Saint Seiya não me pertence, não tenho fins lucrativos com essa história e blá, blá, blá.
MENINA VENENO
O treinamento fora árduo. Algumas dezenas de cavaleiros inexperientes tentavam adquirir conhecimento naquele local, onde os cavaleiros mais experientes tiveram a missão de instruí-los. Milo era um deles. Como pertencente à tropa dourada, lhe foi delegada a missão de ajudá-los com ensinamento de algumas técnicas básicas e teorias que lhes seriam úteis.
Ao final da tarde, Milo subia a escadaria que o levaria até seu templo. Não era para se negar que suas pernas doíam em decorrência do treinamento. Subir todos aqueles patamares não seria nada agradável. Sentindo a dor perturbar, Milo apertou os olhos, ate que contrações involuntárias vieram e o fizeram envergar. Sem equilíbrio, caiu sobre o degrau. Sua sorte foi ter caído de traseiro, caso contrario, bateria a cabeça. Encostou-se na lateral da escada, esticando a perna dolorida sobre o degrau. Esperou que a dor passasse, sem sucesso. O que teria acontecido? Ele não fizera nada de errado naquela tarde! Nada do que não costumasse fazer. Sim, ensinara aos presentes a desferir golpes tanto com os braços como com as pernas, alem de outras técnicas básicas de artes marciais. Nada de diferente do que fazia em seu cotidiano de cavaleiro. De onde diabos viria aquela dor? Seria cansaço? Talvez... mas a dor insuportável ultrapassava o que poderia se chamar de cansaço.
Aquilo o incomodava ainda mais pelo orgulho que poderiam lhe ferir. E caso alguém passasse e visse o tão honorável Cavaleiro de Escopiao se contorcendo de dor? Não, ele não poderia deixar isso acontecer. Indo contra seu limite, levantou-se a custo, e mancando, subiu mais alguns degraus. A dor se intensificava, quase o derrubando outra vez. Mas em duelo com o seu orgulho, permaneceu subindo. Estava saindo de Touro, perto de Gêmeos. Faltavam seis casas para chegar a sua e mais algumas levas de escada.
"Merda!" Pensou, irritado.
Já anoitecia. Um céu escuro e sem estrelas substituiu o alaranjado pôr do sol. E ele continuava lentamente a subir. Enquanto subia, uma silhueta parcialmente desconhecida preencheu-lhe os olhos. Ela vinha num caminho contrário ao seu e conforme se aproximava, sua sombra diminuía. Curioso e assustado, Milo parou. Era uma figura irreconhecível, tinha dificuldade de analisar seus traços. Teve o ímpeto de aproximar-se, no entanto, não só a dor na perna, mas também certa insegurança o acometeu. A figura transpirava mistério.
Ela por sua vez, descia sem maiores preocupações. Sentiu que estava sendo observada. O cosmo de quem a observava era quente. Percebeu isso assim que aprendera a captar a essência do cosmo alheio. De repente, sentiu no observador um ar tão... presunçoso? Por trás de um objeto metálico que lhe encobria o rosto, ela observava a pessoa estagnada a sua frente. O jeito com o qual ele a olhava lhe deixava sem graça. Desceu um pouco mais, e nesse mesmo momento encontrava-se no mesmo patamar que ele. Um vento leve sacudiu seus cabelos verdes.
"Sujeito estranho..." Era a única opinião que conseguira ter dele. Por que a observava com tanta veemência? Seria melhor por um fim nesse momento de constrangimento ou simplesmente arredar o pé dali?
Leiga, permaneceu na mesma posição, em frente ao homem.
Esse possuía os mesmos pensamentos que ela. Com a aproximação conseguiu reparar num considerável detalhe: A máscara que tampava seu rosto. Logo deduziu que era uma amazona seguindo a risca as regras e ao mesmo tempo, que estava tentando se proteger...
O cosmo dela emanava muita agressividade. Devia ter o gênio muito forte. Mas que amazona não tinha? Elas tinham de esconder a feminilidade a qualquer custo, nem que pra isso mostrassem o mais cruel do seu veneno. Veneno... pensar nessa palavra o fez hesitar. Só o tempo que estavam ali parados, um fitando ao outro, revelava o quão a presença alheia lhe perturbava.
