Prólogo
Ela acordou vagarosamente, sentindo os raios de sol penetrar em sua pele, espreguiçou-se. Sabia que ainda tinha tempo, seu despertador ainda nem tocara, por isso levantou de sua cama calçou seus chinelos de borracha e deixando seu pequeno quarto foi em direção ao banheiro. Sem pressa alguma retirou suas roupas e ignorando o espelho entrou no chuveiro, a água acordou-a completamente. Só saiu da ducha quando ouviu o despertador tocar ao longe. Olhou a sua volta, precisava de um lugar maior, concluiu. Talvez um lugar mais confortável, tudo ali era muito simples e pequeno. Não que não gostasse... se orgulhava. Ganhara tudo àquilo com o suor de seu trabalho, ainda assim... Sabia que merecia melhor que aquele apartamento de dois cômodos, e um lugar melhor na vizinhança. Não tinha uma noite que não ouvia tiros e gritos, crianças chorando. Sequer tinha um carro bom, era uma banheira na verdade, se fosse comparado até mesmo aos carros da vizinhança, certo que a maioria era roubado, mas ainda assim. Dando um leve suspiro olhou-se no espelho. Para uma advogada de respeito nem as roupas lhe faziam jus. Era um terninho básico, velho, porém cuidado, e que não revelava qualquer parte de seu corpo. Até ela mesma que se via todo dia tinha sérias duvidas quanto as suas curvas quando vestia aquele terno. Infelizmente, ou era esse ou sairia nua, os outros dois que usava para trabalhar estavam sendo lavados. Os sapatos eram bonitos, no entanto eram dados, claro, mas eram chamativos. Bom, pensou, pelo menos tirava atenção de seus cabelos revoltados. Com impaciência ajeitou-os num coque prático. Foi para a pequena cozinha/sala e começou seu desjejum. Duas torradas e um belo copo de café. Não que não tivesse comida, mas sentia preguiça de fazer um café-da-manha descente.
Quando já achou que era o horário adequado para ir ao trabalho pegou suas chaves e começou a enfrentar o trânsito de New York. Talvez sua mãe tivesse razão quando falava que New York não era exatamente o melhor lugar para se viver. Pelo menos não honestamente, completou em seus pensamentos. Era uma advogada excelente, em uma empresa muito mais do que primorosa, e ainda que vivesse cercada de bons advogados sabia que era a melhor. Algumas circunstâncias, no entanto, impediram-na de subir em seu cargo. Tais quais como a inveja. Tinha talento, mais do que talento quando se tratava de justiça, conhecia praticamente todas as leis tributarias, e ninguém ganhava dela em um tribunal. Isso e acrescentado à beleza estonteante da morena causava cobiça. Era tanta inveja que muitas passavam a perna nela, e antes que percebesse estava na mesma sala minúscula e sem janelas que quando entrara. Se não fosse só por isso era também o ódio e o ego dos homens que a punham longe de onde deveria estar, podia contar nos dedos todas as vezes que tentavam seduzi-la pela promoção. Tivera vários chefes e superiores que já tinham lhe falado que se passasse uma noite (ou talvez mais) com eles com certeza ganharia uma promoção. Mas nunca dava bola, sempre agia arrogantemente quando percebia que estavam fazendo tais propostas. Então era como se ferissem seu ego, e quando ela conseguia se mostrar boa no que fazia eles davam um jeito de boicotar as coisas e ela voltava a estaca zero.
Finalmente chegou a sua empresa. Era um edifício enorme, setenta e dois andares, sendo que esses dois últimos era somente uma sala, a do presidente. Estacionou o carro na grande garagem do prédio e subiu no elevador. Térreo. Era ali que trabalhava. Uma salinha que mais parecia um armário de vassouras, talvez até menor, era o local em que trabalhava. Passou pelas pessoas no térreo com a cabeça erguida. Muitas delas a olhavam de cima a baixo, reparando em sua roupa humilde, e em sua perfeição, que nada fazia direito ao que usava. Ela não andava de cabeça erguida para se sentir melhor ou ignorar essas pessoas. Era de seu jeito estar alheia a todas elas, andava assim porque sempre andara assim. Era melhor que eles e isso não estava em sua cabeça ou no jeito de andar, estava em sua essência.
