito nele por aí. REALMENTE seria muito estranho!

continua...