Mesmo nessa perturbação, Milo deixou que um tênue sorriso brotasse em seus lábios, despertando na garota uma onda de raiva. Aquilo lhe pareceu cinismo.
- Cínico! Alem de esquisito e cínico! - Sussurrou baixo, portanto nada que o ouvido de Milo não pudesse captar:
- Esquisito? Cínico? Então por que parou para me olhar?
Por trás da máscara, a amazona arregalou os olhos. Como aquele cínico conseguira ouvi-la? Não. Não suportaria mais aquilo. Tivera um dia pra lá de enjoado e aquele homem maluco não acabaria por deixá-lo ainda pior. Já estava com a armadura em suas costas, isso bastava.
Desceu as escadas com muita pressa, sem olhar para trás. Deixou-o sozinho a observá-la. Tudo o que queria era chegar logo na cabana em que vivia isolar-se das demais amazonas e enterrar a cabeça num travesseiro, onde nem o ar lhe fizesse falta.
Porém era uma situação bisonha... Uma das principais regras das mulheres-cavaleiro era nunca se deixar envolver por sentimentalismos meramente femininos. Tudo por conta da sensibilidade que deviam ocultar. No entanto, ela desviou-se uma vez dessas normas e quase o fez outra vez! Primeiro aquele menino que corria atrás de um coelhinho lhe cuida de um ferimento causado durante os treinos. Essa atitude causou nela um sentimento jamais sentido antes, seu coração se aqueceu de uma forma que não sabia explicar. Agora, lhe aparece aquele desconhecido que ficou a olhá-la de uma maneira que ela mal desvendava, apesar do irritante sorriso que ele lhe abriu. Seria irritante mesmo? Com que intenção ele lhe sorriu? Dela ou para ela? Não soube dizer. Dessa vez, ela quase desobedeceu as regras porque mesmo contra sua vontade, acabou por admirá-lo.
Pelo pouco tempo que ficou fitando-o, não deixou de reparar rapidamente em seu conteúdo. O homem tinha um porte altivo, parecendo ter em sua pessoa uma boa dose de poder. Não pode também deixar de reparar em sua inegável beleza. Aqueles olhos que a fitavam, os quais não conseguira reparar a cor, eram profundos e envolventes. Esse foi o principal motivo pelo qual a visão lhe prendeu. E... suas vestimentas, apesar do intenso escuro da noite, brilhavam em luz incandescente. Uma cor que atingia perfeitamente o tom dourado.
Claro! Como não ia lembrar-se dos tão falados Cavaleiros de Ouro, a elite do santuário? Então era isso! O estranho fazia parte! Mas... se ele e um cavaleiro de ouro, por que perderia tanto tempo para olhá-la?
Inúmeras dúvidas pairavam em sua cabeça.
Chegou em casa, correu para seu quarto e lá trancou-se. Cansada, atirou-se em sua cama. O olhar congelante do cavaleiro não lhe saia da mente. Ao lado de sua cama, a janela estava aberta. A imagem do céu grego ocupou-lhe a visão. Estrelinhas muito brilhantes o enfeitavam. Curiosa, ajoelhou-se no colchão e se apoiou no parapeito da janela, começando a observar o brilho que aumentava. Sua mascara tinha caído sobre o colchão, não lhe agradava usar aquela incômoda porcaria. Sendo o núcleo do circulo de estrelas, uma lua muito alva ajudava a enfeitar o céu. Não pode deixar de sorrir diante de tão linda cena. Não importa se sua sensibilidade estivesse aflorando. Ninguém a estava olhando.
As estrelas juntas fizeram um desenho. E aquele ela conhecia perfeitamente. Formou-se um serpentário brilhante e um pouco acima... formava-se o desenho da constelação mais prepotente do zodíaco: Escorpião. Aquelas constelações ironicamente juntas... Seus símbolos eram dois animais venenosos. O engraçado e que as lendas do santuário diziam que os representantes dessas constelações constituíam juntos aquilo que chamavam de orgulho. E sem dúvida, essa era a principal característica dela. O orgulho sempre a acometera e com veemência afirmava isso. Não era o acaso que lhe fornecera o dom de representar a constelação Ophiuchus.