Passou então em frente ao grande quadro do presidente logo na entrada do prédio. Quem entrasse pelas portas da frente seria cego se não notasse. Ia do chão ao teto e pegava uma parede inteira. Livre de qualquer balcão ou outra coisa qualquer. Era um imenso retrato de seu rosto. Difícil de acreditar que um homem de vinte e oito anos fosse realmente o presidente majoritário da empresa, alguns até pensavam que ele tinha conseguido por ser incalculavelmente rico e tinha seus respectivos contatos, ou talvez por ser infinitamente magnífico. Seus cabelos negros e impecavelmente arrumados misturando com seu rosto meticulosamente perfeito combinado com seus olhos de um verde tão profundo faziam qualquer mulher ganhar seu dia só de olhar para esse quadro. Isso porque muitas, incluindo ela mesma, nunca o vira. Não pessoalmente, já que não era extraordinário encontrar seu rosto em menos de cinco revistas por mês, todas com mulheres diferentes. Ainda que as poucas que saíram com ele na empresa, (aquelas apenas de alto escalão) dissessem que ele era arrogante e frio, não só no trabalho como no relacionamento, embora quase todas elas fossem completamente apaixonadas por ele. Mas em uma coisa tinham que concordar, era um amante sobrenatural na cama. Ela, porém, nunca o conhecera. Trabalhava há oito anos na mesma empresa e nunca sequer havia encontrado com ele. Talvez por que usassem diferentes elevadores, e na garagem era divido o lugar entre os carros populares e os carros importados. Ou talvez fosse coisa do destino. O fato era que sequer sabia o som de sua voz.
Deixando os pensamentos de lado, entrou em sua sala. A primeira coisa que fez foi ligar o ventilador barato que ficava em cima de uma estante de metal. Não precisava dar mais que um passo para chegar até sua mesa. Sentou-se desconfortavelmente em sua cadeira chinfrim e esperou que o ventilador fizesse seu trabalho e arejasse o ar quente da sala. Cinco minutos depois se encontrava compenetrada no trabalho. Eram tantos papeis que sua cabeça sumia ali, não se importava, tinha um caso essa tarde e precisava fazer muito bem feito. Processaria uma indústria de alimentos.
Correção, uma famosa indústria de alimentos. Já tinha preparado toda sua moralização sobre o caso, mas ainda faltavam alguns detalhes, que por culpa do segurança da noite não conseguira terminar no dia anterior. Quando deu a hora do almoço sentia que já suava em bicas, mas finalmente terminara. Agora era só almoçar e esperar até ás quatorze horas. Horário da audiência. Saiu da sala e trancou-a. Não queria ninguém bisbilhotando nesse caso. Se não se enganava seria aquele que a faria sair do térreo e ir parar pelo menos um nível acima da cozinha do edifico. Quando estava descendo as escadas da calçada do edifício uma mão quente e áspera tocou seu ombro, confusa olhou para trás.
- Hermione! Estava chamando-a há horas, cheguei até a pensar que não era você. – o homem era alto e moreno, usava vestes esquisitas largas e coloridas. Apresentava um grande sorriso, mostrando seus dentes brancos e alinhados. E apesar de ser um pouco atraente ela tinha a certeza de que nunca o virá em toda sua vida.
- Desculpe, mas acho que você realmente se enganou. – disse ela se virando e voltando a andar. Mas ele logo se postou a sua frente.
- Que isso, sei que já faz bastante tempo, mas estudamos juntos por sete anos. – depois observando a cara de confusa da mulher completou. – Sou Dino Thomas está lembrada? – ela sabia que tinha estudado com um Dino em seu colegial, mas não fora por sete anos e ele era loiro na época.
- Me desculpa novamente, mas acredito que você errou de pessoa. – disse ela desviando-se dele.
- Hermione, poxa, você mudou bastante, não é mais aquela garota dentucinha e magrela com cabelos lanzudos que fora há muito tempo, mas eu não mudei tanto assim. Apenas ganhei alguns centímetros. – depois lhe abriu outro sorriso. Ela, no entanto, se aborreceu. Nunca fora assim e ele não tinha o direito de xingá-la dessa forma. Nem ao menos se chamava Hermione.
- Olha aqui, eu não sei quem é você e não sou está tal Hermione que você está pensando, agora me deixe ir para o meu almoço, por favor. – disse ela apontando seu dedo para ele, e andando em direção oposta, seguiu para um restaurante ali perto da avenida, então olhou para trás, observando um homem extremamente confuso parado no meio da calçada. 'Maluco', murmurou.
Treze e quarenta e cinco. Hermione tentava se manter calma do outro lado da porta do tribunal, mas era quase impossível. Repassava em sua mente toda a sua oração e suas perguntas ao réu, algumas pessoas que passavam pelo corredor assustavam-se ao ver que ela murmurava palavras desconexas, e observava o teto. Olhou para os lados. Nenhum sinal de seus clientes. Suspirou fundo.
Talvez ainda não fosse a hora dela subir na vida. Nervosa, chutou um lixinho que havia no corredor. O barulho fez algumas pessoas sobressaltarem-se. Oito anos! Oito anos naquela mesma empresa, na mesma sala em que tinha começado seu estágio no primeiro ano de advocacia e não conseguira nem ao menos conhecer além do segundo andar. A luz acima de sua cabeça começou a falhar. Suspirou novamente. Parecia que tinha um imã para as coisas erradas acontecerem a ela. Saiu de perto da lâmpada e ela voltou a funcionar. Sentou-se novamente, e olhou o relógio. Treze e cinqüenta.