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Algumas horas depois, já em sua casa, o cavaleiro de Escorpião encontrava-se perturbado. Estava de banho tomado e sentindo calor, deixou o peito nu. Estranhamente, as estrelas naquela noite começaram a brilhar. Através da janela, observava com admiração o ceu estrelado. Sorriu e se aquietou quando viu sua constelação dar o ar da graça. Orgulhava-se pelo fato de representá-la, não pela soberba natural que lhe pertencia, mas sim porque não mediu esforços para conquistar essa representação. O mestre sabia o que fazia. Se hoje ele vestia a armadura, era por sua dignidade.
A dor agonizante que sentia na perna estava aliviando, mas mesmo assim deixou-a mais um pouco esticada. No dia seguinte teria de treinar e não era conveniente descuidar disso em prol de uma dor. Com sede, levantou-se e se dirigiu a geladeira para pegar um copo d'água. Tomou o liquido com gosto e largou o copo sobre a pia. Ainda mancando um pouco, voltou para o sofá, pois queria contemplar sua constelação um pouco mais, antes de se recolher. Realmente, naquela noite ela brilhava de um jeito diferente... parecia que algo a engrandecia. Olhou minuciosamente ao redor das estrelas e ali viu sua constelação vizinha brilhar com a mesma intensidade. Ophiuchus... a que essa constelação devia tamanho vigor? Sempre teve essa curiosidade e também desejava saber o por quê de ela ser próxima à de Escorpião.
Ao enxergar Ophiuchus, lembrou-se da mascarada com quem trocara olhares no inicio da noite. Lembrou-se do veneno que ela emanava, podia sentir isso sem muito se aproximar.
"Qual será seu nome?" - Pensou, sorrindo. "Será que ela e nova no santuário?"
Só podia, pois a urna da armadura que carregava estava disponi...vel...
Armadura? Então e isso!
Levantou-se em um pulo quando lembrou do desenho da armadura dela. Apesar de pequeno, conseguira reparar que tinha um formato de serpente... e justo naquela noite o serpentário mostrava uma destacada limpidez
O turbilhão de sentimentos que o acometeu naquela hora não fora à toa. Sim, de algum jeito, aquela menina havia mexido com ele. Queria especular um pouco mais aquele mistério, mas sua intransigência a fez fugir. Malditos impulsos! Ela só havia sussurrado que o achava maluco e esquisito! Por que diabos ele escutou?
Inconformado, entrou em seu quarto e jogou-se em sua cama. A imagem da amazona não lhe saia da cabeça.
"De que cor serão seus olhos...?" Tentando adivinhar, adormeceu em meio de imaginações.
Meia noite no meu quarto
Ela vai subir
O barulho da ventania acusava uma iminente tempestade. As cortinas sacolejavam intensamente e a vidraça batia com violência. Ele, largado em sua cama, parecia não se importar muito com o esporrento fenômeno. Percorreram os olhos azuis pela negritude de seu quarto, um leve palpitar em seu coração. Um aroma letárgico o impedia de regressar ao sono e aquilo era bom demais. A profusão cósmica do desejo que jamais havia sentido. Essa profusão vinha da convicção que teve quando sentiu o cosmo que ela não omitira ao subir.
Ouço passos na escada
Vejo a porta abrir
Acometido por uma ansiedade, sentou-se na cama, repousando o corpo na cabeceira. Escutava os passos dela na escada, enquanto a porta se abria lentamente. Seu coração acelerou e o ar lhe faltou. A custo tentava ter autonomia sobre seus ímpetos, quase não resistindo... mas não seria necessário, pois aquele anjo iluminado na escuridão surgiu em seu quarto. No entanto, não podia reparar em sua expressão.
Um abajur cor de carne
Um lençol azul
Cortinas de seda
O seu corpo nú
Menina veneno
O mundo é pequeno demais
Para nós dois.
Em toda cama que eu durmo
Só da você
Ao lado de sua cama, um pequeno abajur jazia sobre o criado mudo. Seu corpo estava coberto por um confortável lençol azul. A ventania o deixara com frio. Enquanto isso, o anjo andava de um lado para o outro, e por seu corpo deslizava sensualmente um tecido esverdeado. Ela o deixava deslizar propositalmente, sorrindo com malicia quando ele apertou os lábios. O desejo estava mais que estampado no rosto de Milo. Ver um corpo nu tão perfeito a sua frente... nunca havia visto em nenhuma das mulheres que frequentaram sua cama.
Seus olhos verdes no espelho
Brilham para mim.
Lentamente, ela caminha em direção ao espelho de estrutura mediana que ficava atrás da porta. Um lindo par de olhos verdes brilhou quando se fixou no reflexo do homem que a esperava. Outro sorriso maroto brotou em seus lábios. Ele tinha uma vontade imensa de possuí-la e ela brincava com isso.
Seu corpo inteiro e um prazer
Do principio ao sim.
Virou seu corpo na direção de Milo e de maneira sensual se aproximou. Aquele sorriso ainda brincava em seus lábios... Venenosa! Sabia como incitá-lo mesmo sem lhe tocar. De frente para o colchão, agachou-se e de gatinho foi para perto do rapaz que a esperava. Milo quase expulsava o coração pela boca. Ele abriu os braços para recebê-la e sem mais, aninhou-se em seu corpo. Ela também estava indo ao estágio da loucura ao sentir o corpo suado em torno de si. Ergueu uma das mãos para pousá-la no rosto masculino. Em seguida ergueu seu pescoço, para que suas faces ficassem menos distantes possível. As unhas enormes faziam pequenos arranhões no rosto dele. Estendeu o braço ate o pescoço, acariciando sua nuca. Os dedos tocaram os macios cabelos azuis e assim, ergueu o outro braço para abraçá-lo totalmente pela nuca.
A vontade de beijá-la estava quase no limiar, aliviando-a quando a boca carnuda tocou a sua. Suas línguas se esbarraram e fizeram uma frenética dança, na cadência em que seus corpos se uniam ainda mais. Milo agarrou-a pela cintura, deslizando pela cama, deitando-a em seguida. Suas bocas se separaram. Apenas ficaram se fitando. Ambos perderam-se no colorado cintilante do olhar alheio.
Por cima dela, Milo acariciava o rosto delicado. Não constava mais o sorriso sensual e picante, sua pele estava cintilante e corada... Parecia que ela também queria se entregar.
- Gostou do nosso encontro hoje?
- Eu não imaginava que ia te reencontrar tão cedo...
- Nem eu... Ainda bem que você esta aqui... Me disseram que vou sofrer muito nesse lugar.
- Não! Você não vai.. eu não vou deixar.
- Ah, é? - Lhe sorriu carinhosamente - Então o que pretende fazer?
- Olha, meu amor...tudo o que tiver de ser, será... Mas eu jamais vou deixá-la desamparada. Estamos destinados um ao outro, esqueceu?
- Não. Mas teremos de manter distância nesse lugar! Acontecerão muitas coisas ate ficarmos jun...
-Shh... - Um dedo pousou sobre seus lábios - Eu sei.
- ... - Não encontrou palavras para respondê-lo.
- Eu não me importo! Para estar perto de você, eu esperaria o tempo que for preciso. Eu a amo, Ophiuchus.
- Não sei se tão cedo te retribuirei esse amor...
- Eu já lhe disse: esperarei o tempo que for preciso.
- Pode ser que eu nunca me identifique... - Suas unhas deslizavam sensualmente pelas costas nuas de Milo.
- Você não cometeria tamanha crueldade.
- Ahh... você não me conhece mesmo...
- Me diz pelo menos seu nome, vai...
Milo começou a beijá-la pelo rosto, deixando úmida sua pele.
- Meu nome? Um dia você descobre... Agora, me beija... - Pediu em uma emocionada devoção.
Os lábios se uniram outra vez. A luxúria aos poucos foi passando. Ficaram apenas os vestígios de amor que impregnavam o quarto daquele escorpiano. Um homem que não mensurava sua felicidade por ter a amada em seus braços.
--M&S-
To be continued...
Olá! Bom, segunda fic de autoria minha sobre Milo e Shina. E não é só uma oneshot... o segundo capítulo está prontinho.
Queria deixar ao entendimento dos leitores, mas não há necessidade, vou citar: alguns fenômenos espirituais estão presentes na fic. Falo por via da dúvidas, caso alguém estranhe o diálogo.
Espero que gostem. O segundo capítulo já vem.
Besitos
Lanny