Sua mãe tinha razão. Deveria ter seguido a carreira de decoradora. Naquela época era tudo diferente, sua vida era tão regulada, tão certa, com tantas rotinas. Sua infância tinha sido como qualquer outra, brincara, tivera amigos, e brincara mais um pouco, sua adolescência então, mais do que normal. Nunca teve problemas com namorados, desde que se lembrava teve somente um. Normal também. E virar decoradora sempre fora o sonho de sua mãe até onde se lembrava. Não soube como foi que sua cabeça deu essa reviravolta e decidiu largar a faculdade e encarar a advocacia. Lembrava-se até hoje daquela semana. Era como se tivesse vivido toda a sua vida alienada. Nunca tivera experiências fortes, como mudança, novos amigos, ou namorados. Sua vida tinha sido perfeita, e naquela semana alguma coisa despertara dentro dela. Por que estaria se formando em decoração quando existiam tantas coisas fora daquela cidadezinha? Só porque sua mãe queria? Não sabia o que tinha dado nela, mas sentia que realmente não vivera até ali. Então, ignorando os avisos de sua mãe, com vinte anos, largou a faculdade, os amigos, a família e o namorado, para ir para a cidade grande, viver como gente grande.
Bufou com raiva. E depois de oito anos se encontrava no mesmo lugar de quando havia chegado. Ouviu passos apressados no fim do corredor e então seu peito se aliviou. Ali estavam seus clientes. John e Trisha. John era grisalho, sério, barriga proeminente e mancava da perna direita, segurava o braço de Trisha fortemente, a garota loira e magrela parecia se indignar com a atitude do pai.
- Desculpa o atraso, mas Trisha quis me mostrar o quão era boa no volante. – resmungou John fazendo a garota se avermelhar.
- Não tem problema, ainda nem nos chamaram. – respondeu ela, na voz mais simpática que conseguiu. Não tinham chamado-os, mas ela queria rever o caso e o que iria dizer para eles antes de entrarem, e agora não daria tempo. O caso na verdade não era tão grande assim, qualquer um venceria uma empresa quando o cliente alegava, com testemunhas, que por culpa de um de seus cachorros da segurança da empresa tivesse arrancado metade de sua perna direita. O difícil era quando não havia testemunhas e era completamente inexplicável o que John estaria fazendo às duas horas da madrugada tentando entrar na indústria. Quando esse caso chegou a mesa dela pensara em descartar, mas John fora lá implorar para que aceitasse, já que nenhum outro advogado aceitara (um dos motivos pelo qual esse caso fora parar em sua mesa), no entanto, quando ela perguntara a ele o porque de estar 'invadindo' a indústria a essa hora, ele teve que contar uma série ligações criminosas que existiam na indústria. Ele fora lá a uma dessas reuniões, já que fazia parte delas. Acontece que ele iria para sair, já que estava ficando cada vez mais perigosa e arriscada essas reuniões, e em como todo tipo de organizações e máfias, uma vez dentro, dentro até morrer. E era isso o que o cachorro da empresa queria fazer infelizmente um segurança novato viu e salvou John. Não foi preciso dizer que o novato fora despedido no dia seguinte. Ela encarou isso como um desafio, e se pudesse conseguir provas e ganhar aquele caso, com certeza renderia a ela no mínimo uma promoção. Não era todo advogado que conseguiria processar uma indústria daquele porte e ainda ganhar. Razão pela qual ela estivera trabalhando febrilmente neste caso. Uma voz do outro lado do tribunal soou o seu nome e ela respirou fundo.
- Rachel Chase.
Era agora ou nunca.
Agora vcs vão me perguntar, Rachel Chase? Mas ela não é a Hermione? E o Dino Thomas? O que ela está fazendo no mundo trouxa? Advogada, a Hermione? Que P de confusão é essa?
Calma, tudo a seu devido tempo.
Rachel Chase não existe realmente, ela é a Hermione sim, o Dino Thomas não se enganou.
O que ela está fazendo no mundo trouxa? Digamos assim que escapando de algo. Algo que aconteceu no mundo bruxo. Mas isso é mais do que eu posso falar.
E sim, advogada, acho que não conseguiria ver Hermione do jeito que é sendo vendedora de seguros.
E não tem confusão nenhuma, eu só vou misturar um pouquinho os dois mundos (trouxa e bruxo) e a cabeça dela.
Prestem atenção no que ela descreve sua vida antes de resolver entrar para a advocacia.
Ahhh sim, eu sei que vão me perguntar, por isso já respondo, eu ADORO remexer com a memória de Hermione (não ela não perdeu a memória, é diferente disso) e sim essa fic foi totalmente e toLamente inspirada na série Angel, e (lógico) eu AMO a série Angel. Portanto qualquer semelhança com a série, não é mera coincidência.
(antes que me perguntem também, não vai ter vampiros nessa história, e eu não vou seguir a risca a série, é somente uma inspiração que eu tenho com essa série... que por sinal a minha outra fic Lost Memories também foi inspirada nessa série.)
Gente, comentem porque é muito importante pra mim.
Se tiver ruim COMENTA de qualquer jeito!
É necessário!
Obrigado e beijooooos ;
